Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Esses loucos torcedores (4)

Demorou, mas a Secretaria de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro começou a fazer justiça aos torcedores, a razão maior do espetáculo. O estádio do Maracanã, que já contava com a “Calçada da Fama”, para imortalizar os atletas que fizeram história, desde 22 de janeiro deste ano tem o “Hall do Torcedor”, inaugurado antes do jogo Fluminense X Duque de Caxias, pelo Campeonato Carioca.

O primeiro homenageado com uma placa, uma medalha com seu nome e um brazão tricolor foi o fanático torcedor do Fluminense, Armando Giesta, que mesmo com 80 anos de idade não deixa de acompanhar os jogos de seu clube, no Maracanã. O ilustre torcedor participou da campanha pela construção do estádio e viu importantes jogos, como Brasil x Suécia, Brasil x Espanha e o inesquecível Brasil x Uruguai. Pelo Fluminense, viajou incontáveis vezes e assistiu seu time ser campeão em 1937, 38, 40, 41, 46, 51, 59, 64, 69, 70, 71, 73, 75, 76, 80, 83, 84, 85, 95 e 2002. A escolha do nome de Armando foi unanimidade entre torcedores e dirigentes do clube.

No dia 24 de janeiro, antes do jogo entre Flamengo X Cardoso Moreira foi homenageado “in memoriam” o torcedor rubro-negro, Jayme de Carvalho, falecido em 1976aos 65 anos. Natural da Bahia chegou ao Rio em 1936 e tornou-se no mesmo ano, sócio do Flamengo. Foi Jayme quem introduziu a música na torcida, criando grande polêmica nos meios esportivos em relação a presença da Charanga nos estádios porque, além de apoiar os jogadores do Flamengo, desconcentrava os adversários.

Ivaldo Firmino dos Santos, o popular Zé do Rádio, torcedor símbolo do Sport Club do Recife foi escolhido pelo livro “Guiness Book, em dezembro de 2006, depois de sete anos de pesquisas, o torcedor mais chato do mundo. Foi o reconhecimento ao que o ex-técnico Mario Jorge Lobo “Zagalo”, já havia dito em 1999, quando treinava a Portuguesa de Desportos, de São Paulo. Zé do Rádio não se incomoda com isso, ao contrário, se orgulha do título.

A escolha de seu nome pelo “Guiness Book”, de torcedor mais chato do mundo mereceu uma grande festa promovida pela Prefeitura de Recife, no Marco Zero, para comemorar o título, considerado tão nobre quanto um “Prêmio Nobel da Paz”. Um outro motivo de orgulho para “Zé do Rádio” é ter sido homenageado no Carnaval de 2007, na cidade de Olinda, com um boneco gigante, o maior de todos, para êxtase total dos foliões rubro-negros.

Ele começou a freqüentar os estádios em 1972. Como passava sempre por perto da Ilha do Retiro, resolveu torcer pelo Sport. Mas não nega que antes torceu pelo Náutico durante 1 ano, 3 meses e 28 dias. Garante que foi apenas para conquistar a amizade de seu sogro, o professor de música, Miguel Barkokebas, e casar com Deomiyrza Barkokeba dos Santos, com quem ainda vive até hoje. Zé do Rádio temia que Barkokebas, alvirrubro alucinado, proibisse o seu namoro pelo fato de ser rubro-negro.

Zé do Rádio, ou Ivaldo Firmino dos Santos, ganhou esse apelido por ficar com um rádio gigante nos ombros durante as partidas de futebol. Não sei se ele ainda vai aos jogos, porque está com problemas de saúde, em 2001 fez um transplante de coração. O que sei é que ele costumava ficar atrás do banco de reservas do time adversário, com o som a todo volume e xingando o técnico, a quem chamava de burro.

O Sport teve outro torcedor de primeira linha, José Paulo Rodrigues, o “Paulino do HC”, funcionário do Hospital das Clínicas de Pernambuco, que faleceu recentemente. De acordo com amigos, o último pedido de Paulino foi ser enterrado com a camisa do Sport. Ele era um torcedor apaixonado pelo Leão, não perdia um jogo sequer.

O Santa Cruz pernambucano não quer ficar por trás e tem também o seu torcedor símbolo, embora não seja nenhum chato quanto Zé do Rádio. “Bacalhau” ganhou fama ao adquirir um túmulo no Cemitério São Miguel, em Recife, com as cores do clube. Recentemente ganhou o caixão, presente da Funerária Ferreira, também decorado com o vermelho, preto e branco do Santa Cruz.

Tivemos também os torcedores românticos. O melhor exemplo foi a poetisa Ana Amélia de Mendonça, que escreveu um poema em homenagem ao seu futuro marido, o goleiro Marcos de Mendonça, do qual enamorou-se durante uma partida do Fluminense. Ela ficou encantada com o perfil atlético do jogador. Já gostava de futebol, tanto é verdade que quando tinha 13 anos de idade foi a Europa e na volta trouxe além de livros de poesia, algumas bolas de futebol que foram usadas pelo time dos operários da fábrica de seu pai. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
"Bacalhau", fanático torcedor ganhou um caixão com as cores do Santa Cruz (Foto: Divulgação)

terça-feira, 29 de abril de 2008

Esses loucos torcedores (3)

No futebol amador de São Paulo, na legendária região varzeana da Barra Funda, era comum encontrar algumas dessas figuras que se agarram no alambrado, xingam o juiz incessantemente e topam qualquer briga. O mais famoso de todos foi o temível “Barrabás”, briguento e louco, o maior torcedor do Carlos Gomes, um clube quase tão velho quanto a Ponte Preta de Campinas.

O time varzeano do Falcão do Morro, também de São Paulo, se destacou pelo número de torcedores fanáticos. Seu Marcolino ganhou lugar perpétuo na história do clube, por não ter perdido um único jogo. Lá estava ele sempre sentado em um banquinho, com o guarda-chuva aberto, não importando se chovia ou fazia sol. O curioso é que ele não olhava o jogo, o que mais gostava era de jogar Sueca com qualquer um que se dignasse a sentar ao seu lado. Do jogo em campo ele só ficava sabendo o resultado quando alguém dizia o placar final. Já com a idade avançada, faleceu faz alguns anos.

Ainda no Falcão do Morro teve um outro torcedor que deixou saudade: Pedrão Jacaré. Era um mulato forte que ganhou o apelido pelo tamanho enorme da boca. Pedrão era funcionário da prefeitura, mas parecia que estava sempre de folga, pois não saía dos bares, onde “derrubava” generosas doses de pinga. Nos jogos, era o responsável pela pinga com groselha, comprada com o dinheiro que arrecadava junto aos torcedores, que depois rodava de boca em boca, até mesmo dos jogadores que davam uma escapada até a beira do campo sem que o treinador visse.

Havia o “Chico Torto”, também conhecido por “Neguita”, parecido com o cômico Grande Otelo. Ganhou o apelido de Torto, porque tinha um defeito na perna causado por um acidente, quando era ajudante de motorista. De sexta-feira a domingo estava sempre bêbado. Para colocá-lo no caminhão quando o time ia jogar fora de casa era um sacrifício. O local de embarque ficou conhecido como Embarque de Bêbado ou Ponto do Chico. Morreu de tanto beber pinga, aos 60 anos de idade.

Digno de admiração é Carlinhos, um fanático torcedor do Clube Atlético Paranaense. Gosta de usar gravata vermelha e preta, bóton na lapela, relógio e chaveiro com o escudo do time. A calça, sapato e camisa de mangas compridas são apenas acessórios que completam a indumentária do seu dia-a-dia. No celular, a cada ligação recebida ecoa o hino do “Furacão”.

Por causa do Coritiba, não veste verde, não come alface e nada da mesma cor. Recusa-se a pronunciar o nome do clube rival, que para ele é sempre “O Porco”. Também não assiste a jogos no Estádio Couto Pereira, do Coritiba, “para não dar lucro ao inimigo”. Costuma dizer que uma derrota do “Porco” lhe dá mais prazer do que uma vitória do Atlético.

O Ferroviário do Ceará teve um torcedor que entrou para a história: Zé Limeira, falecido em 2004. Ele deixou uma lacuna enorme no seio da torcida coral, de quem foi a expressão máxima durante décadas. Costumava levar uma buzina para o estádio, com um som estarrecedor. Sua importância era tanta, que participava quase que diariamente dos programas esportivos das principais rádios de Fortaleza. Sempre pregou a paz entre as torcidas dos três grandes clubes cearenses, por isso tinha passagem livre em todos eles.

Além de Zé Limeira, o futebol do Ceará teve e tem outros torcedores consagrados, como "Pedrão da Bananada", pelo lado do Ceará, que tinha uma lanchonete no Abrigo Central, lugar de muitas discussões. José Amaro Sobrinho, o “Bodinho”, Gumercindo, Rolim, com mais de 90 anos e que ainda vai aos jogos e mais recentemente o “Coca-Cola”, pelo Fortaleza.

O São Paulo F.C., e não poderia ser diferente, também tem o seu torcedor número 1. É Aparecido, o “Cidão”, um sexagenário que se tornou uma verdadeira lenda das arquibancadas. Foi ele que nos anos 80 fundou a torcida organizada “Dragões da Real”. O clube o imortalizou: sua imagem faz parte do Memorial do São Paulo: basta entrar no computador do Museu e procurar por "torcedor símbolo". Hoje, “Cidão” vive da fama e carisma que conquistou no passado. Depois de passar por muitos percalços, ganha seu sustento vendendo bonés, chaveiros e gorros do tricolor nas imediações do Morumbi, sempre antes ou depois dos jogos.

No Palmeiras o torcedor mais badalado é o personal trainer Maurício Bonatti, de 40 anos mais conhecido nas arquibancadas do Parque Antártica por “Incrível Hulk”. Símbolo do time na campanha da Série B, Bonatti é professor de academia. Já foi policial e dançarino do Clube das Mulheres. De vez em quando faz “bicos” como Hulk em festas infantis e programas de TV. Em 2003, surgiu a idéia de acompanhar os jogos do Palmeiras, vestido de Hulk. Foi até Garanhuns, no interior de Pernambuco, torcer pelo Palmeiras contra o Sport, no jogo que garantiu o retorno do clube à Série A.

Ele demora mais de uma hora para recobrir o corpo, de 103 quilos distribuídos por 1,85 metro, com uma maquiagem verde. Para completar o visual, veste uma bermuda jeans detonada, coloca lentes de contato brancas, iguais às usadas em fantasias de vampiro e põe na cabeça uma volumosa peruca preta.

Figura fantástica, digna de um filme foi Henrique Leite Ribeiro, o “Coalhada”, torcedor do Santos nos primórdios de sua história. Sempre ia aos jogos vestido com elegância, usando chapéu de palheta. Foi o primeiro chefe de torcida do clube.

Em 1917, num amistoso contra um combinado uruguaio, na Vila Belmiro, o “Coalhada” teve a idéia de que cada jogador visitante ao entrar em campo, viesse coberto por um guarda-chuva com gomos pretos e brancos empunhados por um jogador santista da posição correspondente. Foi um belo espetáculo visual dado de presente de boas-vindas aos uruguaios, que no final saíram derrotados de campo pelo placar de 6 X 2. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
O torcedor palmeirense veste-se de Hulk e é atração em Parque Antártica (Foto: Divulgação)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Esses loucos torcedores (2)

No Flamengo do Rio, ninguém esquece de “seu Osório”, um baiano de Salvador que sabe de cor as escalações dos times de três tricampeonatos do rubro-negro. Passou quase toda a juventude na capital baiana e depois foi morar no Rio de Janeiro, na década de 50, se tornando figura obrigatória na Gávea, não perdendo nem treinos. Até hoje ele guarda as relíquias dessa saudosa época, entre elas uma carta-ofício do ex-presidente George Fernandes, nomeando-o representante do Flamengo no Estado da Bahia. Uma outra relíquia que o acompanha sempre é a carteirinha de sócio patrimonial do clube, datada de 1962. Depois de morar muitos anos no Rio e praticamente dentro do Flamengo, “seu Osório” voltou para a Bahia, e hoje mora em Juazeiro, mas não deixou de amar o seu Flamengo.

Uma das torcedoras mais queridas do Flamengo, Euzébia Silva do Nascimento, Dona Zica, famosa sambista da Mangueira, orgulhava-se de ter conhecido seu marido, Cartola, nas gerais do Maracanã, lugar que freqüentava desde os 11 anos de idade.

Dilmar Teixeira Brito, torcedor fanático do Flamengo, que não perdia um jogo foi reconhecido “in-memoriam”, pelo Rank Brasil, livro dos recordes brasileiros, como o “mais idoso portador da Síndrome de Down do Brasil”. Ele nasceu na cidade de Alto Parnaíba (MA), no ano de 1934 e morreu no dia 28 de dezembro do ano passado, aos 72
anos. Tinha duas grandes paixões: ir à missa e ver o Flamengo jogar.

O “Guiness World Records”, edição 2007, aponta o sul-africano Keith Roberts, 52 anos, como o mais idoso portador de Síndrome de Down no mundo, e a americana Nancy Siddoway, 67 anos, como a mulher mais idosa portadora da doença.

Como homenagem ao Flamengo, o clube com mais torcida no país, publico uma relação de alguns de seus torcedores famosos:

Alexandre Pires (cantor), Angélica (apresentadora), Baby do Brasil (cantora), Beth Faria (atriz), Bochecha (cantor), Carlão (atleta, vôlei), Cláudia Raia (atriz), Djavan (cantor e compositor), Elza Soares (cantora), Eric Faria (jornalista), Fafá de Belém (cantora), Fausto Silva (apresentador), Fernando Scherer (atleta, natação), Gabriel Pensador (cantor), Galvão Bueno (locutor), Hebert Vianna (músico e cantor), Ivete Sangalo (cantora), Jards Macalé (cantor e compositor), João Bosco (cantor e compositor).

Joãozinho 30 (carnavalesco), Jorge Ben Jor (cantor e compositor), Léo Batista (locutor e apresentador), Leo Jaime (cantor),Luiz Ayrão (cantor), Malu Mader (atriz), Moraes Moreira (cantor e compositor), Nalbert (atleta, vôlei), Neguinho da Beija Flor (cantor), Oscar Niemeyer (arquiteto), Pepeu Gomes (músico e cantor), Popó Bueno (piloto), Reginaldo Faria (ator), Ricardo Teixeira (presidente da CBF), (piloto), Romário (atleta, futebol), Ronaldo Fenômeno (atleta, futebol), Sandra de Sá (cantora), Tande (atleta, vôlei), Toni Garrido (cantor), Tony Tornado (ator e cantor), Vera Fisher (atriz), Wagner Love (atleta, futebol), Wanderley Luxemburgo (técnico de futebol), Xuxa, (apresentadora), Zico (atleta, futebol), Ziraldo (cartunista) e Zizi Possi (cantora).

E os já falecidos Ary Barroso (compositor, radialista), Bezerra da Silva (cantor), Bussunda (comediante), Carlos Drummond de Andrade (poeta), Ciro Monteiro (cantor), Dias Gomes (escritor), Garrincha (atleta, futebol, Grande Otelo (ator), Henfil (cartunista), Ibrahin Sued (jornalista), João Nogueira (cantor), José Lins do Rego (escritor e cronista), Juscelino Kubtischek (presidente), Maria Lenk (atleta, natação), Mário Filho (escritor e jornalista), Moreira da Silva (cantor), Mussum (comediante), Paulo Francis (jornalista), Roberto Marinho (jornalista), Rômulo Arantes (ator e atleta, natação) e Tom Jobim (compositor).

O Fluminense perdeu em 2 de dezembro de 2002 seu torcedor símbolo, Guilhermino Santos, o “Careca do Talco”, que costumava cobrir o corpo com pó de arroz. Qualquer tricolor que tenha vivido os anos 70 e 80 lembra dele com carinho. Ficava com sua indefectível bolsa branca, com o escudo do clube por fora e abarrotada de talco por dentro. Implacável, o “Careca do Talco” jogava o pó em quem estivesse à sua volta, fosse adulto ou criança. Os adultos o adoravam. As crianças o idolatravam.

Torcedor fanático não é privilégio de time grande. O ano passado morreu, aos 74 anos, Antônio Luiz Braga, o “Braga da Eucaliptaço”, ardoroso torcedor do Volta Redonda. Era tão querido na cidade que o prefeito Antônio Francisco Neto perpetuou seu nome na parte frontal das cabines de rádio do Estádio Municipal General Silvio Raulino de Oliveira, local onde Braga costumava estender em todos os jogos a bandeira da torcida “Eucaliptaço”, da qual era o principal líder.

O Anápolis de Goiás tem no folclórico Davi Bispo, o seu torcedor símbolo. Ele nasceu no ano da fundação do clube, em 1946. Sua infância foi marcada pela rivalidade entre Anápolis e Ipiranga, o clássico municipal que marcou os anos 50 e início da década de 60 na cidade. Quem passa pela banca que Davi possui há mais de 30 anos no Mercado Municipal, certamente vai cansar de ouvir o hino do Anápolis, que é tocado o dia inteiro. Quem não gosta nem um pouco disso são os torcedores da Anapolina, o outro clube da cidade.

Em abril do ano passado, a TV Bandeirantes mostrou uma reportagem de Felipe Andreolli, que visitou o famoso comediante inglês, Mister Bean em sua residência em Londres entregando-lhe uma camisa número 10 do Capivariano F.C., da cidade paulista de Capivari. A camisa é da época em que o time foi patrocinado pela Fast Work, empresa de Mauro Matta de Piracicaba. Na hora da entrega do presente foi tocado o hino do Capivariano. Mister Bean disse que agora é o torcedor símbolo do “Leão da Sorocabana”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Guilhermino Santos, o "Careca do Talco", famoso torcedor do Fluminense, já falecido. (Foto: Acervo do Fluminense F.C.)

domingo, 27 de abril de 2008

Esses loucos torcedores (1)

O torcedor é a razão maior da existência de um clube de futebol. Que graça teria o nobre esporte se não houvesse essa figura, às vezes folclórica, outras nem tanto? Com certeza, os jogos não passariam de uma chatice repetida e burocrática. O bom do futebol é ver e sentir a reação do torcedor, quase sempre imprevisível. Existem aqueles que choram pelo clube, os que se irritam, os que procuram arruaça, os que roem as unhas e os que simplesmente não fazem nada, ficam apáticos, seja na vitória ou na derrota do seu time. Vou contar esta semana, em alguns artigos, histórias envolvendo torcedores, procurando dar uma idéia clara e divertida da paixão do brasileiro pelo futebol.

Eu conheci algumas figuras que se tornaram célebres em suas cidades pelo que de inusitado mostravam em dias de jogos dos clubes de seus corações. Em Pelotas, onde morei e trabalhei muitos anos, destaco a figura de “Marcola”, o torcedor símbolo do Grêmio Esportivo Brasil, o clube de maior torcida no interior gaúcho. “Marcola”, já falecido foi uma figura folclórica. Um negro de estatura baixa que vivia permanentemente alcoolizado. Não perdia um jogo do “xavante” pelotense, gritava o tempo todo, xingava o juiz e os jogadores adversários, mas em momento algum deixava de sorrir e mostrar os dentes milagrosamente inteiros e alvos.

Em Rio Grande, havia o “Fala Meu”, um estivador do tamanho de um guarda-roupa. Era torcedor apaixonado do Rio-Grandense, o “colorado marítimo”. Dono de uma voz potente, tipo trovão, que nunca mais ouvi nada parecido, abria as mãos ao lado da boca e gritava: “juiz ladrão”, entre outras palavras de um vocabulário rico em impropérios, que se ouvia em todos os cantos do estádio. Conheci muito o “Fala Meu”, figura popular e folclórica da cidade. Também gostava de Carnaval e sua escola favorita era a “Quem é do Mar não Enjoa”, entidade que eu presidi.

Em São Gabriel, cidade gaúcha em que também morei, lembro de uma torcedora chamada Margarida, que vendia amendoim durante os jogos da S.E.R. São Gabriel. Gostava de uma “branquinha”, chegava ao estádio com “todas” na cabeça, e a cada ataque do time local gritava e levantava o vestido para delírio dos demais torcedores. Já morreu e deixou um vazio imenso nas tardes futebolísticas do Estádio Silvio de Faria Corrêa.

Mas esses torcedores que conheci não passam de café pequeno perto de outros que existem ou existiram por esse Brasil afora. Na década de 20 o Corinthians tinha um torcedor de nome José da Costa Martins, que a cada gol que o time marcava, acendia um charuto. Foi ele que inspirou a criação do "mosqueteiro corinthiano", mascote do clube, que está sempre fumando um charuto. O Internacional gaúcho também teve um torcedor conhecido por “Charuto”. Foi nos anos 40. Seu amor ao clube lhe deu o direito de entrar no estádio sem pagar ingresso e de lambuja beber de graça na copa.

A paixão pelo Corinthians não pára de crescer, mesmo com o time na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. A torcida “Gaviões da Fiel” possui a maior bandeira de times do Brasil, com 143 metros de comprimento por 35 de altura e pesa aproximadamente duas toneladas. Esta bandeira foi feita em 1995 por Dentinho, idealizador e ex-presidente da polêmica “Gaviões da Fiel”.

Para ser levada ao estádio o departamento de bandeira da Organizada utiliza um caminhão baú e 60 homens na locomoção. A bandeira cobre 16.000 torcedores e é estendida no momento em que o time entra em campo no primeiro e no segundo tempos, e na hora em que sai gol do Corinthians. Até quando o time perde os fanáticos torcedores abrem o bandeirão, segundo dizem, “para calar a boca da torcida adversária".

A torcida possui ao todo sete bandeirões. O primeiro foi feito em 1989, medindo 25 metros por 50. O segundo mede 30 metros por 60, e foi feito para homenagear o piloto Ayrton Senna. Tem um de protestos, e outros quatro de exaltação ao clube.

Um caso muito famoso foi o de Elisa, uma fanática corinthiana que nas horas vagas era cozinheira e doméstica. Ela nasceu no mesmo ano que o Corinthians e carregava sua bandeira alvi-negra por todos os estádios em que o time jogava. Era dócil e educada, jamais xingou um jogador por mais perna de pau que fosse. Apoiou o time com garra durante todos os infindáveis 23 anos de fila para ser campeão paulista. Recebeu merecida homenagem da diretoria, que colocou uma placa com seu nome no Estádio Parque São Jorge. A Federação Paulista também lhe premiou com o direito de entrar sem pagar ingresso em qualquer estádio paulista.

Outra mulher que se destacou no cenário futebolístico foi Dulce Rosalina, que em 1961 ganhou o concurso de “Melhor Torcedor do País” e doou o troféu ao Vasco da Gama, seu time de coração. Ela costumava acompanhar o time em jogos pelo Rio de Janeiro afora, além de visitar as concentrações para animar os atletas, ouvir dirigentes e dar palpites. Andava sempre em companhia de Ramalho, outro torcedor destacado do clube da Cruz de Malta.

Dulce Rosalina foi a primeira mulher a liderar uma torcida organizada no Brasil. Em 1944 o torcedor João de Luca fundou a Torcida Organizada do Vasco (TOV), mas em 1956, muito doente passou a presidência para Dulce Rosalina. Em 1976, por problemas políticos ela deixou a TOV e fundou a “Renovascão”, da qual participou até morrer, em 2004. Foi casada com o jogador Ponce de Leon, que defendeu o São Paulo.

Na Bahia não existe quem não conheça “Alvinho Barriga Mole”, o maior torcedor do Vitória, por quem torce há longos 74 anos. Quem assistir jogos no “Barradão” com certeza já o viu ajoelhar-se e atravessar o gramado com a imagem de Padre Cícero nas mãos, mesmo carregando no peito rubro-negro, duas pontes de safena e uma mamária.

Se “Alvinho Barriga Mole” é um torcedor cordial, incapaz de dizer um palavrão ou ofender alguém, um outro torcedor do Vitória, Marciades Marinho Pereira, conhecido como “Louro”, já é bem diferente. É um provocador nato, que o digam os torcedores do rival Bahia. “Louro” chama mais a atenção nas ruas do que no estádio. É dono de um incrementado “Fusca 95”, todo pintado de vermelho e preto, decorado com o escudo do clube.

A torcida do Vitória foi comandada durante muito tempo pelo rubro-negro Osvaldo Hugo Sacramento, mais conhecido como "Barão de Mococoff", de saudosa memória. No tempo do Campo da Graça, seu grito "Vitóóóóóória" era ouvido em qualquer parte do estádio.

Já o Esporte Clube Bahia tem um torcedor para lá de especial, o servidor aposentado da Assembléia Legislativa da Bahia, Lourival Lima dos Santos, o “Lourinho”, chefe de torcida por mais de 30 anos. Desde o final dos anos 50 que acompanha os jogos do Bahia, se tornando o torcedor-símbolo do clube. Sua casa é quase um museu do tricolor baiano. Guarda com carinho fotografias de varias épocas, especialmente de jogos em que o Bahia derrotou o Vitória e ganhou títulos. Uma foto em preto e branco se destaca entre as demais, em que ele aparece ao lado do rei Pelé. “Lourinho” é casado com a piauiense Maria Lúcia Bezerra e desde 2002, quando começou a ter problemas de saúde, passou a residir em Teresina, longe do seu querido Bahia. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Dulce Rosalina foi a torcedora número 1 do Vasco (Foto: Acervo do C.R. Vasco da Gama)

sábado, 26 de abril de 2008

O goleiro que virou lenda

Desde que eu era guri lá em Dom Pedrito, minha terra natal, que escuto histórias a respeito de um goleiro que jogou no Grêmio de Porto Alegre, lá pelos anos 20 e 30. Nenhum jogador de futebol na história do Rio Grande do Sul foi tão reverenciado quanto Eurico Lara. Tanto é verdade que seu nome ficou imortalizado no hino gremista, composto para o cinqüentenário do clube por outro não menos imortal, o grande Lupicínio Rodrigues, o homem da “dor de cotovelo”: “Lara, o Craque Imortal, soube o seu nome elevar. Hoje, com o mesmo ideal, nós saberemos te honrar".

O começo de Lara no futebol foi igual ao de qualquer guri. Naqueles tempos não faltava um campinho para bater bola, pois a especulação imobiliária estava longe de aparecer. Nas tradicionais peladas às margens do rio Uruguai Lara, por ser muito franzino sobrava sempre no “par ou impar” e ia para o gol, posição que ninguém queria jogar. Sorte sua. Foi servir no Exército e ganhou a titularidade no time da farda verde.

Suas atuações foram tão boas que ganhou fama na região. Diziam que quando Lara jogava, era vitória certa do time militar, não importando quem fosse o adversário. Mesmo sem as facilidades tecnológicas de hoje, em que a informação é instantânea, a notícia de que em Uruguaiana havia um goleiro que era uma verdadeira muralha, não demorou a chegar aos ouvidos dos dirigentes gremistas, que mandaram um “olheiro” até a cidade fronteiriça confirmar se era mesmo verdade.

Em princípio Lara, não queria se mudar para Porto Alegre, pois estava acostumado com a vida calma da cidade pequena. Mas a insistência foi tanta que acabou aceitando. Não teve problema algum para a transferência militar, graças à participação de pessoas influentes dentro do Grêmio. Era o ano de 1920. Vestido com a farda verde-oliva - naquele tempo o soldado não podia andar a paisana - chegou ao Grêmio e em seguida foi campeão da cidade, seu primeiro título no tricolor.

O futebol ainda era um esporte amador. Por isso Lara dividia seu tempo jogando no Grêmio e no time do Exército. Em 1922, foi campeão das classes armadas. Sua fama começou a crescer, e se consolidou fora do Rio Grande do Sul depois de se destacar na seleção gaúcha que disputou um torneio preparatório para escolha dos jogadores da Seleção Brasileira que disputaria o Campeonato Sul-Americano de 1922, no Brasil.

Mesmo jogando no Grêmio e na Seleção Gaúcha, Lara não descuidou da sua carreira militar e chegou ao posto de tenente. Em 1930 participou e acompanhou as forças revolucionárias que escreveram uma página importante para a história do país. A revolução de 30 foi um movimento armado liderado pelos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que culminou com a deposição do presidente paulista Washington Luis em 24 de outubro.

Com o fim do conflito Lara voltou a se dedicar ao futebol. Novamente convocado para a seleção gaúcha, fechou o gol em uma partida contra a Seleção Paulista, disputada no Estádio de Parque Antártica, em São Paulo. Os gaúchos perderam por 2 X 1, mas Lara foi a grande sensação do jogo, realizando magníficas defesas e encantando os torcedores, que após o apito final invadiram o campo para carregá-lo em triunfo. A consagração nacional, finalmente chegou. Pena, que não foi convocado para a Seleção Brasileira, apesar de ter defendido um pênalti e mais de 20 potentes chutes de Friendereich, o grande ídolo do futebol brasileiro naqueles tempos.

Em setembro de 1935, a tuberculose avançava rapidamente e os médicos proibiram Lara de continuar jogando. Contam que ainda assim, ele insistiu para entrar em campo na decisão do Campeonato Farroupilha de Porto Alegre, no “Fortim da Baixada”. O Grêmio precisava vencer, o Internacional tinha a vantagem do empate. Até na história do clube está relatado que mesmo doente Lara foi o herói do jogo, tendo realizado nesse dia talvez a sua melhor partida com a camisa do Grêmio.

E que entrou em campo com a saúde muito debilitada, só resistindo o primeiro tempo, quando começou a passar mal. No intervalo foi levado para o hospital da Beneficência Portuguesa onde morreu dois meses depois, no dia 6 de novembro. O Grêmio venceu de forma heróica aquele jogo por 2 X 0 com gols nos últimos dois minutos. Mas pouca coisa dessa história é verdade. Lara já estava internado e fugiu do hospital para assistir o jogo. Mas não entrou em campo, não jogou. Foi o princípio da lenda. Morreu, sim, dia 6 de novembro daquele ano. A tuberculose marcou um gol fatal, sem defesa contra o goleiro de 37 anos.

A morte de Lara causou uma comoção geral. Nas ruas de Porto Alegre os torcedores choravam a morte do ídolo. Tricolores e colorados se uniram na dor, pois afinal de contas Lara foi um verdadeiro símbolo do futebol gaúcho. O enterro foi um dos maiores que Porto Alegre viu. A cidade parou para dar o adeus a Eurico Lara, o goleiro que entrou para a história do Grêmio como o “Craque Imortal”, para nunca mais sair. Deixou uma herança invejável de conquistas: campeão de Porto Alegre em 1920, 1921, 1922, 1923, 1925, 1926, 1930, 1931, 1932, 1933 e 1935. Campeão gaúcho em 1921, 1922, 1926, 1931 e 1932.

Lara jogou no Grêmio de 1920 a 1935, quando faleceu. Em 1928 se desentendeu com o presidente tricolor e foi para o Fussball Club Porto Alegre, mas depois de perder uma partida para o próprio Grêmio, voltou ao clube.

Poucas pessoas que viram Lara jogar ainda são vivas. Afinal de contas, já se passaram 72 anos desde o dia da sua morte. E isso explica em parte porque o jogador virou lenda. Corre de boca em boca histórias incríveis, atribuídas ao grande goleiro. Salin Nigri, um apaixonado torcedor gremista, em entrevista a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre contou duas delas, mas garantiu que são verdadeiras.

No primeiro treino no Grêmio, ao lhe entregarem a camisa de goleiro, Lara perguntou ao treinador: "Como assim? Por que recebi essa camiseta? Não sou goleiro". A surpresa foi geral. Lara explicou que nas peladas lá em Uruguaiana, ninguém queria ir para o gol e sempre sobrava para ele, que na verdade queria ser atacante. A outra historia é que Lara, em certa partida, quebrou um dos braços, mas não quis sair de campo e assim mesmo fez grandes defesas até o fim do jogo.

A revista da Federação gaúcha de Futebol, em uma de suas edições contou algumas histórias que mesmo não sendo reais, viraram verdades e se tornaram lendas. Foi assim, que, em muitos pontos do Rio Grande do Sul, o nome de Eurico Lara se tornou um mito.

Durante muitos anos se acreditou que Lara morreu dentro de campo, no “Gre-Nal Farroupilha”, ao defender um pênalti cobrado por um seu irmão, jogador do Internacional. Essa história não é verdadeira, mas os gremistas mais velhos a contam com orgulho até hoje, de pai para filho. O jornalista gaúcho e gremista de quatro costados, Airton Gontow escreveu uma crônica belíssima, que eu tomo a liberdade de transcrever.

Lara estava no quarto de um hospital, com turberculose, no dia da final do campeonato gaúcho contra o "inimigo" Internacional. Eurico Lara fugiu do leito para assistir ao jogo. Um empate daria o título ao Internacional, que estava com um ponto a mais na competição.

Faltando, três minutos para o jogo acabar o juiz marcou um pênalti para o Internacional. A torcida gremista, em grande maioria, ficou em silêncio, com medo da catástrofe. Foi neste momento que Eurico Lara disse para o homem que cuidava do portão junto ao gramado do estádio: "Abre".

Quando entrou em campo, Eurico Lara foi tirando a camisa, as calças... - estava de uniforme por baixo e de chuteiras. O estádio explodiu em espanto e alegria, mas, logo depois, aconteceu um silêncio sepulcral, que até hoje impressiona a todos os que assistiram à cena. Era como se não houvesse pássaros, vozes, vento...

O atacante do Internacional, um próprio irmão de Lara ajeitou a bola. Parecia um touro feroz, enquanto se preparava para iniciar a curta corrida em direção a bola. O chute saiu forte, alto, no canto esquerdo. Mas Eurico Lara, saltou como um gato e encaixou a bola no peito. Com ela continuou agarrado quando caiu no chão.

A torcida entrou em delírio. Os jogadores se aproximaram para reverenciar aquela lenda do futebol. O estádio era uma chuva de chapéus, como nunca mais se viu, nem mesmo com o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial. Mas Eurico Lara continuava deitado no chão. Com a bola no peito. Não queria soltá-la. Os jogadores foram se afastando. A torcida de pé, em silêncio, compreendeu o que acabava de acontecer: Eurico Lara estava morto. Morto com a bola grudada naquele imenso peito gremista. No gramado, milhares e milhares de chapéus agora eram como flores. Flores homenageando aquele deus do futebol.

Até hoje o nome de Lara é lembrado. Ao início do ano passado a Rede Globo, no programa “Esporte Espetacular” contou a história do craque. E em setembro a revista “Placar” publicou a matéria “O Primeiro Imortal”, onde o jornalista Dagomir Marquezi relembrou as façanhas de Lara, inclusive contando que o goleiro teria falecido logo após receber um potente chute no peito desferido pelo seu próprio irmão.

Euclides Lara é nome de rua em Porto Alegre. Em Uruguaiana, sua terra natal durante algum tempo o Estádio do E.C. Uruguaiana levou seu nome. Foi mudado depois para Felisberto Fagundes Filho. Eu desconheço as razões. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Eurico Lara, a lenda (Foto: Acervo do Grêmio Foot-Ball Portoalegrense)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

“Kafunga”, goleiro e frasista

Muita gente pensa que o termo “cabeça-de-bagre”, usado no futebol para definir um jogador ruim, sem a menor técnica, tenha sido criado pelo folclórico misto de jornalista e técnico João Saldanha. Mas não foi. A invenção foi de Olavo Leite “Kafunga” Bastos, considerado até hoje o melhor goleiro que vestiu a camisa do Clube Atlético Mineiro, em todos os tempos, apesar de seu 1,75 m. De acordo com o “Aurélio”, “cabeça-de-bagre”, uma gíria antiga, quer dizer indivíduo estúpido, idiota, imbecil. Faz o maior sentido, pois o bagre tem a cabeça oca e não serve para nada.

Quando parou de jogar, “Kafunga” não conseguiu ficar fora do futebol, por isso foi gerente e técnico (1961) do Atlético e depois comentarista esportivo de rádio, jornal e TV em Belo Horizonte. Dono de uma grande popularidade, não teve dificuldade para se eleger vereador por quatro mandatos e depois deputado estadual. Inteligente e mordaz soube criar muitas expressões que entraram para o vocabulário futebolístico nacional.

Além do “cabeça-de-bagre” achou inspiração para muitas outras frases que são repetidas até hoje; “No Brasil o errado é que está certo", para criticar algumas coisas do esporte ou fora dele; "Não tem corê-corê”; "gol barra limpa" ou "barra suja”, quando o lance era legal ou não; "Isso é lá dos tempos de mil e novecentos e Kafunga”, quando queria dizer que uma coisa era muito velha; "vap-vupt" , para o que era feito de qualquer jeito; “despingolar”, sair correndo, evadir-se, desvencilhar-se; “tá no filó”, gol, bola na rede; “lesco-lesco”, destramelar, abrir, liberar e “FAO”,Força Atleticana de Ocupação.

Sentindo o gostinho pelo rádio, “Kafunga” não se limitou apenas a falar sobre futebol. Aos domingos apresentava na Rádio Itatiaia um programa de música brasileira do passado, o “Kafunga de todos os tempos”, onde se divertia contando histórias de quando jogava.

Ninguém jogou tanto tempo pelo Atlético, único clube de sua carreira, quanto “Kafunga”. Ele foi diferente da maioria dos jogadores de futebol de hoje, que assinam contrato, juram amor pelo clube, beijam o escudo e logo, logo vão embora. “Kafunga” defendeu o “Galo” em 712 jogos, de 1935 a 1955, e foi campeão mineiro por 11 vezes, além de “Campeão dos Campeões”, em 1937. Participou da famosa excursão a Europa em 1950, sendo um dos “campeões do gelo”. Até hoje a torcida atleticana lembra um dos melhores times do Atlético, em toda sua história de 100 anos, formado ao final dos anos 40: Kafunga – Murilo e Ramos – Mexicano - Zé do Monte e Afonso – Lucas – Lauro – Carlyle – Nívio e Lero.

A contratação de “Kafunga” tinha tudo para não acontecer. Em 1933, defendendo a seleção fluminense, num amistoso, foi goleado por 11 X 1 pela seleção mineira. Mesmo assim os dirigentes gostaram de sua atuação e resolveram contratá-lo. E o tempo mostrou que não tiveram motivos para arrependimento.

Apesar de toda a afeição e dedicação que teve pelo Atlético e por Belo Horizonte, “Kafunga” não era mineiro. Nasceu em Niterói (RJ) no dia 7 de agosto de 1914 e faleceu no dia 17 de novembro de 1991, em Belo Horizonte. O apelido ele ganhou por causa do tamanho do nariz, que o fazia fungar constantemente. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Kafunga foi o melhor goleiro da história do "Galo". (Foto, "O Tempo")

terça-feira, 22 de abril de 2008

Os filósofos da bola

Confesso que não tenho muita convicção de que algumas dessas frases que proliferam na Internet, tenham sido realmente ditas por jogadores e dirigentes de futebol. Pode até que seja verdade, mas a coisa é tão descabida de lógica que penso se trate de invenção. Eu sei que nem todo o jogador de futebol é letrado, e nem teve o privilégio de frequentar bancos escolares de qualidade, exemplos dos irmãos Sócrates e Raí. Mas daí a imitar a personagem televisiva Ofélia, aquela que abria a boca só para dizer besteira, vai uma grande diferença.

Fora a turma do besteirol, existem jogadores que se notabilizaram por dizerem frases inteligentes. Dário, o “Rei Dadá” no meu modo de ver superou a todos. Folclórico? Sim. Fanfarrão? Nunca. Sou fã de carteirinha dele, até porque foi campeão brasileiro e artilheiro no meu Internacional. Selecionei algumas das filosóficas tiradas do ex-craque, hoje comentarista esportivo da Rede Globo.

"Não venha com a problemática que eu tenho a solucionática"; “Dadá não é eterno. Sua história será eterna”; “Se minha estrela não brilhar, eu passo lustrador”; “Tecnicamente, era horrível, mas na corrida, só de táxi. No ar, só de escada". “Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povo”; “Deus é o ser supremo, Dadá é a dádiva”; “Pelé, Garrincha e Dadá tinham que ser curriculum escolar”; “Me empolgo pelas palavras, me realizo nos atos”; “A lei do menor esforço é usar a inteligência”; “No futebol há nove posições e duas profissões: goleiro e centro avante”; “Faço tudo com amor, inclusive o amor”.

“Futebol é um universo maravilhoso, que faz as pessoas se aproximarem, que faz multiplicar os amigos, que ensina a gente a amar e a respeitar o próximo”; “O Divino Mestre é o fã mais poderoso de Dadá. Ele sempre esteve ao meu lado”; “Quando vou para o trabalho só penso em vitória”; “Eu sofri muito, minha tristeza exorbitou, meu sofrimento passou dos limites para um ser humano. Mas eu tive um auge violento, tive o mundo aos meus pés, bati recordes, fui falado em todos campos. Hoje vivo na imaginação do povo. Sou personagem do planeta bola”; "Três coisas que param no ar. Beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha".

Sobre seus gols de cabeça: "Isso é mamão com açucar"; "Com Dadá em campo não tem placar em branco"; "Não existe gol feio, feio é não fazer gol”; "Nunca aprendi a jogar futebol pois perdi muito tempo fazendo gols"; "Só existe três poderes no universo: Deus no Céu, o Papa no Vaticano e Dadá na grande área"; "Chuto tão mal que, no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol"; "Fiz mais de 500 gols, só correndo e pulando"; "O gol é o orgasmo do futebol"; "Um rei tem que ser sempre recebido por bandas de música". Dito no estádio da Internacional de Limeira, onde foi recebido por uma banda de música, já no final de sua carreira, aludindo a sua alcunha de "Rei Dadá".

Menino pobre do subúrbio carioca de Marechal Hermes, Dario ficou órfão aos cinco anos quando a mãe morreu num incêndio. Dos 10 aos 18 anos foi assaltante, cansou de apanhar da polícia, mas soube dar a volta por cima. Na Funabem, não o deixavam jogar porque era ruim demais. Aos 20 anos seu pai lhe arranjou emprego na Light. Um dia resolveu tentar a sorte no campo Grande. Depois de ser barrado por seis vezes acabou sendo aceito. E no primeiro treino disse ao técnico Gradin que estava sem café da manhã e almoço. E pediu que lhe dessem um prato de comida, que em troca teriam um goleador. Foi sincero, disse que não sabia driblar, que era ruim mesmo, e que já havia fugido muito de polícia. O Campo Grande topou, e o Dadá desencantou em 1967. O resto dessa história, todos sabem.

E a turma do lado de lá, os aficionados do besteirol, o que disseram? Começo pelo português João Pinto, que atuou pelo Futebol Clube do Porto. É considerado o “Pelé das asneiras”. Eis algumas de suas obras primas: “Não foi nada especial, chutei com o pé que estava mais à mão"; "O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente".

O saudoso presidente do Corinthians Paulista, Vicente Mateus, foi uma figura folclórica. Não sei se ele inventava as frases, ou realmente falava sério: "O difícil, vocês sabem, não é fácil"; "Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático”; “Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão”; "Se entra na chuva é para se queimar”; "O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável” (recusando uma oferta para vender o jogador); “O maior general da França é o General Eletric” (respondendo aos franceses que queriam comprar Sócrates).

Outras “maravilhas” atribuídas a nossos “inteligentes” craques: "No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente, de quinze em quinze dias (Ferreira, ex-ponta-esquerda do Santos); "Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Jesus nasceu" (Claudiomiro, ex-meia do Internacional (RS) ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida); "Tanto na minha vida futebolística quanto com a vida ser humana" (Nunes, ex-jogador do Flamengo); "Nem que tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola" (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe); "Realmente minha cidade é muito facultativa" ((Elivelton, ao repórter, que falava das muitas escolas de ensino superior existentes na cidade natal do jogador); "A partir de agora meu coração tem uma cor só: é rubro-negro" (Fabão, zagueiro baiano ao chegar no Flamengo).

Se tudo isso for verdadeiro, não vale a pena estudar. O melhor é fazer do filho um jogador de futebol. Se o cérebro é pequeno, a grana é grande: "Eu disconcordo com o que você disse” (Vladimir, ex-meia do Corinthians, em uma entrevista à Rádio Record); “Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado” (Jardel, ex-Vasco e Grêmio, referindo-se aos Toyotas e Mitsubishis); “Nós vamos recuar para trás e depois atacar com tudo para frente" (Correia, jogador do Palmeiras em entrevista a TV Bandeirantes dizendo como o time iria jogar contra o Vasco).

Sei que não tem nada a ver com futebol, mas alguns dos vestibulandos de nossas faculdades, dão goleada de 10 X 0 nos futebolistas. Só a título de curiosidade e ilustração mostro algumas preciosidades retiradas de redações do provão do ENEM:

"Os desmatamentos de animais precisam acabar"; "É um problema de muita gravidez"; "Devido aos raios ultra-violentos"; "Na televisão o governo vem com aquela prosopopéia flácida"; "Todos os fiscais são subordinados, é a propina"; "Os lagos são formados pelas bacias esferográficas"; "No paiz enque vivemos, os problemas cerrevelam"; "A natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás"; "Não preserve apenas o meio ambiente, mas sim todo ele"; "O maior problema da floresta Amazonas é o desmatamento dos peixes"; "Hoje endia a natureza não é mais aquela"; "Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais"; "Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós"; "Por isso eu luto para atingir os meus obstáculos". (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Dario, com a camisa da Ponte Preta, em jogo contra o Corinthians (Foto: Acervo pessoal de Dario)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

As várias faces do gol

Quem acompanha futebol com certeza já viu gol de todo o jeito. De cabeça, com o pé, de barriga, de costas, de bunda e até com a mão. O gol com a mão mais famoso do mundo foi de Maradona, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, no México, no jogo Argentina X Inglaterra. Apelidado pelo próprio jogador como “La Mano de Dios”, o gol serviu de inspiração para um filme rodado o ano passado, além de músicas dos compositores Walter Olmos e Carlos Waiss.

O gol de barriga de Renato Gaúcho foi um dos lances mais pitorescos da história do futebol brasileiro. Aconteceu num clássico Fla-Flu pelo Campeonato Carioca, dia 25 de junho de 1995. O empate de 2 X 2 dava o título ao Flamengo. Ao Fluminense só a vitória interessava. O relógio marcava 42 minutos do segundo tempo. A torcida rubro-negra já cantava e festejava quando o incrível aconteceu: Ailton recebeu a bola na linha de fundo, pela direita, cortou para um lado, driblou Charles Guerreiro e chutou para o gol de Roger. A bola resvalou na barriga do atacante Renato Gaúcho e entrou. Vitória do Fluminense, taça nas laranjeiras, fim de um jejum de 11 anos e silencio profundo da torcida do Flamengo.

No dia 29 de abril do ano passado, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro o goleiro Fábio, do Cruzeiro, no clássico que o Atlético venceu por 4 X 0, levou um gol de costas. O “Galo” acabara de marcar de pênalti o terceiro gol, aos 45 minutos do segundo tempo. O Cruzeiro deu a saída e perdeu a bola. O centroavante Vanderlei dominou, livrou-se de um defensor, aproximou-se da área e chutou enquanto o goleiro Fábio estava de costas para o gramado. Disse depois que fora buscar a bola do lance anterior, que ainda estava dentro da meta.

No Campeonato Brasileiro do ano passado, em jogo no Mineirão, dia 4 de julho, o Flamengo levou um gol do Atlético, aos 43 minutos do segundo tempo. Aos 47, o jogador Leonardo empatou o jogo com um gol de ombro. Mas isso, não é nada. Pior foi o gol de nuca que o atacante Abimael, do Figueirense fez contra o Caxias, em 2001, aos 39 minutos do segundo tempo no jogo do Brasileiro da Série B, que colocou o time catarinense na Série A.

Num dos jogos da decisão do Campeonato Paulista de 1977, o jogador Palhinha, do Palmeiras fez um gol de nariz contra o Corinthians e precisou de atendimento médico. Após chutar no gol adversário, a bola foi rebatida pelo goleiro, voltou e bateu direto no seu nariz e entrou no gol.

Em 12 de dezembro de 1993 o São Paulo ganhou seu segundo título mundial de clubes, em Tókio. Derrotou o poderoso Milan, da Itália, por 3 X 2 . O gol da vitória aconteceu aos 36 minutos do segundo tempo, marcado pelo atacante Muller. O tricolor paulista encaixou um contra-ataque, tocando a bola calmamente: Doriva, Dinho, Leonardo e Cerezo, e lançamento para Muller que de dentro da área adversária fez o famoso e histórico gol de “bunda”.

Alguém já ouviu falar de um gol feito com o “pinto”? Mas já aconteceu. Foi no dia 11 de novembro do ano passado na vitória do Stuttgart por 3 X 1 sobre o Bayern de Munique, pelo Campeonato Alemão. O jornal “Bild” publicou na edição de 14-11 o gol de “pinto” do atacante Mário Gomes, o primeiro do jogo. O periódico alemão assegura que foi com o pênis do jogador. O goleiro Oliver Kahn, do Bayern saiu da meta para tentar defender uma bola cruzada, que sobrou para Gómez, que pulou para cabecear, quando foi surpreendido pela trajetória da bola, que pegou efeito e bateu em seu pênis, enganando o goleiro. “Primeiro gol de pênis no campeonato alemão”, foi a manchete de capa do jornal. E no subtítulo esta pérola: “O gol foi geni(t)al”.

Sem a menor dúvida esses lances ganharam lugar de destaque na história do futebol pela maneira como foram marcados. Muitos outros gols foram feitos de maneira curiosa. Citei alguns, apenas como ilustração. Mas nada, nada mesmo se compara ao gol mais esquisito do mundo em todos os tempos, marcado por um jogador de nome Leônidas, que defendeu o América, do Rio de Janeiro, nos anos 50.

Nada a ver com o famoso Leônidas da Silva, o eterno “Diamante Negro”. O jornalista carioca, Sandro Moreira foi quem apelidou o Leônidas americano, de “Leônidas da Selva”, para não confundir com o outro. Em uma excursão do América pela Turquia, o "da Selva" tentou alcançar um cruzamento. Tropeçou e para não estatelar-se no chão plantou uma "bananeira.” Ao fazê-lo acertou com o calcanhar na bola que entrou no gol turco, sob o olhar estupefato da torcida.

“Leônidas da Selva” foi um bom jogador, um verdadeiro tanque, rompedor e goleador. Dono de um físico avantajado, Leônidas quando ainda morava no Sul do país, exibia-se em circo com um número sensacional: deitava no chão e mandava passar um caminhão por cima de seu peito. Foi ídolo da torcida americana e chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira. Fez parte daquele que é considerado o melhor ataque da história do América: Canário, Alarcon, Leônidas, Romeiro e Ferreira.

Seu nome verdadeiro é Manoel Pereira. Nasceu no dia 3 de janeiro de 1927, em Biguaçu (SC) e faleceu no dia 23 de abril de 1985, em Matinhos (PR). Foi para o América em 1956. Conquistou dois títulos importantes, as Copas Oswaldo Cruz e Atlântico, em 1956, pela Seleção Brasileira, por quem fez 1 gol.

Leônidas vestiu por seis vezes a camisa canarinho: em 12 e 17 de junho de 1956, contra o Paraguai; em 24 de junho, enfrentou o Uruguai; em 1 de julho de 1956, encarou a Itália; 8 de julho de 1956, jogou contra a Argentina e em 5 de agosto de 1956, enfrentou a Tchecoslováquia. Pelo América não conseguiu mais do que um vice-campeonato carioca, em 1955 e ser capa da revista “Esporte Ilustrado” (foto que ilustra este artigo).

Contam que no jogo de estréia na Seleção, Leônidas tinha como companheiro de ataque o genial Zizinho, um dos maiores craques do futebol brasileiro em todos os tempos. Era um jogo contra o Paraguai. Leônidas estava muito nervoso porque não conseguia aproveitar os passes milimétricos de Zizinho, que o lançava em profundidade. Foram cinco passes magistrais, verdadeiras obras de arte, que Leônidas não aproveitou. A torcida não perdoou e as vaias ecoavam por todo o estádio.

No intervalo do jogo, na conversa de vestiário, Leônidas chamou Zizinho a um canto e, quase chorando, pediu: “Seu Zizinho, por favor, não me dê mais aqueles passes inteligentes. Não adianta, não sei o que fazer. Para mim, não adianta. É melhor o senhor mandar a bola em cima dos “beques”, eu prefiro assim, vou lá e divido com eles.” Dito e feito: na primeira bola que Zizinho tocou na direção do zagueiro paraguaio, “Leônidas da Selva” foi pra cima, chutou, bateu canela com canela e fez o gol. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
O apelido de "Leônidas da Selva" foi dado pelo jornalista Sandro Moreira (Foto: Revista Esporte Ilustrado)

domingo, 20 de abril de 2008

Te cuida, Ibis

O Íbis de Pernambuco já viu o seu status de “pior time do mundo” correr sério perigo. Já surgiram muitos candidatos. O Grêmio Atlético Sampaio, de Boa Vista, Roraima, ou simplesmente o GAS, como é mais conhecido foi o último time a assustar o rubro-negro pernambucano. Não foram poucos os críticos que chegaram a questionar o "título" do Íbis, dizendo que o GAS conseguia ser ainda pior. Em 2004 o time começou a afundar. Chegou ao fundo do poço em 2006, quando venceu um só jogo na temporada. E assim mesmo, sem jogar. Foi um W.O. sobre o Progresso, de Mucajaí, que não apareceu.

O GAS ficou sem vencer dentro de campo de 8 de maio de 2004, quando derrotou o São Raimundo, por 4 X 0 até 2007, quando venceu o Atlético Rio Negro Clube, por 4 X 3 e de virada. A história do clube até que é bonita. Em meados da década de 1960 chegaram a Roraima vários militares do Exército Brasileiro, vindos de diversos pontos do país para servirem em um dos quartéis de Boa Vista. Entre eles estava o cearense Agenor de Souza Almeida, o “seu Agenor”, que viria a fundar o GAS em 11 de junho de 1965. O nome foi uma homenagem ao seu conterrâneo General Sampaio.

O “leão” foi o mascote escolhido. O pobre animal, reverenciado como o “rei das selvas”, sinônimo de força e coragem não merecia tal “homenagem”. Os torcedores (?) apelidaram o time de “Leão do Norte” e “Leão Dourado”. O escudo tem fundo vermelho, no centro um leão em amarelo e bem em baixo o nome Sampaio, escrito em letras maiúsculas.

O clube aderiu ao profissionalismo na década de 1990. Em 1996 disputou pela primeira vez o Campeonato Roraimense de Futebol e sagrou-se vice-campeão, perdendo o título para o Baré. Foi um início promissor, tendo garantido vaga para a Série C do Campeonato Brasileiro de 1996. A campanha nacional foi terrível: perdeu todos os jogos, fez só quatro gols e abandonou a competição ainda na primeira fase.

Olhando bem, não é surpresa Roraima ter um time tão ruim. O campeonato de lá é uma verdadeira desgraça. Os outros times não são muito diferentes do GAS. E o público sabe disso. Adivinhem qual tem sido a média de público no campeonato, nos últimos anos? Não mais do que 50 pessoas nas rodadas duplas que são jogadas aos sábados à tarde. É a menor média do futebol brasileiro. Até na várzea de qualquer cidade, o público é maior.

Só um exemplo: no dia 22 de Julho de 1996, o jogo entre Progresso x Rio Negro pelo campeonato de Roraima teve apenas um pagante: o herói foi o funcionário do Ministério de Agricultura Abraão Pereira de Souza. A renda foi de R$ 5,00 e cada clube recebeu R$ 1,00.

O fundador do clube, “seu Agenor Sampaio” ainda é o presidente. A empregada doméstica de sua casa é que lava e passa o uniforme do time. Na Diretoria ele conta apenas com o genro e funcionário público, Jander Ramalho, uma espécie de “faz tudo”. Ele carrega os jogadores nos dias de jogos em sua caminhoneta “Pampa”. A maioria deles mora na periferia de Boa Vista. No elenco tem gente de tudo que é profissão, de pintor de parede a teólogo. Treino é coisa rara. E dinheiro, mais ainda. De vez em quando uma cesta básica, e fica por aí.

Já existiu um outro Grêmio Atlético Sampaio, mas no Acre. E não era ruim como o “xará” de Roraima. O Sampaio acreano, de Rio Branco foi fundado e dirigido pelo comando do exército local. Foi campeão acreano em 1967 e extinto pouco depois, em 1969. Treinava no campo da 4.a Companhia da Fronteira. O principal incentivador do GAS era o capitão Maia. Esse time deixou saudade, tanto que existe em Rio Branco uma rua que leva seu nome.

Mas o GAS de Roraima não está sozinho nessa briga para ver quem é ou foi o pior time do mundo. A lista é grande e incompleta, pois com certeza devem existir muitos outros candidatos por este mundo de Deus afora. Eis alguns.

O Estudantes, de Timbaúva (PE), foi o grande rival do Íbis no Estado. Enquanto o “pássaro preto” levava pancada na primeira divisão, o time timbauvense apanhava na segundona. Em 1995 teve um saldo negativo de 46 gols.

“Bonita” também foi a campanha do Expressinho (MA), que no campeonato de 1996 jogou 18 partidas e perdeu todas. Sofreu 67 gols e marcou apenas 3. O Vitória do Mar, também do Maranhão conheceu vitórias, só no nome. Dizem que tempos atrás o clube disputou com o Íbis o título de pior do mundo, mas nem isso conseguiu ganhar.

E do Cruzeiro de Arapiraca (AL), o que dizer? Em 1988 o time ficou conhecido como "assombroso". O técnico Eraldo Lessa era o administrador de cemitério e a torcida adversária não deixava por menos e chamava os jogadores de "coveiros", porque eles “enterravam” o time. O clube ganhou um único jogo naquela época, contra o São Domingos e num dia primeiro de abril. Vitória de “mentirinha”, diziam os gozadores de plantão.

Um outro Cruzeiro não fica atrás. É o Cruzeiro Esporte Clube, de Porto Velho (RO). A última vez que o time soube o que é uma vitória foi no dia 12 de abril de 2005, quando venceu o Pimentense, por 1 a 0, no seu estádio, o Aluízio Ferreira. Desde então, foram 18 jogos, com 15 derrotas, dois empates e mais uma vitória, mas no tapetão, contra o mesmo Pimentense. Dentre as derrotas acumuladas, o Cruzeiro sofreu uma goleada de 10 a 0 para o Ji-Paraná, no dia sete de maio de 2005. Dois jogos depois, o time melhorou e perdeu para o Genus por “apenas” 9 a 0. Nos 18 jogos disputados desde a última vitória, foram 56 gols sofridos, média de 3 gols por jogo e somente 10 gols marcados.

Outra proeza para ninguém botar defeito foi protagonizada pelo já extinto time do Bernardo, de São Bernardo do Campo (SP), que foi último colocado na 6ª divisão paulista, por seis anos consecutivos.

O mais novo aspirante ao título de pior do mundo não pode ser desconsiderado. É candidato fortíssimo. Trata-se do Esporte Clube Perilima, de Campina Grande (PB). O próprio nome do time é inacreditável. O dono, Pedro Ribeiro Lima, juntou o PE, de Pedro, o RI, de Ribeiro e o sobrenome LIMA e compôs a obra, PERILIMA.

O Perilima foi fundado em 8 de setembro de 1992, com o nome de Associação Desportiva Perilima e pertence a uma fábrica de “sordas”, uma mistura de bolachas de trigo e rapadura, típica da região Nordeste. Os jogadores são quase todos funcionários da empresa e recebem apenas um complemento de salário. O dono banca todas as despesas do clube, cerca de R$ 15 mil por campeonato. Sua única exigência é sempre ser escalado e só sair quando quiser. O que não é problema, pois além de jogador e capitão da equipe, é o técnico.

Pedro, que se diz viciado em futebol e que fica doente quando não joga, tem 1.62 metro de altura e pesa 80 quilos. Costuma jogar pelo menos o primeiro tempo, não marca ninguém e raramente toca na bola. O time não tem torcedores, mas conta com a simpatia de todos pelo seu caráter folclórico.

Em 2001 mudou o nome para Esporte Clube Perilima. Em 2003 voltou ao nome antigo de Associação Desportiva Pirilima. É conhecido como a “Águia de Campina Grande”. Vive num constante sobe e desce nos campeonatos da primeira e segunda divisões. A propósito, a segunda divisão paraibana é agora oficialmente denominada de “Troféu Chico Bala”. Entre os “craques” do time no ano passado figuravam nomes como “Chimba”, “Nego Pai”, “Fumaça” e “Foguinho”.

O ano passado a FIFA reconheceu seu Pedro como o mais velho jogador em atividade no futebol mundial (58 anos). O único gol que marcou na carreira foi no jogo em que perdeu por 5 X 1 para o Campinense, de Campina Grande, pelo campeonato paraibano, no dia 28 de março de 2007. O gol foi de pênalti, aos 35 minutos do segundo tempo. O “artilheiro” tinha dois sonhos, fazer um gol como profissional e encerrar a carreira aos 60 anos. Agora, só falta um.

No campeonato paraibano de 2007 o Perilima conseguiu 15 derrotas seguidas, sofreu 67 gols e marcou 7. Somando-se os dois jogos que perdeu na segunda divisão de 2006, um campeonato que teve apenas dois participantes - foi vice-campeão sem vencer – a marca de derrotas consecutivas em partidas oficiais sobe para 18 jogos, incluindo um jogo do estadual de 2005.

A última vitória do time das “sordas” foi em 26 de fevereiro de 2005, 1 x 0 sobre o Nacional de Cabedelo, outro time do mesmo DNA do Perilima. Foram 26 jogos oficiais sem vitória, e duas goleadas, 7 X 0 para o Campinense, a “Raposa do Nordeste” e 11 X 0 para o Treze, o “Galo da Borborema.” O único ponto conquistado no campeonato do ano passado foi no empate em 3 X 3 com o Esporte, de Patos, no estádio Amigão, em 14 de abril. Nesse jogo o “dono do time” desperdiçou um pênalti.

No exterior, perde-se a conta de quantos times ruins existem. A quantidade é enorme, por isso vou dar apenas um exemplo. O Deportivo Jalapa, da Nicarágua por incrível que pareça foi campeão nacional em 2001. E no ano seguinte foi disputar a Copa dos Campeões da Concacaf, em El Salvador. Confiram os resultados dos seus jogos: na estréia, derrota por 4 X 1. No segundo jogo, por 17 X 0. No terceiro, 19 X 0. Sofreu: 40 gols e marcou um. Ganhou o apelido de “Real Madrid às avessas”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Pedro Ribeiro Lima, dono do Perilima e mais velho jogador de futebol profissional em atividade no mundo (Foto: Federação Paraibana de Futebol)

sábado, 19 de abril de 2008

Essas mulheres maravilhosas

Essa história de que futebol é “coisa pra macho”, já era. As mulheres conquistaram seu espaço dentro do campo de jogo e não tem mais volta. E isso já poderia ter acontecido há muito mais tempo, pois o futebol feminino não tem nada de novo. Ao contrário. Ele remonta ao ano de 1896, quando foi realizado em Londres o primeiro jogo no mundo, um amistoso entre as seleções da Inglaterra e da Escócia, embora existam registros vagos de partidas entre mulheres no começo de 1880.

Igual ao futebol masculino são muitas as histórias que falam da realização de jogos entre mulheres, em épocas bastante remotas. No século XII as mulheres francesas participavam do “futebol do povo” ou “jogos da multidão”, competições onde camponesas lutavam por uma bola de couro com fitas num jogo chamado La Soul. No século XVIII, em Coulevam, na Escócia, as mulheres casadas e solteiras da região jogavam umas contra as outras numa forma primitiva de futebol.

A inglesa Net Rolibol, em 1894 fundou o ”Senhoras Britânicas”, o primeiro time de futebol feminino do mundo. Em 1895, dez mil pessoas viram o jogo de estréia da equipe. No Canadá, surgiu em seguida o “Society Angels”, de Edmont. As francesas também se interessaram pelo futebol e em 1910, já haviam sido criados o “Rouge Esportive” e o “Femina Sports”, de Paris. No mesmo ano em Bountson Park, 53 mil pessoas assistiram um jogo beneficente do “Dick Kerr Ladies F.C.”. O estádio lotou e mais de 10 mil pessoas ficaram do lado de fora sem conseguir assistir o jogo. Foram arrecadadas mais de 70 mil libras.

Em dezembro de 1921, a Associação Inglesa de Futebol, composta por futebolistas masculinos, proibiu os filiados de cederem seus campos para jogos entre mulheres. A proibição durou longos 50 anos. Tempos depois, a Federação Francesa fez o mesmo. Nada disso conseguiu impedir que as equipes femininas continuassem organizando jogos para caridade. Mesmo assim o futebol feminino teve um rápido declínio.

Foi somente em 1950 que o interesse pelo futebol feminino ressuscitou, começando a se desenvolver na Alemanha, Dinamarca, Tchecoslováquia e Itália. As meninas começaram a jogar futebol na escola e o nível de habilidade desenvolveu-se rapidamente. No Brasil, não se sabe com certeza quando elas começaram a jogar. Alguns pesquisadores garantem que ocorreram jogos de futebol feminino no início do século XX, entre os anos de 1908 e 1909.

Outros historiadores discordam e dizem que o primeiro jogo feminino no Brasil foi disputado em 1913, entre times dos bairros da Cantareira e do Tremembé, em São Paulo. Teria sido um jogo beneficente para a construção de um hospital da Cruz Vermelha. Porém não se sabe se realmente eram mulheres jogando ou homens vestidos de mulheres, ou ainda, times mistos. Mas numa coisa todos concordam: as primeiras mulheres futebolistas vinham de bairros populares, e eram vistas como “sem classe” e “grosseiras”.

Também há quem diga que as mulheres só entraram em campo por volta dos anos 30, quando sofreram grande discriminação do governo Vargas, que alegava estabelecer a “conduta correta para a mulher, mãe ou futura mãe no seio da sagrada família brasileira”. Durante o “Estado Novo” foi publicado um decreto que proibia as mulheres de praticarem lutas, futebol, pólo aquático, pólo, rugby, baseball ou qualquer esporte ”incompatível com as corretas e naturais condições e funções femininas”. O futebol, naquele tempo era visto como algo que poderia denegrir a imagem da mulher.

A história do futebol feminino no Brasil foi sempre um mar de dúvidas. O Jornal do Brasil, edição de 29/11/76, publicou matéria sugerindo que as primeiras partidas de futebol feminino nas praias do Rio de Janeiro foram no Leblon, em dezembro de 1975, sempre tarde da noite, porque as jogadoras eram na maioria, empregadas domésticas. A Revista Veja, em uma de suas edições de 1996, também enveredou pelos caminhos do futebol feminino, afirmando que ele teve o início marcado por jogos organizados por diferentes boates gays, no final da década de 70.

O tema mereceu muitas reportagens ao longo dos anos. O Jornal do Brasil, em outra matéria, divulgada em1996, revela que o futebol feminino esteve relacionado a peladas de rua e a jogos beneficentes. Citou como exemplo um jogo ocorrido em 1959 por atrizes do Teatro de Revista, em pleno Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

O futebol feminino começou a se organizar de verdade, com a criação em 1981, da primeira liga de futebol feminino no Rio de Janeiro. A partir daí foram realizados vários campeonatos patrocinados por empresas, como a Copertone, Casas Pernambucanas, Cinzano, Unibanco e outros. Ainda na década de 80, a televisão passou a exibir jogos de futebol feminino, o que foi fundamental para a popularização do esporte em todo o país.

Em 1965, durante o regime militar, o ex-presidente Castelo Branco regulamentou o decreto de Vargas e somente em 1982, ele foi revogado pelo Conselho Nacional de Desporto (CND). Em abril de 1985 o futebol feminino foi legalizado. Com isso as mulheres puderam voltar aos gramados sem problema. Nessa época surgiu um dos maiores times da história do futebol feminino brasileiro, o Radar F.C. do Rio de Janeiro.

Enquanto no Brasil as mulheres tiveram problemas para praticarem livremente o futebol, na Europa, muitos times foram criados ao longo do século passado, embora não existissem campeonatos regulares. Isso aconteceu só a partir dos anos 70, quando vários certames, envolvendo times e seleções, foram realizados em países como Itália, Inglaterra, Dinamarca e França.

Hoje, o futebol feminino está consolidado como esporte olímpico e desde 1991 é disputada uma Copa do Mundo organizada pela FIFA, de 4 em 4 anos, reunindo seleções de todos os continentes, inclusive de países conservadores como a China. A competição foi idealizada pelos delegados da FIFA, durante a Copa do Mundo de 1986 no México.

Antes disso, em 1971, sem reconhecimento oficial foi realizada uma Copa do Mundo de Futebol Feminino, no México e sem a participação brasileira. A Dinamarca foi campeã, derrotando as mexicanas por 3 X 0, no jogo final, disputado no Estádio Azteca, na Cidade do México, perante 100 mil expectadores.

Somente em 1988, um evento com o apoio da FIFA foi realizado na China, o I Torneio Mundial de Futebol Feminino, com a participação de 12 países, inclusive o Brasil, representado pela equipe carioca do E.C. Radar. Esse evento serviu como preparação para o I Campeonato Mundial de futebol feminino realizado na cidade de Punyu na China, em 1991.

A campanha brasileira na competição foi esta: fase classificatória. Brasil 0 x 1 Austrália; Brasil 2 x 1 Noruega e Brasil 9 x 0 Tailândia. Oitavas de final: Brasil 2 x 1 Holanda. Fase semifinal Brasil 1 x 2 Noruega. Na decisão do 3º lugar: Brasil 4 x 2 China. A seleção da Noruega venceu a seleção da Suécia por 1 x 0 na partida final.

O torneio foi o último disputado pelo Esporte Clube Radar, um clube de praia, fundado em 1932 em Copacabana. A equipe de futebol feminino foi criada em 1981 pelo empresário Eurico Lira. Até paralisar as atividades, o Radar contabilizou mais de 300 partidas, sendo 71 delas no exterior. Foram 66 vitórias, 3 empates e 2 derrotas.

O clube carioca foi um grande vencedor, empilhando conquistas. Um título importante foi o de campeão do Women Cup Of Spain, quando derrotou as seleções da Espanha, Portugal e França. O sucesso do Radar estimulou o surgimento de novos times. Em 1987, a CBF já havia cadastrado 2 mil clubes e 40 mil jogadoras.

Finalmente, em 1991 foi realizado o I Mundial, na China. Os Estados Unidos se sagraram os primeiros campeões. Em 1995, na Suécia, quem venceu foi a Noruega. Em 1999, nos Estados Unidos, nova vitória dos anfitriões. Em 2003, a Copa foi de novo nos Estados Unidos, porque uma epidemia de SARS tirou a sede da China. A Alemanha ganhou o título. Em 2007 os chineses promoveram a competição e a Alemanha foi bicampeã. O Brasil perdeu a final, por 2 X 0 e foi vice. Em 2011 a competição será na Alemanha. O número de seleções sobe de 16 para 24.

Um dos mais emocionantes momentos da Copa do Mundo feminina e talvez da história do futebol, foi quando a jogadora norte-americana Brandi Chastain tirou a camisa e deslizou de joelhos, mostrando seu sutiã esportivo na comemoração de um gol de pênalti que decidiu a final contra a China em 1999.

Em 1996 o futebol feminino foi incluído nas Olimpíadas de Atlanta. Era o reconhecimento mundial que faltava. O Brasil ficou com o quarto lugar, e os Estados Unidos com o título. Em 2000, em Sydney, ficamos outra vez com o quarto lugar e a seleção da Noruega levou o ouro. Em 2004, em Atenas quase chegamos ao topo do pódio: ficamos com a prata e os Estados Unidos com o ouro. Em 2003 e 2007, as meninas brasileiras conquistaram as medalhas de ouro nos Jogos Panamericanos. E em 2006 e 2007 a brasileira Marta foi eleita pela FIFA, como a melhor jogadora do mundo.

As perspectivas para a evolução do futebol feminino no Brasil são grandes. O ano passado a CBF organizou o primeiro campeonato brasileiro, na cidade de Taubaté (SP), com o MS/Saad-SP,sagrando-se campeão. O time é fruto de uma parceria do Saad/Lindóia-SP, com o Mato Grosso do Sul para torneios regionais e nacionais. E agora, vamos para as Olimpíadas da China, com tudo para brilhar. Hoje (19), ganhamos a vaga com uma goleada de 5 X 1 sobre Gana.

Para finalizar e só a título de curiosidade, o futebol feminino também teve o seu Ibis da vida: foi o time inglês do Burton Brewers. Jogando (?) o campeonato da 5ª divisão feminina, a pior de todas, na temporada 2000/2001, levou a maior goleada que se tem notícia, 57 X 0 para o Willenhall Town, em 4 de março de 2001. E a façanha não ficou apenas nisso: o campeonato foi disputado por 12 equipes, e nos 11 jogos que participou, perdeu todos. Desistiu no meio do caminho, ainda bem. Não disputou os 11 jogos restantes e encerrou as atividades. Sofreu 234 gols, média de 21,27 gols por jogo. E marcou apenas 3 gols, média de 0,27 por jogo.

Apenas para mostrar a quem duvide, eis todos os 11 jogos do Burton Brewers: 03 de setembro de 2000, Wolverhampton United 18 x 0; 10 de setembro de 2000, Bescot 6 x 0; 24 de setembro de 2000, Shrewsbury Town Youth 17 x 0; 01 de outubro de 2000, Crewe Vagrants 13 x 2; 22 de outubro de 2000, Darlaston 21 x 0; 05 de novembro de 2000, North Staffs 27 x 0; 19 de novembro de 2000, Willenhall Town 23 x 0; 07 de Janeiro de 2001, Crewe Vargants 22 x 0; 14 de janeiro de 2001, City of Stoke 14 x 1, 18 de fevereiro de 2001, Wem Raiders 16 x 0 e em 04 de março de 2001, Willenhall Town 57 x 0. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
A jogadora dos Estados Unidos, Brandi Chastain foi protagonista de um dos mais emocionantes momentos do futebol feminino. (Foto: acervo pessoal de Brandi Chastain)

sábado, 12 de abril de 2008

Goleiros artilheiros

Dia desses num dos programas do canal Sportv se comentava os gols marcados pelo goleiro artilheiro Rogério Ceni, do São Paulo Futebol Clube. E a pergunta inevitável não tardou: qual o goleiro que fez o primeiro gol da história? Sem dúvida, uma boa pergunta. E ouvi dos participantes dos programas várias respostas. E de telespectadores, também.

Uns diziam que foi Ubirajara, do Flamengo. Outros que foi Jaguaré, folclórico goleiro do Vasco nos anos 30. Na verdade, não foi nenhum dos dois. O primeiro gol de goleiro que se tem notícia aconteceu em 25 de março de 1882. E foi marcado por James McAulay, da Seleção da Escócia, em um jogo contra País de Gales. James McAulay era goleiro, mas atuou nesse jogo como centroavante e fez um gol na vitória de 5 a 0.

O livro “Guia dos Curiosos” garante que no Brasil, Ubirajara, ex-Flamengo foi o primeiro goleiro a marcar um gol. Foi num jogo do campeonato carioca, contra o Madureira, em 19 de setembro de 1970. Ele bateu com força um tiro de meta, buscando armar o ataque, pois o time adversário estava todo avançado. A bola, quicou duas vezes, deu um “chapéu” no goleiro do Madureira e só parou dentro do gol. Mesmo com um gol de goleiro o Flamengo acabou perdendo aquele jogo por 2 X 1.

Há quem diga que o goleiro Jaguaré, do Vasco da Gama teria sido o autor de um gol “vestindo a camisa número 1”, que seria o primeiro de um goleiro brasileiro. Porém, não existem informações de quando e nem contra qual adversário esse gol aconteceu. O que se sabe com certeza sobre Jaguaré, é que foi ele quem trouxe as primeiras luvas de goleiro para o Brasil, compradas na Europa durante uma excursão do Vasco.

Outros goleiros que se destacaram em seus clubes como verdadeiros artilheiros: Rogério Ceni (79 gols), São Paulo FC; José Luis Félix Chilavert (62), C.A. Peñarol, de Montevidéu e Seleção do Paraguay; René Higuita (41), Deportivo Rionegro e Seleção da Colômbia; Jorge Campos (40), Puebla do México e Seleção Mexicana; Johnny Martín Vegas (30), Sporting Cristal, de Lima, Peru; Dimitar Ivankov Kayserýspor (30), da Bulgária; Álvaro Misael Alfaro (29), do Club Deportivo Isidro Metapán, de El Salvador; Hans-Jörg Butt (28), do Sport Lisboa e Benfica; Marco Antonio Cornez (24), do Deportes Iquique, do Chile; Dragan Pantelić (22), do FK Radnicki Nis, da Jugoslavija; Žarko Lučić (21), do Mladost Podgorica Crna, de Gora e Nizami Sadigov (21), do Turan Tovuz, do Azerbaijan.

Rogério Ceni, o maior goleiro artilheiro do mundo nasceu em 22 de janeiro de 1973, na cidade paranaense de Pato Branco, a mesma de Alexandre Pato, do Milan da Itália, mas cresceu no Mato Grosso, onde até hoje reside a maior parte de seus familiares. Foi revelado pelo Sinop Futebol Clube, da cidade de Sinop, que quer dizer Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa responsável pela colonização do norte de Mato Grosso por agricultores do norte do estado do Paraná. Em 7 de setembro de 1990 transferiu-se para as categorias de base do São Paulo F.C..

Depois foi para a reserva de Zeti, nos tempos do técnico Telê Santana. Em 1997, com a ida de Zeti para o Santos, Ceni assumiu a titularidade. De lá para cá todos conhecem a história. O goleiro do São Paulo se tornou um especialista na cobrança de faltas próximas à área e firmou-se como cobrador oficial de pênaltis do tricolor paulista. Rogério Ceni treinou esse fundamento por mais de 15 mil vezes. O primeiro gol foi numa cobrança de falta, em 15 de fevereiro de 1997, num jogo do Campeonato Paulista contra o União São João, de Araras. Em 13 de setembro de 1997 marcou seu primeiro gol em campeonato Brasileiro, também de falta, contra o Botafogo do Rio de Janeiro.

O primeiro gol de Rogério Ceni em um jogo internacional aconteceu em 25 de agosto de 1999, contra o San Lorenzo de Almagro, da Argentina, em jogo válido pela Copa Mercosul. E outra vez em cobrança de falta perto da grande área. O Palmeiras é o time que sofreu mais gols de Ceni, (6), seguido pelo Cruzeiro (5). No ano de 2005 chegou ao auge, marcando 21 gols, sendo o último na histórica semi-final do Mundial de Clubes, contra o Al-Ittihad, da Arábia Saudita.

Rogério Ceni não poupou seu ex-companheiro de clube, Zetti, e nem o atual goleiro reserva do São Paulo, Bosco. Fez gols nos dois: quando Zeti estava no Santos, em 1998 e Bosco na Portuguesa de Desportos, em 2002. Em compensação tomou um gol do paraguaio Chilavert, de pênalti, em 23 de outubro de 1997, no empate de 3 X 3 com o Vélez Sarsfield, da Argentina, pela Supercopa.

Rogério Ceni é um quebrador de recordes. No dia 20 de agosto de 2006, ultrapassou o goleiro paraguaio Chilavert, até então recordista mundial, com 62 gols, ao marcar contra o Cruzeiro de Belo Horizonte, em cobrança de falta o seu 63º gol em partidas oficiais. E nesse mesmo jogo ainda fez outro gol, de pênalti, chegando aos 64 gols.

Até hoje (12/04/2008), Rogério Ceni é dono deste incrível retrospecto: 79 gols marcados, sendo 46 de faltas e 33 de pênaltis. Em amistosos fez 2, ambos de falta. Os outros 77 gols foram em jogos oficiais. Chama a atenção o fato de que o São Paulo nunca perdeu nos jogos em que Rogério Ceni fez gol. Foram 54 vitórias e 16 empates.

Não foi só contra o Cruzeiro que o goleiro tricolor fez dois gols num mesmo jogo. Antes, havia marcado contra a Internacional de Limeira (SP), no campo do adversário, em 25 de abril de 1999, num jogo do Campeonato Paulista, na vitória de 2 a 1. Foi um gol de pênalti e um de falta. Em 17 de julho de 2004, num jogo no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro, numa vitória de 2 X 1, frente o Figueirense, também com um pênalti e uma falta. E finalmente, na vitória de 4 X 0 contra o Tigres do México, pelas quartas-de-final da Copa Libertadores da América de 2005, fez dois gols de falta, e ainda perdeu um pênalti e a chance de bater um novo recorde, três gols numa só partida.

No dia 1º de setembro do ano passado, na vitória de 6 X 0 sobre o Paraná,no Morumbi, Rogério se tornou o goleiro do São Paulo que passou mais tempo sem levar gol em Campeonatos Brasileiros, 988 minutos, ultrapassando os 694 minutos de Valdir Peres, em 1983. O goleiro são-paulino só voltou a ser vazado em 15 de setembro, num jogo contra o Santos. Os goleiros que ficaram mais tempo sem sofrer gols no “Brasileirão” foram Jairo, do Corinthians, em 1978, com 1.132 minutos e Emerson Leão, do Palmeiras, em 1973, com 1.057 minutos).

Esse extraordinário jogador atuou 17 vezes pela Seleção Brasileira e fez parte do grupo campeão do mundo em 2002. Em 22 de junho de 2006 jogou pela primeira vez uma partida de Copa do Mundo, ao substituir o titular Dida, aos 36 minutos do segundo tempo da goleada de 4 X 1 frente o Japão. A última vez que a seleção utilizou dois goleiros numa mesma Copa do mundo foi em 1966, na Inglaterra.

A galeria de troféus de Rogério Ceni é de dar inveja a qualquer um: ganhou por cinco vezes a Bola de Prata, concedida pela Revista Placar. Em 2006 recebeu o troféu de ouro da CBF, como melhor goleiro e melhor jogador do Campeonato Brasileiro. O ano passado abusou de ganhar prêmios: Melhor Goleiro do Campeonato Brasileiro, Craque do Brasileirão e Craque da Torcida, todos concedidos pela CBF.

O experiente goleiro do São Paulo já teve seu nome incluído por três vezes na lista dos dez melhores goleiros do mundo, organizada todos os anos pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Em 2005 ocupou a nona posição, em 2006 foi sexto colocado e em 2007, o quinto classificado. O ano passado foi o único jogador atuando no futebol sul-americano indicado para o Prêmio Bola de Ouro, da revista “France Football.” (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Rogério Ceni, um quebrador de recordes (Foto : Site Oficial de Rogério Ceni)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O maior campeonato do mundo

Quem não lembra da Copa Arizona de Futebol, que foi disputada nos anos 70 e envolvia equipes amadoras de todos os Estados do Brasil. A competição era organizada pelo jornal “A Gazeta Esportiva”, de São Paulo e patrocinada pela Companhia Souza Cruz, fabricante dos cigarros Arizona. Foi considerado, na época pelo Livro Guinnes, o maior campeonato do mundo, ao reunir cinco mil equipes, sendo 1.032 só do Estado de São Paulo.

O regulamento era simples. Primeiro as fases regionais que classificavam os campeões de cada Estado. Depois vinham as finais disputadas na capital paulista e precedidas de uma grande festa. Em 1976, por exemplo, durante mais de duas horas jogadores amadores de todo o Brasil desfilaram frente um palanque armado na avenida São João, ao som de bandas e fanfarras.

Eu cheguei a participar de uma Copa Arizona, foi no ano de 1975, quando fui técnico de um time chamado Cruzeiro do Sul, na cidade de Pelotas. Saímos invictos da competição. Ganhamos a fase local e na regional fomos eliminados nos pênaltis pelo Internacional, de Arroio Grande, depois de 90 minutos e uma prorrogação de 30, com empates de 0 X 0. O Cruzeiro do Sul revelou um grande número de jogadores que depois brilharam em equipes profissionais, como Joaquim, zagueiro do Internacional de Porto Alegre.

A Copa Arizona disputava popularidade com os campeonatos dos times tradicionais de várzea. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a competição tinha tanto prestígio, que os clubes que se sagravam campeões, mesmo sem o reconhecimento da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), se auto proclamavam campeões estaduais de amadores.

Lembro que a cidade de Ijui, terra do técnico Dunga, da Seleção Brasileira tinha dois times quase imbatíveis, o Ouro Verde e o Estrela Vermelha, que abocanharam três estaduais, em 1975, 1977 e 1980.

Infelizmente eu não tenho a lista completa dos campeões nacionais da Copa Arizona. Tentei buscar esses dados com a Companhia de Cigarros Souza Cruz, mas a memória se esvaiu com o passar dos anos. Só a Gazeta Esportiva guarda essas informações na sua coleção de jornais.

Também não consegui nada, pois seria necessária uma pesquisa demorada e paga. Como moro em Brasília, num primeiro momento isso me pareceu inviável. Mas tenho fé que algum leitor deste artigo traga luz a esse escuro existente na história da maior competição esportiva que o país conheceu. Pena que não tenha tido continuidade.

A Copa Arizona começou em 1974 e só deu São Paulo. O ADC Frum, da Vila Maria foi o campeão. O vice foi o G.E. Black Power, e o Americano, de Américo Brasiliense, chegou em terceiro lugar. Em 1975, o Esporte Clube Golfinho, de São Paulo foi o campeão, e o vice o Ajax, de Florianópolis (SC). Em 1976 o Golfinho, foi bicampeão, com a Campineira, da cidade de Sobradinho (DF), onde moro, ficando com o vice-campeonato. Apenas como detalhe, a Campineira foi campeã de Brasília, nos tempos do amadorismo, em 1975.

Em 1977, o Francisco Xavier, do Rio de Janeiro, foi campeão ao derrotar o Lagoinha, de Minas Gerais, na final, por 3 X 0. Em 1978, o campeão foi a Associação Atlética Portofelicense, de Porto Feliz (SP), que derrotou na final o Elnema, também de São Paulo, por 3 X 0. O Francisco Xavier (RJ) foi terceiro colocado.

COPA ARIZONA DE FUTEBOL AMADOR – 1980

ZONA NORTE

RIO GRANDE DO NORTE

21/09/1980
Final
Gigante Rubro 2 X 0 São Paulo, de Eduardo Gomes
Local: Estádio Juvenal Lamartine, em Natal

PERNAMBUCO
27/09/1980
Final
Juventus de Camaragibe 2 X 2 Bandeirante, de Casa Amarela
Prorrogação: Juventus 1 X 0

PARAÍBA
Grupo de João Pessoa
Semifinals
16 e 17/agosto de 1980

Grupo A
Cinco de Agosto, de Palmeiras da Torre
Íbis, de Posto Nossa Senhora da Penha

Grupo B
Proserv, de São Paulo de Tambia
Esferal, de Cimepar

Grupo de Campina Grande
Final
Confiança 2 X 0 Renascença

Estágio Final
13/09/1980
Palmeiras da Torre X Confiança de Campina Grande

FINAIS REGIONAIS

CEARÁ E PIAUÍí
Redes Santana (CE) 0 X 3 Kosmos (PI)

PARAÍBA, ALAGOAS E PERNAMBUCO
Todas as partidas disputadas em João Pessoa (PB)
04/10/1980
Flamengo (AL) 1 X 2 Juventus (PE)
05/10/1980
Palmeiras (PB) 3 X 3 Juventus/ (PE)
Prorrogação: Palmeiras 1 X 0

RIO GRANDE DO NORTE
Gigante Rubro já classificado por sediar a etapa final

FINAIS DA ZONA NORTE
Todas as partidas disputadas no Estádio Juvenal Lamartine, em Natal
10/10/1980 – Gigante Rubro (RN) 1 X 0 Palmeiras (PB)
11/10/1980 – Palmeiras (PB) 2 X 2 Kosmos (PI)
12/10/1980 – Gigante Rubro (RN) 1 X 1 Kosmos(PI)
Gigante Rubro, campeão do Norte, classificado para as finais nacionais.

ZONA CENTRO

ESPÍRITO SANTO
Final
Estrelinha 1 X 0 Siderúrgico
Gol: Moacir Calado
Grêmio Atlético Estrelinha, de Jacutuquara/Vitória, classificado

MINAS GERAIS
Finais
Ferroviária 1 X 0 Rosário
Ferroviária 0 X 0 Rosário

RIO DE JANEIRO
Capital
Final
Francisco Xavier X Frigorífico, de Nilópolis
Petropolitano X Machado Viana, de Campos
Francisco Xavier classificado

FINAIS REGIONAIS

10/10/1980 - Ferroviária X Estrelinha
11/10/1980 - Francisco Xavier X Estrelinha
12/10/1980 - Ferroviária X Francisco Xavier

Francisco Xavier, campeão do Centro, classificado para as finais nacionais.

ZONA SUL
SÃO PAULO
Final
Buenópolis de Morungaba 4 X 0 Nove de Julho, de Bauru
São Paulo Capital
Final
ADC Frum 4 X 2 Progresso

RIO GRANDE DO SUL
Grupo Grande Porto Alegre
Finalistas
Safurfa, Gloriense, Guaspari, Dínamo, Alpes, Colônia, Unidos e Icotrom
Safurfa classificado

GRUPO DE CAXIAS DO SUL
Semifinals
Noroeste 2 X 0 Conceição
Randon 0 X 0 União Forquetense
Classificado o União Forquetense
Final
Noroeste 1 X 0 União Forquetense

Água Verde de Alegrete X Madureira, de Santa Maria
Cruzeiro, de Passo Fundo 0 X 0 Noroeste
Pênaltis: Cruzeiro 4 X 3
Ouro Verde de Ijuí  X Flamengo de Livramento
Água Verde de Alegrete X Tulipa
Operário X Novo Avante, de Rio Grande

SEMIFINAIS

Tulipa, de Cachoeira do Sul
Ouro Verde, de Ijuí
Cruzeiro, de Passo Fundo
Operário, de Bagé

FINAIS

Ouro Verde 3 X 1 Safurfa
Local: Estrelão, em Porto Alegre
Gols: Bertil, Dirceu e Lauri para o Ouro Verde. Zezé descontou para o Safurfa
Ouro Verde: Poty - Zé Galvão – Casca - Paulo Perin e Jair – Toni - Lauri e Pincho (Paulo Morais) - Bertil (Gelson) - Capucho e Dirceu.

FINAIS REGIONAIS

18/10/1980
Em São Paulo
Ouro Verde X Taquarassu (MS)
ADC Frum X Buenópolis
ADC Frum, campeão do Sul, classificado para as finais nacionais.

FINAIS NACIONAIS

Equipes participantes
Zona Norte – Gigante Rubro, de Natal (RN)
Zona Centro – Francisco Xavier E.C., do Rio de janeiro
Zona Sul – ADC Frum, de São Paulo

FASE FINAL

Francisco Xavier 1 X 0 Gigante Rubro
Data: 24/10/1980
Local: Estádio do Bonsucesso
Juiz: Valdo Luís Machado
Gol: Rui
Francisco Xavier: Delfino – Tizil – Geraldão - Otávio e Canário – Rui - Paulinho (Vila) e Djalma – Mendes - Izac e Cazela (Levi)
Gigante Rubro: Romildo - Saraiva, - João Maria - Grimaldi e Ronaldo – Álvaro - Valério e Marcos – Ferreira - Neto e Hideraldo.

ADC Frum 0 X 0 Gigante Rubro
Data: 25/10/1980
Local: Estádio do Bonsucesso
Juiz: Antônio Dornellas
ADC Frum: Zé Roberto – Valtão – Alemão - Leonardo e Gato – Zucheto - Junior e Novaes – Cerejeira - Kiko (Teixeira) e Mauro (Reginaldo).
Gigante Rubro: Romildo – Saraiva - João Maria - Grimaldi e Ronaldo - Álvaro (Marcos) - Valério e Tito – Ferreira - Neto (Viana) e Adelmo.

Francisco Xavier 1 X ADC Feum
Data: 26/10/1980
Local: Estádio do Bonsucesso
Juiz: Valdo Luís Machado
Gol: Izac aos 28 do segundo tempo
Francisco Xavier: Delfino – Tizil – Geraldão - Otávio e Canário - Rui (Vila) - Reinaldo e Djalma – Mendes - Izac e Levi.
ADC Frum: Zé Roberto – Reginaldo – Valtão - Alemão e Leonardo – Zucheto - Junior (Neovaldo) e Novaes – Kiko - Teixeira e Valverde (Mauro).
Observação: A partida foi encerrada aos 79 minutos pela expulsão de cinco jogadores da equipe paulista.

Francisco Xavier campeão

Segundo o Diário de Pernambuco, a ADC Frum declinou da decisão da segunda posição contra o Gigante Rubro, e o clube natalense sagrou-se vice-campeão.

Quando a Copa Arizona acabou, em 1980, totalizou a estrondosa participação de 104 mil jogadores entre os anos de 1974 a 1980.

A Copa Arizona teve também o seu lado folclórico. Esta, eu tirei da coluna “Baú do Guidugli”, do professor Marco Antônio Guidugli, no “Jornal do Povo”, de Cachoeira do Sul (RS).

Campeão amador do Rio Grande do Sul o Ferreira Futebol Clube foi jogar em São Paulo a fase nacional da Copa Arizona. Na viagem de avião os atletas Teco, Beto Scarparo e Homerinho divertiam-se comendo pastéis, cerveja, pedaços de galinha e refrigerantes.

Outro atleta, Claudionor, ficava apenas observando. Sem saber que toda a comida era gratuita, Claudionor foi orientado pelos colegas de que teria de pagar tudo quando desembarcasse. Com pouco dinheiro, resolveu economizar, não comendo nada a viagem toda. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)