Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O preço de uma paixão

Quem não sonhou em um dia ganhar na loteria? Com certeza, todo o mundo. É a oportunidade que se tem para a realização de quase todos os desejos. Mas não é nada fácil. O cearense José Antônio Abílio de Lima foi uma dessas raras pessoas bafejadas pela sorte. Em 1977 ele ficou milionário, graças a uma de suas filhas, Maria José, que na época tinha 14 anos e acertou os 13 jogos de um concurso da Loteria Esportiva, recebendo um prêmio de 3,7 milhões de cruzeiros, o equivalente hoje a 2,5 milhões de reais.

José Abílio nunca fora um homem de muitas posses. Garantia o sustento da família com uma pequena banca onde recolhia apostas lotéricas, que levava para Fortaleza uma vez por semana. Naquela época ainda não havia nenhuma agência lotérica em Quixadá, cidade distante 168 quilômetros da capital. Muito apegada ao pai, a filha Maria José, carinhosamente chamada de “Mazé” gostava de passar os dias na banca brincando de preencher cartões de apostas. Um dia, a menina insistiu para fazer um jogo de verdade, e o pai acabou concordando.

E qual não foi a surpresa de José Abílio ao conferir a aposta: sua filha havia sido a feliz contemplada com o prêmio milionário. Maria José, hoje com 45 anos de idade e professora em uma escola pública de Fortaleza, disse que marcou os resultados de forma aleatória, pois não entendia nada de futebol. Se entendesse um pouquinho só, certamente não teria marcado empate no jogo entre as seleções do Brasil X Colômbia, uma verdadeira zebra.

Como Maria José era menor de idade, o dinheiro foi para a conta de seu pai, que não perdeu tempo e no dia seguinte comprou um sítio na zona rural de Quixadá, algumas casas, um carro e abriu uma agência lotérica na mesma rua da antiga banca. Com todo aquele dinheiro José Abílio poderia ter oferecido uma vida de luxo para sua família. Mas não foi assim. O investimento em bens ficou só naquilo.

Ninguém em sã consciência jamais poderia imaginar que José Abílio iria gastar quase toda a fortuna num time de futebol. Mas foi o que aconteceu. A paixão pelo Quixadá Futebol Clube, time do qual era o presidente falou mais alto do que qualquer outra coisa. A voz da razão não conseguiu ser ouvida. Paixão é um sentimento que impede de se raciocinar com a lógica, é amor ardente e violento, sentimento profundo. É o amor obsessivo, é o amor que se desequilibra. Só isso pode explicar o que aconteceu.

A fortuna inesperada não fez de José Abílio um homem diferente do que sempre foi, permanecendo humilde e amigo de seus amigos. Era comum vê-lo pelas ruas da cidade calçando chinelas japonesas e pedalando a inseparável bicicleta.

José Abílio era fanático por futebol. Não conseguia se concentrar no trabalho, o Quixadá ocupava seus pensamentos e era sua principal prioridade. Ele era tão louco por futebol que assistia a um jogo pela TV e ouvia outro no rádio.

Com José Abílio no comando o Quixadá viveu dias inesquecíveis. Ele contratou muitos jogadores de nome, entre os quais o atacante Cícero Ramalho, que foi artilheiro do campeonato Cearense de 1988, comprou uma casa para a sede do clube, mandou confeccionar novos uniformes, alugou o melhor ônibus da região para as viagens do time e pagava de seu próprio bolso toda a folha salarial do clube.

No início da década de 1990 quando quase todo o dinheiro da loteria já havia sido gasto com o futebol, José Abílio descobriu que tinha câncer de próstata. Para custear o tratamento teve de vender alguns bens e recorrer aos amigos. Ele morreu em 1993, aos 69 anos de idade. A filha Maria José, que marcou o cartão de loteria premiado, garante que nunca se sentiu frustrada pelo fato do pai ter gasto quase todo o dinheiro com o Quixadá F.C. Ela conta que muita gente criticou, mas o sonho que ele realizou foi o maior prêmio. Para conquistar o apoio de “Mazé”, José Abílio a presenteou com uma coleção de discos de Roberto Carlos.

Os demais integrantes da família também não guardam nenhum tipo de ressentimento pelo destino dado ao dinheiro, embora admitam que a gastança com o futebol tenha provocado alguns atritos em casa. Ninguém sabe ao certo quanto ele gastou com o Quixadá. A viúva, Antônia Azevedo de Lima, guarda vários recortes de jornais sobre o marido e até uma enciclopédia que aborda sua importância na história do Quixadá. A maior relíquia são os canhotos do depósito de 3,7 milhões de cruzeiros do prêmio da loteria esportiva.

Dos cinco filhos do casal, duas mulheres são professoras e as outras duas donas de casa. O único filho homem, José Azevedo Lima trabalha como servidor público em Quixadá.

Quando vai a Quixadá, “Mazé” costuma visitar a agência lotérica que foi de seu pai, e nunca falta alguém para pedir que preencha alguns cartões. O povo pensa que, porque ela ganhou uma vez, vai ter sorte a vida inteira. A agência não pertence mais à família e, se José Abílio ainda fosse vivo certamente ficaria triste, porque agora escudos do Ceará e Fortaleza dominam o local.

Em 1996, três anos depois da sua morte, a Câmara Municipal de Quixadá deu ao estádio da municipalidade o nome de José Antônio de Lima, o “Abilhão”, como é carinhosamente chamado, uma justa homenagem a um desportista que colocou a paixão pelo clube do coração acima de qualquer coisa. O estádio de Quixadá, com capacidade para receber 5 mil torcedores é conhecido em todo o país por ter sido recordista na mudança de nome. Foi inaugurado em 1968 com o nome de Luciano de Queiroz. Depois a Câmara de Vereadores mudou o nome para José Baquit, mais tarde para Estádio dos Imigrantes, novamente para Luciano Queiroz e, finalmente, para o nome atual de José Antônio Abílio de Lima.

O presidente da Câmara Municipal de Quixadá, Cristiano Góes, afirma que não haverá mais troca de nome do Estádio. Ele explica que na atual legislatura foram feitas mudanças no Regimento Interno da Casa que não permitem mais essa prática. Agora tudo terá que passar por um rigoroso processo junto a população da cidade.

Dinheiro posto fora a parte, José Abílio foi muito diferente da maioria dos “cartolas” que comandam o futebol brasileiro nos dias de hoje. Ele nunca usou o clube para tirar alguma vantagem. Nunca almejou cargos públicos, nem retorno financeiro, até porque o clube nunca teve uma grande torcida. Ele era simplesmente maluco pelo Quixadá, e gastar dinheiro com o time era o seu vício. Toda a família concorda em uma coisa: se não ganhasse na loteria, ele teria gasto o dinheiro que tinha com o time, do mesmo jeito. Quando ganhou na loteria, ele pôde alimentar sua paixão. (Pesquisa: Nilo Dias)
José Antônio Abílio de Lima gastou grande parte de um prêmio da Loteria Esportiva, com o time do Quixadá do Ceará (Foto: Acervo da Família)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

No futebol brasileiro são poucos os clubes centenários

O primeiro jogo de futebol no Brasil aconteceu há 113 anos. Foi no dia 15 de abril de 1895, na Várzea do Carmo, em São Paulo, reunindo funcionários da Companhia de Gás (The Gás Co) X Companhia Ferroviária São Paulo Railway (SPR). Os jogadores eram todos associados do São Paulo Athletic Club, fundado em 13 de maio de 1888 e que se dedicava a prática do criquete. Nada a ver com o atual São Paulo F.C.. Esse jogo foi a semente que tornou o SPAC o primeiro clube de futebol no Brasil, que existe até hoje, embora não pratique mais o futebol profissional. Tem sua sede social na Travessa Visconde de Ouro Preto, no centro de São Paulo

Depois do primeiro jogo, o futebol não demorou a se espalhar pelo país, surgindo várias agremiações esportivas em todos os Estados. Em São Paulo tivemos os tradicionais S.C. Americano (21-05-1903, extinto), S.C. Germânia, atual E.C. Pinheiros (07-07-1899), S.C. Internacional (19-08-1898, extinto), A.A. das Palmeiras (09-01-1902, extinto), C.A. Paulistano (29-12-1900) e A.A. Mackenzie College (18-08-1898, extinto). Todas elas abandonaram o futebol, faz muito tempo. Algumas existem até hoje como entidades sociais e voltadas a outras atividades esportivas.

Citar aqui todos os clubes que se dedicaram ao futebol nos primórdios do esporte no Brasil, ocuparia muito espaço. Vou me limitar apenas aos que resistiram o passar dos anos e venceram todas as dificuldades que tiveram pela frente. Entre os clubes profissionais de futebol existentes no Brasil e em atividade, apenas 30 já atingiram os 100 anos. Se acrescentarmos São Paulo Athletic, Pinheiros e Paulistano que já praticaram o esporte e hoje são apenas clubes sociais, a soma chega a 33.

Muitos podem não entender por que C.R. Flamengo (15-11-1895), C.R. Vasco da Gama (21-08-1898), São Cristõvão F.R. (12-10-1898) e S.C. Vitória da Bahia (13-05-1896), não são os clubes mais antigos do futebol brasileiro. A razão é simples. Quando foram fundados todos eles se dedicavam a outras modalidades esportivas, em especial o remo.

O futebol do Flamengo é dissidente do Fluminense. Em 1911, o tricolor estava às vésperas do título carioca, mas atravessava grave crise interna. O capitão do time, Alberto Borgeth (que remava pelo Flamengo), se desentendeu com os dirigentes e, depois de conquistado o campeonato, liderou um movimento de saída das Laranjeiras. Em assembléia realizada no dia 24 de dezembro de 1911, o Flamengo criou oficialmente o seu time de futebol, sob a responsabilidade do Departamento de Esportes Terrestres.

Em 1913, desembarcou no Rio uma seleção de Lisboa, a convite do Botafogo F.C., para a inauguração do seu campo na rua General Severiano. Isso motivou diversos membros da colônia portuguesa a se organizarem para a pratica do esporte bretão e três clubes de futebol foram fundados, todos, porém de existência efêmera: o Centro Esportivo Português, o Lusitano Football Club e o Lusitânia Sport Club. Esse último acabou por fundir-se ao Vasco da Gama, dando origem ao departamento de futebol do clube. Em 26 de novembro de 1915 foi criado no Vasco o setor de futebol.

O São Cristóvão (12-10-1898) acho que não deveria entrar nessa seleta galeria. O clube atual é resultado da fusão do Clube de Regatas São Cristóvão (fundado em 12-10 1898) e do São Cristóvão Atlético Clube (fundado em 05-07-1909). A fusão ocorreu em 13 de Fevereiro de 1943, com a denominação de São Cristóvão de Futebol e Regatas. Esta, a meu ver, deveria ser a data oficial de fundação do clube.

Finalmente, o Vitória, de Salvador (BA), fundado em 13 de maio de 1899. Nos primeiros tempos se chamava Club de Cricket Victoria, pois se dedicava apenas a essa modalidade esportiva muito popular na época. A adesão ao futebol só aconteceu em 13 de setembro de 1903, quando derrotou o São Paulo-Bahia, time formado por integrantes da colônia paulista, por 2 X 0.

O clube reconhecido como o “vovô” do futebol brasileiro é o S.C. Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS), fundado em 19 de julho de 1900. Por isso a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) instituiu a data como o “Dia do Futebol Brasileiro”. O segundo clube mais antigo do país é a A.A. Ponte Preta, de Campinas (SP), fundada 23 dias depois, em 11 de agosto de 1900. O terceiro clube mais velho do Brasil é o Clube Nático Capiberibe, do Recife ((07-04-1901). Depois vem o S.C. 14 de Julho, da cidade gaúcha de Santana do Livramento, fundado em 14 de julho de 1902.

O Fluminense é o mais antigo clube do Rio de Janeiro, fundado em 21 de julho de 1902. Grêmio Portoalegrense (15-09-1903), Bangu A.C., do Rio de Janeiro (17-04-1904), Botafogo F.R., do Rio de Janeiro (12-08-1904), América F.C., do Rio de Janeiro (18-09-1904), Club do Remo, de Belém do Pará (05-02-1905), Sport Club Recife (13-05-1905), C.A. Cravinhos, de São Paulo (Clube amador fundado em 12-06-1906), S.C. Internacional, de Bebedouro, São Paulo (11-06-1906), C.A. Ypiranga, de São Paulo (10-07-1906), S.C. Ypiranga, de Salvador, Bahia (07/09/1906), Guarany F.C., de Bagé, Rio Grande do Sul (19-04-1907), C.A. Pirassununguense, de Pirassununga, São Paulo (01-07-1907), Clube Atlético Mineiro (25-03-1908), Villa Nova A.C., de Nova Lima, Minas Gerais (28-06-1908), S.C. Palmeirense, de Santa Cruz das Palmeiras, São Paulo (07-09-1908), S.C. São Paulo, de Rio Grande, Rio Grande do Sul (04-10-1908) e S.C. Pelotas, de Pelotas, Rio Grande do Sul (11-10-1908).

Temos ainda o caso da Tuna Luso Brasileira, de Belém do Pará, que foi fundada em 1º de janeiro de 1903, para espalhar a cultura musical portuguesa pelo Brasil. Inicialmente, a equipe se chamou Tuna Luso Caixeiral, visto que seus fundadores eram vendedores viajantes conhecidos como caixeiros. O futebol só passou a fazer parte da história do clube em 1915.

O C.A. Votorantin, da cidade paulista de igual nome reivindica a condição de clube centenário e mais antigo do Brasil. O CAV é o antigo Sport Club Savóia, fundado em 01-01-1900, que em 1942 foi obrigado a mudar de nome devido a um Decreto do presidente Getulio Vargas que proibia clubes com nomes estrangeiros no país. Hoje o clube está extinto e a cidade é representada pelo Votoraty Futebol Clube Ltda. Por isso, não consta na relação de clubes centenários do futebol brasileiro.

Chegar aos 100 anos é sempre motivo para grandes comemorações. Afinal de contas, isso não é coisa para qualquer um. Mas, por incrível que pareça, tem gente que se preocupa com o que a imprensa denominou de “a maldição dos 100 anos”. O clube que chega a essa marca, dificilmente consegue realizar uma boa campanha no ano da comemoração.

Assim foi com o Flamengo em 1985, quando não foi além do vice-campeonato carioca e do 21º lugar no Brasileirão, à beira do rebaixamento, quando era esperado um ano de muitas glórias. O clube investiu pesado na contratação de Romário (ex-Barcelona) e Edmundo (ex-Palmeiras) para formar o "ataque dos sonhos" com Sávio, prata da casa. Pior foi o Botafogo, que em 2004 foi apenas quinto colocado no estadual e no Brasileiro por pouco não foi parar na Série B. Na Copa do Brasil, foi eliminado na segunda fase ao perder em casa para o Gama por 3 X 2 (havia empatado por 4 x 4 no Distrito Federal).

O Fluminense foi campeão Carioca em 2002, mas a esvaziada competição ganhou o apelido de “Caixão”, em pejorativa referência ao então presidente da Federação Carioca, Eduardo Viana, o Caixa D'água, já morto. Na Copa do Brasil, caiu nas quartas-de-final, sendo eliminado pelo surpreendente Brasiliense. Na Série A, parou na semifinal, perdendo para o Corinthians. Ficou em quinto no Torneio Rio-São Paulo e foi eliminado pelo Palmeiras nas quartas-de-final da Copa dos Campeões.

O Vasco, em 1998, venceu a Taça Libertadores da América, mas perdeu o Mundial Interclubes para o Real Madrid. No Campeonato Brasileiro terminou em décimo. Na Copa do Brasil, caiu na semifinal, diante do Cruzeiro. E na Mercosul ficou na primeira fase, perdendo a vaga para o River Plate no saldo de gols. No Torneio Rio-São Paulo, também caiu na primeira fase.

No Rio Grande do Sul o Grêmio não chegou à semifinal do Estadual e lutou contra o rebaixamento no Brasileiro. No Recife, em 2001, o Náutico comemorou a data com o título pernambucano, porém caiu na segunda fase da Série B. Já o Sport, em 2005, viu a final estadual disputada por Náutico e Santa Cruz, e escapou por pouco da Série C.

O S.C. Rio Grande, em 2000, ano do centenário, disputou o Campeonato Gaúcho por convite. Ficou em quinto no lugar no grupo 1 da primeira fase e não conseguiu avançar na competição. No mesmo ano, disputou a segunda divisão estadual e acabou rebaixado para a terceira divisão. Mas, novamente voltou à segunda divisão no ano seguinte.

O ano do centenário não foi diferente para a Ponte Preta: sem títulos. No Campeonato Paulista, chegou a um dos quadrangulares semifinais, mas perdeu a vaga para Corinthians e Palmeiras. Na Copa João Havelange, caiu nas oitavas-de-final, perdendo para o Grêmio. Na Copa do Brasil, ficou na terceira fase, sendo eliminada pelo Vasco.

O centenário do Vitória começou confuso. Na final do estadual o time apresentou-se para a partida no seu estádio, o Barradão, enquanto o rival Bahia foi para a Fonte Nova. A queda-de-braço foi parar na justiça e, em vez de considerar campeão o terceiro colocado (o Poções), a Federação Baiana dividiu o troféu entre Vitória e Bahia. Outra conquista no ano foi a Copa do Nordeste. Na Série A, fez bom papel e chegou à semifinal, perdendo para o Atlético Mineiro. Na Copa do Brasil, ficou nas oitavas-de-final, perdendo para o Palmeiras.

Depois de um 2004 ruim, quando foi rebaixado para a Série C, o Clube do Remo deu a volta por cima em 2005, ano do centenário. Perdeu o estadual para o rival Paysandu, mas conquistou a Série C. Na Copa do Brasil, foi eliminado pelo Figueirense na segunda fase.

Ano que vem outros clubes tradicionais do futebol brasileiro se tornarão centenários: Coritiba F.C. (12-10-1909), Resende F.C., de Resende )RJ), (06-06-1909), Paulista F.C., de Jundiaí, São Paulo (17-05-1909), Cotingüiba E.C. de Aracaju, Sergipe (10-10-1909), C.S. Sergipe, de Aracaju, Sergipe (17-10-1909), Rio Claro F.C., de Rio Claro, São Paulo (09-05-1909), S.C. Penedense, de Penedo, Alagoas (03-01-1909), S.C. Internacional, de Porto Alegre (04-04-1909), Associação Rocinhense de Futebol, de Vinhedo, São Paulo, antigo distrito de Rocinha (20-01-1909) e o F.B.C. Rio-Grandense, da cidade gaúcha de Rio Grande (11-07-1909). Com os 100 anos do Rio-Grandense a cidade de Rio Grande marcará mais um pioneirismo no futebol brasileiro: será a única, incluindo as capitais, a ter três clubes de futebol profissional centenários. Quanta honra!!! (Pesquisa: Nilo Dias),
O Villa Nova, de Nova Lima (MG) é um dos clubes centenários do Brasil (Foto: acervo do Villa Nova A.C.)

domingo, 12 de outubro de 2008

O "Lobão" faz 100 anos

Hoje, 12 de outubro, o S.C. Pelotas, uma das mais tradicionais agremiações esportivas do Rio Grande do Sul está completando 100 anos de atividades ininterruptas. O clube é o resultado vitorioso da fusão de duas entidades que existiam nos primórdios do futebol pelotense, o Club Sportivo Internacional e o Foot-Ball Club. Às 11 horas do dia 11 de outubro de 1908 foi realizada a solenidade de fundação do S.C. Pelotas, com as cores azul e amarela, as mesmas do Club Caixeiral, local da reunião. Também ficou decidido que a data oficial de fundação seria 12 de outubro, por ser feriado nacional e mais adequada às comemorações futuras.

O primeiro presidente foi o doutor Pedro Luis Osório, que tempos depois foi proclamado Grande Benemérito e Presidente honorário. Os demais membros da Diretoria eram: Leopoldo de Souza Soares, vice-presidente; Guilherme R. Fabres, 1º secretário; Luiz Seroder, 2º secretário; Affonso Pinheiro Teixeira, tesoureiro; Alberto Rheigantz, adjunto; Dr. Joaquim Luiz Osório, orador; Adolpho Luschke, 1º guarda-sport; João F. Nebel, 2º guarda-sport; José Santiago, capitão geral; Nilo Gafrée, adjunto; Octacílio Poty Vianna, instrutor. Diretores: João Abadie; Francisco Rheigantz, Ricardo Peckmann, Jacob Müller, Haroldo Gotuzzo, Wenceslau Gastal, Ernesto Bebrensdorf, Francisco Calero, Antonio Ronhelt e Octaciano Oliveira.

A nova agremiação ocupou o terreno da Avenida Bento Gonçalves, propriedade do "Club Sportivo Internacional" e que até hoje permanece com o Pelotas. (Estádio da Boca do Lobo, com capacidade para 18 mil torcedores, tendo em seu redor 58 lojas, integrando o Shopping Lobão e restaurantes). Os diretores do Pelotas à época, além de inúmeras reformas, edificaram um pavilhão central em madeira, com cobertura de zinco e uma excelente arquibancada, que acomodava confortavelmente mais ou menos 800 pessoas.

As obras foram concluídas em curto espaço de tempo, o que deu condições para que no dia 25, fossem inauguradas em jogo intermunicipal contra o S.C. Rio Grande, que já visitara a cidade em duas vezes anteriores: 6 de outubro de 2001, quando do segundo aniversário de fundação da União Gaúcha (jogo entre suas equipes Azul e Branca, com vitória da primeira por 2 X 0), e em 13 de maio de 1906, quando goleou o Club Sportivo por 6 X 0.

O jornalista Eliseu de Mello Alves conta em seu livro “O Futebol em Pelotas”, como transcorreu a festa e o primeiro jogo da história do S.C. Pelotas. “A missão riograndina chegou aqui pela manhã, em trem expresso, e foi recebida festivamente. Diversas bandas, inclusive a do Club Caixeiral, tocaram na gare da Estação ao serem ali recepcionados e aclamados os visitantes. Formando-se após extenso préstito, ocupando 10 bondes especiais da Ferro Carril, que subiram pelas ruas 7 de Abril (atual Dom Pedro II) e 15 de Novembro até a Praça Castilhos. Tendo ali o senhor Arthur Lawson, presidente do S.C. Rio Grande, cortado a fita simbólica à entrada do pavilhão do S.C. Pelotas, franqueando-o aos sócios”.

Cerca de três mil pessoas assistiram o S.C. Pelotas vencer nos aspirantes por 5 X 1 e perder no jogo principal por 3 X 2. O centro avante Adalberto Barcelos, o Beto, jogando pelos aspirantes marcou o primeiro gol da história do áureo-cerúleo. Os aspirantes formaram com Cassal - Kirst e R. Lanes - J. Brum - R. Vinholes e O. Haertel - O. Oliveira – Barcena - A. Barcellos - A. Xavier e F. Vares.

O time principal jogou com Haroldo Gotuzzo – Jacob Muller Filho e José Andrade Santiago – Guilherme Romano Fabres – Francisco Eloy Calero e Helmuth Essenfelder – Reynaldo De Bôer – Elyseu de Barros Coelho – João Francisco Nebel – Nilo Gafrée e Curt Rheingantz. Na saída de campo, após o jogo, os atletas foram filmados pela Empresa Cinematográfica Guarany.

O segundo clube que o Pelotas enfrentou foi o Guarany F.C. de Bagé, em 2 de maio de 1909, com empate em 1 X 1. O primeiro grande triunfo da história áureo-cerúlea aconteceu em 24 de outubro de 1909, quando venceu o Sport Club Rio Grande, que nunca havia perdido um jogo sequer, por 2 X 0, gols marcados por Antônio Moura, que recebeu medalha especial pelo feito.

O S.C. Pelotas já estava consolidado como uma entidade forte e apta a bem representar o futebol pelotense no cenário nacional. Em 1930, o clube alcançou o maior feito de seus 100 anos de história, a conquista do Campeonato Gaúcho. O jogo decisivo aconteceu no dia 29 de março de 1930, no Estádio da Chácara dos Eucaliptos, em Porto Alegre, contra o Grêmio.

O Pelotas perdia por 2 X 0, gols de Nenê e empatou com dois pênaltis batidos por João Pedro e Marcial. O Grêmio fez 3 X 2 com Foguinho, que se rebelou com a marcação de uma terceira penalidade a favor do clube pelotense e foi expulso. Faltavam 15 minutos para o jogo acabar e o Grêmio retirou-se de campo. O juiz mandou cobrar o pênalti com o gol vazio. Marcial bateu e empatou. Como não havia mais adversário o S.C. Pelotas foi declarado campeão. O time base do S.C. Pelotas era Bordini – Dario e Grant – Coi II – Marcial e Tristão – João Pedro (Benjamim) – Torres – Tutu – Mário Reis e Chico. O técnico era Otávio Guimarães.

O campeonato foi organizado pela Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres (Faget). Além de Grêmio e Pelotas, as finais tiveram as participações do Novo Hamburgo, eliminado pelo tricolor da capital, e São Paulo de Rio Grande, eliminado pelo áureo-cerúleo de Pelotas.

Um outro grande momento vivido pelo S.C. Pelotas foi no dia 13 de setembro de 1910, quando recebeu a visita do "Club Athlético Estudiantes", da Argentina, no primeiro jogo internacional de futebol realizado em Pelotas. A chegada dos argentinos na gare da Viação Férrea foi calorosa, seguindo-se um desfile pelas principais ruas da cidade até o Estádio. O time de Buenos Aires venceu por 7 X 0.

O Estudiantes, que veio ao Rio Grande do Sul a bordo do navio “Saturno”, para a realização de alguns jogos amistosos, se apresentou ainda em Rio Grande e Porto Alegre. Na cidade marítima, no primeiro jogo da excursão, derrotou o S.C. Rio Grande por 4 X 0. Depois bateu o scratch de Porto Alegre por 7 X 3.

A década de 1950 ficou na memória dos torcedores mais antigos, como um tempo de grandes conquistas: o título inédito de tricampeão no ano do cinqüentenário, em 1958, quando o presidente do clube era Dirceu Mendes de Matos e o técnico Paulo de Sousa Lobo, o saudoso Galego. O time base era: Joãozinho (Oscar) - Getúlio e Duarte – Cascudo - Cleo e Jarí – Bedeuzinho – Dirceu - Valmir (Barão) - Nei Silva e Deraldo. Ainda em 1958 o S.C. Pelotas promoveu um festival de futebol comemorativo ao seu cinqüentenário, enfrentando adversários poderosos como o São Paulo de Zizinho, o Vasco de Ademir e o Fluminense.

Em sua vitoriosa existência de 100 anos o S.C. Pelotas teve conquistas importantes: campeão pelotense 18 vezes (1913, 1915, 1916, 1925, 1928, 1930, 1932, 1933, 1939, 1944, 1945, 1951, 1956, 1957, 1958, 1960, 1981 e 1996); campeão do torneio início do campeonato pelotense por nove vezes (1927, 1928, 1935, 1936, 1944, 1949, 1951, 1952 e 1996); (campeão gaúcho (1930); vice-campeão gaúcho (1932, 1945, 1951, 1956 e 1960) e campeão gaúcho da segunda divisão (1983).

Venceu vários torneios de âmbito estadual, entre eles: Taça Salutaris (1911); Taça Igarrego (1915); Taça Cidade de Pelotas (1924, 1973 e 1976); Torneio Monserrat – Taça Chevrolet (1928); Taça Getúlio Vargas (1929); Taça Martin Guilayn (1940); Taça Teixeira Neto (1943); Taça Sezefredo Ernesto da Costa , o Cardeal (1954); Taça Rafael Mazza (1957); Taça Pepsi-Cola (1958); Copa Companhia de Cigarros Sinimbu (1960); Taça Sesquicentenário de Pelotas (1962); Taça Previdência do Sul (1964); Torneio Comemorativo aos 150 anos da Cidade de Pelotas (1963); Quadrangular Dr. Waldemar Fetter - Troféu Rubi (1965) e Troféu Dr. Irajá Andara Rodrigues (1980).

O S.C. Pelotas sempre deu atenção a outras modalidades esportivas, onde alcançou expressivas conquistas. Em Futebol de Salão foi campeão gaúcho de 1961 e da cidade em 1957, 1958, 1959, 1961, 1965, 1970 e 1971. No basquete ganhou os campeonatos citadinos de 1928 e 1951. Em Handebol foi campeão pelotense em 1975. No Tênis, campeão pelotense de 1928 e em Xadrez, vice-campeão regional de 1954.

O clássico da cidade, o conhecido Bra-Pel tem uma bonita história que está sendo contada no livro “A história do clássico Bra-Pel”, de autoria de Mário Gayer do Amaral e Sérgio Osório, que será lançado depois de amanhã (14). É de lá que tirei estes dados estatísticos: Jogos realizados, 347; Vitórias do Brasil, 122; Vitórias do Pelotas, 107; Empates, 118; Gols do Brasil, 497; Gols do Pelotas, 480; saldo pró Brasil, 17.

Jogadores do Pelotas que foram os maiores artilheiros em campeonato gaúcho: Marcial (1930); Flávio Minuano, com 13 gols (1977); Ademir Alcântara, com 13 gols (1984) e Flávio Dias, com 18 gols (2003). O atacante Jorge Preá, hoje no Palmeiras, foi artilheiro da Série B gaúcha em 2007, com 18 gols.

O clube já participou da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro da Série C e da extinta copa Sul Minas. Além disto, já fez amistosos internacionais, como o contra a seleção da Rússia em 1994. Revelou grandes jogadores em todos estes 100 anos. Enumerar a todos, seria tarefa de difícil execução e com risco de injustiças. Por isso, escolhi o saudoso Ari Amaro Pires, o “Bedeuzinho”, para simbolizar a gama de craques que vestiram a gloriosa camisa azul e amarela.

E fico muito à vontade. Quando trabalhei na imprensa de Pelotas, especialmente como narrador de futebol, fiz uma saudável amizade com Bedeuzinho. Acompanhei sua trajetória no Pelotas e no Internacional e a decadência que veio depois, quando com sinais de debilidade mental morou em uma antiga bilheteria do Estádio da Boca do Lobo. Mas foi um grande jogador, que marcou para sempre sua passagem no S.C. Pelotas.

Bedeuzinho era natural de Herval (RS) e chegou ao Pelotas em 1950. Ficou no clube até 1960, quando se transferiu para o Internacional, onde foi campeão gaúcho de 1961, ajudando a quebrar uma seqüência de cinco títulos do Grêmio. Jogou ainda no Metropol de Criciúma (SC) e no Newls old Boys, da Argentina. Em 1963 retornou ao Pelotas para encerrar a carreira. Faleceu no dia 21 de agosto de 2001, aos 67 anos de idade.

Eu poderia estender este artigo por mais páginas e páginas, pois tive a felicidade de morar em Pelotas por quase 20 anos, período em que participei ativamente do esporte da cidade. Lembro do velho Pavilhão Gastaud, todo de madeira, que nos levava a uma viagem no tempo, até os primeiros tempos da vida do clube. Lembro do grande presidente Edgard de Moura Ronhelt, um grande amigo, em cuja lembrança homenageio a todos os que dirigiram o centenário clube da avenida Bento Gonçalves, em todos os tempos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Marcos disse...
Gostaria de obter o escudo do CLUB SPORTIVO INTERNACIONAL.
marcos.coimbra@yahoo.com.br
13 de novembro de 2008 09:33

Luiz Carlos Knopp disse...
Obrigado Nilo pelo belíssimo trabalho.
Abração
2 de dezembro de 2008 19:44

Matheus disse...
OLA NILO DIAS , QUERIA SABER SE VOCÊ TEM A FOTO DO TITULO DA SEGUNDA DIVISÃO CONQUISTADO PELO PELOTAS EM 1983.
ABRAÇÃO
1 de janeiro de 2009 15:11
S.C. Pelotas, campeão gaúcho de 1930 (Foto: Acervo do S.C. Pelotas)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Chicão, um andarilho do futebol

Aos 59 anos de idade morreu ontem (7) em São Paulo, Francisco Jesuíno Avanzi, mais conhecido por Chicão, o volante que barrou Falcão na Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Um andarilho do futebol, Chicão passou por vários clubes, Santos, Atlético Mineiro, XV de Piracicaba e Ponte Preta, entre outros, mas foi no São Paulo F.C. que ganhou destaque. O enterro do ex-jogador aconteceu hoje, em Piracicaba.

A disposição foi marca registrada desse volante. A técnica era substituida pela raça e virilidade, por isso muitas vezes foi taxado de violento. Há quem afirme que em toda a história do São Paulo F.C., nunca houve um jogador que demonstrasse tanto amor a camisa, quanto ele. Talvez seja lenda, mas é voz corrente entre os tricolores, que Chicão costumava dizer que qualquer um que ameaçasse as vitórias são-paulinas era passível de punição.

Antes de jogar futebol, Chicão trabalhou como aprendiz de torneiro-mecânico, em uma fábrica na cidade de Piracicaba, coisa que não o agradava. Achava bem melhor jogar pela equipe amadora do “Filhos de Funcionários”, o que lhe abriu caminho para ingressar nas categorias de base do XV de Piracicaba, o famoso “Nho Quim”. Foi lá que ganhou o primeiro título de sua longa carreira, campeão de um torneio de juvenis.

Seu futebol guerreiro logo chamou a atenção de Cilinho, na época o técnico da equipe de profissionais do XV, que o chamou para treinar no time de cima. Mesmo assinando contrato em 1968, não conseguiu de início ser titular. Por isso foi emprestado ao União Agrícola Barbarense (atual União Barbarense Futebol Clube), de Santa Bárbara D’Oeste, onde acabou sendo o principal jogador do time.

Já bastante conhecido no futebol interiorano, Chicão logo despertou a atenção de outros clubes. Primeiro, o São Bento, de Sorocaba, e depois a Ponte Preta de Campinas. Na “Macaca”, voltou a se encontrar com Cilinho, o técnico que lhe deu a primeira oportunidade na carreira. Suas atuações na Ponte Preta valeram a cobiça do São Paulo, que o contratou em 1973. E ficou no clube do Morumbi por sete anos.

No São Paulo, Chicão disputou a Copa Libertadores da América, perdendo o título para o Independiente da Argentina, que venceu o jogo final por 1 X 0. O volante classificou essa derrota como a maior decepção de sua vida profissional.

Seu primeiro título pelo São Paulo veio em 1975, campeão paulista. Em 1976, foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira que disputou alguns torneios amistosos. Debutou com a camisa canarinho no jogo válido pela Taça do Atlântico, em que o Brasil derrotou o Uruguai por 2 X 1. Graças a boa atuação, conquistou a titularidade nas quatro partidas seguintes. No jogo contra a Argentina, em 19 de maio, rompeu os ligamentos do joelho direito aos 23 minutos do segundo tempo. A lesão não foi grave, e menos de um mês depois, Chicão já estava em campo, no dia 13 de junho, quando o São Paulo enfrentou o América, de São José do Rio Preto.

Em 1977, foi campeão brasileiro, o primeiro do São Paulo, conquistado em cima do Atlético Mineiro. Nesse jogo Chicão foi acusado de quebrar, de propósito, a perna do jogador mineiro Ângelo, ao pisar nela depois de um carrinho dado por Neca.
Outro fato que marcou a carreira de Chicão aconteceu em 1976, antes de um jogo entre São Paulo e Palmeiras. Ele foi advertido com um cartão amarelo antes mesmo do jogo começar. Tudo, porque chegou próximo do juiz José de Assis Aragão e disse: “Vê se apita direito essa porcaria”.

Em 1978, o saudoso técnico, Cláudio Coutinho, gaúcho de Dom Pedrito, minha terra natal e meu vizinho e amigo de infância, resolveu convocar Chicão para a Seleção Brasileira que iria disputar a Copa do Mundo da Argentina. Na convicção do treinador, Chicão era o jogador ideal para atuar nos jogos contra adversários catimbeiros, caso da própria Argentina. E foi contra os vizinhos “porteños” que Chicão teve sua atuação mais famosa pela Seleção, única em uma Copa do Mundo.

Logo ao início do jogo, na cidade de Rosário, ele deu um tapa no rosto do atacante argentino Mário Kempes, sem ser expulso. A partir do lance o artilheiro platino passou a evitar o choque com o brasileiro e em razão disso teve fraca atuação. Os argentinos não conseguiram fazer a famosa catimba e se encolheram dentro de campo. Quase ao final do jogo levou cartão amarelo, por uma entrada em Kempes. Depois dessa atuação, um jornal argentino chamou Chicão de “El Matador".

Pela Seleção Brasileira Chicão jogou nove partidas oficiais e duas não oficiais, com sete vitórias, três empates e uma derrota. Não marcou gols. Sua primeira partida oficial foi em 25 de fevereiro de 1976 contra o Uruguai, pela Taça do Atlântico (vitória por 2x1). A última foi contra o Paraguai, em 24 de outubro de 1979, pela Copa América (derrota por 2x1).

O jogador ficou no São Paulo até o fim de 1979, tendo atuado em 312 jogos e marcado 19 gols. Quando completou 31 anos, o Atlético Mineiro foi seu novo endereço, mesmo sofrendo no início forte oposição da torcida, que não esqueceu o lance da perna quebrada de Ângelo. Mas isso não durou muito tempo, pois seu espírito de luta e determinação logo serviram para conquistar os torcedores. E até o fato de jogar ao lado de Ângelo, ajudou na recuperação de sua imagem. No “Galo”, conquistou o Campeonato Mineiro de 1980.

Em 10 de setembro de 1981, transferiu-se para o Santos, ao lado de Palhinha. Nos anos que se seguiram defendeu ainda o Corinthians de Presidente Prudente, Botafogo de Ribeirão Preto e Mogi Mirim, onde encerrou a carreira em 1986, aos 37 anos, depois de quatro operações de menisco. Foi ali que conheceu a última conquista da sua carreira, ao ajudar o Mogi Mirim a subir para à primeira divisão paulista, em 1985. Nessa campanha, ficou fora de apenas 3 das 36 partidas do time, sendo uma por expulsão, uma por cartões amarelos e uma por contusão. Com os quatro meniscos operados, teve de parar.

O curioso é que Chicão sofria de um problema crônico no nervo ciático. No entanto, sua determinação e raça não deixaram que isso o atrapalhasse quando jogava.

Depois da aposentadoria Chicão tentou ser técnico. Começou no XV de Piracicaba e, em seguida, foi para o Independente de Limeira. A experiência não deu certo e o ex-volante abriu uma loja de material esportivo em Piracicaba, que funcionou por seis anos. Em 2000 resolveu atender o convite do Clube Atlético Montenegro, de Avaré (atualmente licenciado), para voltar a ser técnico de futebol. Dessa vez seu trabalho foi exitoso, já que o clube sob seu comando chegou a Série B-2 do Campeonato Paulista. (Pesquisa: Nilo Dias)

Horácio disse...
Caro Nilo Dias: Tive o prazer de conviver com Nilton Santos aquí em Rio Grande, quando ele treinou o São Paulo. Um caráter excepcional, uma pessoa de uma doçura incrível. O avô que todos nós gastaríamos de ter.
Lembro um fato que me marcou. Nilton Santos chegou em Rio Grande durante um inverno rigoroso. Ele vivia envolto num poncho e com chapéu. Certa vez o plantel do São Paulo foi fazer exercícios físicos na praia do cassino( A maior do mundo em extensão), e Nilton Santos ficou no ônibus.
Logo adiant apareceram alguns pinguins mortos, e ele rapidamente bradou: "O que eu vim fazer aqui nesse lugar onde até os pinguins morrem de frio?" Horácio Gomes
10 de outubro de 2008 15:28

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

S.C. São Paulo, mais um clube centenário

O Rio Grande do Sul é um dos Estados que abriga a maior quantidade de clubes centenários no futebol brasileiro. E a cidade litorânea de Rio Grande é berço do mais velho de todos, o S.C. Rio Grande, que em 19 de julho último, completou 108 anos de existência. Com muita justiça essa cidade já foi chamada de a “Capital do Futebol”, por manter três clubes de futebol profissional de muita tradição. O S.C. São Paulo está em festa, com o seu centenário, comemorado no último sábado, dia 4. E ano que vem será a vez do F.B.C. Rio-Grandense, o caçula da cidade também chegar à histórica marca centenária.

O “Leão do Parque”, como é chamado por seus ardorosos torcedores foi fundado pelo jovem Adolpho Corrêa. Em meados do mês de setembro de 1908, ele e três amigos, José Sartori, Bartholomeu Casanova e Hermenegildo Bernardelli, assistiam um treino do S.C. Rio Grande, no gramado da Compaigne Auxiliare de Chems de Fer Brésil, na avenida Buarque de Macedo, onde depois foi erguido o antigo Estádio Arthur Lawson (Oliveiras).

Em dado momento um zagueiro chutou a bola para fora do gramado, indo parar em umas macegas nas proximidades. Os três rapazes pediram ao auxiliar de mecânico, Alexandre Lempeck, ainda um adolescente que a fosse apanhar. De posse daquele instrumento raro e fundamental para a prática do futebol, os três amigos foram embora. Nos primórdios do futebol a bola tinha que vir da Inglaterra e a um preço nada convidativo.

Adolpho Corrêa, engenheiro ferroviário, de descendência portuguesa, que veio pequeno para o Brasil, primeiro para São Paulo e depois para Rio Grande, pensou logo em fundar um clube que abrigasse a colônia lusitana na cidade, bastante grande já na época. O futebol era até então, uma exclusividade dos ingleses e alemães do S.C. Rio Grande. Mesmo trabalhando na companhia de trens, os três não conseguiram fazer parte da equipe do S.C. Rio Grande.

Os quatro rapazes procuraram a direção do S.C. Rio Grande e da Compaigne Auxiliare, para pedir ajuda e colocar a idéia em prática. Não teve nenhum problema. Foi cedida uma área que dava frente para o cemitério católico, e onde hoje se encontra o Estádio Aldo Dapuzzo. E no dia 4 de outubro de 1908, reunidos em um prédio de número 133, da avenida Rheingantz, fundaram o S.C. São Paulo. O nome escolhido foi uma homenagem a capital paulista, primeira cidade brasileira em que Adolpho Corrêa morou e onde conheceu o esporte inventado pelos ingleses.

Em 16 de outubro foram escolhidas as cores vermelho e verde para serem as oficiais, naturalmente por inspiração da bandeira de Portugal, até porque o clube era dominado pela maioria lusitana. O primeiro fardamento era composto de boné verde e vermelho, camisa branca e calções pretos.

Estava dada a partida para uma trajetória cheia de glórias. O S.C. São Paulo ganhou o título de campeão da cidade em 24 oportunidades: 1916, 1918, 1920, 1927, 1928, 1931, 1932, 1933, 1935, 1943, 1945, 1952, 1954, 1958, 1959, 1966, 1967, 1968, 1969, 1970, 1971, 1973, 1980 e 1987.

O maior efeito da história do clube aconteceu em 1933, quando se sagrou campeão gaúcho. No jogo do título, o S.C. São Paulo venceu o Grêmio Portoalegrense por 2 X 1, em jogo realizado no dia 19 de novembro, no antigo Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre. Darci Encarnação e Cardeal marcaram para os riograndinos e Nenê descontou para o Grêmio. O time base era: Odorico – Valentim e Fernandinho – Quico –Darci Encarnação e Riquinho – Archimino – Cardeal – Osquinha – Ballester e Scala (Vadi). O diretor técnico era Leomar Mena.

Tive a honra de conhecer Darci Encarnação, o maior jogador da história do clube. Eu era editor-chefe do jornal “Agora” e uma de suas filhas era minha colega de trabalho. Várias vezes conversei com ele, que me contou muitas passagens interessantes de sua brilhante carreira.

Outra grande conquista do rubro-verde riograndino aconteceu em 1985, quando ganhou a Copa Bento Gonçalves, enfrentando nas finais o poderoso S.C. Internacional: vitória de 1 X 0 no dia 13 de julho, em Porto Alegre e empate de 1 X 1, no dia 4 de agosto, em Rio Grande. O time base era: Nando - Marco Antonio - Carlão e Zé Moraes - Paulo Barroco – Odir – Ernane - Evans e Isaias - Rodinaldo e Luisinho. Reservas: Edson, Kiko, Caetano, Serginho, Claudinho e Nivaldo. O técnico era Jaime Schimidt.

Foi ainda campeão da Copa Associação dos Cronistas Esportivos (ACEG) (1986); campeão do interior (1979); campeão da Copa Sesquicentenário e Copa Governador do Estado (1981) e campeão da Divisão de Profissionais do Campeonato Gaúcho (1970).
Um momento histórico na vida do S.C. São Paulo foi a vitoriosa excursão em 1981 por gramados da Venezuela, Equador e Colômbia, quando ganhou um torneio contra o Deportivo Tachira, time que no mesmo ano eliminou o Internacional de Porto Alegre, na Copa Libertadores da América.

O clube participou dos campeonatos brasileiros de 1982 (31º colocado), 1980 (41° colocado) e 1979 (43º colocado). No dia 23/03/1980 o Estádio Aldo Dapuzzo recebeu um dos maiores públicos de sua história para assistir ao empate de 0 X 0 contra o Flamengo de Zico, Adílio e Júnior, e outros jogadores que formariam a base do time campeão do mundo em Tóquio. O Flamengo djogou com Raul – Rondineli – Marinho – Júnior - Andrade – Adílio – Zico – Reinaldo - Tita e Carlos Henrique (Júlio Cesar). O São Paulo teve Sérgio - Zé Augusto – Carlão - Tadeu e Cláudio Radar – Doraci - Paulo Cesar Tatu e Astronauta – Romário - Néia e Almir. O técnico era Ernesto.

Lembro bem desse jogo. Eu era o chefe da equipe de esportes da Rádio Cultura Riograndina, que tinha entre outras “feras” do rádio de Rio Grande, Gley Santana, Pedro Pinheiro, Jorge Ravara, Antônio Azambuja Nunes, o Nico, Horácio Gomes, João Ferreira, Denis Olinto, Jonas Cardoso, Édson Costa, Édson Figueiredo, Oledir José e Ney Amado Costa.

No Campeonato gaúcho da Primeira Divisão o São Paulo fez presença nos anos de 1919 a 1960, 1971 e 1972, 1975, 1977 a 1984, 1986 a 1989, 1992 a 1994, 2001 e 2002.
Eu já contei em artigo anterior uma passagem única no futebol brasileiro, que envolveu o S.C. São Paulo e o seu centenário rival, o S.C. Rio Grande. Em 26 de dezembro de 1940, os dois clubes disputavam o jogo final da Taça Confraternização, um torneio que também reuniu o F.B.C. Rio-Grandense e serviu para selar a paz entre os três clubes da cidade.

Nos 90 minutos houve empate. A decisão foi para os pênaltis, que foram batidos à exaustão, e o resultado seguia igual. O árbitro resolveu então conceder o título aos dois clubes. Quanto ao troféu, a solução encontrada foi cortá-lo em duas partes iguais e entregar uma parte a cada time. Eu testemunho que isso é verdade, pois vi as metades da taça nas sedes dos dois clubes.

O Estádio Aldo Dapuzzo é um dos orgulhos do S.C. São Paulo. Nos primeiros anos da década de 80, o clube passava por um momento magnífico, disputando a Taça de Ouro do futebol brasileiro. Para isso foi preciso que o estádio abrigasse no mínimo dez mil torcedores. Em menos de cinco meses, depois de sucessivas campanhas de arrecadação do cimento, a torcida e o patrono Aldo Dapuzzo levantaram o anel esquerdo do estádio com capacidade para aproximadamente sete mil pessoas. Mesmo assim, o estádio não deu conta e foi necessário que a Prefeitura colaborasse com a colocação de arquibancadas atrás do gol direito para mais duas mil pessoas.

Hoje, o S.C. São Paulo passa por um momento de transição, disputando a Segunda Divisão do futebol gaúcho, mas a meta é voltar o mais breve possível a Primeira Divisão. O atual presidente é o desportista Renato Lempeck, que deverá passar o cargo, provavelmente para o conselheiro Ivo Artigas, na eleição marcada para amanhã (5). (Pesquisa: Nilo Dias)
Equipe campeã gaúcha de 1933 (Foto: Acervo do S.C. São Paulo)