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sexta-feira, 7 de março de 2008

O clube mais brasileiro

Recentemente, quando o S.C. Corinthians Paulista foi rebaixado para a Série B do campeonato brasileiro, coisas quase inacreditáveis ocorreram. Fora seus torcedores, o país inteiro torceu pela queda corinthiana. Só para não aprofundar essa situação, cito um exemplo, apenas e que diz tudo. Torcedores do S.C. Internacional, de Porto Alegre, que foram em grande número ao Estádio Serra Dourada, em Goiânia, na última rodada do campeonato do ano passado, torceram contra seu próprio clube, como “doce” vingança pelo título do “Brasileirão” de 2005, que o Corinthians teria ganho de maneira que até hoje suscita dúvidas.

O Corinthians, depois do Flamengo é o dono da maior torcida no país. Isso explica em parte as constantes “secadas” dos torcedores rivais. Fora essas circunstâncias que o futebol é pródigo em apresentar, inegavelmente o Corinthians é um clube que merece toda a admiração e respeito. Sua história é cheia de feitos empolgantes.

O clube surgiu em 1911, quando recém a elite paulistana abria as portas do novo esporte para as classes mais populares. Era 1º de setembro de 1910, quando os operários Joaquim Ambrósio, Carlos da Silva, Rafael Perrone, Antônio Pereira e Anselmo Correia, reunidos com outros oito rapazes fundaram o Sport Club Corinthians Paulista, depois de assistirem um jogo do time inglês do “Corinthia Casuals Football Club”, que excursionava ao Brasil. O primeiro presidente do Corinthians brasileiro foi o alfaiate Miguel Bataglia, que vaticinou: “O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time". E não deu outra.

Os primeiros tempos do Corinthians foram passados nos campos de várzea. O primeiro jogo aconteceu em 10 de setembro de 1910, quando perdeu por 1 X 0 para o União da Lapa, uma respeitada equipe da várzea paulistana. O primeiro gol da vida do clube foi marcado pelo jogador Luis Fabi, na vitória de 2 X 0 sobre o também varzeano Estrela Polar, no dia 14 de setembro de 1910. Depois disso, foram dois anos de invencibilidade.

Somente em 1913, dois anos depois de fundado é que o clube pleiteou uma vaga junto à Liga Paulista de Futebol. Teve que disputar uma eliminatória, derrotando o Minas Gerais por 1 X 0 e o São Paulo do Bexiga, por 4 X 1.

A estréia no Campeonato Paulista de 1913, quando terminou em quarto lugar, não foi boa: perdeu para o Germânia, por 3 X 1. O jogador Joaquim Rodrigues escreveu seu nome na história do Corinthians, marcando o primeiro gol do clube em partidas oficiais.

Em 1914, começava a hegemonia: no segundo Campeonato Paulista que disputou o Corinthians não deu chance para os adversários. Uma campanha arrasadora, com 10 vitórias em 10 jogos, 39 gols marcados e goleadas para todos os lados e Neco, como artilheiro com 12 gols. Nesse mesmo ano jogou sua primeira partida internacional, perdendo para o Torino, da Itália por 3 X 0. Começava assim a história futebolística do Sport Club Corinthians Paulista.

Muitos foram os craques que vestiram a camisa alvinegra. O maior deles foi Manuel Nunes, o Neco, que jogou no Corinthians por 17 anos. Era um jogador polivalente, atuando na ponta-esquerda, centro-avante e no meio de campo. Começou no terceiro quadro corintiano, em 1911. Em 1914, foi campeão paulista pela primeira vez, e artilheiro com 12 gols, feito que repetiria em 1920, quando marcou 24 gols. Em 1915, o Corinthians viveu sua primeira grande crise, quando não disputou torneios oficiais e quase fechou as portas, ameaçado de ter a sede tomada e todos os móveis penhorados. Neco foi então emprestado ao Mackenzie.

Em 1916, o Corinthians voltou a Liga e foi de novo campeão. Isso se repetiria em 1922, 1923, 1924, 1928 e 1930. Neco foi também o primeiro jogador corintiano convocado para a Seleçao Brasileira, ao lado de Amilcar Barbuy. E ainda o primeiro jogador do Corinthians a ter um busto no Parque São Jorge. Neco disputou 296 jogos (215 vitórias, 35 empates e 46 derrotas), marcou 235 gols e venceu os Campeonatos Paulistas de 1914 (invicto), 1916 (invicto), 1922 (centenário da Independência), 1923, 1924, 1928 e 1930.

Muitos jogadores brilharam no Corinthians, como Luizinho, Baltazar (o cabecinha de ouro), Cláudio (apelidado o gerente), Oreco, Gilmar, Rivelino, Vladimir, Basílio, Sócrates, Casa Grande, Marcelinho Carioca e Carlito Tevez, entre outros. Mas nenhum com a intensidade de Neco.

O Corinthians ainda papou o Paulistão nos anos de 1937 (primeiro título no profissionalismo), 1938 (invicto), 1939, 1941, 1951 (com o famoso ataque dos 103 gols), 1952, 1954 (IV Centenário de São Paulo), 1977 (Jubileu de Diamantes), 1979, 1982, 1983, 1988, 1995, 1997, 1999, 2001 e 2003. (campeão do século).

Outros títulos importantes na história do clube: Torneio Quinela de Ouro (invicto, 1942); Taça Cidade de São Paulo (1942, 1947, 1948 e 1952); Torneio Rio-São Paulo (1950, 1953, 1954, 1966 e 2002); Pequena Copa do Mundo em Caracas, Venezuela (1953); Torneio Internacional Charles Miller (1955); Taça dos Invictos (1956 e 1957); Taça São Paulo (1962); Torneio de Torino, Itália (1966 e 1969); Torneio Costa do Sol, na Espanha (1969); Torneio Internacional de Nova York (1969); Torneio Laudo Natel (1973); Taça Governador do Estado (1978); Copa Internacional da Feira de Hidalgo, México (1981); Taça Cidade de Porto Alegre (1983); Super Copa do Brasil (1991); Copa do Brasil (1995 e 2002); Torneio Ramón de Carranza, Espanha (1996); 1º Mundial Interclubes da FIFA (2001) e Campeonato Brasileiro (1990,1998, 1999 e 2005). (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Jogadores corinthianos antes de um jogo pelo campeonato paulista de 1914, no campo da Floresta (Foto: Acervo do S.C. Corinthians Paulista)