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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Vasco da Gama em busca das velhas glórias

Novos tempos de grandeza podem estar chegando para o Clube de Regatas Vasco da Gama, uma das mais tradicionais entidades esportivas de nosso país. O ex-craque vascaíno, Carlos Roberto de Oliveira, ou simplesmente Roberto “Dinamite” foi eleito recentemente presidente do clube, acabando – pelo menos é o que pensam e esperam os torcedores – com a era Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, que desde 2000 dirigia o clube com "mão de ferro".

Eurico Miranda, o dirigente que deixou o clube é filho de portugueses que na década de 30 imigraram para o Brasil, fugindo do regime do ditador António Salazar. Criado na Zona Sul do Rio de Janeiro, estudou no Colégio Santo Inácio, em Botafogo, uma escola jesuíta freqüentada por boa parte da elite carioca. Acabou por ser expulso devido a brigas com colegas, o que já demonstrava seu forte temperamento desde aqueles tempos.

Passou no vestibular para a Faculdade de Medicina, mas acabou por optar pela Faculdade de Fisioterapia, por onde formou-se. Chegou a exercer a profissão antes de decidir ingressar na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi nesse tempo, então com 23 anos, que ingressou nas atividades adminstrativas do Vasco da Gama, sendo diretor de cadastro em 1967.

Daí em diante teve intensa participação na vida do clube, de onde só saiu o mês passado. Em 1969, ganhou as manchetes dos jornais cariocas. O presidente do Vasco era Reinaldo de Matos Reis, que desagradava à maioria dos conselheiros, mas era defendido por Eurico, então já Vice-Presidente de Patrimônio. Foi realizada uma reunião na sede náutica do clube, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para decidir a cassação do seu mandato. Porém houve uma falha de energia e a reunião foi adiada. No dia seguinte o jornal “O Globo” publicou a fotografia de uma mão desligando o quadro de energia. O título da reportagem era: "A mão de Eurico", que assim entrava para a história e política ativa do clube. O resto dessa história, todos já sabem.

As desavenças entre Eurico Miranda e Roberto “Dinamite” são antigas. Em 2002, quando o ex-jogador, acompanhado de seu filho Rodrigo, então com 10 anos, assistia a um jogo entre Vasco e Ponte Preta, o “cartola”, com sua costumeira truculência, deu ordens para que “Dinamite” fosse convidado a se retirar da Tribuna de Honra do Estádio São Januário. A raiva de Eurico se devia a uma entrevista do ex-jogador, que admitiu o sonho de um dia ser presidente do Vasco e pediu que fosse revelado quanto e para quem o clube devia.

“Dinamite” já se sentiu desprestigiado pela diretoria do Vasco dias antes do incidente, quando Eurico Miranda, na ânsia de agradar a Romário, a quem o clube devia R$ 9 milhões, anunciou a aposentadoria da camisa 11 do clube depois que o “Baixinho” parasse de jogar. Roberto, que foi o maior artilheiro da história do Vasco e defendeu o clube por muito mais tempo, nunca foi alvo de nenhum tipo de homenagem, o que o desgostou profundamente. Agora, como novo presidente do Vasco, “Dinamite” cassou a aposentadoria da camisa 11 que voltou a ativa.

Depois do incidente, “Dinamite” juntou-se à oposição e concorreu à presidência do clube em 2003, sendo derrotado. Em 2006 concorreu outra vez e perdeu. Mas as eleições foram anuladas pela oitava Câmara Cível do Rio de Janeiro e novas eleições para o Conselho Deliberativo do Clube foram realizadas em 21 de Junho de 2008, nas quais a chapa de Eurico Miranda saiu derrotada. No dia 27 de Junho de 2008 o Conselho Deliberativo do Vasco da Gama finalmente elegeu Roberto “Dinamite” presidente.

O ex-craque cruzmaltino, que em criança torcia pelo Botafogo, nasceu em Duque de Caxias (RJ), no dia 13 de abril de 1954. Quem o descobriu para o futebol foi o "olheiro" e ex-atacante do Flamengo na década de 30, Francisco Ferreira de Souza, o “Gradim”, que em 1969, quando tinha apenas 14 anos, o levou para a escolinha do Vasco, treinada por “Seu Rubens”. Foi com o treinador dos juvenis, Célio de Souza, que Roberto aprimorou sua técnica. No início de carreira, com seu 1,86 de altura era apenas um centroavante daqueles chamados de “trombador”.

Em 25 de novembro de 1971, soube aproveitar a segunda chance que o técnico Admildo Chirol lhe deu no time de profissionais, e marcou um gol na vitória de 2 x 0 sobre o Internacional. Com habilidade, dominou a bola na intermediária e chutou com extrema violência, não dando chances ao goleiro adversário, marcando o primeiro de suas centenas de gols. O apelido “Dinamite” ele ganhou no outro dia. O jornalista Aparício Pires, do “Jornal dos Sports”, maravilhado com o chute forte do jovem atacante estampou em manchete: "Garoto dinamite explode no Maracanã".

Foi com os ensinamentos do técnico Oto Glória, em 1979, que “Dinamite” alcançou o auge técnico, transformando-se em um jogador moderno, de rara mobilidade, capaz de participar de jogadas geniais. Assim, foi protagonista de um “duelo” pela artilharia carioca, em igualdade de condições com o craque flamenguista Zico, de quem era grande amigo fora de campo. Mas nas quatro linhas eram adversários ferrenhos, defendendo com galhardia suas equipes.

Em 1978, num primeiro momento, Roberto não foi convocado pelo técnico Cláudio Coutinho para a Seleção Brasileira que disputou o Mundial na Argentina. Mas, o então presidente da CBF, almirante Heleno Nunes, exigiu que o chamassem. Depois de ficar na reserva nos primeiros jogos foi colocado em campo e classificou o Brasil com um gol histórico contra a Áustria, tendo terminado a Copa como co-artilheiro do time com 3 gols. Em 1982, foi convocado em cima da hora para disputar o Mundial da Espanha devido à contusão de Careca. Mas ficou apenas treinando durante todo o torneio, pois o técnico Telê Santana preferiu escalar Serginho Chulapa no seu lugar. Apesar de tudo, Roberto marcou 26 gols em 53 jogos pela seleção, alcançando a maior média de gols entre os atacantes de sua época.

Jogou no Vasco da Gama de 1971 a 1979, quando se transferiu para o Barcelona, da Espanha. Porém, a passagem de “Dinamite” pelo clube catalão foi péssima. Muito cobrado pela torcida, insatisfeita com a campanha no Campeonato Espanhol do mesmo ano, o centroavante não reeditou suas boas apresentações e não contou com a mesma sorte de antes. Três meses depois de deixar o Rio de Janeiro, “Dinamite” retornou ao clube da Cruz de Malta em 1980, pelas mãos de Eurico Miranda, onde permaneceu até 1988. No jogo de reestréia, contra o Corinthians marcou os cinco gols no massacre sobre o time paulista, que só conseguiu fazer dois. Foi a consagração.

Em 1989 jogou pela Portuguesa de Desportos (SP). Voltou ao Vasco em 1990, e em 1991 defendeu o Campo Grande (RJ). Em 1993, no próprio Vasco, trazido de volta pelo técnico Joel Santana, na condição de titular encerrou a carreira com tratamento de quase embaixador do clube. Foi campeão carioca em 1977, 1982, 1987 e 1992 (Vasco) e Campeão brasileiro de 1974 (Vasco).

Foi o maior goleador da história vascaína por 13 temporadas consecutivas, superando Ademir de Menezes, o “Queixada”, e maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro com 617 gols. Jogou 1.108 vezes com a camisa do Vasco e marcou 708 gols. Ao todo foram 1.199 jogos em 22 anos de carreira: Vasco, 1108; Seleção Brasileira, 49; Barcelona, 8; Portuguesa de Desportos, 14; Rio Negro, 1; Seleção de Masters, 4; Despedida de Júnior, 1 e Campo Grande, 14. E exatos 754 gols, assim distribuídos: Vasco, 708; Seleção Brasileira, 26; Barcelona, 3; Portuguesa de Desportos, 11; Rio Negro, (Amistoso contra o Flamengo), 2; Seleção de Masters (Copa Pelé), 2; Despedida do Júnior (Amistoso na Itália), 2, o que dá a incrível média de 36 gols por temporada nos 22 anos de carreira. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Roberto "Dinamite", de craque a presidente (Foto: Acervo do C.R. Vasco da Gama)