Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A morte ronda o futebol

A morte não pede licença, e em menos de uma semana ceifou a vida de três conhecidos ex-jogadores do futebol brasileiro. Na sexta-feira, dia 24 morreu aos 47 anos José Carlos da Costa Araújo, o goleiro Zé Carlos, que ganhou fama jogando pelo Flamengo do Rio de Janeiro. Ele sofria de um câncer na região do abdômen e desde o dia 27 de maio estava internado no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, no bairro da Tijuca, em estado grave.

Zé Carlos começou a carreira em 1983, jogando pelo Americano de Campos (RJ). Depois foi para o Rio Branco (ES), onde o Flamengo foi buscá-lo em 1984, quando tinha 22 anos. Alto e ágil, logo se destacou, e já como titular conquistou o Campeonato Carioca de 1986.

O grande momento de Zé Carlos foi na Copa União de 1987, ganha pelo flamengo que tinha um time fabuloso, onde se destacavam jogadores como Renato Gaúcho, Zico, Leonardo, Leandro,Bebeto, Zinho, Jorginho e Andrade. Nesse ano, consagrou-se como o segundo goleiro na história do clube a marcar um gol, em partida contra o Nacional de Montevidéu. O primeiro foi Ubirajara, que acertou as redes do Madureira, em jogo disputado no dia 19 de setembro de 1970, no Estádio Luso Brasileiro e vencido pelo Flamengo por 2 X 0.

Zé Carlos fez parte da equipe brasileira medalha de prata nas Olimpíadas de Seul em 1988, sendo reserva de Tafarel. Em 1989 conquistou a Copa América com a Seleção principal. Em 1990 foi convocado por Sebastião Lazaroni, seu técnico no Flamengo, para a Copa de 1990, na Itália, onde mais uma vez foi reserva de Tafarel.

Ele ainda ganhou outro título nacional pelo Flamengo, a Copa do Brasil, em 1990. O ex-goleiro teve passagens pelo Cruzeiro de Minas Gerais, XV de Novembro de Piracicaba (SP), Tubarão de Santa Catarina, Vitória da Bahia e pelo futebol português, onde defendeu o Vitória de Guimarães, Farense e Felgueiras e retornou ao Flamengo em 1996. No ano seguinte, foi vice-campeão do Torneio Rio-São Paulo, quando o rubro-negro perdeu a final para o Santos no Maracanã.

Depois de aposentado, Zé Carlos jogou pelas equipes de masters e de showbol do Flamengo e fez parte da comissão técnica do América em 2006, junto com Jorginho, amigo dos tempos da Gávea. No período em que esteve doente, o Flamengo apoiou seu ex-jogador criando um site para coleta de fundos para ajudar nas despesas com o internamento.

Na noite de sábado, 25, faleceu, aos 74 anos, José Ferreira Franco, mais conhecido como Zequinha, que brilhou no Palmeiras durante os anos 60, jogando como médio, como se dizia na época, ou atual volante ou meio-campo, apesar de seu 1m66 de altura. O craque pernambucano, nascido em Recife no dia 18 de novembro de 1934, jogou ainda por Auto Esporte (PB), onde começou a carreira como jogador profissional aos 20 anos de idade, Santa Cruz (PE), entre 1955 e 1957, Fluminense (RJ), Atlético (PR), onde atuou ao lado de Bellini e Djalma Santos, e Náutico (PE), onde encerrou a carreira em 1970.

Zequinha, que morava em Olinda (PE), onde era dono de uma agência lotérica, estava internado em um hospital particular do Recife e morreu de falência múltipla dos órgãos. O velório foi realizado no domingo (26) no Cemitério Bom Jesus da Redenção, no bairro de Santo Amaro, área central da capital e o sepultamento às 11h de segunda-feira (27).

Oriundo do Santa Cruz do Recife, Zequinha chegou ao Palmeiras em 1958, quando tinha 23 anos. No alviverde paulista conquistou títulos importantes: Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967), Taça Brasil (1960 e 1967), Torneio Rio-São Paulo (1965) e campeonato paulista (1959, 1963 e 1966). Pelo “Verdão”, o volante fez 417 jogos (247 vitórias, 83 empates e 87 derrotas) e marcou 40 gols. Fez parte do time conhecido como “a primeira academia”, dirigido pelo treinador Filpo Nuñes. Cunhado do ex-zagueiro Minuca, só perdeu o lugar no time verde com a chegado de Dudu.

O título mais importante da sua carreira foi o de Campeão do Mundo, em 1962, quando integrou o grupo comandado pelo técnico Aymoré Moreira, como volante reserva de Zito. Fez 17 partidas (14 vitórias, 1 empate e duas derrotas) e marcou dois gols com a camisa da seleção.

Ainda no sábado, 25, enquanto participava de uma “pelada” com amigos, em Campo Grande (MS), também morreu o ex-volante Cléber, que fez parte daquele maravilhoso time do Fluminense dos anos 1970. O time montado pelo ex-presidente Francisco Horta, era chamado de “a máquina tricolor”.

Cléber havia completado 55 anos, no último dia quatro de abril. Ele morava em Campo Grande desde que abandonou os gramados, depois de jogar pelo Operário daquela cidade. Atualmente, era comentarista esportivo da Rádio Clube de Campo Grande, onde também comandava o jornalismo esportivo da emissora. Cléber deixou esposa e três filhos. O sepultamento aconteceu no Cemitério Parque das Palmeiras, em Campo Grande.

Cleber Ribeiro Machado nasceu no interior do Rio de Janeiro. Começou a carreira nas categorias de base do Fluminense, quando foi chamado diversas vezes para a seleção brasileira. Foi lançado no time titular tricolor em 1974, pelo treinador Duque. O auge de sua carreira aconteceu nas conquistas dos certames cariocas de 1975 e 1976, quando o Fluminense contava com jogadores da envergadura de Carlos Alberto Torres, Rodrigues Neto, Carlos Alberto Pintinho, Rivelino, Gil, Doval.

Também jogou ao lado de Félix, Toninho, Abel Braga, Marco Antônio, Zé Mário, Erivelton, Paulo César Caju, Cafuringa, Manfrini e Gilson Gênio, entre outros. Destes jogadores, Cafuringa, Doval e Dirceu também são falecidos, assim como o treinador Didi, que dividiu com Duque, Paulo Emílio e Mário Travaglinni o comando dos times do Fluminense quando Cléber jogava.

Depois do Fluminense esteve no Náutico e Operário e jogou no Equador e Portugal. No futebol paulista, teve uma rápida passagem pelo XV de Jaú. (Pesquisa: Nilo Dias)

Zé Carlos, ex-goleiro do Flamengo. (Foto: Acervo do C.R. Flamengo)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Clássico pernambucano completa 100 anos (Final)

O Campeonato Pernambucano começou a ser disputado em 1915. O Flamengo do Recife foi o ganhador daquele ano. A primeira decisão entre Sport e Náutico aconteceu apenas em 1951, no cinquentenário alvirrubro. O “Leão” venceu o primeiro turno e o “Timbu” o segundo. Foi preciso uma disputa em melhor de três para ver quem seria o campeão. O Náutico ganhou duas partidas e conquistou o título.

A revanche do Sport veio quatro anos depois, quando festejava 50 anos de fundação. Adelmar da Costa Carvalho, que emprestaria seu nome para o estádio, assumiu a presidência no dia 3 de janeiro. Para a diretoria de futebol, foi escalado outro empresário de grandes posses, José Rosemblit. Menos de 20 dias depois, chegava ao Recife um dos técnicos mais famosos do País, Gentil Cardoso.

Era o ponto de partida para quebrar a hegemonia do Náutico na década. Porém, o time demorou a se acertar, como previra o próprio técnico. Por conta disso teve que aguentar a gozação dos alvirrubros após um 3 x 1 em plena Ilha do Retiro, justamente na estréia de Osvaldo Baliza, ex-goleiro da seleção brasileira.

O treinador pediu paciência, principalmente pela confiança em seu setor ofensivo, comandado por Traçaia, que viria a tornar-se, mais tarde, no maior artilheiro do Sport, com 201 gols. Naninho, Gringo, Soca e Geo completavam o quinteto. A competição começou em maio, mas o jogo que deu o título ao Leão só aconteceu no dia 8 de janeiro do ano seguinte nos “Aflitos”. Foi apertado, por 3 x 2. Traçaia (2) e Naninho marcaram para o Sport. Wilton e Ivanildo descontaram para o Náutico.

Em 1966 aconteceu a maior goleada numa final do Campeonato Pernambucano na era do profissionalismo, que começou em 1937. Em 21 de dezembro de 1966, o Náutico fechou a melhor de três na final contra o Sport com um inesquecível 5 X 1, nos “Aflitos”, que valeu o até então inédito tetracampeonato. Os gols foram marcados por Lala, Miruca, Nilo, Zé Carlos e Bita. Nessa década de 60 o Náutico tinha o famoso ataque das quatro letras: Nado, Bita, Nilo e Lala.

Bita era conhecido como o "Homem do Rifle", devido ao seu poder de fogo. Ele foi o maior artilheiro da história do clube, com 223 gols. Era chamado pelos torcedores de "o homem do rifle". Ao marcar um dos gols no massacre registrado no decisivo clássico, Bita chegou a 22 tentos na competição, conseguindo a artilharia pelo terceiro ano consecutivo, marca que seria igualada apenas em 1983, por Baiano.
Bita faleceu em 1992, com apenas 50 anos de idade, deixando a família alvirrubra órfã de seu grande ídolo.

Os últimos 12 anos haviam sido os mais cruéis para a torcida rubro-negra. Afinal, eles assistiram impassíveis o Náutico ser hexacampeão e o Santa Cruz conquistar cinco títulos consecutivos - só não chegou ao hexa graças ao grande time alvirrubro de 1974. Em 1975, com a ascensão de Jarbas Guimarães a presidência, o Sport montou uma verdadeira "Seleção do Nordeste".

Foram contratados jogadores renomados na época, como Dario (o Dadá Maravilha), Tovar, Luciano Veloso, Assis Paraíba e o português Perez. Para comandar a equipe, um dos maiores conhecedores do futebol pernambucano: David Ferreira, o famoso “Duque”. Ao todo, o clube gastou o equivalente a 60 automóveis zero quilômetro. Na final do Campeonato Pernambucano - um dos mais disputados da história, pois Santa e Náutico também contavam com equipes qualificadas -, o “Leão” se deparou com o “Timbu”, nos “Aflitos”.

O Náutico buscava o bicampeonato comandado por Jorge Mendonça no ataque. O jogo entrou para a história como um dos mais conturbados em razão da polêmica arbitragem de Sebastião Rufino, que não marcou dois pênaltis a favor do time da casa e ainda anulou um gol legitimo do alvirrubro. O Sport venceu por 1 X 0, gol de Assis, que penetrou na área e deu um leve toque, deslocando o goleiro Neneca. Foi o 20º título estadual do Sport, que acabou com a gozação dos rivais, que já chamavam o rubro-negro de “Leão XIII" (se perdesse, seriam 13 anos sem ganhar nada).

Outra partida que entrou para a história do “Clássico dos Clássicos” aconteceu em 14 de outubro de 1977, no estádio do Arruda. O Náutico, para ser campeão, precisava ganhar a terceira partida da melhor de três não só no tempo normal, mas na prorrogação também. Draílton fez 1x0 para o Timbu ainda nos 90 minutos, mas o drama se estendeu.

Naquele tempo, não havia disputa de pênaltis, e o jogo só acabava quando alguém fizesse um gol. E coube a Mauro Madureira, do Sport, balançar as redes, no terceiro tempo da prorrogação, após 158 minutos de jogo, já na madrugada do dia seguinte.

Em 2001, o Sport, que fora 5º colocado no Brasileiro contava os dias para sagrar-se hexacampeão pernambucano. Na penúltima rodada do primeiro turno, uma vitória sobre o Náutico, na Ilha do Retiro, deixaria o time muito próximo de conquistar uma vaga na final do Estadual. Mas numa quarta-feira à noite, em 16 de maio, mais de 28 mil torcedores assistiram aquela que é apontada como a grande vitória “timbu” sobre os leoninos nesta década.

Comandado por Muricy Ramalho, o Náutico conseguiu a vitória com um gol antológico do volante Adílson. O jogador - que sempre foi contestado nos Aflitos - cobrou uma falta da intermediária, acertando o ângulo do goleiro Neneca. A vitória por 2 X 1 recolocou o Náutico na briga pelo título. Posteriormente, o “Timbu” faturou o primeiro turno e o título pernambucano. Logo no ano do seu centenário.

Em 1977, surgiu no Sport um jovem jogador de 18 anos, de nome Roberto Almeida Nascimento. Devido o empenho com que disputava as jogadas, os torcedores logo o apelidaram de “Roberto Coração de Leão”. Com ele o Sport ganhou três campeonatos pernambucanos, 1977, 1980 e 1981. Roberto chegou a vestir a camisa da Seleção Brasileira.

O campeonato de 1981, foi na verdade, um supercampeonato, o único do Sport. No terceiro jogo do triangular, em 6 de dezembro, já com o Santa eliminado, Sport e Náutico disputaram o agora centenário clássico na Ilha do Retiro, com 37.332 torcedores. Lotação máxima. Isso porque a Ilha era bem menor que hoje. Sequer existiam os tobogãs atrás dos gols. Em um jogo que passou ao vivo para o Recife (algo raro na época), Roberto e Denô, a grande dupla de ataque do Sport nos anos 80, marcaram os gols da vitória por 2 x 0, garantindo o bicampeonato estadual.

No Brasileirão as centenárias agremiações também já se encontraram. Em 1987, ano em que foi campeão nacional, o Sport ganhou por 1 X 0. Depois bateu o Guarani de Campinas e conquistou o mais importante título de sua história. No ano seguinte, junto com o bugre campineiro, representou o país na Taça Libertadores da América. Porém, foi o Náutico o primeiro clube pernambucano a disputar a Libertadores, isso em 1968.

O dia 25 de julho não está restrito apenas ao clássico. Esse dia parece não fazer bem ao Sport. Em 2000, o time perdeu a oportunidade de voltar ao torneio internacional após 12 anos, quando na decisão da extinta Copa dos Campeões, perdeu para o Palmeiras por 2 X 1.

Grandes jogadores participaram do clássico nesses 100 anos de história. Pelo Sport, Marcilio de Aguiar (talvez o mais completo jogador pernambucano de todos os tempos), Pacoty, Raul Betancor, Ademir Menezes, Elo do Amparo, “Queixada”, Traçaia, Zé Maria, Almir ”Pernambuquinho”, Ribamar, vavaá “Peito de Aço”, Manga, Raul Bettancourt, Djalma, Juninho Pernambucano e Leonardo. No lado do Náutico, os irmãos Carvalheira, Ivson, Orlando “Pingo de Ouro”, Manoelzinho, Bita, Marinho Chagas, Baiano, Nivaldo, Bizu, Kuki, entre outros.

De acordo com o Ibope e a revista “Lance!”, o Sport é o dono da maior torcida do Nordeste, ocupando a 15º colocação nacional. Já o Náutico, tem a terceira maior torcida de Pernambuco e ocupa a 22º posição no ranking da CBF.

A história do jogo entre Sport X Náutico está contada em todos os detalhes no livro ”Clássico dos Clássicos – 100 anos de história” de autoria dos pesquisadores José Lucídio de Oliveira, Carlos Celso Cordeiro e Roberto Vieira, lançado na última sexta-feira (17/07), no salão nobre da Federação Pernambucana de Futebol (FPF). A obra compreende toda a história do clássico, desde o primeiro jogo, até o último, o de número 512, em 19 de abril de 2009, que, embora terminado em 0 X 0, sacramentou o título do Sport de tetracampeão pernambucano.

O curioso é que o livro tem capa dupla, uma alvirrubra e uma rubro-negra e conta com os prefácios dos jornalistas Juca Kfouri e Celso Unzelte e as apresentações dos jornalistas Fernando Menezes, do “Jornal do Commercio”, e Lenivaldo Aragão. Já as orelhas foram escritas pelo pesquisador social Túlio Velho Barreto e pelo ex-goleiro do Sport e escritor, Valdir Appel.

A publicação aborda as 50 melhores vitórias de Sport Recife e Náutico quando se enfrentaram, 25 de cada clube. Curiosidades e estatísticas também compõem a obra, que é um documento muito valioso na história do futebol não só pernambucano, como nacional. A edição é limitada, apenas 500 exemplares.

Principais títulos do Náutico. Campeonato Pernambucano: (1934, 1939, 1945, 1950, 1951, 1952, 1954, 1960, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1974, 1984, 1985, 1989, 2001, 2002, 2004); Tetracampeão do Torneio Norte-Nordeste: (1952, 1963, 1964 e 1965) e vice-campeão da Taca Brasil (1967),

Principais títulos do Sport. Campeonato Brasileiro: (1987); Campeonato Brasileiro Série B: (1987 e 1990); Copa do Brasil: (2008); Copa Norte-Nordeste: (1968); Copa Nordeste: (1994, 2000. Campeonato Pernambucano: (1916, 1917, 1920, 1923, 1924, 1925, 1928, 1938, 1941, 1942, 1943, 1948, 1949, 1953, 1955, 1956, 1958, 1961, 1962, 1975, 1977, 1980, 1981, 1982, 1988, 1991, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2006, 2007, 2008 e 2009). (Pesquisa: Nilo Dias)

Sport, campeão brasileiro de 1987. (Foto: Acervo do Sport Club Recife)
Náutico, bicampeão pernambucano, 2001/2002. (Foto: Acervo do Clube Náutico Capibaribe)

OBSERVAÇÃO: O clássico disputado ontem na Ilha do Retiro, terminou empatado em 3 X 3.

domingo, 26 de julho de 2009

Clássico pernambucano completa 100 anos (1)

Sport e Náutico jogam neste domingo no estádio da Ilha do Retiro, o clássico de número 513 de toda a história. Uma taça comemorativa estará em disputa. Quem vencer a partida, válida pela 14ª rodada do Campeonato Brasileiro, leva o troféu para casa. Se houver empate, cada um dos clubes receberá uma réplica. O primeiro clássico aconteceu no dia 25 de julho de 1909, no campo do British Country Club, da colônia inglesa em Recife, e se localizava onde hoje está o Museu do Estado, no bairro das Graças. O Náutico, fundado em 1901, para a prática de esportes aquáticos, foi o vencedor pelo escore de 3 X 1, perante cerca de 3 mil torcedores. O Sport foi fundado em 1905.

Para os jornais da época, uma surpreendente vitória alvirrubra, já que o Sport era considerado franco favorito. Quem marcou o primeiro gol da história foi Roland Maunsell, que também fez o segundo. A vantagem alvirrubra aumentou no segundo tempo, com D. Thomas. Em seguida, C. Chalmers diminuiu para os rubro-negros.

O Sport jogou com: L. Latham - N.D.T.Oliver e W.H.Muller - Frank Fellows - W.Pickwood e Willie Robinson - Alberto Amorim - S.T.Marsh - L.Griffith - C.Chamlmers e J.Amorim. Reservas: O. Von Shosten e A.Lundgren. O Náutico formou com: H. King - E. Montagne Smith e H.A.R. Ávila - R. Ramage - F.M. Ivatt e John Cook - A.Silva - H. Grant Anderson - R.Maunsell - D.Thomas e João Maia. Reserva: Mac Pherson. Ainda naquele ano os dois se enfrentaram mais uma vez, com nova vitória alvirrubra, por 2 x 0.

Tanto Náutico como Sport eram times formados por jogadores ingleses. O Sport jogou com calções brancos e camisas vermelhas e pretas em listras verticais, sem escudo. Tinha como vantagem a experiência de ter realizado outras dez partidas anteriormente. O Náutico, que fazia seu primeiro jogo de futebol atuou todo de branco, e na camisa havia um escudo com uma âncora, dois remos e as letras CNC. Após o jogo os atletas dos dois times confraternizaram no palacete do British Club, com discursos e muita champagne.

O primeiro jogo entre ambos valendo pontos foi realizado no dia 21 de maio de 1916, também no campo do British Country Club, com vitória do Náutico por 4 X 1. Quase quatro meses depois, veio a revanche. Num campo lotado, na Ponte d'Uchoa, os rubro-negros pagaram a dívida com juros e correção monetária e fizeram a maior diferença de gols entre os dois times nos 100 anos de história: 8x0. Motta fez 4, Vasconcelos 3, e Smith completou o marcador.

O Náutico levou 20 anos para devolver o vexame. A goleada começou em dezembro de 1934, num jogo bastante tumultuado. O Náutico vencia por 2 x 0 quando o Sport diminuiu e começou a pressionar. De acordo com o pesquisador Carlos Celso Cordeiro, o Náutico começou a fazer cera e provocar o juiz. Naquela época, quando o juiz era pressionado, era substituído, ao contrário de hoje quando os atletas indisciplinados são expulsos.

A demora foi tamanha que o jogo entrou pela noite. Como não havia refletores, a partida teve que ser suspensa. A prática previa que o tempo restante seria completado no dia seguinte. O Sport não aceitou e propôs uma nova partida começando do 0 X 0.

O novo confronto foi marcado para 31 de março, já em 1935 no campo da Avenida Malaquias. Aos dois minutos, Estácio fez 1 X 0 para o time vermelho e branco. Aos 15, Zezé aumentou para 2 X 0. Cinco minutos depois Fernando fez 3 X 0 em cobrança de pênalti. Mais três minutos e outro Carvalheira, Artur, marcou 4 X 0. Aos 37, Estácio fez 5 x 0, terminando o primeiro tempo.

Aos cinco da fase final, Fernando Carvalheira driblou quem apareceu pela frente e fez o sexto. O Sport conseguiu seu gol solitário aos 21, após Marcílio Aguiar aproveitar rebote de Osvaldo Salsa. Um minuto depois Fernando Carvalheira fez 7 X 1. Para fechar com chave de ouro, Artur Carvalheira fez o oitavo no minuto final.

Embora Náutico e Sport já tenham goleado um ao outro com oito gols, essas duas partidas não se constituíram como as maiores quantidades de gols marcados. O feito ocorreu no dia 14 de junho de 1947, quando o Náutico venceu por 7 X 3. O goleiro do Sport era o lendário Manuelzinho.

O jogo valia pelo turno eliminatório do Estadual. O Náutico estava repleto de juvenis, enquanto o Sport apresentava um time mais experiente, com Chicão e Zago, além de Manuelzinho. Antes dos 30 minutos da etapa inicial o jogo já estava 3 X 0 para o Náutico. Alcidésio, Zeca e Idimiar foram os goleadores. Dega e Molina diminuíram o marcador para o rubro-negro, mas Idimar fez mais um pouco antes do fim do primeiro tempo, que terminou 4 X 2 para o Náutico. No segundo tempo, o Náutico marcou mais três vezes, com Zeca, Carlos Alberto e Genival. Aos 43 minutos, Alheiros descontou, ficando o placar final em 7 X 3.

O clássico Náutico X Sport é o terceiro mais antigo do Brasil, ficando atrás apenas do “Clássico Vovô, entre Botafogo X Fluminense (22/10/1905), no Rio de Janeiro e o Gre-Nal (18/07/1909), no Rio Grande do Sul.

Segundo alguns jornalistas e pesquisadores Náutico X Sport é verdadeiramente o segundo clássico mais antigo do Brasil, e não o terceiro, como se pensa. A polêmica sobre o clássico mais antigo tem justificativa. O “Clássico Vovô” entre Botafogo x Fluminense, datado de 1905 seria o mais antigo. Mas na época existiam dois Botafogos: o Club de Regatas, e o Football Club. Com a união em 1942, o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje, herdou os títulos do antigo Botafogo Football Club.

Há um grande equívoco sobre o “Clássico Vovô”, porque o Botafogo que jogou contra o Fluminense foi extinto. Só em 1942 que houve a fusão dos dois Botafogos, com outro estatuto. Já Internacional, Grêmio, Sport e Náutico são instituições centenárias de vidas perenes, sem interrupções, diz o jornalista e pesquisador Galvão Neto.

Por esta visão, o clássico gaúcho entre Internacional x Grêmio, iniciado em 18 de julho de 1909 passa a ser o mais antigo no Brasil, sendo seguido por Sport x Náutico de 25 de julho de 1909, seis dias depois do Grenal.

O jogo entre Sport X Náutico disputa em importância com o “Clássico das Multidões” envolvendo Santa Cruz X Sport e com o “Clássico das Emoções”, disputado entre Náutico X Santa Cruz. Bem antes, o jogo entre América Football Club e Sport Club do Recife era chamado de “Clássico dos Campeões”. A denominação surgiu por que até o inicio da década de 1930, eram os dois times que detinham a maior quantidade de títulos e também eram os dois principais clubes da cidade. O “Clássico dos Campeões” foi o primeiro clássico de expressão entre equipes da capital pernambucana.

A rivalidade entre alvirrubros e rubro-negros vai além da quantidade de vitórias. Isso, porque o Náutico é o único clube pernambucano que conquistou o hexacampeonato estadual, assumindo assim o slogan de que "Hexa é Luxo". Tal provocação mexe com o ânimo do Sport, que há alguns anos tenta derrubar o prestígio alheio. Em 2006, o rubro-negro iniciou uma caminhada que já soma quatro títulos no Campeonato Pernambucano.

Até os anos 40, o confronto entre Sport X Náutico era chamado de "Fla-Flu Pernambucano", uma referência ao maior clássico do país na época. Depois foi ganhando personalidade própria, até virar o "Clássico dos Clássicos".

Dos 512 jogos já disputados, o Sport venceu 197, o Náutico, 169 e se verificaram 145 empates. Até hoje não se sabe o resultado de um jogo, que valeu pelo “Torneio Terezinha de Jesus”, que completa a estatistica. Foram marcados 1.321 gols, 687 do Sport e 634 do Náutico. A Ilha do Retiro é o local onde se realizaram mais clássicos, 207 ao todo. O maior artilheiro é Fernando Carvalheira, atacante do Náutico nos anos 30, que fez 26 gols. O principal goleador do Sport no clássico é Traçaia, que jogou nos anos 50 e marcou 13 gols.

O maior público de todos os tempos foi no jogo Sport 2 X 0 Náutico, disputado no dia 15 de março de 1998, no Estádio do Arruda, com 80.203 torcedores. Os árbitros que mais apitaram o clássico foram Sebastião Rufino e Gilson Cordeiro, ambos em 35 oportunidades. O campeonato pernambucano é a competição onde mais se enfrentaram, 384 vezes. (Pesquisa: Nilo Dias)

Sport, bicampeão pernambucano, 1955/1956. (Foto: Acervo do Sport Club Recife).Náutico, campeão pernambucano de 1934. (Foto: Livro "A história do futebol em Pernambuco").

domingo, 19 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (Final)

Os anos 90 apresentaram algumas surpresas. Em 1991 o Grêmio realizou uma péssima campanha no Campeonato Brasileiro e acabou caindo para a segunda divisão, para delírio dos torcedores do Internacional. O presidente do clube era Rafael Bandeira, que passou a ser considerado um vilão por conselheiros e torcedores, a ponto de não ter sua fotografia colocada na Galeria dos Ex-Presidentes.

Como última tentativa de melhorar sua imagem, o presidente trouxe de volta o atacante Renato Portaluppi, que em 1986 havia se transferido para o Flamengo do Rio de Janeiro. De nada adiantou, o Grêmio perdeu a Copa do Brasil para o Criciúma, treinado por Luiz Felipe Scollari e o campeonato gaúcho para o Internacional.

Em 1993 o jogador Dener, com 21 anos de idade veio para o Grêmio e ajudou a conquistar mais um título gaúcho para o clube das três cores. Foi uma passagem rápida, no ano seguinte foi para o Vasco da gama do Rio de Janeiro, onde morreu tragicamente em um acidente automobilístico.

Nesse ano de 1994 aconteceu o mais longo campeonato gaúcho de todos os tempos. Foram 506 partidas. O absurdo chegou ao ponto do Grêmio ter que realizar três jogos no mesmo dia. Foi em 11 de dezembro, no Estádio Olímpico, diante de um público de 758 pessoas, com 247 pagantes. Às 14 horas o Grêmio empatou com o Aimoré em 0 x 0. Às 16 horas ganhou do Santa Cruz por 4 X 3 e às 18 horas bateu o Brasil de Pelotas, por 1 X 0. O Inter foi campeão gaúcho e o Grêmio da Copa do Brasil, garantindo vaga para a Libertadores do ano seguinte.

Em 1997, no Grenal decisivo do Campeonato Gaúcho, o Internacional, para enganar o rival, simulou uma lesão grave em Fabiano, seu principal atacante. No último treino antes do clássico, Fabiano caiu ao chão se contorcendo de dor, imobilizou o joelho e ficou de muletas. Na hora do jogo revelou-se a farsa: Fabiano não estava lesionado, o que nem mesmo os outros jogadores sabiam até a hora de entrar em campo. Fabiano jogou os 90 minutos e fez o gol que deu o título ao Internacional, treinado por Celso Roth.

Em 1998 o interior voltaria a vencer o Gauchão, o que não acontecia desde 1939, quando o Rio-Grandense de Rio Grande foi campeão. Nesse ano o jogador Dunga, capitão da Seleção Brasileira nas Copas de 1994 e 1998 despedia-se dos gramados, vestindo a camisa do Internacional, onde iniciou a carreira. No Grêmio surgia Ronaldinho Gaúcho, que depois seria um dos mais perfeitos jogadores de futebol de todo o mundo, jogando na Europa. No Grenal de 20 de junho daquele ano, Ronaldinho Gaúcho aplicou um drible histórico sobre o veterano jogador de 36 anos.

No campeonato de 1998 foi o Internacional que andou as voltas com um pai-de-santo, que acusou o clube de não lhe pagar por serviços espirituais feitos no ano anterior. Efeito ou não do além, o certo é que o Inter empatou em 0 X 0 o jogo da semifinal contra o Veranópolis.

Consta que o pai-de-santo Antônio deu uma ajuda ao Veranópolis, espalhando enxofre e vinho no vestiário colorado, além de muita bala de mel pelo gramado do Estádio Antônio David Farina. E ainda faltou luz nos chuveiros, obrigando os jogadores do Internacional a tomar banho frio. No jogo de volta no Beira Rio, o Inter fez 4 X 0.

Em 2000 o interior voltou a brilhar, desta vez com o Caxias que se sagrou campeãs, depois de bater o Grêmio por 3 X 0 no Estádio Centenário, e empatar o segundo jogo no Olímpico, em Porto Alegre, por 0 X 0. O curioso é que o time da Serra Gaúcha estava sem receber salários há quatro meses.

Nestes anos 2000 o Internacional tem sido superior ao Grêmio. O atacante Fernandão marcou o gol mil do clássico e se tornou um ídolo da torcida. Em 2005 o Grêmio amargou sua segunda queda para o Campeonato Brasileiro da Série B. Por outro lado, o Internacional conquistou os maiores triunfos de toda a sua centenária história: campeão da Copa libertadores da América e do Mundo em 2006, campeão da Recopa em 2007 e Campeão da Copa Sulamericana em 2008.

Hoje a tarde, 16 horas, o Rio Grande do Sul vai parar para ver o clássico Grenal de número 377. A importância do jogo é enorme, por vários fatores: 1) – porque o clássico atinge 100 anos de história. 2) - porque o Grêmio não vence à 7 jogos. E 3 -, porque seio Internacional perder é provável que aconteça a queda do técnico Tite.
A estatística do clássico é amplamente favorável ao internacional. Em 376 jogos, o colorado venceu 141 e marcou 538 gols. O Grêmio venceu 118 vezes e marcou 499 gols. A diferença é de 23 vitórias e 39 gols pró Internacional. Nesses 100 anos, aconteceram 117 empates. (Pesquisa: Nilo Dias)

Hoje é o dia do Grenal centenário.

sábado, 18 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (6)

O Grêmio mandou no futebol gaúcho até 1968. Foram longos sete anos. Em 1969 o Internacional reagiria com várias ações que mudariam o destino do clube. Primeiro, foi contratado o técnico Daltro Menezes, vindo do Juventude de Caxias, que montou um time mesclado por jogadores experientes e alguns jovens. A diretoria também inovou ao confiar o futebol a um quinteto de jovens que trouxe novos conceitos e implantou uma filosofia vitoriosa de trabalho, que se prolongou pelos próximos oito anos. Eram eles: Ibsen Pinheiro, Ivo Corrêa Pires, Claudio Cabral, Hugo Amorim e Paulo Portanova, que entraram para a história como “os Mandarins”.

No Grenal decisivo do campeonato daquele ano, quando bastava o empate para o Inter ser campeão, aconteceram alguns fatos que mostraram claramente que os dirigentes não estavam para brincadeira. O árbitro Zeno Escobar Barbosa não deixava o jogo andar, cobrava falta em cima de falta. No intervalo o dirigente colorado Ivo Correia Pires se aproximou do juiz e o encheu de desaforos: “Gato, ladrão, gremista. Pode me expulsar se quiser, seu ladrão”.

Com o clima bastante quente, veio o segundo tempo de jogo. Aos 16 minutos Valdomiro fez 1 X 0 para o Internacional, mas o gol foi anulado sob a desculpa de que houvera falta em Everaldo. A torcida, na esmagadora maioria do Internacional, quase enlouqueceu. Os jogadores pressionavam o árbitro. Foi quando o dirigente Ibsen Pinheiro entrou no gramado, calmamente, com as mãos no bolso. A Policia Militar nem esboçou reação, visto que ele não gesticulou e nem estava agitado. Todos pensavam que ele ia acalmar os ânimos.

Ledo engano. Ibsen chegou junto a Zeno Escobar Barbosa e advertiu, olho no olho: “Isso aqui está uma loucura. Nós todos vamos morrer aqui dentro. O povo vai pular os portões da “coréia” (era um local onde os ingressos eram mais baratos) e vai ser um massacre”. O juiz apenas balbuciou: “Deixa comigo, deixa comigo, deixa comigo”.

E realmente as coisas começaram a se acomodar. O juiz expulsou Volmir e Alcindo saiu de campo machucado. O Grêmio já havia feito as duas substituições permitidas na época e ficara com 9 jogadores em campo. Tudo parecia encaminhar-se para um final tranqüilo, até que aos 40 minutos o zagueiro Áureo deu um chutão de longe, a bola ia em direção ao gol. Silêncio profundo no estádio. Até o juiz rezou para que a bola não entrasse. E esta, caprichosamente passou rente ao poste superior da meta de Gainete.

Alivio geral. Os minutos restantes foram gastos com a bola andando de pé em pé dos jogadores colorados. Zeno Escobar Barbosa não deu nem um minuto de acréscimo e o Internacional comemorou o título.

Em 1971 o campeonato parou no “tapetão”. Foi o famoso caso “Land”. O Internacional lançou o jogador, recém contratado junto ao Rio Branco, do Espírito Santo, em uma partida contra o São José. Porém, o jogador já havia participado do campeonato capixaba. Pela legislação, estava impedido de disputar outro estadual. O Grêmio chegou a pagar a viagem de um advogado do São José, ao Espírito Santo, em busca de provas contra o Inter. O caso acabou sem solução, e o Inter sagrou-se tricampeão gaúcho.

Ainda em 1971 o Internacional trouxe o zagueiro chieleno Elias Figueroa, que jogava pelo Peñarol de Montevídeu. E o Grêmio trouxe do Nacional, também do Uruguai, o zagueiro Atílio Ancheta, que se tornariam ídolos em seus clubes.

Os anos que se seguiram foram do mais completo desespero para os gremistas. O Inter superou o hepta do Grêmio e se tornou octacampeão. Além disso, ainda ganhou três campeonatos brasileiros, em 1975, 1976 e 1979, este de forma invicta, marca que permanece até hoje como única. O time era uma verdadeira máquina de jogar futebol: Manga – Cláudio – Figueroa – Hermínio (Pontes) (Marinho) e Vacaria – Caçapava (Jair) – Batista (Escurinho) e Falcão – Valdomiro – Dario (Flávio) e Lula.

Em 1977 o Grêmio conseguiu romper a longa série de conquistas do rival. O time era: Corbo – Eurico – Ancheta (Cassiá) – Oberdan e Ladinho – Vitor Hugo – Tadeu Ricci e Iúra – Tarciso – André Catimba (Alcindo) e Éder.

Nesse ano foi o Inter quem recorreu ao “tapetão” para tentar anular o Grenal que deu o título ao Grêmio. Cinco minutos antes do jogo terminar a torcida invadiu o campo e a equipe colorada optou por se retirar. Não levou. O dirigente gremista Nélson Olmedo proferiu a frase que virou jurisprudência esportiva: “Bicho no bolso, faixa no peito, taça no armário, não há o que discutir”.

Os anos 80 foram marcados pelo equilíbrio entre os dois clubes. De 1981 a 1984 só deu Internacional. De 1985 até 1990 o Grêmio foi campeão. E ainda ganhou o Brasileiro de 1981, a Libertadores e o Mundial de Clubes em 1983.

Em 12 de fevereiro de 1989, aconteceu o clássico de número 297, que entrou para a história como o “Grenal do Século”. Talvez ainda demore muitos anos, para que ele seja superado em emoção e drama. Depois dele, já aconteceram muitos outros clássicos, mas nenhum tão eletrizante. O jogo valia pelas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1988 e garantia uma vaga a Copa Libertadores de 1989. Quem vencesse iria decidir o título nacional.

O Internacional era treinado por Abel Braga e o Grêmio por Rubens Minelli, que havia ganho pelo Internacional os campeonatos brasileiros de 1985 e 1986. O Beira Rio recebia quase 80 mil torcedores. O Grêmio fez 1 a 0 aos 16 minutos, com Marcos Vinícius. O drama do Inter aumentou com a expulsão de Casemiro aos 37.

No segundo tempo, aos 16 minutos, Nilson empatou o jogo. Aos 26, virou, ao aproveitar cruzamento de Maurício. Na comemoração, imitou o personagem Sassá Mutema, um cortador de cana interpretado por Lima Duarte na novela “O Salvador da Pátria”. Festa vermelha no Beira Rio (Pesquisa: Nilo Dias)

Nilson comemorando o gol da vitória do Internacional, no "Grenal do Século". (Foto: Acervo do S.C. Internacional)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (5)

Em 1961, com a saída do técnico Osvaldo Rolla, o “Foguinho”, do Grêmio, o Internacional aproveitou para quebrar a série de conquistas do adversário. A contratação do ponteiro-direito Sapiranga, vindo do Novo Hamburgo deu maior poderio ofensivo ao time colorado. Foi um período marcado pelos duelos entre o lateral-esquerdo do Grêmio, Ortunho e o endiabrado atacante do Internacional. Sapiranga fez 16 gols ao longo do campeonato e foi o primeiro goleador oficial do Gauchão.

O primeiro Grenal de 1961 estava marcado para o dia 27 de agosto, mas foi adiado em virtude da “Campanha da Legalidade”, liderada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, através uma rede de rádio para garantir a posse do vice-presidente João Goulart, devido a renúncia do presidente Jânio Quadros.

O clássico foi realizado no dia 10 de setembro e o Internacional venceu por 2 X 1. O Grêmio se arrependeria amargamente de ter permitido a saída de “Foguinho”. Este foi para o Cruzeiro. Coisas do futebol. O técnico que deu ao Grêmio o pentacampeonato, seria o grande responsável em impedir o exacampeonato e a igualdade ao rival Internacional. O Cruzeiro venceu o clássico Gre-Cruz do dia 15 de novembro, por 1 X 0, gol de Mauro “Barrilzinho de Pólvora”, um jogador baixinho e gorducho. E o Internacional festejou o título.

Mas ainda faltava um clássico para ser disputado, o último do ano. Foi o chamado “Grenal do Natal”. O Internacional vencia por 2 X 0 e o Grêmio em sensacional reação virou para 3 X 2. Mesmo sem o título, os gremistas alucinados fizeram ruidosa passeata pelas ruas de Porto Alegre, tendo a frente o hoje cronista esportivo Paulo Sant’Anna, que vestido com uma roupa “azul” de Papai Noel, emprestada por um comerciante, havia entrado no gramado do Estádios dos Eucaliptos, ao término do jogo.

Os torcedores gremistas foram em direção ao centro da cidade, mas ao chegarem na avenida Borges de Medeiros se depararam com torcedores colorados, vindos em direção oposta. Paulo Sant’Anna, para fugir de uma agressão certa, correu em direção a um ônibus que passava por ali. Não teve sorte. O coletivo carregava vários torcedores colorados que por pouco não o mataram.

Em fevereiro de 1962, o Grêmio conquistou a Taça da Legalidade, ao empatar o primeiro clássico, disputado nos Eucaliptos, em 1 X 1 e vencer o segundo, no Olímpico, por 2 X 1. Logo em seguida o Grêmio foi excursionar pela Europa, e o Internacional ficou somando pontos no “Gaúchão”. No retorno, o tricolor estava 5 pontos atrás e em seguida perdeu mais 1, ao empatar com o Cruzeiro em 2 X 2. Eram seis pontos de diferença e apenas quatro rodadas para terminar o campeonato.

A dupla venceu os dois jogos seguintes. Faltavam apenas dois para o campeonato acabar. Na noite de 9 de dezembro o Grêmio viajaria a Pelotas para enfrentar o Pelotas e o Internacional jogaria nos Eucaliptos, contra o Aimoré. Confiantes na vitória, que garantiria o título, os torcedores do colorado traçaram um plano cruel para humilhar o tradicional rival. Esperar a delegação gremista na Ponte do Guaíba, com um caixão de defunto e obrigá-los a acompanhar o próprio “enterro”. Mas ninguém contava com a vitória do Aimoré por 3 X 1 e do Grêmio por 4 X 0.

E veio o Grenal, com o Internacional precisando apenas do empate para ser campeão. O Grêmio teria de vencer para obrigar a realização de um jogo extra. Em 16 de dezembro o Grêmio fez 2 X 0 e se igualou ao adversário em pontos. No Grenal extra o Grêmio venceu por 4 X 2 e recuperou a hegemonia do futebol gaúcho.

Os anos seguintes foram de quase interminável sofrimento para os colorados. O Grêmio empilhou sete títulos na corrida, só parando em 1969 quando o colorado voltou a ser campeão. A gangorra, que sempre esteve presente no futebol gaúcho, mudara de lado. O Internacional se vingara dos sete títulos seguidos do rival, com oito conquistas e o inédito octacampeonato gaúcho, feito até hoje não igualado.

Em 1967 aconteceu algo inimaginável, uma união entre Grêmio e Internacional, os clubes que detém a maior rivalidade no futebol brasileiro. Pela primeira vez a dupla Grenal participaria do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que reunia os maiores clubes cariocas e paulistas desde 1950, e que naquele ano foi estendido a Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. O torneio, disputado até 1970, foi o “embrião” do Campeonato Brasileiro, que foi realizado pela primeira vez em 1971.

Como o critério para a participação no “Robertão” para os clubes de fora do eixo Rio-São Paulo era o convite – a princípio seriam convidados apenas os clubes mineiros, visto que as viagens a Belo Horizonte não eram dispendiosas para cariocas e paulistas – era preciso que as partidas em Porto Alegre fossem rentáveis, para que a dupla Gre-Nal continuasse a ser convidada. Os dois clubes jogavam no Estádio Olímpico, visto que o Inter ainda não tinha um estádio em condições de sediar jogos importantes – o Beira-Rio seria inaugurado somente em 1969.

Para obterem boas rendas, os clubes decidiram adotar o sistema de caixa único, e foi também conclamada uma união entre as duas torcidas, pela “afirmação do futebol gaúcho”. Surgia assim a “Torcida Grenal”. Parecia maluquice, mas a idéia deu certo. Gremistas iam aos jogos do Inter e apoiavam o time vermelho, e colorados iam às partidas do Grêmio e apoiavam o tricolor. Os dois clubes se classificaram para o quadrangular final, junto com Corinthians e Palmeiras, que foi o campeão. O Inter foi vice-campeão, e o Grêmio acabou em quarto lugar.

O Grenal 189, disputado dia 20 de abril de 1969 acabou com a paz entre os dois clubes. O Estádio Beira Rio havia sido inaugurado quatro dias antes. O Grêmio esperava ansiosamente o clássico, para tentar vingar o vexame da inauguração do Olímpico, quando perdeu por 6 X 2. Um detalhe chamava a atenção: o técnico do Grêmio era Sérgio Moacir Torres Nunes, goleiro da tarde fatídica da goleada colorada.

Já prevendo que o jogo poderia virar uma batalha campal, o técnico do Internacional, Daltro Menezes mandou que 37 jogadores se fardassem, 11 entrariam em campo e os demais ficariam no banco de reservas como reforços para o que viesse pela frente.

Às 15h30min o árbitro Orion Satter de Mello deu inicio ao jogo. O Internacional começou melhor. O Grêmio reagia com dureza as jogadas coloradas, principalmente do habilidoso Bráulio. Os jogadores do Inter responderam também com virilidade e o jogo tornou-se um festival de pontapés. Faltando 7 minutos para o jogo terminar aconteceu o tumulto.

A bola estava nas mãos do goleiro gremista Alberto, quando o atacante uruguaio, Urruzmendi do Internacional partiu em alta velocidade em direção a área adversária, chocando-se violentamente com o lateral Espinoza, que ficou estatelado no chão. Tupanzinho, do Grêmio veio correndo do meio de campo e só parou quando atingiu Urruzmendi, que não perdeu tempo e revidou.

O centroavante Alcindo, veio em socorro de Tupanzinho, mas no caminho foi agredido por Sadi. No entanto, não parou de correr até acertar um soco no rosto de Urruzmendi, que foi cercado por vários gremistas. Daí para frente a briga tomou grandes proporções. Os jogadores reservas se juntaram aos demais dentro de campo. Era soco e pontapé para tudo que é lado. O médico do Grêmio, doutor Jairo Cruz, de pequena estatura foi um dos que mais apanhou, acabando nocauteado por um soco no queixo.

Com o fim da briga os jogadores gremistas foram para o vestiário e os do Internacional permaneceram em campo para continuação do jogo. Foi quando descobriram que apenas o meio-campista Dorinho e o goleiro gremista, Alberto, não haviam sido expulsos. O escore estava em 0 x 0. (Pesquisa: Nilo Dias)

Briga generalizada no Grenal 189.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (4)

Teté, o técnico do Inter, era um especialista em macumba. Na véspera do Grenal que decidiria o campeonato de 1953, o jogador Bodinho procurou o chefe para dizer que não poderia jogar, pois estava “macumbado”. Teté mandou que Bodinho ficasse quieto e chamou uma negra batuqueira de nome Geralda, bastante conhecida no clube. Os três ficaram trancados na cozinha por mais de duas horas, conversando e comendo lingüiça com farinha.

Ao final da festa, sem que nenhum ritual tivesse sido feito, disseram a Bodinho que ele estava desamarrado e poderia jogar sem problema algum. Bastante tranquilo Bodinho dormiu bem toda a noite, e no dia seguinte fez um verdadeiro Carnaval na defensiva gremista, ajuadando o Inter a se sagrar tetracampeão de Porto Alegre.

No dia 9 de maio de 1954 chegou ao Internacional o atacante Larry Pinto de Farias, vindo do Fluminense do Rio de Janeiro e que formaria ao lado de Bodinho, talvez a mais famosa dupla atacante do clube em todos os tempos. A estréia de Larry foi no Grenal 133, de caráter amistoso, disputado dia 18 de julho daquele mesmo ano no estádio dos Eucaliptos.

O Inter venceu por 3 X 1 e Larry marcou um dos gols. O atacante jamais esqueceu esse jogo, não só por que foi o primeiro que disputou com a camisa colorada, mas por um soco no queixo, que levou do zagueiro gremista Xisto, acompanhado da frase: “Toma, carioca filho da puta”.

Um ano antes, o mesmo Xisto deu um pontapé no ponteiro-direito Luisinho, do Internacional e o jogou fora do gramado. Não satisfeito, avançou até ele, apoiou a mão direita sobre sua nuca e esfregou seu rosto no chão. O árbitro Hans Lutzkat, com medo de também ser agredido, limitou-se apenas em pedir para que ele não fizesse aquilo outra vez. Xisto, tempos depois teve uma das pernas quebrada pelo jogador colorado Salvador.

Em setembro de 1954 o Grêmio inaugurava o estádio Olímpico Monumental, com capacidade para 38 mil torcedores, na época o maior estádio particular do Brasil. Um festival de futebol, com direito a banda e tudo o mais, marcou a inauguração do estádio. No primeiro jogo o Grêmio derrotou o Nacional de Montevidéu por 2 X 0. Vitor marcou o primeiro gol do novo estádio. Três dias depois o Grêmio golearia o Liverpool, também do Uruguay por 4 X 0.

A festa só seria completa se houvesse um Grenal. E este aconteceu no dia 26 de setembro de 1954. Triste recordação para os gremistas que tiveram de engolir uma goleada de 6 X 2, justamente na inauguração de sua nova casa. Esse jogo mexeu realmente com a estima dos dirigentes tricolores. Tanto é verdade, que no fascículo 4, da “História Ilustrada do Grêmio, foram escritas apenas estas lacônicas linhas, sem citar o placar do jogo: “Na terceira partida inaugural foi realizado o Grenal 153, no dia 26 de setembro. Equipe do Grêmio: Sérgio – Ênio Rodrigues e Orli – Roberto – Sarará e Itamar – Tesourinha – Milton – Camacho (Vitor) – Zunino e Torres (Delém)”.

Em 1955 o Grêmio, presidido por Luiz Carvalho contratou o seu ex-jogador Osvaldo Rolla, o “Foguinho” para ser o treinador e tentar a retomada de conquistas no futebol gaúcho. O novo preparador inovou, priorizando o preparo físico dos jogadores. Seus métodos não eram nada convencionais. Mandava os jogadores carregando outros nas costas, subirem correndo as escadarias do Estádio Olímpico. E ninguém reclamava, pois o próprio “Foguinho” também fazia o mesmo.

Naquele ano os resultados de campo ainda não foram os desejados. Chegou 1956, e com ele um novo time do Grêmio, com uma defesa bem estruturada, onde se destacava um zagueiro de nome Airton Ferreira da Silva, que veio do Força e Luz, um outro time da capital, trocado pelo pavilhão do velho estádio da Baixada.

Tendo no preparo físico sua mais eficiente arma, o Grêmio vencia seus adversários no segundo tempo. No Grenal que decidia o primeiro turno, disputado no dia 2 de setembro, aconteceu a jogada mais bonita até hoje, de toda a história do clássico. O Grêmio vencia por 1 X 0, quando Gessy lançou Juarez. O goleiro La Paz saiu para tentar a defesa e o atacante, com um leve toque o encobriu.

A bola estava quase entrando, a torcida gremista já festeja o segundo gol, quando surgiu repentinamente o zagueiro Florindo, que com um salto acrobático, de puxeta mandou a bola para escanteio. Incrédulos, os torcedores gremistas num primeiro momento ficaram calados, mas segundos depois juntaram-se aos colorados para aplaudir tão incrível jogada. O Grêmio terminou vencendo por 2 X 1.

Ao final do ano o tricolor festejava a reconquista da hegemonia do futebol gaúcho. O técnico Foguinho, responsável pela campanha vitoriosa ganhou de presente um flamante automóvel DKW Vemag. Já os dirigentes do Internacional começavam a mudar o grupo. Os melhores jogadores foram vendidos. Oreco, o craque do time foi para o Corinthians.

O que se seguiu os colorados não gostam de lembrar. O Grêmio dominou amplamente o futebol do Rio Grande do Sul até 1960, ganhando tudo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Airton, foi o melhor zagueiro de toda a história do Grêmio. (Foto: Acervo do Grêmio F.B. Portoalegrense)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (3)

A fase do Internacional naqueles anos 40 era realmente maravilhosa. No campeonato de Porto Alegre em 1944, o Inter ganhou o primeiro Grenal, disputado em abril no Estádio dos Eucaliptos por 4 X 2. Em maio, antes do segundo clássico o Grêmio convidou o tradicional adversário para um jogo amistoso para inaugurar sua nova bandeira e homenagear os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que partiam para a Europa. Nova vitória colorada, desta feita por 7 X 3.

No dia 13 de agosto foi realizado o segundo clássico do campeonato. O favoritismo era todo do Internacional. O jornal “Folha da Tarde” chegou a publicar uma charge em que uma senhora gorda, gremista, apontava para uma folha do calendário mostrando que era 13 de agosto. O senhor colorado respondia: “Ora, deixe disso vizinha, esse negócio de azar não pega. No Grenal ganha quem joga melhor, o resto é conversa mole”.

O Inter entrou em campo arrasador e ao final do primeiro tempo já vencia por 3 X 0. Nas sociais torcedores gremistas faziam um abaixo- assinado para derrubar a Diretoria. Veio o segundo tempo e uma reação incrível do Grêmio, que virou o jogo para 4 X 3.

Até hoje esse jogo é lembrado. Há quem diga que na concentração do Internacional na Vila Elza, os sucos servidos teriam recebido misturas que deixaram os jogadores tontos durante o intervalo. Os dirigentes colorados da época garantiam saber até os nomes dos gremistas responsáveis pelo doping, mas nunca os revelaram.

No dia 8 de setembro o terceiro e decisivo Grenal. O ponteiro-esquerdo Carlitos havia operado os meniscos do joelho direito na quinta-feira que antecedeu o clássico e repousava em sua casa, quando recebeu inesperadas visitas. Eram alguns de seus companheiros do Internacional, que vieram lhe pedir para jogar.

Carlitos disse que isso seria impossível, mas o zagueiro Nena argumentou: “Não precisa nem jogar, é só vestir a camisa”. E Carlitos acabou convencido. O clássico mexia com toda a população da capital.

Os jornais anunciavam o clássico como o mais sensacional de todos os tempos. As firmas prometiam prêmios aos jogadores. A Casa Soares, da rua dos Andradas oferecia uma camisa no valor de Cr$ 60.00, para ser sorteada entre os vencedores. A empresa Lipio & Ludwig, fabricante da caninha “Grenal”, oferecia 12 garrafas do liquido, para ser entregue ao jogador que fizesse o gol da vitória. Um grupo de torcedores do Inter adquiriu 11 apólices de seguros para ser entregue aos jogadores, caso vencessem o jogo. Além de muitos outros brindes.

O Internacional começou o jogo a todo o vapor e em pouco tempo fez 2 X 0. O recém operado Carlitos fez o primeiro gol. O Grêmio descontou. O jogo se tornou dramático, Carlitos mal caminhava em campo, Assis com torção no tornozelo não podia mais dividir bolas, Alfeu também se machucou e o uruguaio Volpi não pegava como os demais. O time estava reduzido a sete jogadores inteiros. Naquele tempo não se podia fazer substituições.

No último minuto o gremista Aguiar pegou a bola sozinho e se preparava para o chute mortal. Foi quando apareceu Alfeu, arrastando a perna e jogando-se a tempo de evitar a tragédia. Ficou estendido no chão, gritando de dor, enquanto a torcida chamava seu nome e festejava o pentacampeonato da cidade.

Em 1946 o Grêmio fez uma mobilização geral para tentar conter o adversário. Trouxe reforços do Rio de Janeiro, criou o título de Patrono do clube, contratou o técnico Oto Pedro Bumbel, buscou ajuda sobrenatural no pai de santo conhecido como “Homem dos Cachos”, institucionalizou a frase “com o Grêmio onde o Grêmio estiver” e criou a figura símbolo do “Mosqueteiro”, com bota e espada a tiracolo.

E o movimento deu resultado. O primeiro Grenal daquele ano, no dia 5 de maio foi vencido pelo Inter por 1 X 0. No segundo e decisivo clássico, disputado no dia 23 de junho, o Grêmio ganhou por 4 X 3, conquistando o título.

Contam que os conselheiros gremistas que contrataram o pai de santo “Homem dos Cachos” esqueceram de fazer o pagamento. E este teria se vingado maldizendo o clube tricolor: “Isso vai sair caro para vocês, uma derrota para cada jogador”. E não é que o Grêmio passou 11 jogos sem conseguir ganhar.

Em 1949, o jogador Tesourinha , depois de ganhar oito campeonatos estaduais pelo Internacional e vencer o concurso nacional “Craque Melhoral”, foi embora para o Rio de Janeiro, onde vestiu com sucesso a camisa do Vasco da Gama. Em 1952, mesmo com um dos joelhos estourado, Tesourinha foi contratado pelo Grêmio. Não é verdade que ele tenha sido o primeiro negro a vestir a camisa tricolor, conforme é apregoado até hoje pela imprensa. Ele foi isso sim, o primeiro atleta negro de renome a jogar pelo Grêmio. Antes dele, brilharam nomes como Antunes (1913/1914), Adão (1926/935), Laxixa (1937/40), Mário Carioca, Hélio, Prego (anos 40) e Hermes (1948/50).

O Internacional não tinha mais os grandes craques da década de 1940, mas o novo time também era muito bom e os torcedores o chamavam de “Rolinho”. Dirigido pelo técnico Francisco Duarte, o "Teté", vindo do Brasil de Pelotas, o grupo contava com jogadores de qualidade, sobressaindo-se Florindo e Oreco na zaga, Paulinho e Odorico nas laterais e os atacantes Bodinho e Luizinho.

O primeiro jogo de Tesourinha com a camisa do Grêmio foi no dia 16 de março de 1952, na goleada de 5 X 3 sobre o Juventude. Seu primeiro clássico jogando pelo Grêmio foi um amistoso no dia 13 de julho de 1952. O Grêmio venceu por 2 X 1 e ele teve atuação discreta. O jogador, não era mais o mesmo, os ligamentos e meniscos estourados fizeram com que perdesse a velocidade. Jogou mais oito clássicos, não venceu nenhum e nem fez gol. E tão pouco foi campeão pelo clube tricolor. No último que disputou, o Internacional goleou por 5 X 1.

Tesourinha voltou a vestir a camisa colorada, 12 anos depois de ter abandonado o futebol. Estava com 47 anos e participou do jogo contra o S.C. Rio Grande, na despedida do velho Estádio dos Eucaliptos. Ao final do jogo ele retirou uma das redes para guardar como recordação. Tesourinha morreu, vítima de câncer, no dia 17 de junho de 1979, aos 57 anos de idade.

Foi nesse período de frustrações, que o compositor Lupicínio Rodrigues compôs o hino gremista, com a famosa estrofe: “até a pé nós iremos/para o que der e vier/mas o certo é que nós estaremos/com o Grêmio, onde o Grêmio estiver”. Mesmo de hino novo, o Grêmio não conseguiu impedir que o Internacional alcançasse naquele ano de 1953, o segundo tetracampeonato. (Pesquisa: Nilo Dias)

Na despedida do Estádio dos Eucaliptos, Tesourinha levou uma das redes como recordação. (Foto: Jornal "Zero Hora")

terça-feira, 14 de julho de 2009

Grenal, um clássico de 100 anos (2)

O termo Grenal, que serve para definir o clássico entre Grêmio e Internacional foi criado em 1926, pelo repórter Ivo dos Santos Martins. Numa sexta-feira a noite, antes de um jogo entre os dois grandes times de Porto Alegre, Ivo estava ocupando uma das mesas do Café Colombo, junto dos gremistas Armando Siaglia e Luiz Daudt.

Redator do jornal “Correio do Povo”, ele dizia estar cansado de escrever na íntegra os nomes Grêmio Foot-Ball Portoalegrense e Sport Club Internacional, a cada jogo entre ambos e pensava em uma forma de abreviar isso. Surgiu primeiro a expressão Intergre, mas não soava bem. Inverteram-se as posições e o Grenal caiu como uma luva.

O primeiro Grenal conhecido como tal foi disputado na Chácara dos Eucaliptos, no dia 27 de junho de 1926, com recorde de público para a época, 7 mil assistentes. O jogo ficou conhecido como o “Grenal das bengaladas”, tudo porque um torcedor do Internacional, aparentemente sem motivo algum, invadiu o gramado de bengala em punho e agrediu o juiz, Manoelito Ruíz, do Americano.

As bengaladas realmente foram fortes, tanto que o juiz foi substituído pelo desportista de nome Zapp, que também não conseguiu acalmar os torcedores. A Brigada Militar teve que intervir e a confusão foi das maiores, com torcedores e brigadianos se degladiando por todos os cantos do estádio. Faltavam 10 minutos para o jogo terminar quando foi interrompido, com o placar de 4 X 1 para o Grêmio.

O campeonato municipal de Porto Alegre, em 1935, denominado de “Farroupilha” foi o mais importante da história, porque estava sendo festejado os 100 anos da Revolução Farroupilha, o mais importante episódio da história do Rio Grande do Sul. A programação alusiva ao feito envolveu a população por inteiro. Campeonatos de várias modalidades esportivas foram realizados. Até o presidente Getúlio Vargas esteve na cidade para prestigiar as festividades.

Em 28 de julho foi realizado o primeiro clássico do campeonato. O Internacional, campeão da cidade e do Estado era o favorito. O Grêmio não tinha mais Luiz Carvalho, que se transferira para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. E foi confirmado que o goleiro Lara era cardíaco. Mas mesmo assim entrou em campo no clássico, que terminou empatado em 1 X 1.

Esse jogo ficou conhecido como o “Grenal do avião”, graças a um lance inusitado. O Internacional vencia por 1 X 0, quando um avião sobrevoou o estádio, fazendo piruetas, coisa inédita nos céus de Porto Alegre naqueles anos 30. O goleiro Penha e os zagueiros Natal e Risada, do Internacional, levantaram o olhar para os céus, surpresos e assustados, do que se aproveitou o ponteiro-esquerdo Castilho, para marcar o gol gremista.

Depois desse jogo Castilho desapareceu. Dizem que os colorados, furiosos com o lance do gol, raptaram-no e o esconderam numa casa no bairro Belém Novo. Verdade, ou não, o fato é que Castilho só reapareceu em 1936, e como jogador do Internacional.

Em 22 de setembro de 1935 foi disputado o Grenal decisivo. O Internacional tinha um ponto a frente e bastava o empate para ser campeão. Mas perdeu por 2 X 0 e o Grêmio se sagrou “Campeão Farroupilha”, mesmo sem ter contado com o seu grande goleiro, Lara. Foi o “Grenal dos cachorros pintados”. Um torcedor colorado se deu ao trabalho de juntar 11 cães pelas ruas de Porto Alegre e pintá-los de vermelho. A intenção era jogá-los no gramado, após o jogo, pois tinha a convicção de que o Internacional seria campeão.

Em 1938 estreava no Internacional um jogador que teria seu nome gravado para sempre na história dos Grenais, Carlitos, um ponteiro-esquerdo ofensivo, desaforado e com fome de gols. Logo em seu primeiro clássico, deixou sua marca, fazendo o terceiro gol colorado e dando o passe para outros dois. Carlitos ficou no Internacional até 1951, quando tinha 30 anos. Disputou 61 Grenais, um recorde e marcou 485 gols com a camisa vermelha e branca.

No dia 1º de novembro de 1938, na Timbaúva o Internacional conseguiu aplicar sua primeira grande goleada no tradicional adversário: 6 X 0. O juiz, Álvaro Silveira, ainda anulou cinco gols do Internacional, alegando que dois foram feitos com a mão e três em situação ilegal. Após o clássico o presidente colorado Ildo Meneghetti perguntou ao árbitro porque anulara tantos gols. E esse teria respondido: “Era muito gol para um Grenal”. O jogo foi amistoso e serviu para a despedida do atacante gremista Luiz Carvalho.

Em 1940 o Internacional descobriu no “Areal da Baroneza”, um lugar de população na maioria negra, um jogador que viria a se tornar uma legenda no clube colorado: Osmar Forte Barcelos, “Tesourinha”.

O primeiro Grenal de “Tesourinha” foi no dia 4 de janeiro de 1940, com outra goleada do Internacional, 6 X 1. Ele teve de jogar na ponta-direita, pois a esquerda, sua real posição, era ocupada por Carlitos, o artilheiro do time. Acácio fez 3 gols, Carlitos 2 e Tesourinha 1. Estava nascendo o “Rolo Compressor”, apelido dado pelo ex-jogador do próprio Inter, ex-vereador, ex-Papai Noel e ex-rei Momo de Porto Alegre, Vicente Rao.

Em novembro de 1940 o Internacional se sagrava campeão gaúcho, com a base do fantástico ”Rolo Compressor”: Júlio – Álvaro e Risada - (Alfeu) – Assis (Magno) – Levi e Pedrinho – Tesourinha – Russinho – Marques – Rui e Castilhos (Carlitos). Em 1942 o grande time tinha em campo todas suas notáveis peças, que marcaram história no futebol gaúcho: Ivo – Alfeu e Nena – Assis – Ávila e Abigail – Tesourinha – Russinho – Vilalba – Rui e Carlitos.

Naquele ano de 1940, o Internacional venceu cinco dos quatro Grenais disputados, mantendo a média de quatro gols por jogo. Os gremistas não queriam falar em futebol, disfarçando e conversando sobre episódios da Guerra Mundial, que se desdobrava na Europa.

Em 1941, no tri-campeonato o time marcou 108 gols. O último Grenal não valeu nada, o Inter já era campeão. Para conter a euforia colorada o delegado de Polícia Câmara Canto, proibiu que fossem queimados foguetes e rojões, mesmo nas imediações dos Eucaliptos, sob pena de prisão. De nada adiantou. Depois da vitória colorada por 4 X 2, foguetes estouraram por todos os cantos de Porto Alegre. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ilustração que deu origem ao apelido "Rolo Compressor". (Foto: Acervo do S.C. Internacional.)

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Anônimo disse...
Eu sou neto do pedrinho,gostaria de ver uma foto dele,pois não cheguei a conheçe-lo.
15 de agosto de 2009 00:56

O Gre-Nal da pauleira

Internacional 0 x 0 Grêmio
Data: 20/04/1969
Local: Estádio Beira-Rio
Arbitragem: Orion Satter de Mello
Internacional: Gainete, Laurício, Pontes, Valmir, Sadi, Tovar, Dorinho, Valdomiro, Bráulio, Sérgio, Gilson Porto (Urruz Mandi).
Grêmio: Alberto, Espinosa, Ari Hercílio, Áureo, Everaldo, Jadir, Sérgio Lopes (Cléo), Hélio Pires, Joãozinho, Alcindo e Volmir (Tupãzinho).

A maior pancadaria já ocorrida em um Gre-Nal foi no dia 20 de abril de 1969, no clássico 189, que fez parte dos festejos de inauguração do Estádio Beira-Rio. Os gremistas queriam vingança por uma humilhação de 15 anos, quando foram goleados por 6 a 2 pelo Internacional na inauguração do Olímpico, em 1954.

A revanche tornava-se ainda mais quente devido a um detalhe: o goleiro do Grêmio, nos 6x2, que chorava e que ameaçava abandonar o campo, era Sérgio Moacir Torres Nunes. O mesmo treinador em 1969 do Grêmio. O jogo, portanto, tornou-se uma questão pessoal do técnico gremista. Caso perdesse mais uma vez, Sérgio passaria para a posteridade como o pé-frio das inaugurações.

Após uma semana de discussões entre dirigentes, o que quase cancelou o clássico, finalmente, as 15h30, o árbitro Orion Satter de Mello assoprou o apito e decretou o início do jogo.

O primeiro tempo começou com o Inter melhor, mas o primeiro tempo acabou sem gols. No entanto, não faltaram lances violência nas divididas. Na volta para o segundo tempo, o ponteiro Hélio Pires, do Grêmio, foi expulso aos sete minutos. O jogo continuou sem que os times dessem muita atenção para a bola.

Aos 37 minutos, o goleiro Alberto estava com a bola nas mãos. O lateral gremista Espinosa à frente. Urruzmendi, ponteiro do Inter, correu do risco da grande área em direção aos dois, numa evidente e perigosa rota de colisão. Espinosa deu-lhe as costas para proteger o goleiro. Urruzmendi não quis nem saber. Atropelou Espinosa como se fosse ônibus desgovernado. Espinosa caiu e a guerra começou.
Imagem do primeiro Gre-Nal realizado no Beira Rio após a inauguração do estádio colorado. O clássico foi disputado em maio de 1969. Como se nota, o clima de paz reinou apenas até a bola começar a rolar. No meio do confronto generalizado que envolveu os jogadores é possível notar Everaldo, Urruzmendi, Sérgio Lopes, o goleiro Gainete e Tupãzinho.
Tupãzinho foi o primeiro a atingir Urruzmendi. Que revidou. Lá do meio também vinha Alcindo, bufando e urrando, louco para entrar na briga. Sadi correu atrás dele, agredindo-o no caminho. Alcindo não ligou para o ataque do lateral colorado. Continuou sua corrida e só parou ao encontrar Urruzmendi e aplicar-lhe um soco diretamente no rosto. Urruzmendi retribuiu a agressão em Alcindo. Apesar de brigar bem, Urruzmendi estava em desvantagem numérica e apanhava dos gremistas.

A ajuda não demorou para chegar. Gainete atravessou o campo em linha reta, veloz, e saltou para uma voadora histórica entre os jogadores. Porém, errou o bote e caiu no meio dos gremistas. Levou porrada de todos. A esta altura, os integrantes dos bancos já estavam em campo, distribuindo e recebendo porradas por todos os lados.

Encerrada a confusão, o Grêmio desceu aos vestiários. O Internacional ainda tentou retornar a campo para continuar o jogo. Só então os colorados descobriram que apenas o meio-campista Dorinho não havia sido expulso. No Grêmio, o único a não levar o cartão vermelho fora o goleiro Alberto.

Na saída de campo, os repórteres correram para um dos jogadores que mais brigou, o goleiro Gainete. Rosto ensangüentado, ainda bufando de ódio, ele proferiu apenas uma frase: “Aqui nós é que vamos cantar de galo!”

Fontes:
Milton Neves - fotos
Blog do Internacional
Jose Carlos, gandula do Internacional no início da decada de 60

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gre-Nal, um clássico de 100 anos (01)

Ninguém mais duvida. O Grenal é hoje o maior clássico do futebol brasileiro e um dos maiores do mundo, superando em rivalidade Vasco X Flamengo, Flamengo X Fluminense , Corinthians X Palmeiras e Cruzeiro X Atlético, entre outros de menor expressão. A revista “Trivela”, produzida pela Editora Confiança, a mesma da revista “Carta Capital” publicou em sua edição de outubro do ano passado, uma pesquisa feita com jornalistas de todo o país que elegeram o clássico gaúcho como o principal do Brasil e Real Madrid X Barcelona, o maior do mundo.

A rivalidade do Grenal teve início antes mesmo do Internacional ser fundado. Integrantes da família Poppe, Henrique, José e Luis chegaram a Porto Alegre, em 1908, vindos de São Paulo. Eram aficionados do novo esporte, que haviam praticado no Internacional, clube da capital paulista. Em Porto Alegre não foram aceitos como sócios do Grêmio para jogar futebol, sob a desculpa de que não eram pessoas conhecidas na cidade. Descontentes com a negativa, eles resolveram criar um novo clube na capital gaúcha, nascendo assim o S.C. Internacional.

No próximo dia 18 o clássico completará 100 anos. Uma curiosidade, o clássico tem numeração específica. O primeiro Grenal foi disputado no velho Estádio da Baixada, do Grêmio Portoalegrense, no bairro Moinhos de Vento, na tarde de 18 de julho de 1909. Os tricolores, que já praticavam o futebol desde 1903, não tiveram dificuldade em aplicar 10 X 0 no adversário de apenas três meses de vida. O Grêmio contava com dois jogadores estrangeiros, entre eles Edgar Booth, o qual foi o autor do primeiro gol do clássico. Edgar Booth ainda marcou mais quatro gols, totalizando cinco. O restante dos gols do Grêmio foram marcados por Grünewald, quatro, e Moreira, um.

O segundo jogo foi realizado no dia 17 de julho de 1910, ainda na Baixada. Esse jogo, que foi novamente vencido pelo Grêmio, desta vez por 5 X 0, marcou também a primeira briga no clássico. O jogador gremista Booth, apanhou a bola no meio do campo, driblou toda a defesa colorada e acabou barrado pelo zagueiro Wolksmann, que lhe aplicou violento pontapé. Fechou o tempo, e os 22 jogadores protagonizaram uma verdadeira batalha campal.

O terceiro confronto ocorreu no dia 18 de junho de 1911, no campo da Escola de Guerra e o Grêmio fez 10 X 1. O ponta esquerda Vinholes marcou o primeiro gol do Internacional no clássico. O Internacional ainda perdeu mais quatro clássicos – 6 X 0 (23-06-1912); 2 X 1 (05-09-1912); 2 X 1 (08-06-1913) e 4 X 1 (31-10-1915), até vencer pela primeira vez.

Foi em 31 de outubro de 1915, vitória por 4 x 1, com gols de Müller, Bendionda (2) e Túlio. Sisson marcou para o Grêmio.

Em 1918 foi fundada a Federação Riograndense de Desportos (FRGD), que reuniu os dirigentes da dupla Grenal para acertar a realização de um campeonato estadual. Não foi possível naquele ano, devido a gripe espanhola, que só na Europa matou mais pessoas que a I Guerra Mundial.

No dia 14 de agosto daquele ano, pelo campeonato da cidade, os dois times se enfrentaram pela 11ª vez. O Grêmio vinha ferido por quatro derrotas consecutivas. Não vencia desde 1913. O jogo foi tenso e violento, como sempre. A discussão para cobrança de um lateral foi motivo para mais uma briga. Naquele tempo não existia fosso separando o campo da torcida. A Polícia não conseguiu impedir a invasão do gramado por torcedores gremistas, que foram brigar com os jogadores do Internacional. Foi um festival de socos, pontapés e bengaladas. O saldo do combate deixou 100 feridos e um preso.

O tumulto tomou proporções dramáticas quando o funcionário da Empresa Telefônica Rio-Grandense, Manoel Costa, sacou de uma faca e ameaçou ferir quem se aproximasse dele. O jogador Ribas, do Internacional tentou contê-lo e se deu mal. Teve enfiada na barriga a lâmina de 15 centímetros. Um jovem torcedor do Inter também foi ferido ao tentar desarmar o enfurecido agressor.

Manoel foi preso e a Brigada Militar teve muito trabalho para evitar que ele fosse linchado. O jogador Ribas foi operado na Casa de Saúde e nunca mais jogou futebol. O clássico, cujo placar era de 1 X 0 a favor do Grêmio não terminou.

Justificando o termo “gangorra”, os anos seguintes foram de amplo domínio do Grêmio que montou uma equipe muito forte, onde se destacavam o lendário goleiro Eurico Lara, o centroavante Luiz carvalho, chamado de o “Rei da Virada”, o meia-esquerda Osvaldo Rolla, o “Foguinho”, que depois viria ser um vitorioso treinador, e também o back Py, o center-forward Lagarto e o half direito Assumpção.

Com esse time o Grêmio foi pentacampeão de Porto Alegre, de 1919 a 1923. Nesse período foram disputados 11 clássicos, o Grêmio venceu oito e o Inter apenas três. O tricolor conquistou o estadual pela primeira vez em 1921. De agosto de 1920 a setembro de 1923 Grêmio e Internacional estiveram de relações cortadas e não se enfrentaram durante três anos. Foi um período duro, em 1923 e 1924 não houve campeonato gaúcho devido a revolta tenentista contra o Governo Federal.

O Internacional precisava reagir. Não só contra o Grêmio, mas também contra os fortes clubes do interior que dominavam amplamente o futebol no Estado. Nesses times jogava qualquer um, branco ou preto, rico ou pobre, não havia discriminação. O Guarany, de Bagé foi o primeiro clube de futebol no Brasil a admitir negros, antes mesmo do Vasco da Gama, erroneamente considerado o primeiro a desafiar o preconceito de cor no país.

E o Internacional foi se reforçar na Liga da Canela Preta, uma entidade que organizava campeonatos exclusivos de negros em Porto Alegre. E dai por diante os negros fizeram a diferença ateeé montar anos depois, o super time que ficou nacionalmente conhecido como “Rolo Compressor”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Programa do primeiro Gre-Nal, em 18 de julho de 1909. (Foto: Livro "A História dos Grenais")

COMENTÁRIOS DE LEITORES

ricardo disse...
Os jogadores da Canela Preta começaram a jogar no Inter, oficialmente a partir de 1928 e o rolo compressor é da década de 40. vai uma boa distância.
Saudações.
20 de novembro de 2009 18:04

OIBSERVAÇÃO DE NILO DIAS REPÓRTER...
Realmente o texto havia ficado de dificil interpretação. Obrigado pela ajuda. Já arrumei.
8 de dezembro de 2009 17:03

sábado, 11 de julho de 2009

100 anos de teimosia


11 DE JULHO DE 1909
11 DE JULHO DE 2009


PARABÉNS AO GLORIOSO F.B.C. RIO-GRANDENSE, DA CIDADE GAÚCHA DE RIO GRANDE, BERÇO DO FUTEBOL BRASILEIRO, PELOS 100 ANOS DE EXISTÊNCIA!!!

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Horácio Gomes disse...
Nilo: Parabéns pelo resgate da memória do "Guri Teimoso". Recentemente, na FEARG/FECIS, havia um stand do Rio-Grandense, onde o presidente do clube vendia camisetas coloradas. Eu disse ao Marandini em tom de brincadeira:"Tu és o melhor vendedor que existe. Consegues vender camisas de um time que não existe" E não é que havia fila para comprá-las. A torcida do Rio-Grandense, como diz o Paulo Corrêa, é maior do que a Kombi tão falada. Horácio Gomes
14 de julho de 2009 19:16

sexta-feira, 10 de julho de 2009

“Eu, “Guri Teimoso”

Autor: Paulo Acosta

Ali, na Buarque de Macedo, onde hoje se amontoam apartamentos, era o Torquato Pontes, um estadinho cercado de uma mureta cheia de buracos em círculos redondões, e uma tela em volta dele. Do lado de cá, um pavilhão de madeira. Do lado de lá, arquibancadas de madeira. No terreno da esquerda, o vizinho vovô, Sport Clube Rio Grande. No terreno da esquerda, como diziam os locutores, "os próprios da municipalidade". Ali, pela mão de meu pai, eu comecei a viver o futebol.

É claro que só fui dar o verdadeiro valor ao Rio-Grandense muito tempo depois. Torcer pelo Grêmio ou pelo Internacional é querer ganhar, ser obrigado a ganhar. E não importa se o adversário é o Fortes e Livres, de Muçum, o Hamburgo ou o Ajax.

Torcer pelo Rio-Grandense - e aquele que torce por um time do Interior sabe disso - é comemorar cada gol como se fosse uma vitória e cada vitória como se fosse um título. Quando os grandes nos enfrentam, dizem que fazemos "Copa do Mundo" contra eles. Para o Rio-Grandense, todo jogo era Copa do Mundo.

Não vi - é claro - o Rio-Grandense ser campeão em 1939, depois de ser vice em 37 e 38. Imagino que timaço, hein! Mas estive ao lado do “Guri Teimoso” (olha que apelido mais perfeito!) nas suas maiores façanhas da minha época. Aquele empate em 2 X 2 com o Grêmio de Irno – Altemir – Airton - Áureo e Ortunho - Cléo e Sérgio Lopes – Lumumba - Alcindo e Vieira, nos anos 60, em nosso estádio! Aquela goleada de 4 X 2 num amistoso contra o Internacional no Torquato Pontes.

O locutor (Paulo Corrêa) que dava o nome todo e fazia a gente decorar (quase todos): Milton Ernesto Schultz, Ari Lanau, Jair Cutiara, Oscar Conceição, Luis Carlos Scala Loureiro, Adair Padilha, Titico, Marcos Boroni, Sanches, Vilmar, Paulo Renato, Uga, Antônio Azambuja Nunes, o Nico, Ocimar... o Bangu

Que camiseta! Que garra! Lembro jornadas heróicas como a daquele ano em que subimos à Primeira Divisão, no tempo dos Gauchões de 12 clubes do Aneron. Perdemos de diferença de dois em Livramento e tínhamos que fazer dois de diferença em Rio Grande. Fizemos. Na prorrogação, tomamos um gol. No finalzinho, empatamos. Pênaltis. Nico! Era só um que batia, e Nico fazia todos. Classificados. Na saída, quase que meu pai teve um troço. Mas o coração dele era de “Guri Teimoso”. Meu pai, Maurílio.

Final com o Gaúcho de Passo Fundo. 3 X 1 pra eles em Passo Fundo. Primeiro tempo em Rio Grande, 3 X 1 pra eles de novo... Meu pai: Vamos embora? Eu sabia que ele não queria ir, e convidava pra ficar... Segundo tempo, 3 X 2, 3 X 3, 4 X 3 e, no finalzinho, 5 X 3. Diferença de dois. Prorrogação, 0 X 0. Pênaltis. Primeira série de 5. Nico fez cinco. Gitinha chutou e também fez 5. Segunda série de 3, Nico fez três, Gitinha errou um. Rio Grandense campeão da segunda, classificado pra primeira. Foi o maior título que eu vi meu time do coração conquistar.

Anos depois saí da cidade, e o Rio-Grandense se transformou em meia-linha das colunas "Placar" dos jornais da capital. O clube caiu pra segunda, e até pra terceira. Clubes que antes eu só conhecia pelos plantões de final de jornada das rádios (Botafogo de Fagundes Varela, Fortes e Livres de Muçum, Mundo Novo de Três Coroas, etc... passaram a ser nossos adversários. Dia desses, vi no jornal que o Rio-Grandense ia jogar contra o Canoas (cidade que nem time profissional tinha naqueles tempos).

Fui lá matar a saudade. Paguei 5 pilas pra mim e mais 5 pro meu piá. Ia mostrar pra ele "o meu time". Peguei das minhas lembranças uma daquelas camisetas antigas, um vermelho de doer os olhos com gola, os números e o distintivo em amarelo. Quando o meu time entrou em campo, eu não o reconheci. Vestia uma daquelas camisetas fabricadas em série, em tons e desenhos degradé. Ainda nas cores vermelho e amarelo. Mas procurei no peito o distintivo, o famoso FBCRG com letras arredondadas. Nada! Nem distintivo tinha.

O pior, que eu fiz que não vi, mas meu Guri fez questão de me mostrar: "Pô, pai, o goleiro tá com a camisa de goleiro do Juventude, com Parmalat e tudo..." Tomamos 3 X 1 daquele time ruim do Canoas, num campinho muito abaixo do antigo Torquato Pontes. Mas isso não tinha a menor importância.

Eu só tive saudade do distintivo do Rio-Grandense na camiseta. Espero vê-lo da próxima vez que o FBCRG entrar em campo diante dos meus olhos. Quem sabe no Colosso do Trevo, o nosso novo estádio, que eu não conheço.

O jornalista Paulo Roberto Acosta Dias faleceu no dia 17 de agosto de 2005, depois de lutar um ano contra uma anomalia no sangue que o obrigou a um auto-transplante. Estava otimista e mandou recado aos amigos, depois da última operação, que ficaria alguns dias sem atualizar seu site (www.osaiti.com.br).

Acosta nasceu em Rio Grande, trabalhou na imprensa gaúcha (Rádio Continental dos bons tempos, Rádio Farroupilha, Caldas Júnior, RBS) desde os anos 70. Estava no Correio do Povo. Tinha um excelente humor, um grande texto, conduta exemplar. Figura humana admirável, o jornalista chefiou gente preparada e orientou “focas” (novatos), trabalhando com dedicação, alegria e paciência.

O seu “saite” (devido ao seu indizível www.osaite.com.br) fazia piadas até com as derrotas acachapantes do Grêmio, clube que amava de corpo e alma. Sua outra paixão era o F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande, sua terra natal. (Postagem: Nilo Dias)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Nico, o "bombardeador"

Antônio Azambuja Nunes, o Nico foi o símbolo maior do F.B.C. Rio-Grandense nos tempos modernos. Ninguém mais do que ele fez tanto dentro de campo envergando a gloriosa camisa vermelha e amarela. Sua carreira como futebolista foi vitoriosa em todos os aspectos, por isso é lembrado até hoje com carinho e saudade pelos torcedores mais velhos, que tiveram a primazia de vê-lo estufando as redes adversárias.

Nico nasceu no dia 23 de agosto de 1941, em Rio Grande. Desde pequeno mostrou grande habilidade para a prática do futebol. Embora seu pai fosse torcedor ferrenho do Rio-Grandense, Nico começou a carreira nos juvenis do S.C. Rio Grande, em 1957. Depois foi guindado aos aspirantes e em 1960 já era profissional e titular do time. Ficou no tricolor até 1963.

Mas foi no Rio-Grandense que Nico ganhou fama e teve oportunidade de jogar um grande futebol. Em 1964, depois de ter-se recuperado de uma lesão no joelho, que praticamente o afastou dos gramados em 1963, assinou contrato com o clube colorado. A partir daí Nico e o Rio-Grandense compartilharam conquistas inesquecíveis. Em 1965 o time ganhou tudo, campeão da cidade, região e Ascenso, alcançando memorável classificação para a “Divisão de Honra” do futebol gaúcho.

Nico lembra que na fase de classificação o Rio-Grandense enfrentou o C.A. Bancário, de Pelotas, S.C. São Paulo, de Rio Grande e G.E. Bagé, com quem empatou na primeira posição. Foram necessários dois jogos extras. O Rio-Grandense ganhou os dois, 1 X 0 em Bagé e 3 X 0 em Rio Grande.

Veio a fase do “mata-mata”, e aí o artilheiro mostrou todas as qualidades de um grande jogador: técnica e frieza. Um a um os adversários foram batidos. Cruzeiro, de São Gabriel, 14 de Julho, de Livramento e Gaúcho, de Passo Fundo, todos em decisões por penalidades máximas. Nico não errou nenhuma cobrança, garantindo o título para o Rio-Grandense.

Em 1967 Nico foi o principal artilheiro do Campeonato Gaúcho, competindo com jogadores como Claudiomiro, Ênio Souza, Sapiranga e outros. Marcou 17 gols. Nos anos anteriores o prêmio ao goleador sempre foi um carro, mas na última hora os patrocinadores mudaram as regras e deram a Nico apenas um relógio, que ele guarda até hoje como recordação. Antes de Nico o Rio-Grandense teve dois jogadores que também foram artilheiros do campeonato Gaúcho: Carruíra, em 1937 e Chinês em 1939, ano em que o clube foi campeão do Estado.

Em 1973 o Rio-Grandense ganhou a Copa Cícero Soares. O jogo final, contra o Pratense, de Nova Prata foi no Beira Rio, na preliminar de Internacional X Cruzeiro de Minas Gerais, pelo Campeonato Brasileiro. Nico conta que o Rio-Grandense, com uniforme vermelho conquistou a torcida, que ajudou a levar o time a vitória e mais uma vez a Divisão Especial do campeonato do Rio Grande do Sul.

Em 1979, aos 38 anos de idade, Nico deixou o futebol profissional levando consigo uma invejável bagagem de conquistas. Pena que os pesquisadores esportivos e a grande imprensa gaúcha e brasileira não queira mexer no pó da história, que com certeza vão ter uma grande surpresa: contando os juvenis, aspirantes e profissionais, Nico marcou entre 800 a 1000 gols e faz jus a figurar entre os maiores artilheiros de todos os tempos. E entre isso, um feito espetacular, nunca errou uma penalidade máxima e acredita que bateu mais de 200 em 22 anos de carreira.

Se levarmos em conta que ele jogou apenas em clubes do interior – além de Rio Grande e Rio-Grandense esteve dois meses no Atlântico de Erexim e um no Pelotas – é com certeza, proporcionalmente, o segundo maior artilheiro da história do futebol mundial, ficando atrás apenas de outro esquecido, Arthur Friendereich, que marcou mais de 1.300 gols em uma época que não se jogava tantas partidas no ano, como agora.

Nico jogou num tempo em que dificilmente se fazia fortuna no futebol, ainda mais em times do interior. Por isso, paralelamente trabalhava no Centro das Indústrias de Rio Grande, onde se aposentou em 1996.

Como o futebol está em seu sangue, Nico saiu dos gramados mas continuou fiel ao Rio-Grandense, onde exerceu os mais variados cargos de Diretoria. E os 67 anos de idade não o impedem de jogar gostosas peladas com amigos e defender o Milonários, antigo tradicional time salonista da cidade. Nas suas lembranças cita Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, Wilson Sanchez e Ney Amado Costa, como os melhores treinadores que conheceu. Dos companheiros de equipe recorda de Titico, Bangu, Miltom e Oscar Conceição, que depois presidiu o clube, entre tantos outros de igual qualidade.

O apelido de “Bombardeador”, ele ganhou de Paulo Corrêa, o maior narrador de futebol que a Zona Sul do Estado conheceu, e que hoje ainda figura no rádio riograndino como comentarista esportivo. Foi também Paulo Corrêa que apelidou o Rio-Grandense de “Guri Teimoso”, alusão aos seus feitos heróicos, onde superava dificuldades, não desistindo nunca e pregando peças aos adversários.

Em 2007, Nico viveu um de seus grandes momentos fora dos gramados: foi o homenageado especial do evento “Amigos do Esporte”, organizado pelo desportista Alexandre Leite, do jornal “Agora”, que o consagrou como “o maior artilheiro de todos os tempos”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Nico, o grande nome da era moderna do clube. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

F.B.C. Rio-Grandense, um celeiro de craques

Nessa história centenária foram muitos os jogadores que se destacaram envergando a camisa vermelha e amarela. Dentre eles, um ganhou a simpatia da torcida pela garra que sempre demonstrou dentro de campo, o saudoso Titico. Menino de rua, criado perambulando pela frente dos antigos “Café A Dalila”, de tantas histórias, “Nacional” e “Café Santos”, onde se reuniam os desportistas da cidade, entre os quais o conceituado médico da época, doutor Tola.

Dono de um bom coração, ele resolveu ajudar o Titico. Mesmo observando que o rapaz tinha as pernas tortas, em forma de arco de barril, ainda assim o levou para treinar no Rio-Grandense, time do seu coração. E não deu outra, destacou-se nos treinos e nos jogos demonstrando um raro espírito de luta. Suas atuações chamaram a atenção do jornalista riograndino Ivo Corrêa Pires, que o levou para o Internacional, de Porto Alegre.

No colorado da capital mostrou a mesma dedicação, embora não tivesse ganho a condição de titular absoluto do time. A torcida de lá também gostou dele. Era visto quase que como o “Saci”, símbolo do clube. Era um dos jogadores mais procurados pelos repórteres. Em uma dessas entrevistas, num período em que o time não passava por uma boa fase, para não se comprometer, proferiu a frase que lhe valeu a notoriedade perpétua: “Em baile de cobra não entro sem perneira”. Ibsen Pinheiro, outro jornalista riograndino, colorado frasista emérito disse que essa foi a mais completa e definitiva verbalização da prudência.

Sydney Colônia Cunha, o Chinesinho nasceu em Rio Grande em 15 de setembro de 1935. O apelido Chinesinho veio do pai, Chinês, que também se destacara como emérito futebolista. Foi um dos grandes jogadores revelados pelo F.B.C. Rio-Grandense. Meia-esquerda habilidoso, dono de técnica invejável transformou-se em pouco tempo no terror das defesas adversárias.

Não demorou para que sua fama chegasse a Capital do Estado. O Internacional adquiriu seu passe numa das maiores transações realizadas, na época, entre um clube de Porto Alegre e um do interior.

Do Internacional foi para o Palmeiras onde jogou por quatro anos (de 1958 a 1962). Chinesinho comandou o meio-campo e, por abrangência, todo o time. Tanto que foi o grande condutor da equipe na conquista do supercampeonato de 1959, batendo o Santos, de Pelé e Cia., na emocionante terceira partida final. Vendido ao pequeno Lanerossi italiano, deu lugar a ninguém menos do que Ademir da Guia.

Luiz Carlos Scala Loureiro era filho de Fernando Azambuja Loureiro, ex-jogador do S.C. São Paulo, de Rio Grande e de dona Maria do Carmo. Ele começou a carreira no time “Garotos do Parque”, passando pelo Floriano, time amador da cidade e pelos juvenis do F.B.C.Rio-Grandense.

Em 1964 o doutor Hélio Pontes, então presidente do F.B.C. Rio-Grandense, o levou para o Santos F.C., em São Paulo, onde ficou em período de testes por 10 dias. Como quase não teve oportunidade para mostrar seu futebol voltou a Rio Grande. Depois jogou pelo S.C. Rio Grande, quando se machucou e foi para Porto Alegre fazer tratamento.

Scala jogou apenas em quatro clubes e pela Seleção Brasileira, começando no F.C.B. Rio-Grandense, onde atuou de 1960 a 1964, transferindo-se para o S.C. Internacional, de Porto Alegre ainda em 1964, onde permaneceu até 1971, ano em que se sagrou campeão gaúcho pelo colorado.

Seus desempenhos pelo clube de Porto Alegre lhe valeram a pré-convocação para a Copa de 1970, porém uma fratura em um dos tornozelos impediu o sonho de disputar o Mundial do México, brilhantemente conquistado pelo Brasil. Envergando a camisa amarela, atuou em dois amistosos (1968/69): Brasil 3 x 3 Iugoslávia e Brasil 1 x 0 Milionários da Colômbia.

De 1972 a 1973 esteve no Botafogo F.R., do Rio de Janeiro, que por ter sido vice-campeão brasileiro um ano antes, disputou a Copa Libertadores da América de 1973.

Em 1974 foi para o América F.C., de Natal, onde encerrou a carreira, fixando residência naquela cidade. Nesse ano ajudou o América na conquista do título estadual, se despedindo dos gramados ao término do campeonato. Mas com negócios no ramo de imóveis, Scala permaneceu em Natal, e por 20 anos administrou a imobiliária Costa Azul.

O ex-atleta também ingressou na carreira de treinador, comandando as equipes de ABC, América e Alecrim. Por último, tornou-se comentarista esportivo, trabalhando em várias emissoras de rádio em Natal. Scala foi “Craque do Ano” em Rio Grande, nos anos de 1962 e 1963, e em 1964 foi o “Craque do Ano”, escolhido pelo jornal Zero Hora.

Chinesinho com a camisa do F.B.C. Rio-Grandense, em 1953. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)