Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A queda de um gigante (final)

Em 1975, o tricolor realizou uma campanha brilhante no Campeonato Brasileiro e chegou às semifinais, depois de derrotar o Palmeiras, na época chamado de "Academia", por 3 X 2 dentro do Parque Antárctica nas oitavas-de-final, e ao Flamengo em pleno Maracanã, de virada, por 3 X 1, nas quartas-de-final. Perdeu a vaga para o Cruzeiro, em jogo marcado por uma controvertida arbitragem de Armando Marques.

Caso tivesse chegado a final, o Santa Cruz decidiria o Campeonato Brasileiro em Recife, já que havia realizado a melhor campanha entre os finalistas, ratificando a sua condição de um dos grandes times do Brasil na época, assim como o Internacional, o Fluminense e o Cruzeiro, que disputaram as primeiras colocações naquele ano.

Em 1976, com o surgimento do centroavante Nunes, o Santa levantou o Campeonato Pernambucano (Bi Super-Campeão). No Campeonato Brasileiro o time chegou em 11º lugar, entre 54 participantes. No ano de 1977 foi 10º colocado e em 1978, 5º. Ainda na década, o Santa sagrou-se bicampeão pernambucano(1978 e 1979), somando 7 títulos estaduais entre 1970 e 1979.

Em 1980 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) condecorou o Santa Cruz com o título de Fita Azul, por ter sido o único clube brasileiro a fazer uma excursão pelo exterior e ter retornado sem nenhuma derrota. O clube coral enfrentou as seleções do Oriente Médio, Kuait, Catar e Arábia e na Europa, a seleção da Romênia, e o Paris Saint Germain da França.

O ano de 2005 marcou a ultima conquista regional do Santa Cruz. Isso motivou os associados a votarem na chapa de oposição que tinha a frente o então vice-presidente licenciado do clube, Edson Nogueira, como esperança de mudanças. Foi a primeira vitória de uma chapa de oposição em toda a história do clube. Mas deu tudo errado, em vez de melhorar, a situação só piorou.

Em 2007 o time foi mal no Campeonato Pernambucano, amargando um 6º lugar e a eliminação da Copa do Brasil na primeira fase, em pleno “Arruda”, para o desconhecido Ulbra (RO). Na Série B, a campanha também foi péssima, com o segundo rebaixamento seguido, dessa vez para a terceira divisão do Brasileiro de 2008.

Em 2008, o clube ainda tentou se reorganizar, mas não conseguiu. Foi eliminado da Copa do Brasil na primeira fase, passou pela humilhação de disputar o “Hexagonal da Morte” do Campeonato Pernambucano, para se livrar do rebaixamento. E ainda perdeu seus melhores jogadores, Carlinhos Paraíba e Thiago Capixaba. Na Série C, não alcançou classificação para a segunda fase.

Tudo somado, o Santa Cruz conseguiu um feito inédito no futebol brasileiro, ser rebaixado por três anos consecutivos. O time pernambucano, que estava na Primeira Divisão em 2006, jogou a “Segundona” em 2007, a “Terceirona” em 2008, onde não conseguiu classificação para nela continuar em 2009.

Depois do fracasso na Série C, mais uma vez os torcedores apostaram na renovação da Diretoria e numa chapa de consenso elegeram o desportista Fernando Bezerra Coelho como presidente para o biênio 2009-2010. Isso fez com que várias empresas manifestassem disposição de patrocinar a reestruturação do clube. Nova frustração. O Santa Cruz disputou a recém-criada Série D e foi eliminado na 1ª fase. Agora, terá de buscar nova classificação para a 4ª Divisão do Brasileiro, no Campeonato Pernambucano de 2010.

Humberto de Azevedo Viana, o “Tará” é até hoje considerado o grande ídolo do Santa Cruz, e o melhor jogador que pisou nos gramados pernambucanos em todos os tempos. Ele começou a carreira em 1929, jogando pelo Mocidade de Beberibe. Em 1930 transferiu-se para o Atheniense e de 1931 a 1942 jogou pelo Santa Cruz. Sua estréia pelo tricolor se deu em setembro de 1931, no empate de 2 X 2 com o Iris.

Marcou o seu primeiro gol pelo Santa Cruz, na partida seguinte contra o Flamengo do Recife, na vitória por 3 X 1, quando visitou as redes adversárias por duas vezes. Encerrou a carreira defendendo o Náutico de 1943 a 1947, tendo jogado ao lado de quatro irmãos que defendiam o clube vermelho e branco, Orlando, Isaac, Gérson e Roldan.

Ganhou os títulos de Campeão Pernambucano em 1931, 1932, 1933, 1935 e 1940 pelo Santa Cruz, e 1945 pelo Náutico. Foi artilheiro dos campeonatos de 1938 (25 gols), 1940 (20 gols) e 1945 (28 gols – pelo Náutico). Em 1945, no jogo Náutico 21 X 3 Flamengo do Recife, Tará marcou 10 gols. Fez gol de bicicleta antes de Leônidas, que marcou o seu na Copa de 1938. Fez um gol do meio-de-campo, contra o Náutico, o goleiro era Djalma.

Tará, por tudo o que fez nos gramados mereceu uma homenagem no samba de Bráulio de Castro, intitulado “Mestre Tará”: “Depois de Garrincha e Pelé/Vou te falar/ O maior do mundo foi Tará/Mestre Tará/Não havia teipe/Pra registrar seu futebol/Mas o jornal diz que ele/Marcou dez vezes, num jogo só/Driblava até o goleiro/E fazia de calcanhar/O maior do mundo foi Tará/Era um Deus nos acuda/ jogando com Siduca/Deixava qualquer defesa/ dversária, lelé da cuca/Driblava até o goleiro/E fazia de calcanhar/O maior do mundo foi Tará.”

Tará faleceu, ao 86 anos, de ataque cardíaco, no dia 7 de setembro de 2000, no hospital da Polícia Militar, no Recife.

Títulos conquistados pelo Santa Cruz. Regionais: Torneio Norte-Nordeste: 1967; Estaduais: Campeonato Pernambucano: 24 vezes ( 1931, 1932, 1933, 1935, 1940, 1946, 1947, 1957, 1959, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1978, 1979, 1983, 1986, 1987, 1990, 1993, 1995 e 2005); Copa Pernambuco (2008); Torneio Início (1919, 1926, 1937, 1939, 1946, 1947, 1954, 1956, 1969, 1971, 1972 e 1976); Taça Recife (1971); Taça Refinaria (1995); Taça Recife (1971); Torneio de Verão Cidade do Recife (1997); Copa Pernambuco (2008); Nacionais: Campeonato Brasileiro Série B, 2 vices (1999 e 2005); Categorias de base: Campeonato Pernambucano de Juniores (1993, 1994, 1995, 1996, 2000, 2002 e 2003); Internacionais: Torneio da Amizade (1995); Torneio Vinausteel , no Vietnã (2003); Fita Azul Internacional (1980). (Pesquisa: Nilo Dias)

Time tri-súper campeão de 1983. (Foto: Acervo do Santa Cruz F.C.).

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Sérgio disse...
Parabéns pelo documentário. Ficamos felizes em torcer por um time como o Santa Cruz. Esperamos que logo volte a nos dar alegria que já nos deu.
Sérgio Rocha.
29 de agosto de 2009 11:31

José Guibson Dantas disse...
Parabéns pelo post. O Santa Cruz é um grande clube e quem já viu a manifestação de fidelidade e amor de sua torcida sabe disso.
Abraços desde São Luís-MA.
29 de agosto de 2009 14:38

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A queda de um gigante (02)

Em 1943, o Santa Cruz fez uma excursão pelo Norte do país, em pleno período da 2ª guerra mundial. Devido a presença de submarinos alemães na costa brasileira, a delegação viajou escoltada por navios da Marinha. Esse episódio da vida tricolor ficou conhecido como a “Excursão da Morte”, que começou em Natal, passando por Belém indo até Manaus. Os problemas tiveram início quando a delegação saiu de Belém com destino a Manaus, em um vapor gaiola, viagem que durou duas semanas. Vários jogadores tiveram uma forte disenteria, diagnosticada depois como tifo. Alguns tiveram recaída e vieram a falecer.

A volta para Recife não foi nada fácil, pois em razão da guerra o governo brasileiro decretou a paralisação do trafego marítimo, o que obrigou o clube a conseguir novos jogos para poder pagar as despesas de alimentação e hospital. A delegação recebeu ainda a visita do chefe de polícia para prender um jogador que supostamente tinha feito "mal" a uma menor de 17 anos, e estava sendo obrigado a casar.

Liberado o trafego marítimo, a delegação conseguiu vaga em um rebocador e, quando todos estavam alojados, foram obrigados a desembarcar por causa de uma carga de inflamáveis que o navio recebera. No desespero, a comitiva conseguiu retornar a Recife, mas com parada de 4 dias em São Luiz. Para juntar algum dinheiro, os jogadores trocaram as passagens da 1ª classe por 3ª, sendo obrigados a viajar com uma corja de 35 ladrões que a polícia do Pará estava exportando para o Maranhão.

Em São Luiz, o navio ficou retido e o time foi obrigado a fazer novas partidas para angariar dinheiro. Com a morte de dois jogadores a equipe estava incompleta, e o cozinheiro do navio foi convocado para jogar. Na tentativa de voltar por terra, o trem que partiu de São Luiz a Teresina descarrilou duas vezes. A viagem finalmente foi completada de ônibus para Recife, com a chegada de uma delegação exausta e atônita. “A Excursão da Morte” teve início em 2 de janeiro e terminou em 2 maio de 1943.

Em 1943, graças ao trabalho do dirigente Aristófanes de Andrade, o Santa Cruz alugou um terreno próximo às ruas Beberibe e das Moças, onde alguns anos depois seria construído o Estádio José do Rego Maciel, o “Arruda”. Na década de 1940, a equipe levantou três títulos 1940, 1946 e 1947, para depois passar dez anos em jejum.

Na tarde de 16 de março de 1958, no Estádio da Ilha do Retiro, escolhido por sorteio, o Santa Cruz entrou em campo para decidir contra o Sport, o título de campeão pernambucano de1957. Caso tivesse sido vencedor, o Santa mandaria a partida nos Aflitos, estádio do Náutico, pois o Tricolor ainda não possuía estádio próprio na época.

Com arbitragem do uruguaio Estéban Marino, auxiliado pelos bandeirinhas Amílcar Ferreira (carioca) e José Peixoto, o Santa Cruz venceu por 3 X 2 e acabou com a longa espera. Os gols foram marcados por Rudimar, Aldemar de pênalti e Mituca, para o Santa Cruz. O Sport descontou com Carlos Alberto e Zé Maria. O time tricolor formou com: Aníbal - Diogo e Sidney – Zequinha - Aldemar e Edinho – Lanzoninho – Rudimar – Faustino - Mituca e Jorginho. O técnico era Alfredo González. O Sport jogou com: Manga - Bria e Osmar - Zé Maria - Mirim e Pinheirense – Roque - Traçaia – Liminha - Carlos Alberto e Geo.

Na década de 1970, o Santa Cruz adotou uma forma bastante democrática de administração, sob a forma de colegiado. E deu certo, pois empilhou títulos estaduais e ainda ganhou o Torneio Norte-Nordeste de 1967, inclusive goleando impiedosamente o Clube do Remo, de Belém do Pará por 9 X 0. Depois desse período de vitórias, o clube teve que enfrentar nove anos sem ganhar nada, até que em 1969 o jejum foi quebrado e teve início a era do Pentacampeonato do estado, feito até hoje não igualado por nenhum adversário. Onze Fuscas e uma Brasília foi o presente que o ilustre tricolor, o inglês James Thoper, deu aos jogadores tricolores, bicampeões de 1970.

Nos anos 70 o Santa Cruz finalmente conseguiu inaugurar o “Mundão do Arruda”. O nome oficial do estádio é José do Rego Maciel, pai de Marco Maciel, ex vice-presidente da República, uma justa homenagem ao prefeito do Recife na época, que em 1952 impediu a venda para outros, do terreno que estava alugado ao Santa Cruz. A Prefeitura desapropriou a área e a repassou em definitivo para o tricolor em 1954.

Somente em 1965, com a venda de cadeiras cativas e títulos patrimoniais é que o estádio começou a ser erguido com suor, sangue e lágrimas dos torcedores tricolores. Foi uma mobilização de torcedores nunca antes vista. As pessoas levavam ao clube todo tipo de material de construção e doavam a sua mão de obra.

O primeiro jogo no “Arruda” aconteceu no dia 4 de julho de 1972, contra o Flamengo do Rio de Janeiro. A partida terminou empatada em 0 X 0. A renda foi de CR$ 193.834,00, com um público total de 47.688 pagantes. O Santa jogou com: Detinho – Ferreira – Sapatão - Rivaldo e Cabral (Botinha) - Erb e Luciano - Cuíca (Beto) - Fernando Santana (Zito) - Rámon e Betinho. O Flamengo formou com: Renato – Moreira – Chiquinho - Tinho e Wanderlei - Zanata e Zé Mário (Liminha) - Vicente (Dionísio) - Caio (Ademir) - Doval (Fio) e Arilson. O primeiro gol no estádio foi obra de Betinho, no jogo Santa Cruz 1 X 0 Seleção Brasileira de Amadores.

A ampliação do “Arruda” foi concluída no dia 1 de abril de 1982, quando a capacidade subiu para 80.000 pessoas. O recorde de público ficou estabelecido com o jogo das Eliminatórias da Copa do Mundo em 1993, quando a Seleção Brasileira massacrou a Bolívia por 6 x 0. Neste jogo estavam presentes nada menos que 96.200 torcedores. Já o maior público do Santa Cruz foi em 1999, quando 95.567 pessoas assistiram o empate por um gol com o Sport.

Posteriormente, em função dos novos parâmetros de conforto e segurança estabelecidos pela FIFA, o “Arruda” teve a sua capacidade diminuída para 60.000 pessoas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em 1940 contra o Sport, Tará fez um golaço decisivo para a conquista do campeonato daquele ano, o quinto do Santa Cruz. Depois, em 1946 e 1947, seria bicampeão. (Foto: Acervo do Santa Cruz F.C.)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A queda de um gigante (01)

O Santa Cruz Futebol Clube, de Recife (PE), um dos mais tradicionais e queridos clubes esportivos do Brasil vive uma crise sem precedentes e que parece não ter fim. O clube entrou, futebolisticamente, naquilo que se pode chamar de “fundo do poço”, ao não conseguir classificação nem mesmo para a Série C, a terceira divisão do campeonato brasileiro, sendo superado por times quase desconhecidos na Série D, a trágica quarta divisão nacional.

O clube surgiu por idéia de um grupo de 11 meninos com idades entre 14 e 16 anos, que costumavam jogar futebol no pátio da Igreja de Santa Cruz, em Recife, pois naqueles distantes anos ainda não existiam campos para a prática do novo esporte. A reunião para fundação do clube aconteceu às 19 horas do dia 3 de fevereiro de 1914, na casa de número 2, da Rua da Mangueira, no distrito de Boa Vista.

São considerados fundadores os desportistas Quintino Miranda Paes Barreto, José Luiz Vieira, José Glacério Bonfim, Abelardo Costa, Augusto Flankin Ramos, Orlando Elias dos Santos, Alexandre Carvalho, Oswaldo dos Santos Ramos, Luiz de Gonzaga Barbalho e Uchôa Dornelas Câmara.

A primeira diretoria do Santa Cruz ficou assim constituída: Presidente, José Luís Vieira; Vice-presidente, Quintino Miranda Paes Barreto; Primeiro secretário, Luís de Gonzaga Barbalho e Diretor de Esportes, Orlando Elias dos Santos. O nome escolhido para a nova agremiação foi "Santa Cruz Foot-Ball Club", em alusão ao local onde treinavam. Em principio as cores escolhidas foram o branco e preto, mas logo depois foi acrescentado o vermelho, para não haver igualdade de cores com o Flamengo, um outro clube pernambucano da época. Uma “vaquinha” entre os fundadores rendeu 8.500 réis, que foram aplicados na compra da primeira bola do time.

O primeiro adversário do Santa Cruz foi o Rio Negro, em jogo realizado na campina do Derby. O “time dos meninos”, como era chamado, mesmo acostumado a jogar somente nas ruas, não teve dificuldade em aplicar uma sonora goleada de 7 X 0. Silvio Machado foi o autor do primeiro gol da história do clube. O Santa Cruz mandou a campo esta equipe: Waldemar Monteiro - Abelardo Costa e Humberto Barreto - Raimundo Diniz - Osvaldo Ramos e José Bonfim - Quintino Miranda - Sílvio Machado - José Vieira - Augusto Ramos e Osvaldo Ferreira.

O Rio Negro não se confirmou com os 7 X 0 e pediu revanche, impondo ainda algumas condições: que o jogo fosse realizado no seu campo, que se situava a Rua São Borja, e que o centroavante do Santa Cruz, Sílvio Machado, não fosse escalado. No jogo anterior ele foi o melhor jogador em campo, tendo marcado 5 dos 7 gols. O Santa Cruz aceitou as condições e escalou Carlindo para substituir o seu artilheiro. Pior para o Rio Negro, que dessa vez levou 9 X 0, e o substituto de Silvio Machado marcou 6 gols.

O terceiro jogo da história do Santa Cruz foi contra o Western Telegraph Company, o time mais famoso da cidade, formado exclusivamente por ingleses que trabalhavam no Recife. Não tomando conhecimento da fama do adversário o Santa Cruz foi para cima e conquistou sua terceira vitória em três jogos.

Ainda sem completar o primeiro ano de fundação o Santa Cruz conheceu sua primeira crise interna. Um dos fundadores propôs em reunião que o único dinheiro existente em caixa, 6 mil réis, fosse gasto na compra de uma máquina elétrica de fazer caldo de cana, o que era sucesso na época, na Rua da Aurora. Foi quando Alexandre de Carvalho deu um murro em cima da mesa e disse: “o Santa Cruz nasceu e vai viver eternamente”, evitando com esse gesto de revolta o fechamento do clube.

O Santa Cruz desde a sua fundação se caracterizou como um clube popular. Foi fundado por pessoas da classe média, por isso não teve dificuldades em aceitar negros na sua equipe, coisa rara naqueles tempos. O primeiro negro a vestir a camisa tricolor foi Teófilo Batista de Carvalho, mais conhecido por Lacraia, em 1915.

A maior e mais emocionante virada de virada de placar que o Santa Cruz realizou em toda a sua história, aconteceu em 1915 no Estádio dos Aflitos. O time perdia de 5 X 1 para o América até os 30 minutos do segundo tempo. Numa incrível seqüência, o Santa marcou seis gols e venceu a partida por 7 X 5. Três gols foram marcados pelo atacante Tiano - Martiniano Fernandes médico e ex-senador pelo Estado de Pernambuco.

No ano de 1915 o Santa Cruz filiou-se a Liga e disputou o campeonato. A estréia foi com vitória sobre o Coligação S.R. por 1 X 0. Apesar de não conquistar o título, o Santa Cruz terminou empatado com mais dois clubes, Torres e Flamengo, que foi o campeão ganhando o triangular final.

No dia 30 de janeiro de 1919 o Santa Cruz se tornou o primeiro time nordestino a vencer uma equipe do Rio de Janeiro. A vitima foi o Botafogo, que perdeu por 3 X 2. Tiano marcou dois gols e Pitota completou o marcador. O "Jornal Pequeno", da segunda-feira, 31, estampava a manchete: "O Botafogo Futebol Clube é derrotado pelos "meninos" cá de casa pelo escore de 3 a 2". O fato foi tão marcante que ofuscou a passagem pela cidade de Santos Dumont, o “Pai da Aviação”. Na cidade só se falava da vitória tricolor.

O primeiro título pernambucano veio em 1931, na vitória de 2 X 0 sobre o Torre, gols de Valfrido e Estêvão. Foram 10 jogos, com 8 vitórias, um empate e apenas uma derrota. O time fez 41 gols e sofreu 9. Ao todo o Santa conquistou 17 pontos, um a mais que o Náutico, vice campeão.

No time campeão estavam duas figuras lendárias no futebol pernambucano: Tará e Sherlock. O Santa utilizou na campanha do título os seguintes atletas: Dada, Sherlock, Fernando, Dóía, Julinho, Zezé, Walfrido, Aluízio, Neves, Tará, Lauro, Estevão, João Martins e Popó. Este time conseguiu também o título de 1935.

Em 1934 o Santa Cruz foi autor de um feito histórico, se tornando um dos três times (fora seleções) de futebol em todo o mundo a derrotar a Seleção Brasileira. Depois da Copa da França em 1934, a seleção fez uma série de amistosos em Recife. Ganhou do Sport por 4 X 2, do próprio Santa por 3 X 2 e do Náutico por 8 X 3. Porém, por causa do atraso do navio que levaria a seleção de volta, o Santa Cruz pediu revanche e ganhou a partida por 2 X 1. (Pesquisa: Nilo Dias)

Tricampeões (1933). João Martins, Zezé Fernandes, Sebastião Virada, Tará, Estevão, Diógenes e Lauro...
...Ernani, Carlos Benning, Sherlock, Marcionilo, Limoeiro, Walfrido e Dadá. (Fotos: Acervo do Santa Cruz F.C.)

domingo, 16 de agosto de 2009

“Mão de Onça”, um goleiro que deixou saudade

Até hoje os torcedores do Clube Atlético Mineiro lembram com saudade de Armando Giorni, o “Mão de Onça”, um dos melhores goleiros que já vestiu a gloriosa camisa do “Galo das Alterosas”. Era natural de Dores de Indaiá, no interior de Minas Gerais, onde nasceu no dia 15 de novembro de 1922. Começou a carreira de futebolista no extinto 7 de Setembro, de onde saiu em 1943 para jogar no Atlético Mineiro.

Ele atuou pelo Atlético em duas passagens, entre 1946 e 1951, tendo ganho dois campeonatos mineiros e fez parte da vitoriosa excursão à Europa em 1950. Em 1959, voltou ao “Galo”, mas só jogou uma partida amistosa. Com a camisa alvinegra, atuou em 101 jogos e sofreu 130 gols. Foi campeão mineiro em 1946, 1947, 1949 e 1950. Jogou ainda pelo Bangu do Rio de janeiro.

Ganhou o apelido de “Mão de Onça” devido às suas mãos enormes e fortes. Talvez, isto se devesse pelo trabalho que exercia fora dos gramados, era lanterneiro. No bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, diziam que o ex-goleiro desamassava carros com a força das próprias mãos, sem precisar de ferramentas.

O primeiro jogo de “Mão de Onça” pelo Atlético Mineiro foi no dia 2 de maio de 1943, na vitória de 3 X 0 sobre o 7 de Setembro, pelo campeonato mineiro. E o último no dia 4 de janeiro de 1959, no amistoso Atlético Mineiro 3 X 1 América. “Mão de Onça” morreu em Belo Horizonte, aos 84 anos de idade, no dia 14 de junho de 2007.

Na década de 1940 e começo da década de 1950 o Atlético era considerado o melhor time do Brasil. O grupo de jogadores era muito forte. No gol, além de “Mão de Onça" tinha Kafunga, outra figura lendária. Na defesa e meio-campo Afonso, Oswaldo, Juca, Moreno, Vicente, Zé do Monte, Haroldo, Barbatana, Vicente Perez e Márcio. No ataque, Lucas, Lauro, Cezinho, Alvinho, Vavá, Nívio, Vaguinho e Murilinho. O técnico era Ricardo Diez.

Com essa verdadeira seleção o Atlético Mineiro foi convidado em 1950, pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para representar o futebol brasileiro em uma excursão por gramados da Europa. Foi o primeiro clube brasileiro a viajar pela Europa depois da implantação do profissionalismo no futebol.

Foram 10 jogos contra equipes campeãs e vices de seus países, com 6 vitórias, 2 empates e duas derrotas, 24 gols a favor e 18 contra. Vaguinho e Lucas Miranda, com seis gols cada, foram os artilheiros do time na excursão. Alguns jogos foram disputados debaixo de neve.

Os jogos do “Galo” foram estes: Atlético 3 x 1 Schalke 04; Atlético 4 X 3 Munich 1860; Atlético 4 X 0 Hamburgo; Atlético 1 X 3 Werder Breemen; Atlético 3 X 3 Eintreicht Brauschweig; Atlético 2 X 0 Seleção de Sarrebruck; Atlético 3 X 0 Rapid Viena da Áustria; Atlético 2 X 1 Anderlecht da Bélgica; Atlético 3 X 3 Seleção de Luxemburgo e Atlético 2 x 1 Stade Français da França. O “Galo” foi proclamado pela imprensa como o “Campeão do Gelo”, conquista registrada no hino do clube composto por Vicente Mota.

A chegada ao Brasil foi apoteótica. Primeiro, no Rio de Janeiro onde a delegação atleticana foi homenageada pela CBD e pelos desportistas cariocas. O retorno da delegação atleticana a Belo Horizonte foi marcado por uma das maiores festas que a cidade já viu. A multidão se concentrou na Avenida Afonso Pena e os jogadores desfilaram em carro aberto, recebendo os aplausos e o carinho do público

Ainda em 1950, depois da vitoriosa viagem a Europa, o Atlético fez uma excursão de mais de dois meses por gramados do Nordeste do país, iniciada em Salvador (BA) e concluída em Fortaleza (CE). Na volta, a delegação ficou dois dias em Recife, onde o time já havia passado e os jogadores aproveitaram para se despedir da cidade e fazer compras.

Naquela época era comum a presença nas portas de hotéis de vendedores de animais silvestres, principalmente macacos e pássaros. Esses vendedores eram na maioria trapaceiros, que passavam tinta amarela nos canários para que as cores se destacassem. Os macacos eram dopados, apareciam dormindo, mansos, sem forças, diante de tanta cachaça.

Zé do Monte, o craque do time mineiro, comprou um destes macacos, com mais de quatro quilos. Normalmente, as pessoas traziam os conhecidos “mico estrela”, que cabem em uma mão, mas o jogador quis um macaco de porte. Fez sucesso, principalmente ao entrar no avião. Na época não era proibido levar animais dentro das aeronaves. Todos os passageiros ficaram surpresos com a tranquilidade do macaco.

Porém, passadas duas ou três horas de vôo, o efeito do álcool passou e o macaco começou a pular de um canto para outro do avião. Os passageiros ficaram assustados, o pânico foi generalizado. Foi quando o goleiro Kafunga gritou: “Chamem o “Mão de Onça”. Mas nem ele foi capaz de dominar a fera. A solução foi fazer um pouso forçado para que o macaco fosse retirado do avião.

Durante um jogo entre as seleções de Pernambuco X Minas Gerais, no Recife, pelo campeonato brasileiro, “Mão de Onça” viu de perto que a fama de violento que acompanhava o zagueiro pernambucano “Guaberinha” não era a toa. Embora não fosse craque, o “cangaceiro” coral era seguro, marcava bem. Dava porrada até na sombra do adversário, que, para ele, era inimigo. Vez por outra, o convocavam para jogar na seleção pernambucana. Nesse jogo, “Mão-de-Onça” se contundiu num lance. Médico e massagista foram socorrê-lo.

Nisso, Guaberinha foi onde ele estava estendido e, como se fora um gentleman, quis saber: “Tudo bem com você, meu querido “Mão de Onça?” “Mais ou menos. Foi uma torção no pulso direito”. Aí Guaberinha, como quem examina, pegou a munheca machucada do golquíper e a torceu num golpe violento. O pobre rapaz deu um urro lancinante. E saiu de campo, carregado.

O nome “Mão de Onça” foi inspiração para muitos outros jogadores, principalmente goleiros, que surgiram no futebol brasileiro. O mais conhecido deles – depois do homônimo mineiro – foi sem dúvida Durval Moraes, o “Mão de Onça” do Clube Atlético Juventus, famoso por ter levado o gol que Pelé considerou o mais bonito de sua carreira.

Foi no dia 2 de agosto de 1959, num jogo Juventus X Santos, na rua Javari, pelo campeonato paulista. Eram decorridos 36 minutos da etapa complementar, o Santos vencia por 3 X 0, mas os torcedores do Juventus tentavam irritar Pelé com vaias insistentes. Foi quando o camisa 10 santista fez uma jogada magistral.

O ponteiro Dorval recebeu um passe de Jair e cruzou a bola pelo alto. Esta caiu no peito de Pelé, que foi em direção à área, deu um chapéu em Julinho, outro em Homero e um terceiro em Clóvis. Depois, aplicou um lençol no goleiro “Mão de Onça” que saiu desesperado do arco e cabeceou para as redes. Foi o gol, o mais lindo entre os 1.283 de toda sua carreira.

Pena que nenhuma câmera tenha registrado o lance. Com base em depoimentos orais, o lance foi reproduzido em computação gráfica e fez parte do documentário “Pelé Eterno”. Como homenagem ao Atleta do Século, em 2006, o Juventus inaugurou um busto de Pelé logo na entrada do estádio da rua Javari.

O ex-goleiro “Mão de Onça” não ficou no esquecimento. O cantor e compositor Edvaldo Santana faz uma homenagem aos arqueiros do futebol brasileiro, na sua canção, "O Goleiro". A música relembra o lendário goleiro do Juventus, e também o desconhecido Gilson, camisa 1 de um time de várzea de São Miguel Paulista, em São Paulo, que o artista acompanhava em sua infância.

Durval Moraes, o “Mão de Onça” nasceu em Itu (SP), no dia 2 de junho de 1931. Hoje, viúvo, aposentado e pai de seis filhos, reside em São Paulo onde se dedica a pregação religiosa pela Igreja Testemunhas de Jeová.

Athanásio de Almeida, um outro goleiro que herdou o apelido de “Mão de Onça” , marcou efetiva presença no Operário de Campo Grande (MS), no final dos anos 70. Hoje mora no Jardim Anahy, na capital sulmatogrossense, onde é acadêmico de Direto e trabalha como comerciante.

Nascido no dia 27 de setembro de 1944, em Miranda (MS) começou a carreira no Indústria Futebol Clube, de campo Grande. Em 1962, quando servia na Aeronáutica jogou pelo ASA. Em, 1964 defendeu o Juventus (SP), time em que antes havia se destacado outro goleiro chamado “Mão de Onça”. Em 1966 se transferiu para o Operário de campo Grande e em 1970 foi para o Flamengo do Rio de Janeiro. Sem chances no rubro-negro, voltou a Campo Grande onde foi contratado pela Sociedade Esportiva Industriaria (SEI). Em 1977 retornou ao Operário, onde encerrou a carreira. (Pesquisa: Nilo Dias)

"Mão de Onça", em um jogo do Atlético contra o 7 de Setembro. (Foto: Acervo do C.A. Mineiro)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Peñarol, um gigante adormecido (Final)

O primeiro clássico foi jogado em 15 de julho de 1900, com vitória do Peñarol por 2 x 0. Em 01 de novembro de 1911, no Parque Central, aconteceu a maior goleada do clássico, Peñarol 7 X 3. Em 08 de novembro de 1925, na reunificação da FUF (Federación Uruguaya de Football) com a AUF (Associação Uruguaia de Futebol), aconteceu o chamado "Clássico da Reunificação", com vitória do Peñarol por 1 X 0.

Em 7 de agosto de 1932 foi disputado o primeiro clássico do profissionalismo com vitória, mais uma vez, do Peñarol.
Entre os anos de 1985 e 1986 se jogou a chamada "Copa de Oro dos Grandes", que consistiria em oito jogos envolvendo as duas equipes. Mas não foi preciso tanto, visto que o Peñarol, ao ganhar os cinco primeiros jogos levantou o “caneco”.

Em 1921 assumiu a presidência do Peñarol o senhor Julio Maria Sosa, responsável pela construção de um estádio, numa área de três hectares que a empresa “La Comercial” possuía na estação Pocitos, perto do famoso balneário de Montevidéu. Em outubro desse mesmo ano o campo, com medidas de 105 por 80 metros, já se encontrava em condições de uso e nele foram realizados alguns jogos da Copa do Mundo de 1930. Esse estádio foi demolido nos anos 40.

Atualmente o Peñarol manda seus jogos no Estádio Centenário, de propriedade estatal, embora disponha de um estádio próprio, denominado José Pedro Damiani, antigamente "Las Acacias". Apesar do campo estar apto a receber jogos da primeira divisão, normalmente não é utilizado, por carecer de maior estrutura.

Em 12 de novembro de 1922, a AUF decidiu pela desfiliação do Peñarol, sem que até hoje se saiba a causa. Desconfia-se que houve uma tramóia política, na qual estaria envolvido o seu maior rival, o Nacional, pois o Peñarol era campeão de grande parte dos campeonatos organizados pela entidade.

Depois disso o clube, juntamente com o Central formou o que se chamou de (FUF). A esta nova entidade, dissidente da AUF, se juntaram o Miramar, Roland Moor, Rosario Central, Gladium, Las Piedras e Misiones.

No ano seguinte, em 1923, houve o primeiro campeonato uruguaio da FUF e o Peñarol foi o campeão (até os dias atuais a AUF não reconhece este titulo). Somente em 1925 se reorganizou o futebol com a unificação das duas entidades com a volta do aos campeonatos da AUF.

Na história do Peñarol figura o primeiro titulo nacional da era profissional, em 1932. Mesmo com craques como Pedro Young (“El Tigre”), Luis Matozzo (“El Grande”), Ernesto Mascheroni, Obdulio Varela (“El Negro Jefe”), e, entre outros, Álvaro Gestido, imponente defensor que fez história ao travar e vencer o épico duelo com o avançado argentino Peucelle na final do Mundial de 1930, as décadas de 30 e 40 foram de domínio do Nacional.

Em 1949, o clube amarelo e preto montou um de seus mais famosos quadros de todos os tempos. Era uma equipe tão forte que se tornou a base da Seleção do Uruguai que ganhou a Copa do Mundo em 1950, diante de um Maracanã lotado com 200.000 pessoas. Esse time, conhecido como “La Maquina del 49” era composto por Roque Máspoli - Enrique Hugo - Mirto Davoine (Sixto Posamai) - Juan C. González - Obdúlio Varela - Washington Ortuño - Alcides Ghiggia - Juan Eduardo Hohberg - Juan Schiaffino - Oscar Míguez e Ernesto Vidal.

Em 1958 assumiu a presidência do Peñarol o desportista Gastón Guelfi, que se tornou o presidente mais vitorioso de toda a história do clube. Ele esteve a frente da agremiação amarela e preta ate 1973, quando morreu no exercício do cargo. Nesse período ganhou três Copas Libertadores, duas Copas Intercontinentais e o primeiro pentacampeonato uruguaio, que era chamado de “Quinquênio de Oro”. No total foram nove campeonatos nacionais.

Sob seu comando o Peñarol transformou-se numa potência do futebol sulamericano e mundial. Verdade ou lenda, contam que naqueles anos de glória, quando o Peñarol entrava em campo, os seus jogadores logo iam avisando aos adversários: “Trouxeram outra bola para jogar? Esta é só para nós”.

Finda a época de Obdulio Varela, chegou, em 1958, de Artigas, para o substituir, Néstor Tito Gonçalves, que comandava o time com os seus gritos “A la carga!”, mandando atacar o adversário. No gol tinha Luís Maidana, o “Homem Gato”. Nos dois primeiros títulos, 1958 e 1959, o técnico era Hugo Bagnulo, descobridor do ala direito Luís Cubilla e do goleador Spencer no Equador.

Sob seu comando o Peñarol formou um grande time com valores da qualidade de William Martinez, o “Canhãozito”, do brasileiro Alves da Silva, Walter Aguerre, Borges, Albert Hein, Linnazza, Roberto Garcia e Hohberg.

Com essa verdadeira “seleção”, em 1961, o argentino Hector Scarone, sempre fiel ao tradicional 4-4-2, comandou o Peñarol na conquista da primeira Taça Intercontinental da sua história, goleando o Benfica de Eusébio por 5 X 0, após perder por 1 X 0 no Estádio da Luz, em Lisboa. No jogo desempate, ainda no Uruguai, o Peñarol fez 2 X 0, gols de Sacia e ganhou a Taça.

Nos anos 60, se tornaram célebres os jogos entre o Real Madrid e o Peñarol, na Taça Intercontinental. No primeiro encontro entre ambos, em 1960, o Real Madrid aplicou uma goleada de 5 X 0. Seis anos depois, em 1966, o Peñarol, com Mazurkiewicz, Pablo Forlan, Gonçalves, Cortes, Abadie, Joya, Sasia, Spencer e Pedro Rocha finalmente se vingou, ganhando duas vezes do Real Madrid, ambas por 2 x 0. O time espanhol não tinha mais a mesma força, a geração de Di Stéfano dera lugar ao chamado onze yé-yé.

Durante os anos 70, jogou no Peñarol o maior goleador da história do futebol uruguaio: Fernando Morena, “El Potro”, o artilheiro infalível, autor de 235 gols na Liga uruguaia, 34 deles em 1975. Em 1978 fez 7 gols num só jogo, contra o Huracan. Foi o artilheiro do campeonato nacional em 7 oportunidades, 6 delas consecutivas, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977 e 1978. Chegou ao Peñarol em 1973, vindo do River Plate de Montevidéu, saindo em 1978, para o Rayo Vallecano da Espanha. Foi 7 vezes campeão uruguaio.

Em 1982, depois de uma grande campanha para repatriar “El Potro”, o Peñarol conquistou sua quarta copa Libertadores, vencendo na final ao Cobreloa do Chile. E foi Morena, que no último minuto do jogo fez o gol do título.

No fim do ano, o Peñarol foi ao Japão disputar o titulo Intercontinental, enfrentando o time inglês do Aston Villa, e venceu por 2 x 0, gols do brasileiro Jair, ex Internacional de Porto Alegre e Walkir Silva.

Em 1987, o Peñarol ganhou sua quinta Copa Libertadores, enfrentando na final o América de Cali, que era chamado de "Los Diablos Rojos". Em uma final bastante disputada, os uruguaios perderam o primeiro jogo, realizado em Cáli, por 2 x 1. Mas, ao vencer os dois jogos seguintes, 2 x 1 em Montevidéu e 1 x 0 em Santiago (desempate), levantaram a taça.

Nos anos 90, para comemorar o centenário o Peñarol montou uma equipe forte e competitiva, que conquistou mais um pentacampeonato uruguaio: 1993, 1994, 1995, 1996 e 1997. Nesse período dois treinadores comandaram o time, primeiro Gregorio Pérez, que ficou célebre por seu lema: “Haveremos de recuperar a mística!”. Depois, com Jorge Fossati.

Era tarefa fácil treinar um timaço como aquele, onde se destacavam o central Nelson Gutierrez, o médio “Pato“ Aguilera, Carlos De Lima, De los Santos, El “Chueco” Perdomo e o último grande símbolo aurinegro, Pablo Bengoechea, “El Professor”, presente nos 5 títulos. Fez 188 jogos e marcou 48 gols

Alguns dos principais jogadores que vestiram a camisa do Peñarol: Alberto Spencer, Alcides Ghiggia, Antonio Alzamendi, Pablo Forlán, Darío Silva, Diego Forlán, Elías Figueroa, Ernesto Ledesma, Ladislao Mazurkiewicz, Luis Maidana, Obdulio Varela, Pablo García, Fernando Morena, Jair Gonçalves, Mário Pitoni, Oscar Omar Miguez, José Luis Chilavert, José Leandro Andrade, José Perdomo, José Piendibene, Luis Cubilla, Juan Delgado, Isabelino Gradín, Venancio Ramos, Pedro Rocha, Darío Rodríguez, Marcelo Zalayeta, Juan Alberto Schiaffino, Pablo Bengoechea, Rubén Walter Paz, Paolo Montero, Carlos Bueno, Cristian Rodríguez e Roque Gastón Máspoli, entre outros.

Máspoli marcou época no Club Atlético Peñarol, de Montevidéu, onde jogou e também foi treinador. Como técnico, levou o Peñarol aos títulos da Copa Libertadores e da Copa Intercontinental em 1966. Também comandou a Seleção Uruguaia, com a qual venceu a Copa de Ouro (Mundialito Fifa) de 1981. Roque Máspoli faleceu em 2004, aos 86 anos. (Pesquisa: Nilo Dias)

O time do Peñarol em 1949 era tão forte, que se tornou a base da Seleção Nacional do Uruguai. (Foto: Acervo do C.A. Peñarol)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

C.A. Peñarol, um gigante adormecido (01)

Quem acompanha futebol sabe que o Club Atlético Peñarol de Montevidéu já foi um dos clubes mais poderosos de todo o mundo. É detentor de três títulos mundiais, cinco Taças Libertadores da América e 47 títulos nacionais, além de ser o maior fornecedor de craques para a Seleção do Uruguai, duas vezes vencedora da Copa do Mundo e detentor da maior torcida do país.

O time da tradicional camisa amarela e preta mais uma vez ficará fora da Taça Libertadores da América, ano que vem, pois não foi além de um modesto sétimo lugar no último Campeonato Uruguaio. Não conseguiu nem mesmo disputar o playoff que apontou os dois representantes uruguaios na competição: o Cerro ficou com a vaga na fase de grupos, e o Racing vai disputar a Pré-Libertadores. O Nacional, atual campeão, já estava garantido na fase principal. E o pior, o Peñarol está fora até mesmo da Copa Sulamericana.

O último e único título de expressão nacional conquistado pelo clube no século XXI foi o campeonato uruguaio de 2003. O Peñarol ficou fora das últimas quatro edições da Libertadores da América, o que lhe custou, depois de 49 anos a perda do posto de maior pontuador da competição para o River Plate da Argentina, que tem sete participações a menos, embora venha de 15 disputas consecutivas.

Este ano, o Peñarol participou da fase Pré-Libertadores, mas foi eliminado pelo Independiente Medellín, da Colômbia. Antes, a última participação tinha sido em 2005, quando também não conseguiu chegar à fase de grupos, eliminado pela LDU.

Foi em 1958 no Rio de Janeiro que surgiu a idéia da realização da Copa Libertadores da América. O primeiro campeão em 1960 foi o Peñarol. Oito times disputaram o titulo: Bahia; Jorge Wilstermann, da Bolívia; Milionários, da Colômbia; Olímpia, do Paraguai; San Lorenzo, da Argentina e Universidad do Chile. Para ser campeão o time uruguaio disputou 7, das 13 partidas jogadas, tendo marcado 13 gols e sofrido 5.

No dia 19 de abril de 1960 no Estádio Centenário em Montevidéu, o Peñarol ganhou do time boliviano Jorge Wilstermann por 7 X 1 diante de 35 mil pessoas. O peruano Spencer que defendia o time uruguaio marcou 4 gols. A participação do time brasileiro foi bem discreta. Perdeu a primeira fora e ganhou a segunda em casa do San Lorenzo por 3 X 2, o que não foi suficiente para prosseguir na competição.

O ponteiro-esquerdo Carlos Borges, do Peñarol foi quem marcou o primeiro gol da Copa Libertadores da América. Foi no dia 19 de abril de 1960, no gramado do Estádio Centenário. O relógio marcava 12 minutos do primeiro tempo do jogo entre Peñarol e Jorge Wilstermann, quando Borges aparou um rebote e disparou contra o arco do time boliviano, anotando o primeiro gol da goleada de 7 X 1.

Hoje, o clube vive das lembranças de um passado glorioso. Quem quiser revivê-las, pode visitar o Museu do Clube Atlético Peñarol, que fica aberto às sextas e sábados, das 13h30 às 17h30. Ou o Museu do Futebol, no estádio Centenário, que abre de quarta a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados e domingos, das 9h30 às 17h30.

O Peñarol jogou aquela partida com Luis Maidana - William Martínez - Milton Alves Da Silva (Salvador, ex-jogador do Internacional-RS) - Santiago Pino - Néstor Goncalves - Walter Aguerre - Luis Cubilla - Carlos Linazza - Juan E. Hohberg - Alberto Spencer e Carlos Borges. O artilheiro da competição foi Alberto Spencer, do Peñarol, com sete gols. Borges anotou apenas dois, justamente na goleada da estréia.

As raízes do Club Atlético Peñarol remontam a julho de 1890, quando a empresa inglesa Central Uruguay Railway Company (Ferrocarril Central del Uruguay) adquiriu 17hectares de terra a dez quilômetros de Montevideu, num local que se chamava Peñarol, para ali erguer as suas novas instalações. Sabe-se que muito tempo antes se instalara no local um agricultor italiano de nome Pedro Pignarolo (que em castelhano lê-se piñarolo). Com o tempo, o nome foi sendo moldado pelos locais, dando origem ao chamado “pueblo de Peñarol”.

A empresa começou a funcionar em 01 de maio de 1891, quatro meses antes da fundação do clube. Em 1891, Mister Roland Moor, presidente da companhia, decidiu criar uma instituição desportiva, destinada à prática do futebol, a que deu o nome de Central Uruguai Railway Cricket Club, o CURCC, sendo suas cores, o preto e amarelo da empresa ferro carril.

Em 28 de setembro daquele ano, as 8 horas da noite, se juntaram nas oficinas da empresa quinze desportistas para começar a grande história de fundação do novo clube. Após duas horas de discussão, se formou o Conselho Diretivo com oito membros, sendo eleito presidente o senhor Frank Henderson, que era gerente da empresa.

O novo clube foi batizado com o nome de CURCC (abreviação de Central Uruguay Railway Cricket Club), contando com 118 sócios fundadores, dos quais somente 45 eram uruguaios.

A primeira partida do CURRC ocorreu em 1892 contra a equipe do colegio English High, com vitória por 2 X 0. Neste mesmo ano o novo clube enfrentou o Albion, que seria durante anos o seu maior rival no futebol uruguaio.

O ano de 1900 marcou a fundação da The Uruguay Association Football League, que depois mudou a denominação para AUF (Associacion Uruguaya de Fútbol). O CURRC seria um dos fundadores ao lado de Albion Football Club, Uruguay Atletic Club e Deutscher Fussball Klub. O o primeiro presidente da Liga foi o desportista Percy D. Charter.

Nesse mesmo ano foi disputado o primeiro campeonato Uruguaio com os clubes fundadores, tendo o CURRC se sagrado campeão invicto, com 6 jogos, 6 vitórias, 36 gols a favor e 2 contra. A estréia do CURRC foi contra a equipe do Albion e vitória por 2 X 1. O Peñarol formou com Fabre - de los Ríos e Buchanan – Ward - Mazzucco e Davies – Pena – Acevedo – Lewis - Camacho e Jackson.

Em 13 de dezembro de 1913 aconteceu uma histórica assembléia que mudou a historia do clube e gera muita polêmica até hoje: qual a data que verdadeiramente deve ser oficialmente a de fundação? Em 28 de setembro de 1891 ou 13 de dezembro de 1913? É o que os uruguaios chamam de “decanato”. Quando o clube foi fundado com o nome de CURRC, existiam dois tipos de sócios - os trabalhadores e dependentes da empresa de Ferrocarril, que podiam votar e ser votados para os cargos de diretoria, e os não trabalhadores que não tinham voz nem voto.

Na assembléia ficou decidido que não mais haveria distinção de sócios. Durante os debates surgiu a idéia de mudança do nome do clube, que foi aceita sem contestação. O CURRC deixou de existir, nascendo o C.A. Peñarol, uma homenagem ao vilarejo onde a agremiação deu seus primeiros passos. O novo nome foi oficializado em 12 de março de 1914.

Em 1918 o Peñarol montou uma equipe formada por grandes valores do futebol, que poderia medir forças com qualquer adversário no mundo. O histórico onze formava com Roberto Chery - José Benincasa e Pedro Rimolo (Alfredo Granja) - Juan Pacheco - Juan Delgado e J.Delacroix - José Perez - Armando Artigas - José Piendibene - Isabelino Gradín e Antonio Campolo. A conquista do torneio nacional desse ano acabou com a supremacia do Nacional que vinha de um tri-campeonato.

Essa década de 1910 ficou marcada pelo surgimento dos primeiros grandes jogadores do Peñarol, como Juan Pena, Mazzucco, Los Camacho, Mañana, Isabelino Gradín, Acevedo e o elegante José Piendibene, que, grande goleador, nunca festejava os seus gols por respeito aos adversários. Em meados dos anos 10 também nasceu a grande rivalidade, que permanece até hoje entre os dois maiores clubes do Uruguai: Peñarol e Nacional, “os Monstros de Montevidéo”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Peñarol, em 1900 (Foto: Acervo do C.A. Peñarol)