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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Um dirigente acima de qualquer suspeita

Aos 87 anos de idade, morreu no último sábado, dia 5, no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Giulite Coutinho. Ele estava internado em um hospital no Rio onde foi paciente na quinta-feira (2) de uma cirurgia na boca. Na manhã de sábado (4), sofreu uma hemorragia no local da cirurgia acompanhada de ataque no coração. O corpo de Coutinho foi cremado, em cerimônia onde apenas os familiares tiveram acesso. Ele deixou a esposa Lina e o filho Osmar Coutinho.

Giulite Coutinho foi um raro exemplo de honestidade no futebol brasileiro. O jornalista esportivo Juca Kfouri, ao lamentar a morte de Giulite Coutinho ressaltou que se tratava de um homem de convicções e decente até o último fio de cabelo. Coutinho não tirou um único tostão do futebol brasileiro e foi o principal responsável pelas mudanças ocorridas no campeonato brasileiro.

Ele era o presidente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), quando foi criada em 24 de setembro de 1979 a atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma entidade voltada exclusivamente ao futebol, que dirigiu até 1986. Ao assumir a CBD, depois CBF, o nosso futebol passava por uma situação caótica, com campeonatos que chegaram a ter mais de 90 clubes participantes. Ele conseguiu reduzir para 40, mesmo sofrendo reações contrárias de parte de alguns clubes.

O Campeonato Brasileiro de Futebol começou a ser disputado em 1971. Entre 71 e 79 as equipes eram convidadas para participar. Naquela época a frase: “Onde a Arena vai mal mais um time no Nacional” era “obedecida” pela CBD, responsável pela organização dos Campeonatos Brasileiros. Apenas para recordar, a Arena era o partido do regime militar e ainda não existia a CBF. Em 1971 o campeonato teve 20 participantes, o de 1979 teve 94 e não contou com equipes importantes como Corinthians, Santos e São Paulo que estavam disputando o campeonato paulista.

Nesse mesmo ano, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) resolveu estruturar entidades especificas para cada esporte e criou a CBF. Uma das promessas de campanha de Giulite Coutinho, que assumiu a presidência da entidade em 18 de janeiro de 1980, era reformular o Brasileirão. Ele definiu critérios objetivos para indicar os seus participantes. Giulite Coutinho moralizou e melhorou o Campeonato Brasileiro de então, mas as fórmulas de disputa ainda eram incrivelmente esdrúxulas. Ele deu o primeiro passo, mas as condições só melhoraram, gradativamente até chegar aos 20 clubes de hoje e pontos corridos.

Esteve à frente da Seleção Brasileira na Copa de 1982, quando não só foi montado um dos melhores times de todos os tempos como, ainda, formou-se um grupo de pessoas com quem dava gosto conviver: Chefe: Giulite Coutinho; Diretor de Futebol: Nelson Medrado Dias; Assessor: Tarso Herédia; Administrador: Ferreira Duro; Jornalista: Solange BIbas; Comissão Técnica: Técnico: Telê Santana; preparadores Físicos: Gilberto Tim e Moracy Santana; Preparador de Goleiros: Valdir Joaquim de Morais; Médicos: Drs. Ricardo Vivacqua e Neilor Lasmar; Massagista: Abílio José da Silva (Nocaute Jack); Auxiliar: Paulo César da Costa; Roupeiro: Nílton de Almeida e Cozinheiro: Mário Rocha.

Foi na gestão de Giulite Coutinho que nasceu a seleção permanente do Brasil, com jogos mensais, em vez de reuniões periódicas para longos períodos de amistosos. A idéia era construir o time a cada partida, a cada mês. E assim nasceu a fantástica seleção de Cerezo, Zico e Sócrates, com Falcão se incorporando à equipe apenas na Copa do Mundo, porque, à época, não se convocava quem jogava no exterior para os amistosos mensais.

Durante dois anos e meio, Telê formou uma das mais famosas equipes que o Brasil levou a Mundiais, e que deixou saudades, ao perder por 3 X 2 para a Itália, em 5 de julho de 1982 no Estádio Sarriá. Telê teve nova chance quatro anos depois, no México, e o Brasil foi desclassificado pela França, nos pênaltis, nas quartas-de-final.

O escudo na camisa da Seleção tinha um ramo de café, fruto do contrato de patrocínio da CBF com o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que durou até a Copa de 1990. Esta seleção canarinho não levantou a taça, mas ficou marcada pelo futebol arte, sendo considerada uma das melhores da história.

Também foi presidente do América F.C., do Rio de Janeiro e um dos homens mais importantes da história do clube. Conselheiro e torcedor fanático, sempre participou ativamente do seu dia-a-dia. Benemérito atuante ocupou cargos no futebol e também o de diretor da comissão de obras. Foi o grande responsável pela construção do novo estádio do América, que está localizado no bairro de Cosmorama no município de Mesquita, na Baixada Fluminense.

Como forma de imortalizá-lo, a diretoria do América concedeu o nome de Giulite Coutinho ao seu estádio, que foi inaugurado no dia 23 de janeiro de 2000, no jogo América 3 X 1 Seleção Carioca. O atacante Sorato, do América marcou o primeiro gol no estádio que tem capacidade para 16 mil torcedores. O recorde de público foi no jogo América 2 X 2 Flamengo, com 9.009 pagantes, em 5 de março de 2006. Ao final das obras de ampliação, a capacidade do estádio passará para 32 mil lugares.

Além do futebol, Giulite Coutinho trabalhou durante anos como empresário ligado ao ramo da exportação. Em 1972 ele fez parte da Comissão Empresarial do Brasil, que visitou a China pela primeira vez. (Pesquisa: Nilo Dias)