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segunda-feira, 11 de maio de 2009

A morte entra em campo (1)

Estão reabertas as discussões sobre as causas de mortes súbitas de atletas de corridas populares como a São Silvestre, jogadores de futebol e de outras atividades esportivas, que vem aumentando nos últimos anos em todo o mundo. O caso mais recente e dramático foi o do jogador de futsal, José Carvalho da Cunha Júnior, o “Rabicó”, de 39 anos, que teve passagens pela Seleção Brasileira de futsal na década de 90 e Barcelona da Espanha. Ele morreu na noite de 30 de abril, ao sofrer um infarto minutos depois do final da partida pelo campeonato gaúcho da Série Ouro, em que sua equipe, a Associação Santa Cruz de Futsal (Assaf) perdeu por 6 X 3 para a Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF).

Ainda na quadra do Ginásio Poliesportivo Municipal de Santa Cruz do Sul, o jogador, que marcara o último gol de sua equipe e que já projetava a aposentadoria, sofreu um mal súbito e caiu desacordado quando era entrevistado por uma emissora de rádio da cidade. Uma ambulância estacionada na frente do ginásio levou Rabicó ao hospital Santa Cruz, onde os médicos tentaram reanimá-lo por cerca de 30 minutos, sem êxito. A morte de Rabicó foi confirmada às 22h30min.

A morte do pivô Rabicó traz a lembrança outros casos de jogadores que faleceram após sentirem-se mal enquanto jogavam. No Brasil, o episódio mais conhecido é o do zagueiro Serginho, do São Caetano, que desmaiou em campo durante um jogo contra o São Paulo, em outubro de 2004. Serginho foi socorrido no gramado do estádio do Morumbi, e levado ao hospital, mas não resistiu e morreu na mesma noite.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) puniu o clube paulista com a perda de 24 pontos no campeonato brasileiro daquele ano por negligência. De acordo com a corte, a direção do São Caetano tinha conhecimento de que Serginho enfrentava problemas de saúde e, mesmo assim foi escalado para jogar. No dia 11 de fevereiro, os jogadores do São Caetano passaram por uma série de exames de rotina no Instituto do Coração (Incor), de São Paulo. Durante um ecocardiograma foi detectado que o coração do zagueiro Paulo Sérgio de Oliveira Silva, o Serginho, apresentava uma arritmia, anormalidade na freqüência cardíaca.

Novos exames mostraram que o coração do atleta não funcionava bem, batia num ritmo desordenado e tinha dificuldade para bombear sangue para o resto do corpo. Apesar de nenhuma artéria estar comprometida, o coração do jogador estava dilatado e com suas funções comprometidas. De acordo com as diretrizes médicas internacionais, uma pessoa nessas condições deve ser proibida de praticar exercícios físicos extenuantes. Isso significa, portanto, que Serginho não poderia jogar futebol e o que aconteceu com ele foi uma tragédia anunciada.

Com a morte de Serginho as ambulâncias foram cobradas nos estádios e vários clubes fizeram convênios com hospitais para que elas estivessem presentes nos jogos.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) registra 25 mortes de atletas com menos de 35 anos por ano em vários esportes. O futebol está em primeiro lugar, o basquete em segundo e as corridas em terceiro, por que são os mais praticados em todo o mundo.

A lista de jogadores de futebol e outros atletas que morreram em atividade é extensa e praticamente impossível de ser registrada na totalidade. Segundo dados oficiais do Comitê Olímpico Internacional, de 1966 até o ano passado, se contabilizaram 1.101 mortes de atletas, com menos de 35 anos, em todo o mundo. O primeiro relato de morte súbita relacionada à atividade física intensa ou esportiva foi a do soldado grego Pheldippides, mensageiro da vitória dos gregos sobre os persas em 490 AC.

Em 1971, o zagueiro Tininho, do Guarani de Campinas sofreu um aneurisma cerebral durante um treino de seu time. Os jogadores já estavam deixando o campo quando o rapaz tombou morto.

Em dezembro de 1971 o jogador português Fernando Paschoal das Neves, do F.C. do Porto, morreu durante um jogo contra o Vitória de Setúbal. Foi vítima de uma parada cardíaca.

O jogador Valtencir, do Colorado (atual Paraná Clube) morreu aos 32 anos de idade, no dia 18 de setembro de 1978 por causa de lesões na coluna, sofridas em um jogo contra o Maringá. O lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e no cérebro após choque com o jogador Nivaldo, e morreu no local, no Estádio Willie Davis, em Maringá.

Em 1982 o lateral-direito do Sport (Recife), Carlos Alberto Barbosa, de 26 anos, morreu vítima de um infarto que ocorreu durante uma partida contra o XV de Piracicaba, pelo Campeonato Brasileiro. O jogador sentiu-se mal e caiu no gramado. Sua morte, só foi anunciada após o jogo, vencido pelo time pernambucano por 4 X 1.

O zagueiro Beto, do Moto Clube, morreu também de infarto durante o jogo contra o Tocantins, no dia 14 de setembro de 1985, em São Luís (MA).

O jogador Zezinho Figueroa, da Internacional de Limeira (SP) morreu durante um treino recreativo de seu time, em 1986. Mais tarde foi descoberto que ele tinha um aneurisma cerebral.

No final da década de 80, o lateral-esquerdo João Pedro, do Sport (Recife) foi vítima do coração. Morreu em Timbaúba, no Estádio Ferreira Lima, numa partida contra o Estudantes, pelo Campeonato Pernambucano.

O jogador nigeriano Samuel Okwaraji morreu em agosto de 1989, em um jogo contra a seleção de Angola pela classificação ao Mundial. A autópsia revelou que ele tinha um coração muito grande e forte pressão sangüínea.

No confronto entre o York City e o Lincoln City, pelo campeonato inglês de 1990, o jogador Dave Longhurst caiu morto em campo, vítima de uma doença rara no coração.

O zagueiro carioca Vagner Bacharel, de 36 anos morreu de forma estúpida. Num jogo pelo campeonato paranaense, quando defendia o Paraná Clube, na disputa de uma bola pelo alto com o jogador Sérgio Ponvoni, do Campo Mourão, bateu com a coluna cervical no chão e, desacordado, foi levado a um hospital para atendimento.

Aparentemente não era nada de mais grave, tanto que recebeu alta hospitalar e voltou para casa, a fim de continuar o tratamento. Mas as dores de cabeça foram intensificando e, levado novamente ao hospital sete dias depois, não resistiu e morreu no dia 20 de abril de 1990.

Em fevereiro de 1995, o jogador brasileiro Augusto, que defendia um time da segunda divisão da Bélgica, rompeu a artéria aorta e morreu em campo. (Pesquisa: Nilo Dias)

A morte de Serginho teve repercussão nacional.