Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

F.B.C. Rio-Grandense, um "guri" de 100 anos (3)

Com a revolução federalista, o campeonato estadual não foi disputado e vários campeonatos municipais também não ocorreram. As disputas foram mantidas em Rio Grande, Bagé, Livramento, Santa Maria e Porto Alegre.

Nos anos 20, os jogadores negros não eram bem vindos nos clubes de futebol mais tradicionais, tanto na capital quanto no interior do Estado. Em razão disso, os negros criaram suas próprias entidades como ato de resistência cultural em oposição ao futebol branco elitista praticado em todo o Estado. Em Porto Alegre, a famosa “Liga da Canela Preta, em Pelotas, a “Liga José do Patrocínio” e em Rio Grande a “Liga Rio Branco”.

Um dos melhores goleiros que jogou pelo Rio-Grandense foi Gilberto Oliveira, o “Truta”, que o clube foi buscar em Porto Alegre na histórica “Liga da Canela Preta”. Ele defendeu a meta colorada de 1921, até a sua morte no dia 27 de dezembro de 1924, depois de enfrentar grave enfermidade.

No dia 19 de junho de 1924, Rio-Grandense e Pelotas realizaram um jogo valendo pela “Taça Júlio Gross”, mas devido a sério desentendimento entre os jogadores a partida não terminou, quando o escore estava ainda em 0 X 0.

A avenida Buarque de Macedo já foi chamada de rua do futebol. Até pouco tempo estavam lá os velhos estádios das Oliveiras, do S.C. Rio Grande e Torquato Pontes, do F.B.C. Rio-Grandense. Mas pouca gente sabe ou não lembra que por lá existiu na década de 1920 e parte de 1930, um outro estádio, que pertencia a um clube que há muitos anos ficou só na lembrança, o Padeiral F.B.C.

Seu campo ficava onde hoje se localiza a escola Nossa Senhora Medianeira, depois da esquina com a 2 de Novembro. O campo era vizinho ao cemitério protestante, ocupando o espaço até a rua Johannes Moritz Minnemann, homenagem ao jovem alemão que fundou o S.C. Rio Grande.

O porquê da escolha de tão estranho nome para um time de futebol perdeu-se no tempo. Sabe-se apenas que as cores de seu uniforme eram o amarelo e o preto, semelhante ao Penharol uruguaio. Sem muitas ambições nas competições que participava, o clube se limitava a revelar alguns bons jogadores, que depois eram utilizados nos times maiores, São Paulo, Rio Grande e Rio-Grandense.

Ao início dos anos 30 o Padeiral foi enfraquecendo e fechou as portas. Ainda houve uma tentativa de reerguimento com a mudança de nome para Americano, com as cores vermelho e branco, mas de nada adiantou, resistiu pouco tempo e enrolou a bandeira.

Naqueles anos 30 era comum a formação de times de férias. Jogadores como os ex-sãopaulinos Darcy Encarnação e Scala, que jogavam em Porto Alegre, participavam de concorridas peladas com amigos e familiares. Para aproveitar esse espaço surgiram o Botafogo e o Palmeiras. Nenhum deles tinha campo próprio: o Botafogo utilizava um campinho da Praça Saraiva e o Palmeiras, o campo do Padeiral. No Botafogo a maioria dos jogadores era do S.C. Rio Grande e no Palmeiras, do Rio-Grandense. Mas em ambos jogavam atletas do São Paulo, como Darcy Encarnação, Odorico e Osquinha.

Depois surgiu o Vila Operária, por iniciativa de Maximo Schmutz, um gringo de quase dois metros de altura que uns diziam ser francês, outros polaco. Ele não jogava, mas era o dono do time. Schmutz montou um bom time, com base no São Paulo e jamais perdeu para os outros dois. No Vila Operária jogaram Fernandinho, Riquinho, Scala, os irmãos Ruy , Osny e Ciro Ballester e o goleiro Alemão, do Riograndense. Dos três times de férias, apenas o Palmeiras resiste ao tempo e se mantém vivo até hoje, jogando na maioria das vezes na Praça Saraiva.

Time base do Rio-Grandense em 1931: Debease - Astro e Lara - Hermes, Joaquinzinho e Paschoal – Pesse – Martins – Orlando - Darte e Antoninho.

No dia 26 de maio de 1935, o Rio-Grandense jogou sua primeira partida interestadual. O adversário foi o Santos F.C., que excursionou pelo Rio Grande do Sul e jogou em Rio Grande, onde venceu o F.B.C. Rio-Grandense por 4 X 3, em partida disputadíssima. Os gols santistas foram marcados por Junqueirinha (2), Sacy e Raul. Para o Rio-Grandense anotaram Cortado, Melo e Badu contra.

O Rio-Grandense jogou com Rocha - (Zezinho) - Osmar e Didico - Laza (Válter) - Joaquim e Mariano – Mello – Heitor - Rodrigues (Cortado) - Arthur e Canuto. O Santos formou com Cyro (Victor Lovechio)- Neves e Badu - Marteletti - Ferreira e Jango - Sacy - Moran - Friedenreich (Raul) - Zé Carlos (Mario Seixas) e Junqueira. Essa foi a única vez que o grande craque Arthur Friedenreich jogou em Rio Grande.

Empolgado pelos títulos estaduais do São Paulo, em 1933, e do Rio Grande em 1936, o Rio-Grandense, investiu forte em 1937 com o objetivo de também levantar a taça. A partir daí o clube escarlate escreveu as mais bonitas páginas de sua história, dominando amplamente o futebol gaúcho, estando presente em três finais consecutivas de campeonatos estaduais. Embora a dupla Gre-Nal não tenha participado dos campeonatos de 1937 a 1939, isso não tirou o brilho daquelas memoráveis jornadas. (Pesquisa: Nilo Dias)

F.B.C. Rio-Grandense em 1937. Identificados o goleiro Brandão, Osni Ballester, Carruira, o técnico Gentil Cardoso de quepe e farda e seu filho o primeiro em pé. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)