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segunda-feira, 6 de julho de 2009

F.B.C. Rio-Grandense, um "guri" de 100 anos (6)

Em 1941 aconteceu um dos fatos mais inusitados da história do futebol de Rio Grande. As relações entre os clubes locais estavam um tanto estremecidas há cerca de dois anos. Para apaziguar a situação, a Liga organizou um torneio com as participações de Rio-Grandense, São Paulo e Rio Grande denominado “Taça da Confraternização”.

Após os primeiros jogos, Rio Grande e São Paulo chegaram à final. Depois de uma disputa acirrada, com sucessivos empates, chegou-se a conclusão que era impossível declarar um vencedor. Como nenhum dos dois times abria mão do troféu, a solução encontrada foi declarar as duas equipes campeãs. Assim, com o objetivo de serenar os ânimos e acalmar as torcidas e os dirigentes, a taça foi dividida ao meio e cada um dos times recebeu a metade. Ao final da competição foram restabelecidas as relações esportivas entre os degladiantes.

Nesse ano o Botafogo carioca excursionou ao México e junto foi o goleiro Brandão, campeão gaúcho pelo Rio-Grandense. Logo em seguida, o zagueiro Osny Ballester foi para o América do Rio, levado por Gentil Cardoso, numa época em que o “diabo rubro” dividia as preferências da elite carioca com o Fluminense. Osny chegou a ser considerado o segundo melhor zagueiro do país, só não sendo o primeiro porque havia Domingos da Guia.

Osny tornou-se um dos xodós da sociedade carioca, especialmente da ala feminina. Transitava no “grand-monde” da então capital do país com a mesma elegância e desenvoltura com que dominava os gramados, formando a famosa zaga Osny-Gritta, este um do primeiros argentinos a jogar em time brasileiro.

Naquele ano o time base do Rio-Grandense era: Nobre – Osny Ballester e Rui – Hermes - Holmes e Martins – Oscar – Carruíra – Heitor - Chinês e Cleto.

Em 1943 o Rio-Grandense formava com: Fernando - Cleto e Nazir – Canário - Mariano e Cacato – Sorro – Oscar – Manoelzinho - Edemir e Mascarenhas.

Em 1946 o Rio-Grandense voltou a brilhar no cenário esportivo gaúcho, quando foi vice-campeão. A campanha teve início no dia 29 de setembro, quando pela fase regional eliminou o Brasil de Pelotas, com vitória de 1 X 0 e empate em 3 X 3.

Depois, em 15 de outubro o Rio-Grandense ganhou do Novo Hamburgo por 3 X 1. Em 19 do mesmo mês empatou em 1 X 1 com o Grêmio Santanense, no tempo normal e venceu por 1 X 0 na prorrogação , conquistando o titulo de campeão do interior e ganhando o direito de enfrentar o Grêmio F.B. Portoalegrense, na grande final. Em razão do Campeonato Brasileiro de Seleções, a decisão ficou para o início de 1947.

No dia 23 de março de 1947 no primeiro jogo da final, em Rio Grande, o Grêmio venceu por 3 X 2. No segundo jogo, dia 30 de março no Estádio da Timbaúva, em Porto Alegre, nova vitória tricolor, desta vez por 6 X 1. O Grêmio foi campeão com: Júlio - Clarel e Joni – Nidesberg - Touginha e Sanguinetti – Cordeiro – Beresi – Santana - Segura e Hélio. O F.B.C. Rio-Grandense foi vice-campeão gaúcho com: Nico (Paulinho) - Galego (Quida) e Rui - Vicente - Junção e Quida (Canhoto) - Patinho (Melado) - Heitor (Patinho)- Severo - Cleto e Galego (Moacir).

Os jogadores Galego e Severo, destaques do F.B.C. Rio-Grandense chamaram a atenção de clubes do centro país. Galego foi contratado pelo Botafogo, do Rio de Janeiro e depois ainda jogou em São Paulo, encerrando a carreira na A.A. Ponte Preta, de Campinas. Severo foi levado pelo ex-técnico do F.B.C. Rio-Grandense, Gentil Cardoso, para o Corinthians Paulista. Chegou a ser convocado para alguns jogos da Seleção Brasileira.

Severo Carúcio de Oliveira, ou simplesmente Severo, nasceu em Pelotas. Foi bi-campeão de Rio Grande em 1946/1947 e vice-campeão estadual nesses dois anos, defendendo o F.B.C. Rio-Grandense.

No dia 1º de maio de 1950, data dedicada ao “trabalho”, o F.B.C. Rio-Grandense realizou um jogo amistoso no antigo Estádio Torquato Pontes, contra o C.R. Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, na época um time quase imbatível, base da seleção brasileira. Graças a uma atuação espetacular, o time local conseguiu arrancar um honroso empate em 3 X 3. O Rio-Grandense jogou com Nico - Francisco e Rui Santos - Ramão - Ávila e Ferro - Cerrone - Chiquinho - Ivo - Cleto e Quida (Polaco).

E bem perto dali, na avenida Rheingantz realizavam-se as comemorações do Dia do Trabalho, que foram marcadas por graves acontecimentos envolvendo operários, líderes sindicais, políticos e polícia, gerando um grande conflito, que culminou com mortos e feridos. Segundo a polícia, era intenção dos manifestantes se dirigirem até a sede da União Operária, fechada por ordem do Ministério da Justiça, e abrir à força a referida sociedade, num ato de violência contra as ordens das autoridades constituídas.

Nas proximidades do cemitério os manifestantes foram interceptados pelo delegado Ewaldo Miranda, da Ordem Política e Social, e pelo tenente Gonçalino Carvalho, da Brigada Militar, que fizeram ver aos promotores da passeata a necessidade de ser a mesma dissolvida, já que tais manifestações estavam proibidas.

Surgiu então o conflito, que resultou nos graves e dolorosos acontecimentos que tingiram de sangue e encheram de luto a data máxima dos trabalhadores riograndinos naquele ano. De revólver em punho, autoridades e manifestantes estabeleceram cerrado tiroteio, que culminou com a morte de quatro pessoas e ferimentos em seis outras. Os mortos foram o soldado Francisco Reis, o ferroviário Oswaldino Corrêa e os operários Euclides Pinto e Angelina Gonçalves. Entre os feridos, o vereador Antônio Rechia, que, embora operado na mesma noite na Beneficência Portuguesa, ficou paraplégico.

Na segunda-feira, dia 2, os dois jornais de circulação diária – “Rio Grande” e “Gazeta da Tarde” publicaram portaria do delegado de Polícia, Ibory Krause, proibindo "todas e quaisquer reuniões públicas, quer a céu aberto, quer sob teto".

Além do jogo contra o Rio-Grandense, o Vasco se apresentou em outras cidades gaúchas, com estes resultados: 16-04, em Porto Alegre, Renner 0 X 5 Vasco da Gama; 20-04, em Pelotas, Pelotas 2 X 2 Vasco da Gama; 23-04, em Rio Grande, São Paulo 1 X 4 Vasco da Gama; 30-04, em Rio Grande, Rio Grande 4 X 4 Vasco da Gama; 06-05, em Porto Alegre, Renner 2 X 3 Vasco da Gama e dia 07-05, em Novo Hamburgo, Floriano 1 X 1 Vasco da Gama. (Pesquisa: Nilo Dias)

Atletas do F.B.C. Rio-Grandense no refeitório do clube. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)