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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

C.A. Peñarol, um gigante adormecido (01)

Quem acompanha futebol sabe que o Club Atlético Peñarol de Montevidéu já foi um dos clubes mais poderosos de todo o mundo. É detentor de três títulos mundiais, cinco Taças Libertadores da América e 47 títulos nacionais, além de ser o maior fornecedor de craques para a Seleção do Uruguai, duas vezes vencedora da Copa do Mundo e detentor da maior torcida do país.

O time da tradicional camisa amarela e preta mais uma vez ficará fora da Taça Libertadores da América, ano que vem, pois não foi além de um modesto sétimo lugar no último Campeonato Uruguaio. Não conseguiu nem mesmo disputar o playoff que apontou os dois representantes uruguaios na competição: o Cerro ficou com a vaga na fase de grupos, e o Racing vai disputar a Pré-Libertadores. O Nacional, atual campeão, já estava garantido na fase principal. E o pior, o Peñarol está fora até mesmo da Copa Sulamericana.

O último e único título de expressão nacional conquistado pelo clube no século XXI foi o campeonato uruguaio de 2003. O Peñarol ficou fora das últimas quatro edições da Libertadores da América, o que lhe custou, depois de 49 anos a perda do posto de maior pontuador da competição para o River Plate da Argentina, que tem sete participações a menos, embora venha de 15 disputas consecutivas.

Este ano, o Peñarol participou da fase Pré-Libertadores, mas foi eliminado pelo Independiente Medellín, da Colômbia. Antes, a última participação tinha sido em 2005, quando também não conseguiu chegar à fase de grupos, eliminado pela LDU.

Foi em 1958 no Rio de Janeiro que surgiu a idéia da realização da Copa Libertadores da América. O primeiro campeão em 1960 foi o Peñarol. Oito times disputaram o titulo: Bahia; Jorge Wilstermann, da Bolívia; Milionários, da Colômbia; Olímpia, do Paraguai; San Lorenzo, da Argentina e Universidad do Chile. Para ser campeão o time uruguaio disputou 7, das 13 partidas jogadas, tendo marcado 13 gols e sofrido 5.

No dia 19 de abril de 1960 no Estádio Centenário em Montevidéu, o Peñarol ganhou do time boliviano Jorge Wilstermann por 7 X 1 diante de 35 mil pessoas. O peruano Spencer que defendia o time uruguaio marcou 4 gols. A participação do time brasileiro foi bem discreta. Perdeu a primeira fora e ganhou a segunda em casa do San Lorenzo por 3 X 2, o que não foi suficiente para prosseguir na competição.

O ponteiro-esquerdo Carlos Borges, do Peñarol foi quem marcou o primeiro gol da Copa Libertadores da América. Foi no dia 19 de abril de 1960, no gramado do Estádio Centenário. O relógio marcava 12 minutos do primeiro tempo do jogo entre Peñarol e Jorge Wilstermann, quando Borges aparou um rebote e disparou contra o arco do time boliviano, anotando o primeiro gol da goleada de 7 X 1.

Hoje, o clube vive das lembranças de um passado glorioso. Quem quiser revivê-las, pode visitar o Museu do Clube Atlético Peñarol, que fica aberto às sextas e sábados, das 13h30 às 17h30. Ou o Museu do Futebol, no estádio Centenário, que abre de quarta a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados e domingos, das 9h30 às 17h30.

O Peñarol jogou aquela partida com Luis Maidana - William Martínez - Milton Alves Da Silva (Salvador, ex-jogador do Internacional-RS) - Santiago Pino - Néstor Goncalves - Walter Aguerre - Luis Cubilla - Carlos Linazza - Juan E. Hohberg - Alberto Spencer e Carlos Borges. O artilheiro da competição foi Alberto Spencer, do Peñarol, com sete gols. Borges anotou apenas dois, justamente na goleada da estréia.

As raízes do Club Atlético Peñarol remontam a julho de 1890, quando a empresa inglesa Central Uruguay Railway Company (Ferrocarril Central del Uruguay) adquiriu 17hectares de terra a dez quilômetros de Montevideu, num local que se chamava Peñarol, para ali erguer as suas novas instalações. Sabe-se que muito tempo antes se instalara no local um agricultor italiano de nome Pedro Pignarolo (que em castelhano lê-se piñarolo). Com o tempo, o nome foi sendo moldado pelos locais, dando origem ao chamado “pueblo de Peñarol”.

A empresa começou a funcionar em 01 de maio de 1891, quatro meses antes da fundação do clube. Em 1891, Mister Roland Moor, presidente da companhia, decidiu criar uma instituição desportiva, destinada à prática do futebol, a que deu o nome de Central Uruguai Railway Cricket Club, o CURCC, sendo suas cores, o preto e amarelo da empresa ferro carril.

Em 28 de setembro daquele ano, as 8 horas da noite, se juntaram nas oficinas da empresa quinze desportistas para começar a grande história de fundação do novo clube. Após duas horas de discussão, se formou o Conselho Diretivo com oito membros, sendo eleito presidente o senhor Frank Henderson, que era gerente da empresa.

O novo clube foi batizado com o nome de CURCC (abreviação de Central Uruguay Railway Cricket Club), contando com 118 sócios fundadores, dos quais somente 45 eram uruguaios.

A primeira partida do CURRC ocorreu em 1892 contra a equipe do colegio English High, com vitória por 2 X 0. Neste mesmo ano o novo clube enfrentou o Albion, que seria durante anos o seu maior rival no futebol uruguaio.

O ano de 1900 marcou a fundação da The Uruguay Association Football League, que depois mudou a denominação para AUF (Associacion Uruguaya de Fútbol). O CURRC seria um dos fundadores ao lado de Albion Football Club, Uruguay Atletic Club e Deutscher Fussball Klub. O o primeiro presidente da Liga foi o desportista Percy D. Charter.

Nesse mesmo ano foi disputado o primeiro campeonato Uruguaio com os clubes fundadores, tendo o CURRC se sagrado campeão invicto, com 6 jogos, 6 vitórias, 36 gols a favor e 2 contra. A estréia do CURRC foi contra a equipe do Albion e vitória por 2 X 1. O Peñarol formou com Fabre - de los Ríos e Buchanan – Ward - Mazzucco e Davies – Pena – Acevedo – Lewis - Camacho e Jackson.

Em 13 de dezembro de 1913 aconteceu uma histórica assembléia que mudou a historia do clube e gera muita polêmica até hoje: qual a data que verdadeiramente deve ser oficialmente a de fundação? Em 28 de setembro de 1891 ou 13 de dezembro de 1913? É o que os uruguaios chamam de “decanato”. Quando o clube foi fundado com o nome de CURRC, existiam dois tipos de sócios - os trabalhadores e dependentes da empresa de Ferrocarril, que podiam votar e ser votados para os cargos de diretoria, e os não trabalhadores que não tinham voz nem voto.

Na assembléia ficou decidido que não mais haveria distinção de sócios. Durante os debates surgiu a idéia de mudança do nome do clube, que foi aceita sem contestação. O CURRC deixou de existir, nascendo o C.A. Peñarol, uma homenagem ao vilarejo onde a agremiação deu seus primeiros passos. O novo nome foi oficializado em 12 de março de 1914.

Em 1918 o Peñarol montou uma equipe formada por grandes valores do futebol, que poderia medir forças com qualquer adversário no mundo. O histórico onze formava com Roberto Chery - José Benincasa e Pedro Rimolo (Alfredo Granja) - Juan Pacheco - Juan Delgado e J.Delacroix - José Perez - Armando Artigas - José Piendibene - Isabelino Gradín e Antonio Campolo. A conquista do torneio nacional desse ano acabou com a supremacia do Nacional que vinha de um tri-campeonato.

Essa década de 1910 ficou marcada pelo surgimento dos primeiros grandes jogadores do Peñarol, como Juan Pena, Mazzucco, Los Camacho, Mañana, Isabelino Gradín, Acevedo e o elegante José Piendibene, que, grande goleador, nunca festejava os seus gols por respeito aos adversários. Em meados dos anos 10 também nasceu a grande rivalidade, que permanece até hoje entre os dois maiores clubes do Uruguai: Peñarol e Nacional, “os Monstros de Montevidéo”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Peñarol, em 1900 (Foto: Acervo do C.A. Peñarol)