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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Para haver punição a vítima tem que ser medalhão

O responsável epelo blog publica este artigo por considerá-lo apropriado para o momento.

Por Gerson Sicca
http://limponolance.blogspot.com

Há muitas mentiras sobre o Brasil. Afinal, só um universo de mentiras pode manter uma sociedade tão desigual.

Uma mentira muito difundida é a de que o povo brasileiro é bom e solidário.
Uma ficção. Os brasileiros são humanos, com qualidades e defeitos, parecidos e diferentes entre si, como todos os povos, e criados em uma sociedade que aceita a crueldade alheia com imensa naturalidade.

É certo que relações de solidariedade são fortes no âmbito familiar e em grupos mais próximos (vizinhos, turma do futebol, etc), além das situações extremas de intenso sofrimento, como nas catástrofes. No entanto, no geral, quando se trata de avaliar o significado do que ocorre no seio da sociedade, o brasileiro raramente consegue pensar para além da sua esfera privada. Aliás, isso é comum no homem médio.

Pessoas morrem de fome, corruptos deitam e rolam no Poder Público, violência para todos os lados, contra a mulher, pobres, negros, homossexuais, trabalhadores, sistema prisional grotesco, e a maioria do povo nem está para tudo isso. Escandaliza-se com um fato aqui e ali, mas logo volta para a sua novela. Reclama do político e segue votando em quem compra voto, e por aí vai.

E nessa terra de "se a farinha é pouca, meu pirão primeiro", o povo costuma gritar mais alto sempre quando o andar superior sente-se lesado. Aí todo mundo fala e até o oprimido quer defender o opressor, ainda que muitas vezes por falta de informação. Por outras vezes, defende mesmo por ter uma visão de que a estrutura desigual deve mesmo ser mantida.

Por que falo de tudo isso? Por causa de Carlos Simon.

Já vi erros grosseiros de Simon. Erros mesmo, o roubo clássico. Erros sem explicação. O maior deles na final da Copa do Brasil de 2002, entre Corinthians e Braziliense, quando ele não deu um pênalti claro para o time de Brasília e ignorou uma falta absurda no lance de um dos gols do time paulista, tudo isso na primeira partida da final. Mas nenhum de seus "apitaços" deu tanta repercussão quanto o lance de domingo, no jogo entre Flu e Palmeiras.

Até pode ser que Simon tenha errado. Mas vendo com atenção percebe-se que Obina joga o braço para trás para impedir a antecipação do zagueiro tricolor. Logo, perfeitamente poderia ser marcada a falta, ainda mais no Brasil, onde os árbitros marcam qualquer coisa.

Mas o Palmeiras berrou e a Comissão de Arbitragem correu para socorrer o alviverde. Afastou Simon.

Estranho que os erros crassos de Héber Roberto Lopes na primeira partida da final da Copa do Brasil deste ano não tenham obtido a mesma repercussão. Um pênalti claro em Alecsandro aos 7 do primeiro tempo, quando o placar de Corinthians e Inter estava 0 a 0, e o segundo gol dos paulistas feito depois do jogador cobrar a falta com a bola rolando, bem na frente do árbitro.

Agora todo mundo fala, o Presidente do Palmeiras, imprensa, jogadores e quem mais tiver cordas vocais. Repercussão nacional.

E fica assim. O brasileiro não se irrita com o roubo, com a violência, com a falta de caráter. Ele foi criado na desigualdade e treinado para reproduzi-la. O brasileiro irrita-se quando os efeitos negativos da bizarrice nacional atingem o piso superior. Ninguém se indigna pelo ato em si, mas por quem foi afetado.

E assim continuamos. Julgamos conforme a vítima e o réu, e não pelo significado dos atos. O que nos interessa é manter a desigualdade e evitar que os afortunados sofram com as consequências nefastas, decorrentes do país cruel que nossos ancestrais criaram e que mantemos todos os dias com nosso comportamento na rua, na política, no trabalho e nas relações afetivas.

O Brasil tem uma sociedade civil que não se funda na igualdade, na liberdade e na ética.É o salve-se quem puder. E seguimos defendendo a desigualdade.

Por isso, se o Palmeiras berrar todo mundo vai acudir. Agora, se o reclamante tiver menos prestígio, será apedrejado e ridicularizado, embora vergonhosamente roubado.

Em suma, a Comissão de Arbitragem é Brasil!

OBSERVAÇÃO: E como ficam os "enganos" (será, mesmo?) que se verificam a cada rodada do Brasileiro, Séries A ou B. Os pênaltis não marcados para o Grêmio contra o São Paulo. O escândalo do jogo São Paulo X Barueri. O assalto "a mão desarmada" contra o Campinense, no jogo com o Vasco da Gama, o clube que teve mais pênaltis a seu favor em todo o Brasil, nos últimos anos, a maioria inventados. E por ai vai, é um campeonato altamente suspeito que procura beneficiar times do Rio e São Paulo. E o resto que se dane. (Nilo Dias)