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sexta-feira, 9 de julho de 2010

O craque das luvas pretas (I)

A figura de João Alves, um dos grandes jogadores do futebol português em todos os tempos ficou marcada não só pela sua habilidade, mas também pela forma que encontrou para se notabilizar: usava sempre umas luvas pretas, com o objetivo de homenagear o seu avô, Carlos Alves, seu grande ídolo, que nos anos 20 jogou no Carcavelinhos e no F.C. do Porto. Por isso os torcedores e a imprensa logo o apelidaram de “Luvas Pretas”.

Nasceu no dia 5 de dezembro de 1952, em Albegaria-a-Velha, Portugal. Começou a carreira nos juniores do Sanjoanense, de São João da Madeira, para onde foi levado pelo avô, Carlos Alves. Em 1969 foi para as categorias de base do Benfica. Em fins de 1970, quando chegou a maior idade, João Alves foi emprestado ao Varzim, de Póvoa do Varzim, onde também se destacou. Ao começo de 1973, o então técnico do Benfica, o inglês Jimmy Hagan pediu seu imediato regresso ao clube, onde atuou ao lado de verdadeiros monstros sagrados como Simões e Eusébio.

E foi precisamente por um desentendimento com Simões, durante o jogo de despedida de Joaquim Santana, em Freamunde, que teve de sair do Benfica. Seu novo endereço foi o Clube Desportivo Montijo, que pagou 600 contos de réis. Ficou por lá apenas na temporada 1973/1974. O Montijo disputou a 1ª Divisão e João Alves teve a oportunidade de mostrar toda a categoria de um médio fantástico, de classe inimaginável, marcador de gols incríveis e líder da equipe.

Não demorou a chamar a atenção dos dirigentes do Boavista, da cidade do Porto, para onde se transferiu na temporada 1974/1975. José Maria Pedroto, treinador da equipe conhecia profundamente as potencialidades do jogador. Insistiu na sua contratação e por 1.500 contos pagos pela transferência ao C.D. Montijo, João Alves reforçou a equipe “axadrezada”.

Foi no Boavista F.C. que João Alves “explodiu” definitivamente para o futebol português. As suas exibições tornaram-no a maior figura da equipe e o maior ídolo da torcida. Rapidamente, também toda a imprensa esportiva o considerava como um dos melhores jogadores portugueses. Apesar dos muitos gols que fazia, sua principal função no time era municiar a terrível dupla de atacantes, Mané e Salvador.

Em 1974 participou de 30 jogos e foi o segundo maior artilheiro do Boavista, com 11 gols. A equipe ficou em 4º lugar no campeonato e venceu a Taça de Portugal. O jogo final foi na noite de 14 de Junho de 1975, no Estádio José de Alvalade em Lisboa, entre o Boavista F.C. e o S.L. Benfica. João Alves teve a oportunidade de vingar-se de seu ex-clube. Sua equipe venceu por 2 X 1, levantando o troféu em disputa. Segundo os comentários da imprensa na época, João Alves fez naquela noite uma das melhores exibições de toda a sua vitoriosa carreira, tendo marcando o gol da vitória. Nessa temporada foi distinguido pelo CNID como o futebolista português do ano.

Seu futebol de categoria fez com que fosse convocado para a Seleção de Portugal, para um jogo amistoso contra a Suíça, em Berna no dia 13 de novembro de 1974. Em 1975 o Boavista foi vice-campeão nacional e João Alves o goleador do time com 15 gols, em 29 jogos disputados. Em 1976 o Boavista F.C. repetiu a conquista da Taça de Portugal, dessa vez derrotando no jogo final ao Vitoria S.C., no Estádio das Antas, por 2 X 1. E mais uma vez o médio João Alves voltou a desempenhar um papel de destaque, realizando uma excelente exibição.

Ao final de 1976 a qualidade futebolística do jogador já tinha ultrapassado as fronteiras do território nacional. O Paris Saint Germain e o Olympique, de Marselha mostraram interesse na sua contratação. Mas quem ganhou a disputa foi o U.D. Salamanca, da Espanha, que havia subido para a 1ª Divisão Nacional, e pagou por seu passe cerca de12 mil contos de réis.

João Alves foi um dos primeiros jogadores portugueses a ter sucesso no exterior. Já no primeiro ano, suas grandes atuações fizeram com que fosse considerado por dois jornais de peso, “Marca”, de Madrid e “El Mundo Deportivo”, de Barcelona, o melhor estrangeiro jogando no país,superando uma concorrência do nível de Cruyff, do Barcelona, Kempes, do Valência e Breitner, Real Madrid. Até hoje é venerado pelos torcedores do clube, e considerado o melhor jogador do Salamanca em todos tempos. Em 1977 o Real Madrid tentou contratá-lo, mas sua vontade de retornar a Portugal falou mais alto.

Em 1978, depois de uma polêmica transferência, que envolveu até a Assembléia da República, em virtude das divisas que saiam do país, estava de volta ao Benfica, onde ficou apenas uma temporada e foi emprestado ao Paris Saint Germain. Mas não teve sorte. Logo no seu terceiro jogo teve uma das pernas quebradas, numa entrada duríssima do jogador Genghini, do F.C. Sochaux, da França. Teve de ficar cinco meses parado.

Ficou na França até meados de 1980, quando voltou ao Benfica. Dessa feita pode mostrar a sua categoria e classe, contribuindo decisivamente para a conquista do título de 1981, com um gol antológico. João Alves fez parte da chamada “equipe dos sonhos”, treinada pelo sueco Sven Goran Eriksson, que contava com craques como Bento, Pietra, Humberto, Carlos Manuel, Sheu, Stromberg, Chalana, Diamantino, Filipovic e Nenê. Esse timaço foi campeão nacional de 1983?1984e chegou a final da Taça UEFA.

Na temporada de 1984/1985, desentendeu-se com o técnico Sven Goran Eriksson, que não o chamou para os jogos finais da Taça UEFA, contra o Anderletch, por ter chegado a atrasado a um treino. Então rescindiu o contrato com o Benfica e retornou ao Boavista. Foi o regresso do ídolo da massa associativa dos “axadrezados”. O FC Porto chegou a se interessar na sua contratação. Contudo, desta feita, o celebre pacto de não agressão estabelecido entre Benfica e Porto, afastou o “Luvas Pretas” da rota do Estádio das Antas. Seu destino foi mesmo o Boavista, muito por influência do major Valentim Loureiro, seu amigo pessoal e sócio numa empresa de material esportivo.

Na temporada de 1984, treinado por Henrique Calisto, João Alves, com 31 anos de idade, cheio de experiência, foi um jogador preponderante do Boavista, que se classificou em 7º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Participou de 29 jogos e fez 3 gols. O ano de 1985 foi o último de João Alves como jogador, e o primeiro como treinador.

No dia 9 de Março de 1985, quando da 21ª rodada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, depois de uma derrota em casa para o Vitoria de Setúbal por 2 X 0, o presidente do Boavista F.C., major Valentim Loureiro, desanimado com o desempenho do time, demitiu o técnico Mário Wilson e convenceu João Alves a assumir o comando da equipe até o final da temporada.

Com apenas 32 anos de idade estava encerrada a carreira futebolística de um dos melhores jogadores que Portugal conheceu em toda a sua história. O Boavista melhorou significativamente de produção, conseguindo a proeza de ainda conquistar um 4º lugar, classificando-se para a Taça Uefa. (Pesquisa: Nilo Dias)