Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O jogador que virou canção

Nos tempos românticos em que o Rio de Janeiro era uma cidade boa de se viver, em todos os sentidos, o futebol tinha uma outra magia. Os clubes representavam bairros e vilas e os jogadores tinham amor a camisa que vestiam. Tudo bem diferente de hoje, quando o crime organizado está presente em todos os lugares e o futebol vive em torno de dinheiro. Ninguém mais joga porque tem alguma afinidade com o time. E ninguém tem mais tranqüilidade para sair de casa.

Inspirado nesse romantismo do passado é que em 2003 o compositor carioca Nei Lopes compôs a música “Tempo de Dondom”, que dizia: “No tempo em que “Dondom” jogava no Andarahy/ a nossa vida era mais simples de viver/ Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi..." A canção, interpretada por Zeca Pagodinho e depois por Dudu Nobre, resgatou uma agremiação de suma importância para a popularização do futebol brasileiro, o Andarahy Athletico Club.

A música foi um grande sucesso em todo o Brasil. O personagem, “Dondom” se tornou nacionalmente conhecido através da novela “Celebridade”, levada ao ar pela Rede Globo de Televisão. O cenário era o bairro do Andaraí, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. De repente todo mundo queria saber quem era “Dondom”, se realmente existiu ou era apenas um personagem fictício.

“Dondom” foi um zagueiro de verdade, que defendeu o time do Andarahy Athletico Club de 1932 a 1938. Em momento algum da carreira chegou a se constituir num jogador brilhante, embora suas atuações fossem convincentes. O Andarahy, que não era um clube grande, em toda a sua existência teve um único jogador que poderia ser chamado de craque: Chiquinho.

Ele jogou nas primeiras décadas do século passado. Era dono de uma habilidade incomum e goleador emérito. Não demorou para chamar a atenção pela genialidade de suas jogadas. Naquela época o futebol ainda sofria com a discriminação racial. Os brancos predominavam nas equipes e as grandes jogadas protagonizadas por negros ou mulatos, não recebiam a merecida valorização. Só por isso Chiquinho, com traços negros claramente marcados, não entrou para a história, como um dos grandes jogadores que passaram pelo futebol carioca.

Os colunistas esportivos dos jornais da época não admitiam que jogadores vindos dos clubes de bairros pobres representassem a cidade e muito menos o país. Por isso não eram convocados. A simples presença de negros em um selecionado nacional era, para a imprensa, motivo de chacota, o que rendia corriqueiras piadas sobre esses jogadores.

O Andarahy Club foi fundado no dia 9 de novembro de 1909. Era um clube formado por operários e um dos poucos que admitiam negros em suas fileiras. Seu campo se localizava na rua Prefeito Serzedello Correa, atual rua Barão de São Francisco no bairro que dá nome ao clube, na Zona Norte da cidade. Tinha capacidade para aproximadamente 5.000 pessoas. Durante muitos anos a GRES Unidos de Vila Isabel, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, utilizou o local para a realização de seus ensaios.

Em 1962 o campo foi comprado pelo América Futebol Clube para a construção de um estádio, rebatizando-o de Volney Braune. Em 1996, o terreno foi vendido por US$ 13 milhões. No lugar foi erguido o Shopping Iguatemi Rio, inaugurado em outubro daquele ano. Em troca, a mesma construtora do empreendimento ergueu um moderno estádio para o América em Edson Passos, na Baixada Fluminense.

As cores do Andarahy eram o verde e o branco. Durante a história, o clube alternou dois uniformes: camisa inteiramente verde e calções brancos e camisa listrada na vertical alviverde e calções brancos.

O clube disputou o Campeonato Carioca da Segunda Divisão, por duas vezes, sagrando-se campeão (1915 e 1925); Campeão Carioca de Juniores (1928); Vice-Campeão Carioca de 1934, perdendo no jogo final por 2 X 1 para o Botafogo, que foi campeão. Bianco marcou o gol do Andarahy; Campeão do Torneio Início da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres - LMDT (1924); Campeão Carioca de 2°s quadros da Segunda Divisão (1913 e 1914).

Ao todo, o alviverde disputou 20 campeonatos cariocas (1916, 1917, 1918, 1919, 1920, 1921, 1922, 1923, 1925, 1927, 1928, 1929, 1930, 1931, 1932, 1933, 1934, 1935, 1936 e 1937). Uma das últimas escalações do Andarahy foi esta, num jogo contra o Vasco da Gama, em 1936: Ruy – Lino – Dondom – Pacuera – Babi – Romualdo – Estanislau – Popó – Veranotti – Chagas e Ismael

O Andarahy foi contra o profissionalismo e resistiu até a década de 1950, praticando o futebol apenas como esporte amador nos campeonatos do Departamento Autônomo de Futebol do Rio de Janeiro. A extinção total do clube foi em 1973, até então funcionando somente a sua sede social, na Rua 28 de Setembro, bairro de Vila Isabel.

Mesmo passados 73 anos desde que extinguiu o futebol, o Andarahy não ficou no esquecimento. Sua trajetória está marcada com o nome de “Largo Dondom do Andaraí”, na confluência das ruas Barão de Mesquita com Rua Gomes Braga. Em 2004, o programa televisivo da Rede Globo, “Esporte Espetacular” fez uma matéria sobre o imortal Dondom, em que foram mostradas fotos antigas do jogador que virou canção. (Pesquisa: Nilo Dias)

O antigo estádio do Andarahy Athletico Club.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Os órfãos da mineradora

A privatização da Companhia Vale do Rio Doce em 1997 deixou dois times órfãos: o Valeriodoce Esporte Clube, de Itabira (MG) e a Desportiva Ferroviária, de Vitória (ES). Quando a empresa foi vendida pelo governo, ela parou de contribuir para o clube, mas entregou-lhe de presente o estádio Israel Pinheiro, no Bairro da Penha, em Itabira, com capacidade para 8 mil torcedores, onde manda seus jogos.

Com a perda de subsídios, os dois lubes passaram a enfrentar dificuldades financeiras. O time mineiro foi rebaixado para a segundona estadual em 2000 e até hoje não conseguiu voltar a primeira divisão.

O Valeriodoce foi fundado em 22 de novembro de 1942, por funcionários da empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce, na cidade de Itabira, onde a empresa mineradora foi criada. O nome vem da junção da patrocinadora: VALE (do) RIO DOCE. As cores escolhidas foram camisa vermelha, calção branco e meias brancas.

A relação do time, torcedores e empresa sempre sofreu altos e baixos. Pela importância e tamanho da CVRD, cobrou-se durante muito tempo um apoio financeiro maior para o time, que chegou a disputar as Séries B, em 1988 e 1989 e a C em 1994 e 1995 do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Os títulos mais importantes conquistados pelo clube foram estes: Campeão Mineiro da Segunda Divisão (1965); Vice-Campeão Mineiro da Segunda Divisão (2003); Torneio Início do Campeonato Mineiro (1962 e 1959); Campeão Mineiro do Interior (1971); Torneio Incentivo (1980); Campeão Mineiro de Juniores (1986 e 1989). O Valeriodoce Esporte Clube foi o primeiro clube do interior, na era do “Mineirão”, a ter um artilheiro do estadual, Luiz Alberto com 12 gols, em 1978.

Fernando Pieruccetti, o “Mangabeira”, foi o chargista que criou os principais mascotes mineiros. Ele escolheu para o Valeriodoce a ave “Ferreiro” ou “Araponga”. Mais tarde o clube resolveu adotar o “Dragão” como símbolo. Foi uma homenagem a locomotiva "Maria Fumaça", que era chamada de "Dragão", devido à fumaça que soltava.

Um dos grandes feitos da história do Valeriodoce foi uma vitória frente o Botafogo, do Rio de Janeiro. Foi no domingo, 17 de fevereiro de 1957, que aconteceu o amistoso entre os dois times. O estádio lotou completamente, mesmo com o ingresso custando Cr$ 80.00. O clube carioca jogou completo, colocando em campo seus grandes craques como Didi, Nilton Santos, Bauer, Garrincha, Amauri, Canête, Orlando e outros.

O placar foi 2 X 1 para o VEC, construído por gols históricos de Nino e Vitorino. Rossi descontou para o Botafogo. Alguns acusaram a forte chuva que caiu durante todo o jogo como responsável pelo resultado inesperado. Outros consagraram a grande vontade e raça do time mineiro, que nesse dia fez uma grande apresentação.

Durante o governo do prefeito Olímpio Pires Guerra (1993-1996), a empresa doou à Prefeitura o Valeriodoce de presente, sem as condições para manutenção do clube. Ela chegou a planejar, estudar e criar o Valério S.A., mas tudo ficou apenas no papel.

O jornalista José Sana, diretor da Revista “De Fato”, de Itabira, fez um dramático apelo ao poder público e população de Itabira, para que ajudassem o Valeriodoce a se manter vivo. Eis alguns trechos da matéria:

“Quando o clube pertencia a mineradora, esta é que indicava seus presidentes. A torcida costumava vaiar os jogadores e os chamava de “come-quieto”, porque recebiam da empresa salários de supervisor. Quando o Valério ganhou a independência, cresceu o número de torcedores.

A Prefeitura é a dona das instalações do Centro Esportivo Israel Pinheiro. Também a municipalidade tem o dever de zelar pelo nome da instituição. Prefeitura e Vale chegaram a subvencionar jogos do clube durante algum tempo, até que veio a proibição do poder público manter a ajuda.

Sabidamente, todo o dinheiro que a Prefeitura depositar na conta do Valeriodoce Esporte Clube será considerado ilegal. E mesmo se fosse permitido, os valores seriam abocanhados pela Justiça. Muita gente contesta essa decisão, dizendo que não são apenas as dívidas que o clube acumulou através dos anos, que impede seu crescimento: falta vontade política do prefeito”.

Já o outro “órfão” foi fundado em 17 de junho de 1963, como Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce, resultado da fusão de Vale do Rio Doce, Ferroviário, Cauê, Guarany, Valeriodoce e Cruzeiro, todos eles times formados por ferroviários da Companhia Vale do Rio Doce.

Como os funcionários ligados aos cinco clubes seguidamente solicitavam ajuda financeira a direção da empresa, esta deu a idéia de que todos se fundissem numa única agremiação. E para que isso fosse possível, a Companhia garantiu a construção de um estádio para o novo clube. Foi assim que surgiu o “Estádio Engenheiro Araripe” em 1966, localizado em Jardim América, um bairro de Cariacica, então com capacidade para 36 mil torcedores. Alencar de Araripe foi engenheiro da Vale do Rio Doce e morreu antes da construção do estádio.

O resultado não poderia ser outro. Com o apoio de uma grande empresa, como a Vale do Rio Doce, a Desportiva tornou-se o “bicho-papão” do futebol capixaba durante muitos anos. Além do patrimônio doado, a empresa também garantia as despesas de manutenção do estádio. A arrecadação do clube contava com as generosas contribuições sociais de milhares de ferroviários, descontadas em folha.

Quem sentiu o duro golpe de ter de enfrentar um rival poderoso financeiramente, foi o Rio Branco, o antigo “papa-títulos”. O clássico Desportiva X Rio Branco é chamado de “Derby Capixaba”. O outro grande rival é o Vitória. Os três formam o “Trio de Ferro Capixaba”, das equipes mais vencedoras do Estado.

A Ferroviária passou a empilhar títulos de campeão estadual, durante quatro décadas no Espírito Santo. Em contrapartida, o rival Rio Branco perdia espaço a cada ano. A Desportiva possui a segunda maior torcida entre os clubes capixabas. É conhecida como “Grená”, “Locomotiva” e “Tiva”. O mascote do clube é o “Maquinista”.

Um feito histórico na vida da Desportiva foi a série de 51 jogos invicto, a maior do futebol brasileiro até então, construida nos anos de 1967 e 1968. O recorde foi batido em 1977 pelo Botafogo, do Rio de Janeiro. Até hoje a Desportiva possui a terceira maior série invicta do futebol nacional.

O crescimento do clube o credenciou a disputar o Campeonato Brasileiro de 1973. Na tentativa de chamar para seus jogos um público maior, foi contratado o atacante “Fio Maravilha”, já em fim de carreira. O melhor resultado da Ferroviária no “Brasileirão” foi um 15º lugar em 1980, num campeonato de 80 times. Nesse certame o seu jogador Botelho, foi eleito o melhor atacante pela esquerda, ganhando uma “Bola de Ouro” da Revista “Placar”, até hoje fato único no futebol capixaba.

A Desporiva Ferroviária por duas vezes esteve bem perto de voltar à elite do futebol brasileiro: em 1994, foi eliminada nas semifinais pelo Goiás. E em 1998, chegou ao quadrangular final, mas quem subiu foram Gama (DF) e Botafogo, de Ribeirão Preto (SP).

A história vitoriosa da Desportiva começou a mudar quando a Vale do Rio Doce foi privatizada em 1996. Os novos donos retiraram todo o apoio ao time e ainda cobravam pelo uso do estádio. Começou então uma uma longa e árdua disputa envolvendo às lideranças locais, só terminando quando a empresa doou em caráter definitivo o estádio para o clube.

O “Engenheiro Araripe” é o principal estádio de futebol do Estado do Espirito Santo, com a sua capacidade atual estimada em 20 mil pessoas. O estádio foi inaugurado em 16 de janeiro de 1966, no jogo em que a então Desportiva Ferroviária perdeu para o América (RJ), por 3 X 0. O primeiro gol no estádio foi marcado por Roberto Almeida, da Desportiva, contra. A capacidade na época era para cerca de 36 mil pessoas. O recorde de público, 27.600 pagantes foi no jogo entre Flamengo 0 x 1 Vitória, em 1995.
Sem o auxilio financeiro de antes, a entidade enfrentou dificuldades de toda a ordem, dentro e fora de campo. Além de ver o título estadual ir para outros times, foi rebaixada para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro.

A Desportiva sempre revelou bons jogadores nas suas divisões de base. As duas principais revelações já vestiram a camisa da Seleção Brasileira: o meia Geovani e o ponta-esquerda Sávio. Ambos começaram nas escolinhas do clube. Geovani nasceu em Cariacica, bem perto da sede do Desportiva e foi lançado aos 16 anos no time profissional. É o maior ídolo da história do clube. Sávio deixou a Desportiva mais cedo, aos 14 anos, indo para o Flamengo, onde projetou-se a ponto de chegar à Seleção Brasileira.

Em maio de 1999 a Desportiva Ferroviária passou a ser um clube-empresa, atendendo exigências da Lei Pelé, vendendo 51% de suas ações para o grupo Frannel, de derivados de petróleo, e passando a chamar-se Desportiva Capixaba S.A. Foi o primeiro clube empresa do Espirito Santo. A promessa de colocar o clube na elite do futebol brasileiro não foi cumprida. Não demorou para que a Frannel saisse e o grupo Villa-Forte assumisse.

Em 2000 a Desportiva ganhou o Estadual, mas sofreu dois rebaixamentos na Série B do Brasileiro. Em 2007 voltou a série principal do “Capixabão”, ao vencer a “Segundona”. Em 2008 venceu a Copa Espirito Santo, em cima do rival Rio Branco, quando revelou o atacante Kieza, que teve passagens por Fluminense (RJ) e Cruzeiro (MG). Também contou com o reforço de Sávio, revelado pelo clube e ex-jogador do Flamengo e Real Madrid (Espanha). Em 2009 não passou da metade da tabela do “Capixabão”. Em 2010 foi rebaixado para a “Segundona”.

No dia 8 de abril deste ano, a 2ª vara Cível de Cariacica decidiu que o clube voltaria a se chamar Desportiva Ferroviária, em razão do Grupo Villa-Forte não ter pago as ações adquiridas. Com isso a Desportiva Capixaba ficou com apenas 10% das ações do clube, e a Ferroviária com 90%.

A Desportiva, que deveria disputar a Série B estadual deste ano se licenciou. Vai voltar as atividades em agosto, quando confirmou presença na Copa Espirito Santo.

Os principais títulos conquistados pela Desportiva Ferroviária foram: Campeonato Capixaba, (1964, 1965, 1967, 1972, 1974, 1977, 1979, 1980, 1981, 1984, 1986, 1989, 1992, 1994, 1996 e 2000); Taça Cidade de Vitória, (1966 e 1968); Torneio Início do Espírito Santo, (1967); Campeonato Capixaba da 2ª Divisão, (2007); Copa Espírito Santo, (2008); Taça Rio de Futebol Juvenil, (1995); Campeonato Capixaba de Juniores, (1995, 1997, 2001 e 2002); Copa Internacional Águia Branca de Futebol Juvenil, (2000); Copa Lázio, (2000); Copa Jornal Correio Popular Infantil, (2001); Campeonato Capixaba Juvenil, (2002) e Campeonato Capixaba Sub-15, (2010). (Pesquisa: Nilo Dias)

Carataz convidando para o jogo Valeriodoce X Botafogo, do Rio de Janeiro, em 1957.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Histórias de gandulas

Todo o mundo sabe que gandula é aquele garoto escalado para buscar a bola que é chutada para fora do gramado. E que o nome é uma homenagem a um antigo jogador argentino do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, de nome Bernardo Gandulla, que gostava de correr atrás da bola para devolvê-la, quando saía do campo. Isso contribuiu para que ganhasse a simpatia dos torcedores. Quando retornou para a Argentina, seu nome passou a ser referência para os que apanham as bolas que saem do campo. Mas foi a partir da inauguração do Maracanã, que jovens foram chamados para a função, e logo apelidados de gandulas.

Segundo o Regulamento Geral das Competições, elaborado pela CBF, o clube mandante deve disponibilizar seis gandulas para cada jogo. São obrigatoriamente maiores de 18 anos, assim como nos campeonatos estaduais. Eles ficam em pé devendo buscar a bola e com a maior rapidez e devolvê-la ao campo de jogo.

Quem pensa que o gandula se limita apenas a sua tarefa de recolocar a bola em campo o mais rápido possível, está enganado. Existem registros de várias cenas pitorescas envolvendo esses personagens. A mais famosa de todas, sem dúvida é aquela que aconteceu em 2006, no Estádio Leônidas Camarinha, em Santa Cruz do Rio Pardo, num jogo entre Santacruzense X Atlético Sorocaba, pela Copa Federação Paulista de Futebol

O time sorocabano vencia por 1 X 0 até os 44 minutos do segundo tempo, quando aconteceu o inesperado: houve um lance polêmico que ninguém sabia dizer se tinha sido gol ou não. Foi quando o gandula tocou a bola para dentro do gol. Alguém na arquibancada gritou gol e o auxiliar Marco Antônio de Andrade Motta Júnior correu para o meio do campo, tendo a árbitra Silvia Regina de Oliveira validado o gol.

A brincadeira do gandula custou caro para o seu clube, que foi multado em R$ 50 mil e perdeu o mando de campo por toda a copa, já que segundo a Federação Paulista a culpa foi do clube pelo ato do gandula. Mas o jogo não foi anulado.

Na partida Grêmio Osasco 3 x 2 Juventus, pelo Campeonato Paulista da Série A3 deste ano, o gandula Luiz Antônio da Costa foi expulso pelo árbitro Thiago Luis Scarascatiz, por ter extravasado na comemoração do gol da vitória do seu time. O árbitro colocou o seguinte na súmula do jogo:

“Informo que, aos 82 minutos, expulsei o gandula Luiz Antônio da Costa por comemorar a marcação do terceiro gol da equipe do Grêmio Esportivo Osasco, subindo no alambrado e dando cambalhotas na lateral do campo. Após a expulsão, o mesmo adentrou ao campo de jogo, se deitou no gramado, rolando e saindo correndo fazendo aviãozinho. O mesmo foi retirado pelos fiscais e exerceu resistência para sair de campo”.

O jogo Rio Preto 0 x 1 Corinthians,no Estádio Anísio Haddad, pelo Campeonato Paulista de 2008, foi decidido com um gol de Héverton, mas o personagem principal da partida esteve fora das quatro linhas. O gandula Leandro Augusto Ribeiro chamou a atenção por seu comportamento durante os 90 minutos de jogo. Usando luvas de goleiro, distribuiu carrinhos cinematográficos cada vez que corria para pegar as bolas que caiam fora do gramado.

E o gandula não perdeu tempo, tratou logo de aproveitar o seu momento de fama e deu entrevistas dizendo da vontade de trabalhar num clube grande de São Paulo. “Depois do “Paulistão”, nem sei que campeonato o Rio Preto disputará. Se um time grande quiser me contratar para o segundo semestre, podemos negociar”. Se a transação tivesse se consumado, seria a primeira vez na história que um gandula sairia de um clube para outro.

No Rio Preto, onde começou a atuar em 1999, ganhava entre R$ 25 (jogos com clubes menores) e R$ 30 (contra os times grandes). E ainda recebia um lanchinho com suco no intervalo. Como quase todo garoto, tentou ser jogador de futebol. A carreira de zagueiro do Automóvel Clube ele largou aos 17 anos. Na infância, brincava como goleiro.

Num jogo do “Paulistão” deste ano, o lateral Roberto Carlos, do Corinthians, fez um gol olímpico contra a Portuguesa de Desportos. Para o jogador, o lance deu certo por conta da rapidez do gandula Rafael Nonato, na reposição da bola. Reconhecendo o bom trabalho do rapaz, ao final do jogo Roberto Carlos o presenteou com sua camiseta.

A vida de gandula não é fácil. Alguns jogadores costumam descarregar sua ira contra els. O goleiro Fábio Costa já derrubou um gandula do Flamengo. Consta que no final do jogo pediu desculpas e deu uma camisa ao garoto. Pior fez o goleiro do Bonito, em jogo contra o Corumbaense, em abril de 2007, pelo Campeonato do Mato Grosso do Sul. Agrediu e levou a desmaiar um gandula com apenas 13 anos.

Pela Copa Libertadores de 2008 no jogo Flamengo X Nacional, de Montevidéu, a bola saiu pela lateral esquerda e um gandula retardou a devolução e foi agredido por Toró, que acabou expulso de campo. O goleiro Luiz Müller, quando jogava pelo Brasiliense foi expulso num jogo contra o Santa Cruz, do Recife por agressão ao gandula. Também o goleiro Clemer, no jogo Internacional x Vitória, em 2004, foi expulso pela mesma razão. O goleiro do Vélez Sarsfield, Gaston Sessa, no início deste, ano chutou fortemente uma bola contra um gandula.

Pela Copa do Brasil deste ano no jogo entre Avaí X Botafogo, aos dois minutos do acréscimo do segundo tempo, o gandula Deivid Dias atirou uma bola dentro do campo com a intenção de prejudicar o contra-ataque. Como não houve interferência na jogada a partida prosseguiu. Por esse motivo o gandula foi expulso.

Entre os gandulas mais famosos está o menino José Mourinho Júnior, de 10 anos de idade, filho do técnico José Mourinho, do Real Madrid. Quando do jogo Real Madrid 4 X 0 Getafe, realizado em maio deste ano pelo Campeonato Espanhol, ele atuou pela primeira vez como gandula do clube “merengue”. Segundo informações da imprensa espanhola, o menino, que é goleiro das categorias de base do clube Canillas, pareceu tranquilo e muito atento ao jogo, desde o aquecimento da equipe em campo.

O zagueiro italiano Fabio Cannavaro tem uma história, no mínimo, curiosa. Amante de futebol desde quando era muito novo, nasceu em 1993 e participou da Copa do Mundo de 1990, mas não como jogador. Aproveitando o fato de o Mundial ter sido sediado em sua terra natal, ele trabalhou como gandula da competição. Mal sabia o que o destino lhe reservava exatos 16 anos depois, na Alemanha.

Muitas outras histórias envolvendo gandulas fazem parte do dia-a-dia do futebol. Uma das mais bonitas envolveu a gandula botafoguense Sonja Martinelli, que a TV mostrou chorando após uma derrota do Botafogo de 6 X 0 para o Vasco, em dezembro de 1988, em jogo pela Copa União. Apaixonada pelo alvinegro desde pequenininha ela estava realizando um sonho: chamada para ser gandula do clube, ia poder ver seus ídolos de perto, pisar no gramado do Maracanã. Ao final do jogo, emocionada, verteu lágrimas por ver de perto a goleada sofrida pelo seu Botafogo. (Pesquisa: Nilo Dias)