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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O homem da “folha seca” (I)

Waldir Pereira (ele afirmava que seu nome era com W), o Didi nasceu no dia 8 de outubro de 1928, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), terra de craques como Amarildo, Pinheiro, Tite, Evaldo, parceiro de Tostão no Cruzeiro (MG) e Paulinho Almeida, artilheiro com o Flamengo no início dos anos 50. Mas nenhum deles se igualou ao extraordinário Didi.

Apelidado de “Príncipe Etíope” pelo jornalista Nélson Rodrigues e “Mr. Football” pela imprensa européia foi um dos mais completos e elegantes jogadores do futebol brasileiro em todos os tempos. Jogava no meio de campo e era especialista em bater faltas, tendo sido o inventor da “folha seca”, uma técnica que consistia em bater na bola com o lado externo do pé, hoje vulgarmente chamada "trivela".

Didi criou a “folha seca” quase que por acaso. Tudo aconteceu em 1956, já defendendo o Botafogo, num jogo contra o América, por causa de uma lesão que o impedia de chutar a bola normalmente. Por isso, ao bater com o lado externo do pé, no meio da bola, o público viu a bola subir, fazer uma curva e cair repentinamente no gol, trajetória semelhante ao que ocorre com uma folha.

O lance ficou famoso quando “Didi” marcou um gol de falta nesse estilo contra a Seleção do Peru, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958. Ele dizia que aprendeu a arte observando outro gênio em bolas envenenadas: Jair da Rosa Pinto, o “Mestre Jajá”.

A criação do termo “folha seca” foi do comentarista esportivo Luiz Mendes, que percebeu a semelhança, quando a bola descia, com uma folha de outono vagando ao sabor do vento. E ganhou popularidade na voz de Oduvaldo Cozzi, considerado o maior narrador de futebol da época.

Por pouco o craque Didi não surgiu para o futebol. Quando criança foi atropelado por um caminhão e quase teve uma perna amputada. Mas acabou se safando e ficando com uma perna mais curta que a outra. A diferença entre uma perna e outra foi desaparecendo com o passar dos anos. E ele dizia que talvez tenha sido essa perna mais curta que lhe permitiu criar o famoso chute da “folha seca”.

Didi começou a carreira em 1944, jogando no Industrial (RJ); em 1945 defendeu o Rio Branco (RJ) e o Goytacaz (RJ); em 1946 atuou no São Cristóvão (RJ) e Americano, de Campos (RJ). Ainda em 1946, profissionalizou-se vestindo a camisa do Clube Atlético Lençoense, de Lençóis Paulistas (SP).

Depois foi contratado pelo Madureira (RJ), onde começou a mostrar seu grande futebol, tendo ido em seguida para o Fluminense F.C., onde jogou de 1949 a 1956. Foi o clube pelo qual jogou mais tempo sem interrupções, tendo realizado 298 partidas e feito 91 gols.

Didi foi um dos grandes responsáveis pela conquista tricolor do Campeonato Carioca de 1951 e da Copa Rio de 1952, tendo jogado ao lado de Castilho, Waldo, Telê Santana, Orlando Pingo de Ouro, Altair e Pinheiro, entre outros. Foi ele o autor do primeiro gol da história do Maracanã pela Seleção Carioca em 1950.

A estréia de Didi na seleção brasileira aconteceu no Campeonato Pan-Americano de 1952, em Santiago, no dia 6 de abril, quando foi escalado pelo técnico Zezé Moreira, no jogo em que o Brasil venceu o México por 2 X 0. Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o inventor da “folha seca” disputou os três jogos como titular, mas o time brasileiro perdeu o último jogo da fase para a Hungria, por 4 X 2, e foi eliminado.

Foi campeão mundial em 1958, já atuando pelo Botafogo de Futebol e Regatas, clube pelo qual também acabou se apaixonando. No alvinegro, era o maestro de um grande elenco. Jogou ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, Quarentinha, Gérson, Manga e Amarildo.

O Botafogo foi o clube pelo qual Didi mais disputou partidas: fez 313 jogos e marcou 114 gols. Foi campeão carioca pelo clube em 1957, 1961 e 1962 e também venceu o Torneio Rio-São Paulo de 1962, mesmo ano em que ganhou o Pentagonal do México e, no ano de 1963, o Torneio de Paris.

Em 1959, antes do bi-mundial no Chile (1962), chegou a jogar no famoso time do Real Madrid. Como os espanhóis mesmo gostam de dizer, tratava-se de um time de galácticos, com Kopa, Puskas, Di Stefano, Santamaria, Kocsis e Dominguez. Mesmo conseguindo algumas conquistas importantes, o time sofria com a guerra de vaidades. Segundo o historiador Peris Ribeiro, o boicote a Didi, o único jogador negro da equipe mais cara do mundo foi liderado por Di Stéfano.

O boicote na equipe, segundo se comentava, teria partido de Di Stéfano. Depois jogou pelo Sporting Cristal, do Peru. No retorno ao Brasil vestiu de novo a camisa alvinegra do Botafogo. Teve uma passagem pelo São Paulo F.C., antes de voltar ao exterior, para atuar no Vera Cruz, do México. Encerrou a carreira vitoriosa no São Paulo F.C., em 1962.

Didi já pensava em se retirar dos campos de futebol, não conseguindo êxito como nos clubes anteriores em conquista de títulos. A equipe do São Paulo naquela época, não tinha grandes jogadores e a direção estava empenhada em terminar a construção do seu principal patrimônio, o Estádio do Morumbi.

No começo de 1981, Didi chegou a ser o técnico do Botafogo, mas foi substituído do cargo durante o ano, tendo sido ele um dos técnicos do Fluminense, na fase que o time tricolor era conhecido como a “Máquina Tricolor”, pela qualidade excepcional de seus jogadores.

Além da dupla carioca, Didi treinou os seguintes clubes: Sporting Cristal, do Peru; River Plate, da Argentina; Fenerbahçe, da Turquia; Cruzeiro, de Belo Horizonte; Alianza Lima, do Peru e Seleção Peruana, que alcançou classificação em 1970, para disputar a Copa do Mundo. Antes disso, a única vez que o país esteve num Mundial, foi em 1930, no Uruguai.

Títulos conquistados, como jogador: Fluminense: Copa Rio (1952); Campeonato Carioca (1951); Taça General A. Odria, Peru, enfrentando o Sucre (1950); Taça Embajada de Brasil ,Peru, contra o Sucre (1950); Taça Cinquentenário do Fluminense, na Copa Rio, frente o Corinthians (1952); Taça Milone, na Copa Rio, contra o Corinthians (1952); Taça Adriano Ramos Pinto, na Copa Rio, ante o Corinthians (1952); Torneio José de Paula Júnior, Quadrangular de Belo Horizonte (1952); Copa das Municipalidades do Paraná (1953); Taça Secretário da Viação de Obras Públicas da Bahia, contra o Esporte Clube Bahia, (1951); Taça Desafio Fluminense, versus Uberaba Sport Club (1954); Taça Presidente Afonsio Dorazio, contra a Seleção de Araguari-MG (1956).

Pelo Botafogo: Torneio Rio-São Paulo (1962); Campeonato Carioca de Futebol (1957/1961/1962); Torneio Pentagonal do México (1962); Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz (1964); Torneio do Suriname (1964); Torneio Governador Magalhães Pinto (1964).

Pelo Real Madrid: Liga dos Campeões da UEFA (1959/1960). Pela Seleção Brasileira: Pan Americano de Futebol (1952); Copa do Mundo (1958/1962).

Como Treinador: Campeão peruano pelo Sporting Cristal (1952); Campeão Turco, pelo Fenerbahçe (1973/1974,1974/1975); Supercopa da Turquia (1974); pelo Fluminense, Campeão Carioca (1975); Botafogo, Taça Guanabara (1975); Cruzeiro, Campeão Mineiro (1977).

Prêmios: Bola de Ouro da Copa do Mundo da FIFA (1958); All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA (1958); Craque do Time das Estrelas da Copa do Mundo (1958); 7º Maior jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS (1999); 18º Maior jogador da América do Sul no Século XX pela IFFHS (1999); 19º Maior jogador do Mundo no Século XX pela IFFHS (1999); 100 Craques do Século - World Soccer (1999); e 25º Maior Jogador do Século XX pelo Grande Júri FIFA (2000). (Pesquisa: Nilo Dias)

Gol de Didi, de "folha seca", que classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1958.