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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O centenário “15” de Campo Bom (I)

Eu tenho que me desculpar perante os torcedores do glorioso Esporte Clube 15 de Novembro, de Campo Bom (RS), por não ter escrito nada sobre os 100 anos comemorados no último dia 15. Eu estava inteiramente voltado para um trabalho de degravação de um evento para a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e esqueci de comentar o fato na sua data original. Mas hoje estou me redimindo da falha e contando a história do mais novo integrante do seleto grupo de clubes brasileiros centenários.

O “15”, como é carinhosamente chamado por sua torcida, foi fundado no distante dia 15 de novembro de 1911, depois que alguns operários da firma Vetter & Irmão, assistiram alguns jogos de futebol em Porto Alegre. Entusiasmado com o novo esporte, o senhor Blauth, um dos fundadores, comprou uma bola de futebol no comércio da capital, e a levou para Campo Bom, que na época era apenas uma vila.

Na volta resolveram criar um time de futebol, para se distraírem nas horas de folga. A Vetter era uma indústria calçadista, que se instalou na localidade em 1904. O primeiro campo foi em um potreiro no Morro das Pulgas, nos fundos da empresa. Ali o novo time treinava e jogava, até que adquiriu outro campo, que com o passar dos anos se transformou no atual estádio Sady Arnildo Schmidt.

No dia 17 de novembro de 1912, um ano após a fundação, foi inaugurada a bandeira do clube, numa festa que teve a presença do Esporte Clube Colombo, de Porto Alegre, que aplicou uma goleada de 5 X 1. Outros amistosos importantes para a época foram disputados, com destaques para aqueles contra equipes de expressão, como o Frishhauff e Americano, ambos da capital, e o Sport Novo Hamburgo.

Eram outros tempos, onde o que importava era o amor ao clube. E dentro desse espírito totalmente amadorista, os próprios jogadores financiavam seus fardamentos, passagens e demais despesas. E todos se orgulhavam muito do que faziam.

Em 1917, juntamente com duas outras entidades, a Sociedade Alemã de Tiro e a Sociedade de Canto, o “15” participou da fundação da Sociedade Concórdia, um clube social com vários departamentos sociais e esportivos. No dia 30 de abril de 1975, conforme consenso das lideranças comunitárias, o Esporte Clube 15 de Novembro e a Sociedade Concórdia (antiga Sociedade Alemã de Atiradores, criada em 3 de março de 1893 para a prática de tiro esportivo) promoveram uma fusão, passando a denominar-se Clube 15 de Novembro, e é hoje o mais importante clube social da cidade.

Hoje a entidade conta com os seguintes departamentos: social, futebol, piscina, tênis, tiro, bolão, arco e flecha, escoteirimo, filatelia, handebol, sauna, ginástica e musculação, departamento jovem, relações públicas e departamento de divulgação.

Bem antes disso, em 12 de abril de 1943, a diretoria da Sociedade Concórdia resolveu extinguir o departamento de futebol que se tornou independente, até no nome: surgia o Esporte Clube Independente, adotando às cores preta e branca. Esta decisão provocou muita polêmica, mas a verdade é que o futebol, desvinculado da Sociedade Concórdia, encontrou mais espaço para progredir.

Depois de um grande movimento popular, o E. C. Independente voltou a chamar-se 15 de Novembro, recebendo de volta suas cores originais: amarelo, vermelho e verde. Isso aconteceu no dia 29 de setembro de 1949.

O “15” participava de muitas competições, em especial as organizadas pela Liga Leopoldense de Futebol, em que tomavam parte equipes localizadas no município de São Leopoldo, do qual Campo Bom era distrito. Mas os importantes títulos amadores começaram a ser conquistados somente quando o clube passou a disputar competições a nível estadual, patrocinadas pela FGF. O primeiro título de expressão foi ganho em 1957, o de Campeão da Zona Sul do Estado.

Em 1959 a FGF mudou a forma de disputa do Estadual de Amadores. Em razão do mau estado das estradas, que dificultavam a locomoção dos clubes, a competição passou a ser disputada em cinco zonas. Cada uma delas foi identificada por uma cor: o "15" integrou a série Branca.

Em 1960, o clube montou uma estrutura vitoriosa e não deu outra: venceu pela primeira vez o Campeonato Estadual de Amadores, Série Branca, passo inicial para outras grandes conquistas. No primeiro confronto, dia 11 de dezembro, o 15 de Novembro venceu ao Brasil, de Farroupilha, pelo placar de 5 X 4, em partida apitada por Jaime Soligo.

Os gols da partida foram marcados por: Lauro, Cléo, Erich, Dario e Gilberto (para o 15 de Novembro), e Lino, Walter, Armando e Barth (para o Brasil de Farroupilha). No dia 18 de dezembro, no Estádio dos Eucaliptos, um empate em 1 a 1 deu o título ao 15 de Novembro, sob o comando do treinador Raul Freitas. Marcaram Barth, logo aos 4 minutos de partida, para o Brasil de Farroupilha, e Gilberto, quase ao final de partida. O juiz foi Ney da Luz Barbosa.

No ano de 1961, conquistou o bicampeonato contra o Independente, de Flores da Cunha. Após um empate em 1 X 1 na primeira partida (gol do zagueiro Bráulio, para o "15"), o título veio em uma virada por 2 X 1, em partida disputada em Campo Bom. Remo abriu o marcador para o Independente, de Flores da Cunha, enquanto Delmar fez dois gols e garantiu o título.

Em 1963, o 15 de Novembro perdeu o primeiro jogo das finais por 2 X 0 para o Paladino, em Gravataí, no dia 1º de dezembro. Venceu em Campo Bom por 2 X 1, em 6 de dezembro, havendo necessidade da realização de uma terceira partida. No dia 15 de dezembro, houve empate em 1 X 1 no estádio do Lansul, em Esteio, com a partida sendo encerrada devido à invasão de campo e briga entre torcedores e jogadores.

Por isso, o tempo restante do jogo foi realizado em uma nova data, 19 de janeiro de 1964, no Estádio Passo D'Areia em Porto Alegre. Persistiu o empate e, na prorrogação, Ithon marcou em cobrança de falta o gol do terceiro título do Estadual de Amadores do 15 de Novembro.

Em 1968, participando da Série Especial do Estadual de Amadores, o 15 de Novembro enfrentou o Pampeiro, de Soledade nas finais. Venceu em Campo Bom por 3 X 2, perdendo o segundo, em Soledade, por 2 X 0. Na prorrogação, o 15 de Novembro venceu por 2 X 1 e conquistou o título.
Ainda pelo Absoluto de Amadores, o "15" foi campeão estadual em 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1982, 1987 e 1990. Foram ao todo 14 títulos estaduais, que fizeram do clube o maior vencedor do futebol amador do Rio Grande do Sul.

Em 1988, participando do 1º Campeonato Sul-Brasileiro de Futebol Amador, como representante do Rio Grande do Sul, o "15" conquistou o inédito título, superando o União Capão Raso, do Paraná, no jogo final. Em 1990, nesta mesma competição, o "15" ficou com o vice-campeonato.

Já nos anos 90 sentia-se que muitos clubes amadores pagavam seus jogadores, o que vinha dificultar a prática do amadorismo 100% puro do Clube 15 de Novembro. E diante dos insistentes pedidos da Federação Gaúcha de Futebol, a direção do clube resolveu profissionalizar o futebol e em 1994 disputou a segunda divisão do futebol gaúcho.

E a experiência foi vitoriosa, já que no primeiro ano sagrou-se vice-campeão da Segunda Divisão de Profissionais, o que valeria o acesso a Divisão principal do Estado. Porém, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), useira e viseira em viradas de mesa, mudou as regras do jogo e dividiu a Primeira Divisão em duas séries, “A” e “B”. Em 1998 o 15 conquistou o segundo lugar na Copa Abílio dos Reis, e se classificou para a Série A do “Gaúchão” de 1999. Dessa vez foi pra valer, pois não houve virada de mesa.

Ainda em 1998, o “15” disputou o Campeonato Brasileiro da Série C, chegando até as oitavas de final. Terminou a competição em 10º lugar, entre 65 clubes participantes. Nos 14 jogos que disputou venceu 7, empatou 3 e perdeu 4. O ataque marcou 27 gols e a defesa sofreu 24. Na primeira fase o 15 participou do Grupo 11, que era composto por Avaí, Tubarão e Chapecoense, de Santa Catarina e os gaúchos 15 de Novembro, Pelotas e Brasil, de Pelotas. Avaí, Brasil e “15” se classificaram para a etapa seguinte da competição.

Na segunda fase o “15” enfrentou o Mogi Mirim (SP). No primeiro jogo no interior paulista empate em 2 X 2. Jogando em Campo Bom venceu por 2 X 1 e se classificou para a terceira fase, quando se deparou com mais um clube paulista. Dessa vez o adversário foi o Rio Branco, de Americana. Fora de casa um empate em 2 X 2, que se repetiu no Sady Schmidt. Nos pênaltis os visitantes levaram a melhor por 4 X 3.

Já no ano seguinte, a primeira experiência na elite gaúcha não deixou boas recordações. O time ao final da competição estava rebaixado e de retorno a Série B. No segundo semestre do ano, fez boa campanha e voltou para a Série A. No ano de 2000, o “15” teve um desempenho bem melhor.

Foi campeão da Fase Classificatória, Chave 2, e conquistou o direito de participação no Octogonal final do campeonato, etapa disputada somente pelos chamados grandes do futebol gaúcho. Após brilhante campanha, o estreante "15" ficou em 5º lugar, atrás somente de Grêmio, Internacional, Caxias e Juventude. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do 15 de Novembro, em 1911. (Foto: Acervo do E.C. 15 de Novembro)