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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O centenário "Leão do Norte" (IV)

Nas décadas de 50 a 70 quando os jogadores do Comercial entravam em campo, junto estava o massagista Rubens dos Santos, o “Glostora”, sem uniforme de jogo e, geralmente, vestindo uma camisa branca e uma calça preta. Era como se fosse um integrante do seleto time comercialino e posava para fotos ao lado dos atletas em quase todas as ocasiões.

"Glostora" marcou época no Comercial. Foram 35 anos dedicados à profissão de massagista, sendo 25 somente no clube alvinegro. Hoje com 84 anos, viúvo, mora sozinho em uma simples casa no bairro Jardim Interlagos, em Ribeirão Preto.

O apelido do massagista mais famoso da história do "Leão do Norte" veio em virtude do seu irmão, Luiz Mozart, o radialista "Tiririca", ser chamado por algumas pessoas de "Glostorinha". Daí surgiu o "Glostora". Ele foi campeão no Marília, no Paulista de Jundiaí, sempre com o técnico Alfredinho Sampaio, de quem é muito amigo. Foi para o Santos por intermédio dele.

Além de ter trabalhado no Comercial durante muitos anos, "Glostora" guarda na memória e em algumas fotos a sua lembrança de ter trabalhado no Santos. E com Pelé. Ficou dois anos lá.

Sua paixão e empenho ao Comercial lhe renderam um troféu entregue pela própria torcida do “Bafo” em 1962. Torcida homenagear massagista é difícil de acontecer. Mas "Glostora" ganhou um troféu de agradecimento.

Já que não poderia entrar em campo com a bola rolando, "Glostora" encontrou uma maneira de ajudar o Comercial de forma mais contundente. Na década de 60, em jogo contra a Ferroviária, em Araraquara, o massagista exigiu que o zagueiro Jair Gonçalves se atirasse no gramado para retardar a partida. Só não esperava ser ‘"calçado" por um preparador físico da "Ferrinha".

O Comercial estava ganhando e "Glostora" gritou para o Jair: “Cai que eu entro, cai que eu entro”. Ele caiu e, quando "Glostora" foi correr, o preparador da Ferroviária o chutou por trás e foi ele quem caiu. Aproveitou e fez um teatro, gritando que a perna havia quebrado. Os jogadores foram para cima do preparador, que pulou o alambrado para fugir, mas caiu na torcida do Comercial. Ele apanhou muito.

O massagista Rubens dos Santos, o "Glostora", foi vítima dos jogadores do Comercial no dia 21 de abril de 1959, quando o alvinegro concretizou o acesso para o Paulistão após golear o Corinthians, de Presidente Prudente, por 4 X 0, no estádio do Pacaembu.

Na volta para Ribeirão Preto, após um jantar em uma churrascaria, "Glostora" virou alvo de uma brincadeira. Os jogadores gritaram pedindo alguém para eles rasparem a cabeça. Olharam para o lado e falaram: "pega ele". Mas tudo era festa e o cabeleireiro foi o goleiro Santão.

No início da década de 1980, o Comercial conseguiu grandes resultados como golear o Corinthians em Palma Travassos por 4 X 0, o Santos na Vila por 3 X 1 e o São Paulo no Morumbi por 5 X 4. Em 1980 foi campeão do primeiro turno da Taça de Prata, a segunda divisão do Campeonato Brasileiro na época. Em 1981 foi campeão do "grupo vermelho", um dos grupos do Campeonato Paulista de 1981,
após bater o Marília por 2 X 0.

Em 1983, quebrou um tabu de oito anos, ao derrotar em São José do Rio Preto, o América, por 2 X 0. No mesmo ano goleou o São Paulo por 4 X 1, no Palma Travassos.

Em 1986, após um jogo de compadres entre América de Rio Preto e XV de Jaú, o Comercial caiu para a Série A2 do Campeonato Paulista. O retorno para a divisão de elite aconteceu somente em 2011, 25 anos após.

Ainda em 1986, no dia 9 de julho, o Comercial conseguiu o feito de ser, até hoje, o último time a ganhar do São Paulo FC, dentro do Morumbi, marcando cinco gols. O placar do jogo foi São Paulo FC 4 x 5 Comercial.

Em 25 de janeiro de 2006, foi vice-campeão da Copa São Paulo de Juniores ao empatar em 0 X 0 no tempo normal de jogo e perder nos pênaltis para o América, de São José de Rio Preto. A partida foi realizada no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Dezenas de ônibus, se deslocaram de Ribeirão Preto em caravana até a capital, para incentivar a equipe.

Ficha técnica: Data:25/01/2006 - Quarta-feira - Comercial (SP) 0x0 América (SP)
Local: Pacaembu (São Paulo
Árbitro: Marcelo Rogério (SP)
Cartões Amarelos: Júlio César, Polly, Wellington, Guina, Henrique, Bruno e Victor;
Nos pênaltis: América 3 x 1 Comercial. Converteram para o América: Wesley - André Zuba e Polly (Júlio César perdeu); Comercial: Henrique. (Jonatas Mineiro, Thiago Tremonti e Diogo perderam)
Comercial: Anderson - Éderson (Danilo) - Paulo (Gabriel) -
Henrique e Guina - Bruno - Diogo - Vítor e Jonatas - Paulinho (Thiago Tremonti) e Ferreira. Técnico: Macalé.
América: André Zuba - Régis - Wellington (Rafael) e Polly - Gilmar (Wesley) - Jéferson - Leandro Rincon - Elias Negão e Nenê (Éder); Júlio César e Cristiano. Técnico: Candinho.

A torcida comercialina, a maior torcida de Ribeirão Preto, é uma das maiores do Interior de São Paulo e do Brasil. Estima-se que o “Leão” possua acima de 350 mil torcedores em Ribeirão Preto, tendo duas torcidas organizadas a tradicional “Mancha Alvinegra” e o “Batalhão Alvinegro”.

Nos anos de 2002, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008 o Comercial fez campanhas medíocres, evitando apenas o rebaixamento. A única exceção foi no ano de 2005 que o clube chegou entre os 8 finalistas.

Em 19 de abril de 2009, depois de empatar em 1 x 1 com a equipe do São José, o “Leão” conheceu mais um rebaixamento para a terceira divisão do campeonato paulista. Numa campanha pífia o “Bafo”, que terminou na 18ª posição do campeonato, somou apenas 16 pontos em 19 jogos (sendo 4 vitórias, 4 empates e 11 derrotas).

Como se não bastasse o rebaixamento, a rejeição de ajuda por parte de seu presidente e o descaso da cúpula diretiva, o Comercial se deparou com uma das maiores crises de sua história, onde até a posse de seu estádio, o Palma Travassos, estava em jogo.

Na primeira semana após o rebaixamento, encabeçados pelo então presidente em exercício, Eduardo Mauro Baptista, e motivados pelo espírito político de Luis Joaquim Antunes, alguns membros do Comercial fizeram um movimento para vender todo o patrimônio do clube, alegando que esta seria a única saída para a equipe.

Como o clube estava afundado num mar de dividas trabalhistas, muitos de seus diretores resolveram acatar ao movimento, que ainda ganhou adeptos importantes como juízes, promotores, advogados, entre outros. Este movimento fora intitulado "Vender o Leão é a Solução".

Mas quando tudo estava praticamente perdido, e faltando pouco mais de três dias para concretizar-se a venda de todo o patrimônio do Comercial, surgiu uma luz no fim do túnel. José Fernando de Athayde, ex-presidente comercialino, ainda respeitadíssimo no clube, convocou os que eram contra a venda do Estádio Palma Travassos, para que lutassem até o último momento para tentar reverter a situação.

Houve por parte de varias pessoas uma mobilização para salvar ao menos o Estádio, e todo este esforço foi válido, pois o Palma Travassos não foi a leilão.

No inicio de 2010, uma parceria com o grupo Lacerda Sports Brasil foi firmada, possibilitando uma renovação no clube. As mudanças começaram na diretoria, que passou a ter gestão de Nelson Lacerda. Foi lançado, também, o movimento "Comercial meu amor Imortal".

Os resultados da nova parceria foram visíveis a curto prazo, com o Comercial conseguindo a 2ª colocação na fase de classificação do Campeonato Paulista da Série A3 de 2010, ficando 16 jogos invicto. Mas não conseguiu diretamente o acesso na fase final, em um jogo fatídico em Palma Travassos contra o XV de Piracicaba. O Comercial teve um gol legítimo anulado aos 47 minutos do segundo tempo, deixando o sonho de cerca de 25 mil torcedores presentes no estádio ir por água abaixo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Hoje com 84 anos, ex-massagista "Glostora" exibe fotos da época em que trabalhava no Comercial. Ele também exibe uma camisa do Santos, o seu segundo clube do coração. (Foto: F.L.Piton / "A Cidade")