Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Vicente Rao, primeiro e único

Alguns cronistas esportivos do centro do país insistem em dizer que a “Charanga RubroNegra”, do Jayme de Almeida, foi a primeira torcida organizada do futebol brasileiro. Não é verdade. Como também não é verdade que o Vasco da Gama tenha sido o primeiro clube a admitir negros em sua equipe. O pioneiro foi o Guarany F.C., de Bagé, que em 1920 tinha um time formado na maioria por uruguaios e negros.

O Vasco não foi pioneiro nem mesmo no Rio de Janeiro. O primeiro negro a jogar em um clube carioca foi Francisco Carregal, pelo Bangu, em 1905. Em 1914 havia um negro no Fluminense, Carlos Alberto, que usava talco na pele para parecer branco. O Vasco só em 1923 utilizou atletas negros, quando foi campeão carioca pela primeira vez.

Com relação a torcidas organizadas, dizer que a “Charanga Rubro-Negra”, criada por Jayme de Almeida em 11 de outubro de 1940 é a pioneira no futebol brasileiro, é prova de desconhecimento da história.

No mesmo ano, mas meses antes, foi fundado no Rio Grande do Sul o “Departamento de Cooperação e Propaganda do Internaconal”, (hoje “Camisa 12”) do qual foi chefe durante seis anos, coincidindo com o hexacampeonato gaúcho conquistado pelo clube. Na época, o time era formado na maioria por negros e pobres desassistidos, em contraste com o tradicional adversário elitista.

O DCP e Vicente Rao também foram pioneiros no uso de buzinas, faixas, serpentinas e foguetes entre as torcidas de futebol do país, fazendo a síntese entre o esporte e a alegria carnavalesca. Depois de algum tempo os rivais também aderiram a moda, o que inspirou Vicente Rao a preparar um contra-ataque.

Num clássico Gre-Nal disputado no velho Estádio da Timbaúva, que pertencia ao G.E. Força e Luz, Rao esperou que os gremistas levantassem a primeira faixa para erguer a sua, onde se lia em letras garrafais a frase provocativa e zombeteira: “Imitando os negrinhos, heim?”

Vicente Lomando Rao só podia mesmo ser colorado, pois nasceu no dia 4 de abril de 1908, data de aniversário do seu time de coração. Costumava dizer que não havia nascido: foi inaugurado. Filho do calabrês Michelangelo Rao, aos seis anos viajou com a família para a Itália e só pôde retornar ao Brasil (e a Porto Alegre) após o final da primeira guerra mundial, em 1918. Aos 11 anos matriculou-se no Ginásio Nacional (hoje Colégio Anchieta), onde teve que reaprender a falar português.

Trabalhou como aprendiz numa relojoaria, tornou-se sargento do Exército e acabou fazendo carreira como bancário, no Banco Nacional do Comércio. Sua atividade como carnavalesco começou em 1931, quando criou o bloco “Banda Filarmônica do Faxinal”. No mesmo ano, entrou de sócio do Sport Club Internacional e passou a jogar futebol no seu time principal, chegando a marcar um gol, de cabeça, numa partida contra o São Paulo, de Rio Grande, em que o Inter ganhou por 4 X 1.

No entanto, magro e com pouca resistência física, Vicente Rao logo foi dispensado do clube e abandonou a carreira de futebolista. Em 1936, no dia em que comemorou 28 anos, decidiu parar de beber e fumar, decisão que cumpriu pelo resto de sua vida.

A partir de 1947, Vicente Rao passou a trabalhar, sempre sem remuneração nas escolinhas de futebol do Inter, chegando a ter mais de 3 mil jovens cadastrados nas categorias infantil e juvenil, e inovando na conjugação entre esporte e estudo: os garotos só poderiam permanecer no clube se, paralelamente, apresentassem bom desempenho escolar.

Conheceu a primeira grande safra de craques do Internacional, o famoso “Rolo Compressor”, ainda no tempo dos Eucaliptos: Ivo – Alfeu – Nena – Abgail – Ávila – Villalba – Tesourinha – Viana – Adãozinho e Carlitos.

A denominação “Rolo Compressor” foi criada por ele, que desenhava charges para os jornais, até que o nome pegou. Certa vez, encontrou uma cabrita que pastava no terreno de um certo Lothar, e pediu-a emprestada. Batizou-a de “Chica”. A partir daí transformou-se na mascote do time, e freqüentava sempre as arquibancadas do velho estádio. Rao dizia que ela era o símbolo da sorte e da força do time.

Como o futebol sempre se prestou para superstições, até os adversários começaram a acreditar que a cabrita realmente dava sorte ao Internacional. Prova disso, é que no Gre-Nal decisivo do Campeonato Citadino de 1943, disputado no Fortim da Baixada, o primeiro estádio do Grêmio, Vicente Rao tentou entrar no campo gremista acompanhado de “Chica”. Os “azuis” acharam por bem impedi-la de entrar.

Sem se dar por vencido, Rao, com o auxilio de outros torcedores, arrancou algumas tábuas da arquibancada e colocou a cabrita para dentro do estádio, para desespero dos gremistas, quando viram “Chica”, feliz da vida, no meio da torcida. Reza a lenda que, no fim do disputado jogo, brilhou a estrela do "talismã" colorado, quando, na cobrança de falta de Rui, a bola que ia certa para a linha de fundo, desviou até cair na forquilha esquerda do gol do assombrado Júlio, que viu o Grêmio perder mais um título. No fim, “Chica” foi carregada nos ombros dos torcedores da Baixada até os Eucaliptos.

Vicente Rao morreu em setembro de 1973, aos 62 anos de idade, mas seu nome ficou eternizado por ter sido o “Rei Momo” mais brilhante e divertido de todos os carnavais da capital gaúcha. O seu reinado durou longos 22 anos, de 1950 a 1972.

Os que o conheceram, dizem que era um homem bondoso e ingênuo, dono de uma alegria e um enorme magnetismo pessoal. Chamado de "O Primeiro e Único", ele comandava o bloco "Tira o Dedo do Pudim", certamente o mais engraçado de todos. Depois de Rao vieram “Miudinho”, “Queixinho”, Otávio Frota Júnior e o atual Fábio Verçoza.

Semanas antes do Carnaval, Vicente Rao costumava escrever "comunicados" no estilo dos comandos militares. Claro, era pura galhofa. O extinto jornal "Folha da Tarde" os publicava sempre com destaque, e com a assinatura "Vi-100-T Rao". O seu bloco sempre aparecia cantando assim:

Ó meu amor
Não faz assim
Eu sou o bloco
Tira o Dedo do Pudim!

O bloco “Tira o Dedo do Pudim” foi criado em 1947 e constituiu-se durante três anos em grande sucesso no Carnaval de Porto Alegre. Até que, em 1949, um dos integrantes chegou bêbado para o ensaio, contrariando as orientações de Rao, que insistia no tema da "diversão saudável". Contrariado, o próprio Rao dissolveu o bloco que havia criado.

No ano seguinte, Rao investiu todas as suas economias numa fantasia luxuosa para o Carnaval que marcava a metade do século. A fantasia, o bom humor de Rao, sua popularidade em Porto Alegre e sua figura roliça, pesando cerca de 100 quilos, bem diferente do atleta magro que havia sido dispensado pelo time do Inter no início da década de 1930, fizeram com que ele fosse eleito “Rei Momo” da capital gaúcha, cargo que exerceu por 22 anos seguidos.

No natal de 1957, em festa promovida pela prefeitura de Porto Alegre, Rao desceu de helicóptero no meio do Parque da Redenção, fantasiado de Papai Noel. A partir daí, passou a ser também o Papai Noel oficial da cidade.

Em 1956, Rao foi eleito presidente da Federação dos Bancários do Rio Grande do Sul, passando a ser conhecido também como líder sindical. Em função disso, logo após o Golpe Militar de 1964 sua casa foi cercada pela polícia e pelo Exército. Rao foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional, acusado de fazer política partidária no sindicato. Foi posto em liberdade 24 horas depois, por falta de provas, mas continuou sendo processado até 1970, quando finalmente foi absolvido de todas as acusações.

Em dezembro de 1973, pouco mais de um ano após a sua morte, uma rua de Porto Alegre, no bairro Ipanema, recebeu em sua homenagem o nome de rua Vicente Rao. Na placa de identificação do logradouro, o título que o identifica não é o de bancário, nem “Rei Momo”, Papai Noel ou líder da torcida colorada, mas "alegria do povo".

A figura do “Rei Momo” como o monarca do Carnaval surgiu em 1937, por iniciativa do extinto jornal "A Noite", que criou um boneco de papelão com a forma de um homem obeso e bonachão, inspirado na figura olímpica do “Momo” dos rituais pagãos da Grécia antiga. Era a figura típica do fanfarrão, que não trabalhava e tirava onda de quem pegava no batente. O boneco virou símbolo dos desfiles carnavalescos, até que virou gente.

Em Porto Alegre, lá pela década de 30, ele era apresentado como um sujeito que mal cabia num fraque, e cercado de ajudantes. Anos depois, surgiriam os reis momos Lelé e Macalé, que animavam festas pelos bairros da cidade.

O S.C. Internacional não esqueceu um dos seus maiores símbolos e Vicente Rao virou nome do museu do clube, que foi fundado em 1994. Até pouco tempo atrás, ele se reduzia a uns poucos adereços guardados em caixas de papelão, numa sala do ginásio Gigantinho. Em novembro de 2005, a diretoria colorada finalmente fez um projeto de revitalização do antigo museu, que foi reinaugurado em 2006.

O Museu Vicente Rao está localizado na avenida Padre Cacique 891, no bairro Menino Deus, junto à Biblioteca Zeferino Brasil, no Ginásio Gigantinho. O Museu encontra-se atualmente fechado aguardando a reforma do novo espaço que está sendo construído no andar de cima da Loja Inter Sport.

O museu conta a história do primeiro Rei Momno oficial de Porto Alegre, Vicente Rao, e relembra seus 22 anos de reinado. Do acervo do museu constam fantasias, adereços e cerca de 1.800 fotos e correspondências, entre outros objetos do arquivo pessoal de Vicente Rao, que criou, no S.C. Internacional, a primeira escolinha de futebol, assim como a primeira torcida organizada do Brasil, denominada "Camisa 12". (Pesquisa: Nilo Dias)

terça-feira, 27 de março de 2012

Ineditismo gaúcho em Copas do Mundo

O Brasil não é o único país do mundo a sediar por duas vezes uma Copa do Mundo: Itália (1934 e 1990), França (1938 e 1998), México (1970 e 1986) e Alemanha (1974 e 2006) já fizeram isso. Mas dois fatos que aconteceram na Copa de 1950, no Brasil, são até hoje inéditos: um clube ter seu estádio indicado duas vezes para ser sede de jogos, e outro emprestar suas camisas para uma seleção estrangeira.

Os dois fatos ocorreram em Porto Alegre. O antigo Estádio dos Eucaliptos, que pertencia ao S.C. Internacional foi uma das seis sedes escolhidas pela FIFA. As outras foram Belo Horizonte, Estádio Raimundo Sampaio (Independência); Curitiba, Estádio Durival de Britto e Silva (Vila Capanema); Recife, Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro); Rio de Janeiro, Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) e São Paulo, Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (Pacembu)

Inaugurado em 1931 pelo Internacional, o Estádio Ildo Meneghetti (que levava o nome do ex-governador do Rio Grande do Sul) foi escolhido para abrigar os jogos da Copa. O estádio recebeu este nome devido aos eucaliptos que o cercavam, trazidos de Viamão pelo ex-presidente do Internacional, Oscar Borba. As mudas foram coletadas na Chácara dos Eucaliptos, antigo campo do clube.

A inauguração ocorreu em 15 de março de 1931, com um Gre-Nal, vencido pelo Internacional por 3 X 0. A partir de 14 de fevereiro de 1944, o estádio recebeu o nome oficial de Ildo Meneghetti.

O final de década de 1940 marcou o estopim do crescimento do Internacional. Com capacidade inicial para 10 mil expectadores, o estádio passou por obras de ampliação em 1949, passando a receber 30 mil pessoas. O velho pavilhão de madeira da Rua Silveiro passou a ser de concreto. O investimento foi da Confederação Brasileira de Desportos (CDB).

Na Copa do Mundo de 1950, o Brasil tinha apenas 52 milhões de habitantes e a Fifa somente 34 países inscritos e desses somente 13 jogaram a Copa: Bolívia, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Iogoslávia, México, Suécia, Suíça Paraguai e uruguai.

Nos Eucaliptos foram jogadas duas partidas: México 1 X 4 Iugoslávia e Suíça 2 X 1 México, seleções que estavam no grupo A, o mesmo do Brasil. Também estavam previstos para Porto Alegre os jogos da Seleção da França. Os franceses jogariam contra o Uruguai nos Eucaliptos, e quatro dias depois enfrentariam a Bolívia em Recife. A proximidade dos jogos motivou a desistência francesa.

Os jogos de Porto Alegre: 28 de junho de 1950, Iugoslávia 4 X 1 México. Público: 12.000. Árbitro: Reginald J. Leafe, auxiliado por Van der Meer e Gunner Dahlner. Gols: Bobek aos 19, Čajkovski, aos 23 e 52 e Tomašević aos 81 para os iogoslavos. Ortíz, aos 89 fez o gol de honra dos mexicanos.

2 de julho de 1950: México 1 X 2 Suíça. Público: 3.600. Árbitro: Ivan Eklind, auxiliado por Gunner Dahlner e Sérgio Bustamonte. Gols: Casarín aos 60 para o México e Bader, aos 11 e Antenen, aos 44 para os suíços.

A última partida nos Eucaliptos foi disputada no dia 26 de março de 1969. O Internacional ganhou do time mais antigo do futebol brasileiro, o S.C. Rio Grande, por 4 X 1. O velho ídolo Tesourinha, aos 48 anos de idade, entrou apenas no final da partida. Tesourinha jogou alguns minutos e, após o término, arrancou a rede de uma das goleiras como recordação, ao som da "Valsa do Adeus".

Em 1999, o então presidente do Internacional Paulo Rogério Amoretty, investiu aproximadamente R$ 800 mil na recuperação do estádio. E em 11 de dezembro de 1999, o Internacional voltou a disputar uma partida nos Eucaliptos. Foi um amistoso, novamente contra o Rio Grande, como havia acontecido na despedida do estádio em 1969. O placar do jogo foi 6 X 2 para o Internacional.

Até hoje Os Eucaliptos é o único estádio gaúcho a ter sediado jogos de Mundial. Em 2014 o Beira Rio repetirá o feito. Em 28 de agosto de 2010 o velho estádio foi vendido por um valor não divulgado, dinheiro reservado para as obras de modernização do Beira Rio. Os Eucaliptos começou a ser demolido em 9 de fevereiro deste ano, e no local será construído um prédio residencial com sete torres.

O outro fato inédito em Copas do Mundo envolveu o E.C. Cruzeiro, de Porto Alegre e aconteceu no dia 2 de julho, na partida México 1 x 2 Suíça. Na época, o México não utilizava o verde e branco, usava um vermelho grená muito parecido com o vermelho sangue da Suíça. A Fifa determinou que haveria um sorteio, ganho pelo México.

Num gesto altruísta, a seleção mexicana cedeu à Suíça o direito de usar a camisa vermelha. Então, os mexicanos resolveram homenagear um time de Porto Alegre, porque foram bem recebidos na cidade, e pediram o uniforme de uma equipe porto-alegrense.

A sede do Cruzeiro ficava na rua Porto Alegre, onde está o Cemitério João XXIII, no bairro Azenha, portanto bem próximo do antigos Eucaliptos, que ficava na rua Silveiro, no bairro Menino Deus. O Grêmio foi preterido porque era mais longe, lá nos Moinhos de Vento. O Inter não poderia ceder o fardamento por ser vermelho tal qual o da Suíça.Sobraram então as camisas listradas em azul e branco do Cruzeiro, na época um clube forte da capital gaúcha e primeiro time do Rio Grande do Sul a excursionar pela Europa. (Pesquisa: Nilo Dias)

O velho Estádio dos Eucaliptos.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anisio, um craque do humorismo

Os meios artísticos brasileiros perderam hoje um de seus mais legítimos representantes: morreu Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, conhecido como Chico Anysio, nascido no dia 12 de abril de 1931, na cidade cearense de Maranguape. Foi um pouco de tudo, humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor.

Chico Anysio aparece neste blog porque também teve uma ligação muito forte com o futebol, ao início de sua carreira. Na Rádio Guanabara, do Rio de Janeiro, foi narrador e repórter de campo. Foi nesse tempo que surgiu a sua paixão pelo futebol.

A emissora havia contratado Raul Longras, “o homem do gol eletrizante”, e passou a transmitir futebol nas ondas do rádio. Com enorme talento e disposição, não demorou para Chico conseguir um lugar ao seu lado. Além dos comentários fazia narrações dos jogos e era repórter de campo.

Morador do Catete, era declaradamente torcedor do Vasco da Gama, o que contrariou a vontade do pai e do irmão mais velho, botafoguenses convictos. Mas trocou de camisa várias vezes: já torceu por outros clubes, só o Palmeiras jamais deixou de ter espaço. Vasco, América e Flamengo já se revezaram na preferência carioca. Mas também gostou do Cruzeiro, Grêmio, Santa Cruz e por último o Inter do amigo Falcão. Chico chegou a sonhar em ser jogador de futebol, mas desistiu cedo da idéia, porque a bola não era o seu forte.

Chico levou sua paixão pelo futebol para muitos de seus personagens. O principal deles foi “Coalhada”, que tinha o sonho de ser jogador de um grande time de futebol, mas era o maior perna de pau. Era ajudado pelo empresário “Bigode” (Amândio Silva Filho). Tinha o “Alfacinha”, um vendedor natural de Lisboa e torcedor do Benfica que vivia batendo de porta em porta, tentando vender seus produtos exóticos.

Quem não lembra do “Azambuja”, um malandro carioca, que foi jogador de futebol do Bonsucesso e participou de um conjunto musical na juventude. Vivia aplicando golpes em parceria com “Lingüiça” (Wilson Grey).

E o "Bolada", sujeito fanático por futebol, que tinha o cachorro “Jorge”, que era malufista, como seu melhor amigo. Havia também o “Fumaça”, um português e vascaíno, dono do Boteco do Idalino, conhecido por seus frequentadores como “Boteco do Fumaça”, nome pelo qual não gostava de ser chamado. Recebeu esse apelido por fumar escondido de todos.

E para completar a lista, não se pode esquecer do “Meinha”, que usava uma meia-calça na cabeça. O personagem era um jogador de futebol que saiu de times sem expressão no Brasil diretamente para a Europa.

Ao longo de seus 65 anos de carreira, Chico Anysio criou mais de 200 personagens, com destaque no rádio, na TV, no cinema e no teatro. Aos 80 anos, o humorista estava internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Completaria 81 anos dia 12 de abril.

Anysio apresentou uma piora nas funções respiratórias e renal na quarta-feira (21) e voltou a respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia. Ele estava no CTI do hospital carioca desde 22 de dezembro do ano passado por conta de um sangramento.

O comediante chegou a ter o problema controlado, mas apresentou uma infecção pulmonar e retornou à internação. Ele seguiu em sessões de fisioterapia respiratória e motora diariamente, somadas a antibióticos.

Chico foi internado pela primeira vez em maio de 2009, quando teve pneumonia. Em agosto de 2010, precisou ser internado para a retirada de parte do intestino grosso, após ser constatado um quadro de hemorragia no aparelho digestivo. Em 2 de dezembro de 2010, deu entrada no hospital devido a falta de ar. Na avaliação inicial, detectou-se obstrução da artéria coronariana, assim, foi submetido à angioplastia. Chico Anysio ficou 109 dias internado, recebendo alta apenas no dia 21 de março de 2011. Neste período, o humorista, na maior parte do tempo esteve na UTI.

Em 23 de abril de 2011, Chico Anysio retornou ao programa "Zorra Total" interpretando a personagem Salomé. No quadro, Salomé conversa de mulher para mulher com a presidenta Dilma Rousseff.

No dia 30 de novembro de 2011, foi internado novamente, devido a uma infecção urinária, tendo recebido alta em 21 de dezembro. Um dia depois, voltou ao Hospital Samaritano.

Chico Anísio deixou oito filhos. O ator Lug de Paula, do casamento com a atriz e comediante Nancy Wanderley, com quem se casou aos 22 anos; o também comediante Nizo Neto e o diretor de imagem Rico Rondelli, da união com a atriz e vedete Rose Rondelli; André Lucas, que é filho adotivo; o DJ Cícero Chaves, da relação com a ex-frenética Regina Chaves, de quem dizia quase não se lembrar; e o ator/escritor Bruno Mazzeo, do casamento com a ex modelo e atriz Alcione Mazzeo, casamento terminado por conta de um ensaio nu.

Também teve mais dois filhos com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, Rodrigo e Vitória.Foi a união que provocou mais polêmica. Chico contava que Zélia passou a ser uma pessoa de seu desagrado total, tendo sido um biombo para ela.

Era irmão da falecida atriz Lupe Gigliotti, com quem contracenou em vários trabalhos na televisão; do cineasta Zelito Viana; e do industrial, compositor e ex-produtor de rádio Elano de Paula. Também era tio do ator Marcos Palmeira, da atriz e diretora Cininha de Paula e é tio-avô da atriz Maria Maya, filha de Cininha com o ator e diretor Wolf Maya. Era casado com a empresária Malga Di Paula, com quem não teve filhos.

Quando tinha apenas sete anos de idade, os pais de Chico mudaram-se para o Rio de Janeiro, após a falência da empresa de ônibus da família. Ainda jovem resolveu fazer um teste para locutor de rádio, junto com uma irmã sua. Saiu-se muito bem, ficando em segundo lugar, somente atrás de outro jovem iniciante, Sílvio Santos.

Seu primeiro emprego foi na “Rádio Guanabara”, onde exerceu várias funções: radioator e comentarista de futebol, entre outras. Participou do programa “Papel Carbono”, de Renato Murce. Na década de 1950, trabalhou nas rádios "Mayrink Veiga", "Clube de Pernambuco” e “Clube do Brasil”. Nas chanchadas da década de 1950, Chico passou a escrever diálogos e, eventualmente, atuava como ator em filmes da Atlântida Cinematográfica.

Na TV Rio estreou em 1957 o “Noite de Gala”. Em 1959, estreou o programa “Só Tem Tantã”, lançado por Joaquim Silvério de Castro Barbosa, mais tarde chamado de “Chico Total”. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, televisão e cinema, sempre com humor fino e inteligente, Chico se aventurou com relativo destaque pelo jornalismo esportivo, teatro, literatura e pintura, além de ter composto e gravado algumas canções.

Chico Anysio foi um dos responsáveis pela intermediação referente ao exílio de Caetano Veloso em Londres. Quando completou dois anos de exílio, Chico enviou uma carta para Veloso, para que este retornasse ao Brasil. Caetano e Gilberto Gil haviam sido presos em São Paulo, duas semanas depois da decretação do AI-5, o ato que dava poderes absolutos ao regime militar.

Trazidos ao Rio de carro, os dois passaram por três quartéis, até viajarem para Salvador, onde passaram seis meses sob regime de prisão domiciliar. Em seguida, em meados de 1969, receberam autorização para sair do Brasil, com destino a Londres, onde só retornariam no início de 1972.

Chico Anysio, além de seu humor fino, compôs mais de 300 músicas (algumas gravadas por grandes cantoras como Dolores Duran e Dalva de Oliveira). Esteve à frente de diversos espetáculos teatrais (“Uma noite com Chico Anysio”, “Olha Eu Aí Outra Vez” e “O Fofo”.

Além disso publicou diversos livros: “O Batizado da Vaca”, “Como Segurar Seu Casamento”, “O Enterro do Anão”, “A Curva do Calombo”, “Feijoada na Copa”, “O tocador de Tuba”, etc.).

Além de se dedicar ao humor, Chico também foi artista plástico. Apaixonado pela pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que tirava dos países que visitava. Realizou exposições de seus quadros em diversas galerias do Brasil e chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo à atividade.

Desde 1968 encontrava-se ligado à Rede Globo, onde conseguiu o status de estrela num "cast" que contava com os artistas mais famosos do Brasil; e graças também a relação de mútua admiração e respeito que estabeleceu com o executivo Boni. Após a saída de Boni da Globo nos anos 1990, Chico perdeu paulatinamente espaço na programação, situação agravada em 1996 por um acidente em que fraturou a mandíbula.

Em 2005, fez uma participação no Sítio do Pica-pau Amarelo, onde interpretava o "Dr. Saraiva" e participou da novela “Sinhá Moça”, na Rede Globo. Chico tinha contrato com a emissora até este ano.

Dirigiu e trabalhou ao lado de grandes nomes do humor brasileiro no rádio e na televisão, como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D'Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos e muitos outros. Tornou-se um dos mais famosos, criativos e respeitados humoristas da história do país.

No cinema participou de vários filmes: 1959, “Entrei de Gaiato”; 1981, “O Mundo Mágico dos Trapalhões”; 1996, “Tieta”; 2009, “Se Eu Fosse Você”; 2009, “Up - Altas Aventuras”; 2009, “Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei” e 2010, “Uma Professora Muito Maluquinha”.

Em 2009, Chico foi tema da escola de samba “Unidos do Anil”, do Rio de Janeiro, desfilando com o enredo "Chico Total! Sou Anil e Faço Carnaval".

O seu personagem mais famoso foi o “Professor Raimundo”, cuja primeira aparição no vídeo aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”. Até então o programa só havia sido veiculado pelo rádio. Mas outros personagens também ficaram famosos como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem.

Com o passar dos anos, novos tipos foram criados e incorporados ao programa: o funcionário da TV Globo Bozó, que tentava impressionar as mulheres por conta de sua condição; o mulherengo e bonachão Nazareno, sempre de olho nas serviçais; o político corrupto Justo Veríssimo; e o pai de santo baiano e preguiçoso Painho são alguns dos mais populares.

Chico também atuou em novelas e especiais da Globo, como “Pé na jaca” (2007), “Sinhá Moça” (2006), “Guerra e paz” (2008) e “A diarista” (2004). Chico Anysio também teve um quadro fixo no Fantástico por 17 anos (de 1974 a 1991), e supervisionou a criação no programa “Os Trapalhões” no início dos anos 90.

Chico Anysio recebeu no ano 2000, em Brasília, uma homenagem que o colocou entre os 20 brasileiros vivos mais importantes deste século, ao lado de pessoas como Pelé, Raquel de Queiroz e Emerson Fittipaldi.

Em novembro de 2009 foi agraciado com a “Ordem do Mérito Cultural”, a mais alta comenda do governo brasileiro na área. Da vida, dizia levar apenas um arrependimento: “ter fumado durante 40 anos”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Chico, com a camisa do Vasco.

segunda-feira, 12 de março de 2012

CBF tem novo presidente

O novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e do Comitê Organizador para a Copa do Mundo de 2014 (COL), José Maria Marin nasceu em São Paulo no dia 6 de maio de 1932. Seu pai, Joaquín Marín y Umañes, de origem galega foi boxeador e ajudou a disseminar o esporte no Brasil.

Ao contrário de Ricardo Teixeira, que não teve qualquer experiência esportiva, Marin foi atleta, tendo jogado no São Paulo F.C., entre 1950 e 1952, como meio de custear parte dos estudos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Pelo tricolor participou de 20 jogos, com 12 vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Era ponta direita e marcou cinco gols.

Marin se formou advogado em 1955. Entrou na política ao final dos anos 50 e construiu uma carreira vitoriosa e meteórica. Em 1960 elegeu-se vereador pelo antigo Partido de Representação Popular (PRP), fundado pelo integralista Plínio Salgado. Em 1969 foi presidente da Casa.

Nos anos 70 ganhou uma cadeira na Assembléia Legislativa paulista, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido da ditadura militar. Entre maio de 1982 e março de 1983, na condição de vice-governador, assumiu o Governo do Estado substituindo o titular Paulo Maluf, que se desincompatibilizara para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Marin foi o último governador biônico do Estado.

Como governador, deu prosseguimento ao projeto energético estadual iniciado por Maluf, inaugurando hidrelétricas em municípios interioranos. Foi ele que assinou a extinção do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no Estado, órgão de repressão policial da ditadura militar. Mas a exemplo de Maluf, enfrentou denúncias por permitir ações truculentas da Polícia Militar contra opositores de seu governo. Em março de 1983 foi substituído pelo governador eleito, Franco Montoro, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Em 1985 foi um dos principais coordenadores da campanha que levou Jânio Quadros à prefeitura de São Paulo. Com o fim da ditadura militar Marin foi perdendo o prestigio político, prova disso que em 1986 candidatou-se ao Senado pelo Partido da Frente Liberal (PFL), ficando em quarto lugar, atrás de Hélio Bicudo e dos eleitos Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso.

Em 1987 foi disputado um campeonato de futebol que levou o nome de “José Maria Marin”. Participaram da competição 14 equipes, todas do interior do Estado: América (São José do Rio Preto), Bandeirante (Birigui), Estrela (Itu), Ferroviária (Araraquara), Jabaquara (Santos), Jacareí (Jacareí), Matonense (Matão), Mogi Mirim (Mogi Mirim), Noroeste (Bauru), Novorizontino (Novo Horizonte), Santo André (Santo André), São Bento (Sorocaba), XV de Jaú (Jaú) e XV de Piracicaba (Piracicaba).

As equipes foram divididas em dois grupos de cinco, e um de quatro, jogando todos contra todos em turno e returno, indo para as semifinais os times com melhor aproveitamento. Chegaram às finais as equipes do São Bento e América. No primeiro jogo decisivo houve empate de 1 X 1. No jogo de volta, disputado em 9 de dezembro de 1987 em São José do Rio Preto, o América garantiu o título goleando por 5 X 2.

Em 2000, Marin disputou à prefeitura de São Paulo pelo Partido Social Cristão (PSC), somando apenas 9.691 votos, míseros 0,18% dos válidos. Em 2002, nova desilusão política: concorreu ao Senado e teve apenas 63.641 votos, ou 0,2% dos válidos. Em 2007 filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileira (PTB).

Entre os anos de 1982 a 1988 presidiu por duas vezes a Federação Paulista de Futebol. Durante a Copa do Mundo de 1986, realizada no México, Marin foi um dos chefes da delegação brasileira. Em 2008, exerceu a vice-presidência da CBF na Região Sudeste, indicado por Marco Polo Del Nero, presidente da FPP.

No dia 8 de março deste ano, assumiu interinamente a presidência da CBF, depois que o presidente Ricardo Teixeira pediu licença, alegando problemas de saúde. Quatro dias depois assumiu o cargo em definitivo, com a renúncia de Ricardo Teixeira, que mandou e desmandou na CBF durante 23 anos.

A sua ascensão ao cargo mais importante do futebol brasileiro teve de superar a resistência de várias federações que não o queriam na presidência da CBF, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A imprensa esportiva continua a fazer críticas, ainda mais depois que ele declarou que dará continuidade ao trabalho de Ricardo Teixeira.

Em 25 de janeiro deste ano foi protagonista do chamado “escândalo da medalha”. Quando da premiação da Copa São Paulo de Futebol Junior, no Pacaembu, vencida pelo S.C.Corinthians Paulista, ele “disfarçadamente" surrupiou uma das medalhas, que seria entregue ao jogador Mateus do Corinthians.

A TV Bandeirante, que cobria o ato, flagrou a ação de Marin e a mostrou ao vivo em rede nacional. O episódio causou revolta e ganhou repercussão nacional. Logo depois, na tentativa de minimizar o episódio, a FPF explicou que a medalha já estava prometida para o dirigente como um presente de Marco Polo Del Nero, presidente da entidade maior do futebol paulista e "padrinho" do colega na CBF.

Com a saída de Ricardo Teixeira, o São Paulo F.C., que estava em litígio com a CBF, fez as pazes com a entidade e até divulgou uma nota desejando boa sorte ao novo mandatário do futebol brasileiro.

"O Dr. Marín é um advogado ilustre, com uma trajetória importante no futebol. Inclusive com experiência dentro do campo. Temos plena confiança de que ele vai trazer um novo momento para o futebol brasileiro. Desejamos a ele toda sorte e apoio neste momento", disse o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio. (Pesquisa: Nilo Dias)

sexta-feira, 9 de março de 2012

100 anos de futebol em São Gabriel

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Mestre Ziza

Quem viu Zizinho jogar, e eu tive essa honra, sabe que ele foi um dos grandes jogadores surgidos no futebol brasileiro em todos os tempos. Pena que naquele tempo quase não havia televisão e poucas são as imagens que ficaram, mostrando lances em que o grande craque participou. Por isso os torcedores da nova geração não sabem quem ele foi. Alguns até o compararam a Pelé, que dizia ter se inspirado em Zizinho, seu grande ídolo.

Eu não me arriscaria a fazer comparações entre Pelé e Zizinho. Considero Pelé o melhor de todos e dificilmente alguém virá a superá-lo. Sei que agora está brilhando o argentino Messi, mas terá que ralar muito para chegar perto do que foi Pelé, que marcou mais de mil gols e ganhou todos os títulos imagináveis. Para mim, depois de Pelé Zizinho foi o melhor. Nem tem para Zico, brilhante jogador do Flamengo.

Tomás Soares da Silva, mais conhecido como Zizinho, nasceu em São Gonçalo (RJ), no dia 14 de setembro de 1921 e faleceu em Niterói (RJ), no dia 8 de fevereiro de 2002. Começou a carreira nas divisões de base do Byron, de Niterói. Em 1939, com 18 anos de idade foi para o Flamengo, depois de uma rápida passagem pelo São Cristóvão e uma recusa do América (RJ).

No primeiro treino que fez na Gávea, entrou no time titular faltando 10 minutos para o seu término, depois que Leônidas da Silva se machucou. E partiu para o tudo ou nada. O tempo era curto, por isso Zizinho tratou de prender a bola, driblar e fazer gol. Na primeira bola que recebeu foi desarmado, na segunda partiu em zigue-zague driblando um, dois três adversários e na saída do goleiro bateu em seu contrapé. Depois marcou outro gol, encobrindo o goleiro com um leve toque.

Com 19 anos era titular absoluto em um Flamengo que contava com Domingos da Guia e Leônidas da Silva. Seu primeiro jogo no rubro-negro foi um amistoso, no dia 24 de dezembro de 1939, em que o Flamengo perdeu por 4 X 3 para o Independiente, da Argentina.

Com ele no time o rubro-negro ganhou o campeonato carioca de 1939 e ainda foi tricampeão estadual em 1942, 1943 e 1944, quando foi apontado como principal responsável pela conquista. O genial Nelson Rodrigues, quando “Mestre Ziza” jogava no Flamengo, costumava dizer: ”basta os alto-falantes do Maracanã anunciarem o nome de Zizinho, para saber quem será o vencedor da partida”.

Zizinho deixou o Flamengo antes da Copa de 50, depois de atuar em 329 partidas, quando foi vendido pelo presidente Dario de Melo Pinto ao Bangu por uma fortuna, sem ao menos ser consultado. Segundo registros 800 mil cruzeiros. Na época o Bangu era mantido integralmente pela família Andrade, onde figurava outro “Zizinho” – Zizinho Andrade, pai de Castor de Andrade – e onde o dinheiro corria “frouxo”.

O jogador assinou o contrato sem ao menos ler. E dizem que fez um único comentário: “Se o Bangu pagou tanto pelo meu passe é porque reconhece o meu futebol". No primeiro jogo contra o ex-clube deixou clara a sua mágoa. O Bangu goleou por 6 x 0, e ele teve uma atuação de gala.

No livro "Nação Rubro-negra", de Edilberto Coutinho, Zizinho desabafou: "Difícil dizer o que me magoou mais, se a perda da Copa de 50 ou a minha saída do Flamengo... acho que foi a saída do Flamengo. A maneira como os homens que dirigiam o clube fizeram a transação me machucou muito... nunca aceitei". Zizinho era apaixonado de corpo e alma pela equipe da Gávea. No Bangu ficou por 6 anos e marcou 120 gols, sendo um dos maiores artilheiros da história do clube.

Na Copa de 1950 suas grandes atuações maravilharam o público. Na vitória contra a Yugoslávia, por 2 X 0, em que ele marcou um dos gols, muitos críticos dizem que essa foi a melhor partida individual de um jogador brasileiro em todos os tempos, por uma seleção nacional. Mesmo com a inesperada derrota brasileira para o Uruguai na final, Zizinho foi eleito o melhor jogador da competição.

Ele não teve sorte na Seleção, onde jogou 54 vezes. Em 1953 houve o problema no sul-americano de Lima, no qual ele acabou rotulado de mercenário pelo escritor José Lins do Rego, chefe da delegação brasileira na ocasião. Esse episódio, inclusive, motivou Zizinho a escrever o livro “Verdades e Mentiras no Futebol”, em 2001.

Zizinho era tão bom e dono de uma classe e valentia impressionantes, que antes mesmo de completar 25 anos era chamado de "Mestre Ziza", apelido que ganhou do jornalista italiano Giordano Fatori, que cobriu a copa de 1950 para o jornal "Gazzetta dello Sport". Ele escreveu: "O futebol de Zizinho me faz recordar Da Vinci pintando alguma coisa rara", comparando o futebol do jogador com um dos maiores mestres da pintura de todos os tempos.

Já no fim de carreira em 1957, aos 35 anos, os companheiros de equipe o chamavam de "Seu Zizinho", tamanho o respeito. Também foi um fantástico artilheiro marcando 336 gols em sua carreira. Com a camisa do Flamengo foram 145; no Bangu 120; na Seleção Brasileira, 31; no Audax Italiano (Chile), 16 e ainda 24 pelo São Paulo. Mesmo com sua grande identificação com o Flamengo foi no Bangu que Zizinho conseguiu ser artilheiro de um campeonato carioca ao marcar 19 gols em 1952.

Em 1957, já com 35 anos, foi jogar no São Paulo F.C. por indicação do técnico húngaro Bella Gutman, onde ficou até 1958 e conquistou seu quinto título estadual (1957), marcando 24 gols.

Seu último clube foi o Audax Italiano, do Chile. Aos 39 anos, depois de ficar três anos fora do futebol, foi chamado para ser técnico do clube chileno. Atendendo ao pedido de fazer um jogo de exibição acabou atuando por toda a temporada, encerrando a carreira em 1962 aos 40 anos e ainda deixando 16 gols nas redes adversárias. Era chamado pelos companheiros de equipe de "professor" ou "doutor".

Zizinho foi protagonista de uma das mais interessantes histórias do futebol. Jogavam Bangu e Vasco no Maracanã, na decisão do campeonato carioca de 1956, vencido pelos cruzmaltinos por 2 X 1. O árbitro era Eunápio de Queiroz. Quando acabou o primeiro tempo, o repórter de rádio Luiz Fernando levou seu microfone até Zizinho para algumas declarações sobre a primeira etapa. O Bangu estava perdendo. “Que tal o jogo, Zizinho?”, perguntou. E Zizinho respondeu: “Está difícil porque esse juiz não é Eunápio de Queiroz, é Larápio de Queiroz”.

O repórter não perdeu tempo e contou tudo ao árbitro. Quando os times voltaram a campo, Eunápio perguntou a Zizinho: “É verdade que o senhor disse que eu deveria me chamar Larápio de Queiroz?”. E Zizinho confirmou: “Foi, eu disse”. E Eunápio: “Então pode voltar para o vestiário, o senhor está expulso de campo”. E foi assim que Zizinho transformou-se num dos raros jogadores da história expulso no intervalo.

Certa vez, dois times argentinos, o Independiente e o Racing, vieram participar de um torneio quadrangular no Maracanã, o “Torneio do Atlântico”, juntamente com o Vasco e o Flamengo. Terminava o ano de 1955 e o Vasco resolveu reunir a famosa dupla Ademir e Zizinho.

O Bangu cedeu Zizinho por empréstimo e aconteceu o que parecia impossível: “Mestre Ziza” vestido de vascaíno. Zizinho foi, assim, vascaíno não somente por um dia, mas sim dois. O Vasco perdeu a primeira partida para o Independiente e venceu o Racing na disputa do terceiro lugar. O Flamengo foi o campeão do torneio.

Vale recordar que tempos depois, já como técnico, Zizinho trabalhou no Vasco em duas oportunidades, 1967 e 1972. Em ambas, a equipe não realizou boa campanha e ele durou poucos meses no cargo.

Títulos conquistados. Pelo Flamengo: Torneio Inicio Carioca (1946); Campeonato Carioca: (1939, 1942, 1943 e 1944); Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro (1943); Troféu Cezar Aboud (1948); Troféu Embaixada Brasileira na Guatemala (1949); Troféu EL Comite Nacional Olímpico da Guatemala (1949) e Taça Cidade de Ilhéus (1950).

Pelo Bangu: Torneio Início Carioca (1950 e 1955); Torneio Triangular do Equador (1957); Torneio Triangular do Rio de Janeiro (1957) e Torneio Triangular de Porto Alegre (1957). Pelo São Paulo: Campeão Paulista (1957). Pela Seleção Brasileira: Copa Rocca (1945); Copa America (1949); Taça Oswaldo Cruz (1950); Copa Rio Branco (1950); Campeonato Pan-Americano (1952); Taça Oswaldo Cruz (1956) e Taça do Atlântico (1956).

Prêmios: Melhor jogador da Copa do Mundo (1950); Craque do time das estrelas da Copa do Mundo (1950); Artilheiro do Campeonato Carioca pelo Bangu, com 19 gols (1952); Quarto Maior jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS (1999) e Décimo Maior jogador Sulamericano do Século XX pela IFFHS (1999).

Após encerrar a carreira, Zizinho tornou-se fiscal de rendas do Estado do Rio de Janeiro, função que exerceu até a aposentadoria. Morreu em 8 de fevereiro de 2002, aos 80 anos, após sofrer um ataque cardíaco na casa da filha, em Niterói, no Rio de Janeiro.

No dia em que Zizinho completaria 89 anos, a filha Katia Regina, e as netas Simone e Suzana levaram as bisnetas Milena e Maria Eduarda, que estava completando 6 anos (nasceu na mesma data que Zizinho), para conhecerem as marcas dos pés do famoso bisavô, imortalizado na “Calçada da Fama”, do Maracanã. A filha Katia estava presente, do dia 16 de junho de 1950, quando Zizinho participou da festa que homenageava 51 dos maiores jogadores do futebol brasileiro de todos os tempos. (Pesquisa: Nilo Dias)