Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O criador da camisa canarinho

Eu conheci o jornalista Aldyr Garcia Schlee, que em 1953, aos 19 anos de idade, ganhou o concurso nacional promovido pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e pelo jornal carioca “Correio da Manhã, para desenhar um novo uniforme para a Seleção Brasileira de Futebol, diferente daquele da tragédia de 1950 no Maracanã. O uniforme da derrota para os uruguaios tinha camisas brancas com colarinho azul. A seleção usaria o projeto vencedor na Copa do Mundo de 1954, na Suíça.

Para participar do concurso existia uma única regra: o uniforme devia contemplar as quatro cores da nossa bandeira. Aldyr, que era desenhista e caricaturista, ganhou dos outros 201 concorrentes, colocando o verde e amarelo nas camisas e o azul e branco nos calções.

O modelo vencedor era assim: camisa amarela com colarinho e punhos verdes; calções azuis com uma faixa vertical branca; meias brancas com detalhes em verde e amarelo. Como não tinha o tom correto de azul celeste da bandeira, Aldyr usou o azul cobalto, que foi fielmente reproduzido e continua no uniforme até hoje. O Brasil estreou o novo uniforme no Maracanã, no dia 14 de Março de 1954, numa vitória de 1x0 sobre o Chile.

Nna final da Copa de 58 o Brasil enfrentou a Suécia, que também jogava de amarelo. Não tendo preparado um uniforme reserva, o Brasil recortou os escudos de suas camisas amarelas e os costurou sobre um jogo de camisas azuis compradas de última hora em uma feira livre de Estocolmo. Nasceu assim o uniforme de número dois da seleção brasileira.

Como prêmio, Aldyr ganhou o equivalente a vinte mil reais e um estágio no Correio da Manhã, no Rio de Janeiro, onde pode conhecer e conviver com figuras expoentes do jornalismo da época como Nélson Rodrigues, Antonio Calado, Millor fernandes e Samuel Wayner.

A primeira vez que eu vi Aldyr Garcia Schlle, ele trabalhava no vespertino “Opinião Pública”, de Pelotas, fundado em 1896 e eu na Rádio Tupancy, que ficava em frente ao jornal. Quando cheguei ao matutino “Diário Popular”, no início dos anos 60, a “Opinião Pública” vivia seus últimos momentos, tendo fechado definitivamente em 1962.

Também trabalhou na “Opinião Pública” o jornalista e advogado Carlos Alberto Chiarelli, que tempos depois se elegeu deputado federal e senador. O editor de esportes era Salimen Júnior, que tempos depois brilhou na imprensa de Porto Alegre. Não lembro dos outros jornalistas, mas sei que era uma redação das mais qualificadas.

Aldyr Garcia Schlee nasceu em Jaguarão (RS), no dia 22 de novembro de 1934 e viveu sempre entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Além de jornalista é renomado escritor, tradutor, desenhista e professor universitário. As suas especialidades são a criação literária, a literatura uruguaia e gaúcha, a identidade cultural e as relações fronteiriças.

Doutor em Ciências Humanas, publicou vários livros de contos e participou de antologias, de contos e de ensaios. Alguns livros seus foram primeiramente publicados no Uruguai pela editora Banda Oriental. Traduziu a importante obra "Facundo", do escritor argentino Domingos Sarmiento, fez a edição crítica da obra do escritor pelotense João Simões Lopes Neto, quando estabeleceu a linguagem. Foi planejador gráfico do jornal “Última Hora”, repórter e redator.

Criou o jornal “Gazeta Pelotense”, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, foi fundador da Faculdade de Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), de onde foi expulso após o golpe militar de 1964, quando foi preso e respondeu a vários IPMs; foi professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), por mais de 30 anos, onde foi também pró-reitor de Extensão e Cultura. É torcedor do Brasil, de Pelotas, clube que chegou a ser tema do conto "Empate", publicado em "Contos de futebol" e também da Seleção Uruguaia.

Há uma explicação para o fato dele torcer para os uruguaios: Aldyr nasceu em Jaguarão a 200 metros do Uruguai e 600 km de Porto Alegre. Sua formação como torcedor foi baseada no futebol platino. Toda segunda chegavam em sua casa jornais de Buenos Aires e Montevidéu, com os craques e os jogos.

Recebeu duas vezes o prêmio da Bienal Nestlé de Literatura Brasileira e foi cinco vezes premiado com o Prêmio Açorianos de Literatura. Em novembro de 2009 pubicou "Os limites do impossível, os contos gardelianos", pela editora ARdoTEmpo e em 2010, pela mesma editora, o romance "Don Frutos", ano em que foi também destacado com o Prêmio Fato Literário de 2010.

Atualmente vive em um sítio no município de Capão do Leão. Tem três filhos, três netos e seu passatempo é o futebol de botão, cujo time "veste" a camiseta do Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre, com a escalação dos anos 60.Em Jaguarão, sua terra natal, existe uma rua chamada “Uma Terra Só,” em homenagem à obra e à história do escritor. (Pesquisa: Nilo Dias)

Aldyr Garcia Schlle e os três desenhos que criou para o concurso.