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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O centenário do Santos F.C. (2)

O Santos Futebol Clube, logo após sua fundação, realizava seus treinos em um campo localizado no Bairro do Macuco. Como o gramado não tinha as dimensões oficiais mínimas, seus jogos eram disputados no terreno onde hoje está a "Igreja Coração de Maria", na avenida Ana Costa. O campo era utilizado também por outros clubes da cidade. Em 1915, a situação chegou a um limite, obrigando o clube a rejeitar visitas de clubes internacionais, inclusive.

Para resolver o problema, os dirigentes passaram a procurar terrenos na cidade. Em 31 de maio de 1916, uma Assembléia Geral aprovou a compra de uma área de 16.500 metros quadrados, no Bairro da Vila Belmiro, entre as ruas Abolição, Guarani, Tiradentes e Dom Pedro I. A denominação Vila Belmiro provém de Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, figura influente na vida política e econômica do município, que exerceu o cargo de prefeito por duas vezes.

Proprietário de muitas terras, algumas glebas ele doou à municipalidade, e outras ele loteou, criando a Vila Operária, mais tarde Vila Belmiro, por desejo dos próprios moradores, que assim o pleitearam em reconhecimento a seu benfeitor.

E no dia 12 de outubro daquele ano, o sonho se tornou realidade com a inauguração da praça de esportes da Vila Belmiro. O primeiro jogo, foi realizado 10 dias depois, contra o Ypiranga, válido pelo Campeonato Paulista, com vitória de 2 X 1, gols de Millon e Jarbas. O Santos jogou com Odorico - Américo e Arantes – Pereira - Oscar e Junqueira – Millon – Marba – Tedesco - Jarbas e Arnaldo.

A denominação Estádio Urbano Caldeira, surgiu em 1933, como homenagem a um dos maiores benfeitores do clube. Caldeira foi um dos mais fanáticos entusiastas do Santos, dedicando 20 anos de sua vida ao seu engrandecimento. Ex-jogador e técnico do clube e que chegou a ser visto até cortando e aparando o gramado da Vila.

De 1921 a 1926 o Santos fez campanhas fracas no Campeonato Paulista, mas foi o período necessário para o surgimento da primeira geração do que se tornaria uma tradição no clube, a descoberta de jovens talentos. A equipe de jovens garotos que formaria o famoso "ataque dos 100 gols" começou a ser formada em 1923 com a chegada do jovem Araken Patusca, 16 anos, irmão de Ary Patuska. Na mesma época entraram para a equipe outros atletas de baixa idade.

Quatro anos após a chegada desses jovens, e com a inclusão de alguns nomes como o do extraordinário artilheiro “Feitiço”, o Santos estreou no Campeonato Paulista aplicando uma goleada de 12 X 1 sobre o Ypiranga, com 7 gols de Araken. Foi o recorde de gols em uma única partida, só sendo superado 37 anos depois por Pelé.

Durante toda a disputa estadual o clube venceu por placares elásticos, o que resultou em 100 gols do ataque santista, média de 6.25 gols por partida. Mas a excelente campanha não foi coroada com o título. No último jogo, quando precisava de apenas um empate, foi derrotado pelo Palestra Itália, por 3 X 2, em partida muito conturbada.

O Santos seria ainda vice-campeão em 1928 e 1929, sempre fazendo muitos gols. Em 1931 foi novamente vice-campeão, mas Araken não estava mais no clube. Retornou em 1935. O ataque que entrou para a História como a famosa "linha dos 100 gols" era formado por Siriri, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista.

O nome de batismo de Araken era Abraham Patusca da Silveira. Nasceu em Santos, a 17 de julho de 1905 e faleceu naquela cidade em 24 de janeiro de 1990. Jogou no Santos, São Paulo da Floresta e Flamengo. Fez parte do primeiro time santista a entrar para a história, muito antes da era Pelé.

Foi o único jogador do futebol paulista a disputar a Copa do Mundo de 1930 no Uruguai. Ficou conhecido como "Le Danger", "O Perigo", em francês. Aumentou sua fama quando foi emprestado pelo Santos para participar de uma excursão em 1925, do Paulistano, clube que não se profissionalizou.

Jogando ao lado de outro craque, Arthur Friedenreich, o ótimo desempenho levou a que os jogadores brasileiros fossem chamados de "reis do futebol" pelos jornais franceses. Vaidoso, gostava de jogar usando uma boina.

São Paulo da Floresta e Santos fizeram, em 1933, o primeiro jogo de futebol profissional do país. Foi nele também que o apelido do Santos, "Peixe", foi dito pela primeira vez. Tratou-se de uma provocação. Antes do início do jogo, a torcida adversária chamava os jogadores santistas de "peixeiros", de maneira pejorativa. A massa santista retrucou dizendo: "Somos peixeiros, e com muita honra". A partir daí o apelido foi adotado pelo clube santista, e a mascote, a “Baleia”, foi criada.

O primeiro título de campeão paulista demorou a chegar, aconteceu em 1935, após um declínio dois anos antes, em razão do início do profissionalismo no futebol brasileiro. A final do campeonato daquele ano aconteceu em 17 de novembro, no Parque São Jorge, contra o Corinthians. O resultado foi uma vitória de 2 X 0, gols marcados por Raul Cabral Guedes e Araken Patusca.

Em 1956, chegou à Vila Belmiro, trazido pelas mãos de Waldemar de Brito, o menino Pelé, de 15 anos, que deu um novo impulso à história do Santos, levando-o a conquistas que enalteceram o futebol brasileiro no planeta. O time do Santos vinha de grandes campanhas, sendo bicampeão paulista em 1955-1956, apresentando os craques Pepe e Zito, dentro outros. Com Pelé, o time se tornou um dos maiores da história.

Pelé marcou seu primeiro gol com a camisa do Santos num amistoso com o Corinthians, de Santo André, jogo em que o time da Vila Belmiro venceu por 7 X 1. Em 1958 ganhou seu primeiro Campeonato Paulista, estabelecendo como artilheiro o recorde de 58 gols, que permanece até hoje. Neste Campeonato Paulista o Santos marcou 143 gols.

O Santos com Pelé continuou nos anos seguintes a ganhar todas as principais competições que disputava. Em 1959, a conquista do primeiro Torneio Rio-São Paulo e o vice-campeonato da Taça Brasil. Em 1960, mais um paulista. De 1961 até 1965 a hegemonia do futebol brasileiro com cinco Taças Brasil.

Em 1962 e 1963, o bicampeonato sul-americano da Copa Libertadores da América e o bicampeonato da Copa Intercontinental. Só não ganhou todos os Campeonatos Paulistas de 1958 até 1969, pois o Palmeiras, time conhecido na época por "Academia", conseguia interromper a sequência de tempos em tempos. É o único clube brasileiro a conquistar, num mesmo ano (1962), um título estadual, um nacional, um continental e uma Taça Intercontinental.

Em 1967 o Santos ganhou novamente o Campeonato Paulista e deu início ao seu segundo tricampeonato da competição. Em 1968 o time com grandes revelações como Clodoaldo, Edu, Abel e Toninho Guerreiro voltou a conquistar outra série de títulos nacionais e internacionais, como a Recopa Intercontinental de 1968. De 1960 a 1969, período de 10 anos, conquistou nada menos que 22 títulos oficiais, um recorde entre times brasileiros.

No ano de 1969, as conquistas e a fama do Santos eram tão grandes que, em uma excursão pela África, a guerra no Congo Belga, atual República Democrática do Congo, entre forças de Kinshasa e de Brazzaville, foram suspensas para que as cidades pudessem assistir aos jogos do time. Logo após as partidas e as homenagens, o conflito recomeçou. Este evento serviu claramente de inspiração para o "Amistoso da Paz", realizado entre as seleções de Brasil e Haiti, em 18 de agosto de 2004.

Com dívidas devido a investimentos que não deram certo, como o do Parque Balneário, o clube ia vendo seus craques saindo. Compromissos com a CBD para a eleição de João Havelange para presidente da FIFA obrigaram o time a sucessivas excursões por todo o globo, desde a África até a Arábia, o que refletiu no fraco desempenho do time nos campeonatos internos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pelé, o maior jogador do mundo até hoje, foi o grande nome da história do clube em todos os tempos.