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segunda-feira, 16 de julho de 2012

O legendário "Tarzan"

Otacílio Batista do Nascimento, o “Tarzan”, foi um chefe de torcida do Botafogo, do Rio de Janeiro, nos tempos gloriosos do clube da estrela solitária. Nasceu em Minas Gerais em 1927 e faleceu no Rio de Janeiro em 1990, aos 63 anos de idade. Em Belo Horizonte, Otacílio era camelô e torcedor do Atlético Mineiro.

Ao assistir um jogo entre Atlético X Vila Nova, entusiasmou-se pela atuação do jogador Guará, e passou a fazer parte da torcida atleticana. Mudando-se para o Rio de Janeiro, depois de andar por Minas Gerais e São Paulo, logo se tornou torcedor do Botafogo, porque tinha as mesmas cores que o “Galo” mineiro.

Quando criança Otacílio tinha o apelido de "Botafogo", nome que em Minas Gerais é associado a alguém que seja provocador de discórdias ou suscitador de rixas. E escolheu precisamente um clube adequado ao seu apelido de infância – o Botafogo de Futebol e Regatas.

Já o apelido "Tarzan", surgiu graças a mania que tinha de amarrar um feixe de palha de milho a um barbante, pedindo aos empregados da fazenda do pai que lhe ateassem fogo, e agarrado à outra ponta, ele saia correndo. Esse era um dos seus divertimentos preferidos, pois gostava de ver a fumaceira e as fagulhas que se formavam.

Como bom torcedor, “Tarzan” acompanhou o Botafogo em todas as partidas desde 1953. Mas foi somente quatro anos depois, em 1957, que começou a entrar nos estádios carregando bandeiras e fogos de estampido. Não demorou para que o aclamassem chefe da torcida do alvinegro. Essa devoção pelo clube custava caro.

A antiga atleta de basquete e também torcedora do Botafogo, Ivone Santos, chegou a comentar que se o time continuasse muito tempo na liderança do campeonato, “Tarzan” certamente iria a falência, tais os gastos com os fogos. Mas “Tarzan” não ficou preocupado e disse que aquilo que gastava com o clube recebia de retorno multiplicado, “pois mais vale uma satisfação que dinheiro amealhado.”

Sua posição de líder da torcida, permitia que discutisse com a imprensa os problemas do Botafogo. Ele fazia comícios, opinava, acusava, elogiava e aplaudia sempre que fosse caso disso. “Tarzan” não poupava nem mesmo os maiores craques do time. Ele considerava “Garrincha” um péssimo exemplo para os jovens. Também não livrou Didi, Quarentinha e Zagallo por várias razões.

Se dependesse dele, todos esses jogadores teriam sido vendidos. E, se contasse com força no Conselho Deliberativo, teria afastado os dirigentes que na sua opinião impediam o crescimento do clube.

Por suas posições fortes, “Tarzan” enfrentou muitas dificuldades. Havia gente que não gostava de suas manifestações em defesa do Botafogo, tanto dentro de campo, onde comparecia com uma charanga e profuso foguetório, quer nas ruas, quando as autoridades agiam violentamente para o impedir de vender e ganhar a vida. “Tarzan” era camelô.

A sua vida foi atribulada, mas “Tarzan” defendia-se dizendo que se o tratassem bem não haveria brigas. Mas como sempre dois ou três o atacavam sem motivos, aos murros e pontapés, reagia à altura. E depois acabava preso e processado. Mas nunca foi condenado, porque os juízes sempre reconheceram que agira em legítima defesa.

A figura de “Tarzan” como torcedor apaixonado mereceu respeito e admiração até dos torcedores rivais. A torcida do Vasco da Gama o agraciou com um escudo de ouro do clube, em 1957. A do América lhe deu uma flâmula representativa do clube, em 1959. E a do Flamengo o presenteou com um belo quadro de seu clube, em 1962.

Embora tivesse um bom relacionamento com o Flamengo, foi “Tarzan” quem lançou o apelido de “Urubu” ao clube rubro-negro, alusão racista à grande massa de torcedores rubro-negros afro-descendentes e pobres. Tal apelido de cunho ofensivo nunca foi bem recebido pela torcida do Flamengo até o dia 31 de maio de 1969.

Era um domingo, quando os torcedores rubro-negros Luiz Otávio Vaz, Romilson Meirelles e Victor Ellery resolveram levar a ave para um jogo entre o Flamengo e Botafogo no Maracanã. Na época, os dois clubes faziam o clássico de maior rivalidade pós-Garrincha e o Flamengo não vencia o rival havia dois anos. Nas arquibancadas, os torcedores do Botafogo gritavam, como sempre, que o Flamengo era time de "urubu".

O urubu foi solto na arquibancada com uma bandeira presa nos pés, e quando caiu no gramado, pouco antes do jogo iniciar, a torcida fez a festa, vibrando e gritando: "é urubu, é urubu". O Flamengo venceu o jogo por 2 X 1, numa partida que marcou também a estréia de Doval.

E, a partir daí, o novo mascote consagrou-se, tomando o lugar do "Popeye". O cartunista Henfil, rubro-negro, tratou de humanizá-lo em suas charges esportivas em jornais e revistas, e o Urubu tornou-se um mascote popular.

Em 9 de setembro de 1969, a torcida organizada pelo legendário “Tarzan”, motivou a fundação do Grêmio Recreativo Torcida Jovem do Botafogo (TJB), que até hoje é a mais antiga em atividade. (Pesquisa: Nilo Dias)