Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A marca da violência

Muitos foram os zagueiros violentos que desfilaram em nossos gramados. Só para lembrar alguns: Tomires e Pavão, no Flamengo da década de 1950. O atacante precisava ser macho, para enfrentá-los. Daison Pontes, do Gaúcho, de Passo Fundo, recordista nacional em expulsões, foram mais de 20. Aterrorizou todo o Rio Grande. Foi o primeiro jogador de futebol a bater em um árbitro.

No Flamengo, onde permaneceu por apenas três meses, recebeu a ordem de deixar o treino do saudoso Flávio Costa após um lance violento contra Airton Beleza, que foi jogado na grade.

No São Borja e Bagé teve Aguiar, um negrão com quase dois metros de altura. Batia para valer. Agora o São Borja, que voltou ao futebol, tem outro zagueiro, de nome Bonaldi, que só o ano passado foi expulso três vezes. Em toda a carreira de 20 anos, perdeu a conta de quantas vezes foi tirado do gramado mais cedo. Num jogo em Bagé quis bater de relho no jogador Adão e apanhou da torcida.

Claro que por esse Brasil afora tiveram e tem muitos jogadores violentos, incapazes de ganhar o “Prêmio Belfort Duarte”, que era dado aos jogadores que passassem 10 anos sem serem expulsos de campo.

Mas poucos se igualam a Antenor José Cardoso, o Pinheirense, um zagueiro que jogou no Náutico, de Pernambuco e na Ferroviária, de Araraquara. Era respeitado pelos atacantes, que quando o viam em campo, tratavam logo de ficar o mais longe possível da área adversária meio de campo.

No Náutico, Pinheirense atuou entre 1979 e 1980. Gostava de relembrar uma cena ocorrida quando de uma excursão do Náutico ao Caribe. Foi num jogo contra os Cosmos, dos Estados Unidos. No primeiro lance contra o jogador Chinaglia, Pinheirense chegou junto e acertou o tornozelo do italiano, que chiou bastante. Como era um “touro” de forte, continuou no jogo.

Pelo time de Araraquara, jogou entre 1982 e 1983, inclusive na brilhante campanha da inesquecível Taça de Ouro de 1983. Segundo pesquisa de Marcelo Cirino, atuou com a camisa da Ferroviária em 85 jogos. Venceu 26, empatou 27 e perdeu 32. Marcou um gol.

A fama de homem mau se consolidou na Ferroviária, nos anos 80, quando impiedosamente “abria a caixa de ferramenta”, diziam antigos locutores esportivos. Na maioria das vezes acertava meio gomo da bola e metade do pé do adversário.

Pinheirense também vestiu as camisas do Botafogo, de Ribeirão Preto (SP), Ituano (SP), em 1988, Coritiba (PR), Paulista, de Jundiaí (SP), Londrina (PR), São Caetano (SP), Lençoense (SP), Lemense (SP) e Corinthians, de Presidente Prudente (SP), onde encerrou a carreira em 1993.

Só na Ferroviária ele foi expulso de campo em quatro oportunidades e muitas outras vezes nos outros clubes que defendeu. Duas delas entraram para a história como fato inédito e pela valentia. Dia 13 de outubro de 1982, em jogo que a Ferroviária perdeu de 4 x 1 para o São Paulo, no Morumbi, Pinheirense e Serginho Chulapa foram expulsos aos dois minutos de jogo.

Pinheirense disse na época que não tinha medo de nada, por isso enfiou a mão em Serginho, que era mais forte. Ele revidou e Pinheirense teve que correr para não apanhar.

Em 15 de maio de 1983, no jogo Ferroviária 0 x 1 Corinthians, na Fonte Nova, em Araraquara, a Ferroviária buscava o empate, quando Ataliba puxou o contra-ataque e Pinheirense o derrubou. O juiz Dulcídio Wanderley Boschillia de imediato expulsou o zagueiro, que inconformado e raivoso pisou na garganta de Ataliba, que estava caído.

Revoltados, os jogadores do Corinthians partiram para cima de Pinheirense, que só não levou uma surra porque foi salvo pelo médio alvinegro Paulinho, amigo dos tempos de Náutico. Na confusão, Mauro e Casagrande foram expulsos.

Depois do jogo, o atacante Casagrande disse que Pinheirense tinha que ser eliminado do futebol, e ameaçou fazer uma denúncia contra ele no Sindicato dos Atletas Profissionais, citando o “currículo” do zagueiro nos gramados. Foi expulso oito vezes por Boschillia, cinco por Godói e quatro vezes por Morgado, e mais uma série incontável por outros juízes.

Apesar de tudo, Pinheirense não conseguiu ser o jogador expulso de campo mais cedo. O lateral-direito Édson Abobrão, da Ponte Preta, de Campinas bateu todos os recordes, ao ser mandado para o chuveiro pelo árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna, com apenas um minuto de jogo, num clássico de Campinas (SP), após entrada violenta sobre o meia Neto, hoje comentarista esportivo.

Em 1983, depois da Ferroviária ter derrotado o Grêmio pelo Campeonato Brasileiro, em pleno Estádio Olímpico, um torcedor do time gaúcho acertou um soco no rosto do jogador Bozé, do time araraquense. Pinheirense que também saia de campo naquele momento, viu a cena e saiu como um louco atrás do torcedor, que se jogou no fosso. Foi quando Renato Gaúchoe Bonamigo partiram contra o zagueiro, a fim de defender o torcedor. O Bozó já tinha sumido e ele precisou encarar os dois sozinhos. Ao chegar no vestiário grená, meio chorando, meio que sorrindo ele esbravejou. "Me deixaram sozinho, mas eu sou o cabra macho" .

Apesar da fama de violento, Pinheirense garantia que também sabia sair jogando com a bola dominada. Trabalhou com grandes técnicos, como Sérgio Clérice, Bazzani, Pepe, Zé Duarte e Roberto Brida, entre outros.

Desde 2000 que Pinheirense estava mal e vivendo em cadeira de rodas em razão de ter sido vítima de tentativa de homicídio, efetuada pelo marido de uma ex-namorada no bairro de Pirituba, na capital paulista. Ele vivia da aposentadoria de um salário mínimo que tinha, e fez muitos eventos com os amigos que muito o auxiliavam.

Pinheirense nasceu na cidade de Pinheiros, no interior do Maranhão, no dia 4 de novembro de 1956. Era filho de Pinheiro, um dos maiores “xerifes” da história do Sport e faleceu aos 53 anos de idade, em Recife, onde morava, no dia 22 de agosto de 2009, vítima de uma infecção generalizada, decorrente dos tiros recebidos anos atrás. O jogador foi sepultado no Cemitério Santo Amaro, na capital pernambucana e deixou um único filho. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pinheirense disputou com Daison Pontes, a condição de zagueiro mais violento do futebol brasileiro.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O centenário do F.C. Santa Cruz

O F.C. Santa Cruz, da cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, completou 100 anos de atividades no último dia 26 de março. O clube foi idealizado em 1913 por um grupo de jovens liderados por André Klarmann. A reunião que definiu a fundação do clube aconteceu no Hotel Schmidt, no centro da cidade.

O primeiro jogo do novo time ocorreu no dia 3 de abril, contra o Clube Concórdia, também da cidade de Santa Cruz do Sul. O resultado não consta nos registros do clube. O local do jogo foi o campo de várzea, que se localizava onde hoje se encontra o Estádio Municipal, junto ao Parque da Oktoberfest.

Em julho de 1913, o clube realizou sua primeira partida fora de Santa Cruz do Sul. O confronto foi em Candelária, contra uma equipe local. A delegação viajou em carroças, deslocando-se no sábado à tarde para a cidade vizinha, onde pernoitou num hotel e no outro dia aconteceu o jogo. À noite, os jogadores participaram de um baile e regressaram somente na segunda-feira.

Nos anos que se seguiram foram muitos jogos contra equipes amadoras. Entre as décadas de 20 e 30 o time já participava de campeonatos estaduais, nas fases regionais. Na década de 20, quando deixou de jogar na várzea para ocupar sua casa própria, venceu o maior rival da época, o Grêmio Esportivo Santa Cruz, por 2 X 0, quando ganhou o apelido de “Galo Carijó”, ou “Esporão de Ouro”, como canta seu hino. Com direito a passeata com carros enfeitados com ramos de bambu e chuchus pendurados.

Nos anos de1932 e 1933, fez boas campanhas, sagrando-se vice-campeão do interior, perdendo o título para o Pelotas que venceu por 5 X 2, em jogo realizado no antigo estágio do Grêmio, em Porto Alegre. Em 1930, aderiu ao profissionalismo e dois anos depois, chegou a ser vice-campeão do interior. Naquele tempo a torcida era um show à parte. Chegava ao estádio em passeata, com uma banda de música. Havia torcida organizada de senhoras, com fardamento e tudo, e um bloco dos homens.

Na década de 60 o Santa Cruz começou a disputar os certames organizados pela Federação Gaúcha de Futebol, que envolviam equipes regionais. Entre 1974 e 1978, os dois times da cidade – Santa Cruz e Avenida – fizeram uma fusão, quando foi criada a Associação Santa Cruz de Futebol.

A fusão até que deu bom resultado. Orientado pelo técnico Daltro Menezes, o time conseguiu classificar-se entre os quatro melhores do Estado. Mas a fusão acabou quando aconteceu a briga provocada por dirigentes do antigo Avenida, insatisfeitos pela divulgação do clube como Santa Cruz, em vez de Associação Santa Cruz. Por isso o Avenida deixou a fusão, voltando a ter vida própria.

As boas campanhas do Santa Cruz seguiram até a metade da década de 1990. Até que em 1995 conheceu o rebaixamento para a Segunda Divisão, após enfrentar grave crise financeira. Em 1997 o clube retornou a elite do futebol gaúcho.

Mas foi em 1999 que o Santa Cruz buscou a modernização. Contratou um grupo de bons jogadores e voltou a realizar boas campanhas, tendo nessa época deixado de ganhar o título do interior, que foi perdido dentro de casa. Para ajudar nas finanças, o clube inaugurou um Posto de Gasolina junto ao Estádio dos Plátanos, a casa própria do clube.

Em 1934 o Estádio dos Plátanos era muito diferente do que é hoje, quando tem capacidade para receber 6 mil torcedores. Foi a época em que o jogador encruzilhadense Dario dos Santos, o “Caco Véio”, recém-casado com Dona Alzira, foi contratado para cuidar do estádio e morar lá, em um chalezinho. A área se estendia até o Expresso Albatroz. Dario jogava no time desde os 16 anos e entre os treinos cuidava dos fardamentos listrados de preto e branco e da copa de salgados que mantinha. Mais tarde se tornou treinador da equipe, totalizando 23 anos no clube.

Os netos de Dario Santos também fizeram história dentro do Santa Cruz e fora dele: Paulo Spall, já falecido foi jogador do clube. O irmão Luiz Fernando Spall, foi presidente da Associação de Árbitros de Santa Cruz e o primo Carlos Spall, jogador de Futsal. E o bisneto Luiz Carlos Walter Jr, infanto-juvenil do Internacional.

O atual grande rival do Santa Cruz, o Avenida, surgiu em 1947. No primeiro clássico disputado, houve empate em 2 X 2. A rivalidade já se fez presente de cara, pois houve uma pancadaria generalizada, pois o campo não tinha alambrado, o que facilitava a invasão deste. A velha rivalidade com o Avenida continua até hoje. Mas no passado, chegava a fechar o Quiosque e o Bar Polo Sul, em dia de jogo, para evitar confrontos das torcidas.

No primeiro clássico Ave-Cruz defenderam o Santa Cruz os jogadores: Julio – Ormond - Lindolfo Gerhardt – Cafuringa – Felicíssimo – Joãozinho – Fogareiro – Hanny – Mico - Dario Santos e Helio Almeida, que retornara à cidade em 1942, para jogar nos juvenis do clube. Depois passou para o time de cima, onde jogou até ser eleito presidente, cargo que ocupou por seis gestões intercaladas, até 1995.

Almeida acompanhou as muitas fases do Santa Cruz, inclusive quando da fusão na década de 70. Em 1952, ano em que assumiu pela primeira vez a presidência , o time foi vice- campeão do Interior, perdendo o título para o Sá Vianna, de Uruguaiana que sagrou-se campeão. O time do Santa Cruz contava nessa época com bons valores, como Amaro, Joãozinho, Paraguai, Paulo Cesar Tatu, Cuca, Calixto, Maninho, Betinho e Moacir. A melhor colocação do clube no Campeonato Gaúcho foi um quarto lugar em 1988.

Já vestiram a camisa alvinegra nomes como Betinho, Eduardo Heuser, Palito, Moa, Gabriel Porto, Everaldo, os selecionáveis paraguaios Sanabria e Sotelo, a dupla de atacantes Rogerinho e Paulo Roberto, além de Cuca, atual técnico do Atlético-MG, que jogou no clube na década de 1980. O F.C. Santa Cruz é atualmente presido por Léo Schqingel.

Títulos conquistados: Vice-Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão (1952, 1983 e 1997); Campeonato Citadino de Santa Cruz do Sul (1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952 e 1953); Campanhas de destaque no Campeonato Gaúcho ( 3º lugar em 1932 e 1959); Copa Centenário do Santa Cruz, disputada este ano, contra o maior rival, o Avenida. Depois de perder por 2 X 1 nos Eucaliptos, o Santa Cruz devolveu o placar nos Plátanos e venceu nos pênaltis. Artilheiros: Valduino, em 1983, com 10 gols no Campeonato Gaúcho da Série B.

O Santa Cruz, que desde 1997 se encontrava na elite do futebol gaúcho, não conseguiu escapar da “praga” que persegue os clubes de futebol nos anos de seus centenários e foi rebaixado no Campeonato Gaúcho, e terá que disputar a Divisão de Ascenso, o ano que vem. Torcedores, dirigentes e profissionais lamentaram a queda do clube justamente num ano que deveria ser só de comemorações. O Santa Cruz fez neste ano uma de suas piores campanhas, com cinco vitórias, um empate e 9 derrotas, em 15 partidas e o 14º lugar na classificação geral. (Pesquisa: Nilo Dias)

Na foto de 1914 um dos primeiros registros fotográficos do Futebol Clube Santa Cruz. (Foto: Acervo fotográfico do F.C. Santa Cruz)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O folclórico “Marcha-ré”

O ex-árbitro Antônio Gomes de Oliveira, o “Marcha-ré”, foi um personagem folclórico do futebol de Minas Gerais. Ele apitava desde a inauguração do “Mineirão”, em 1965. Depois de largar o apito trabalhou como delegado de pista. Com o fechamento do “Mineirão” para a Copa, ele passou a se dedicar aos projetos pessoais. Era torcedor do Villa Nova, de Nova Lima.

O ex-árbitro recebeu esse apelido porque gostava de correr de costas para acompanhar as jogadas de perto. O filho de Antônio Gomes conta que ele tinha facilidade de correr dessa maneira.

Personagem de muitos casos folclóricos no futebol, “Marcha-ré” gostava de contar para a família sobre uma briga em Uberlândia, envolvendo Edmundo, à época no Flamengo, e Zandoná, defensor do Vélez.

“Meu pai adorava contar o dia em que ele entrou no campo do “Parque do Sabiá” para separar a briga do Edmundo. O vídeo saiu na Internet e ele disse que a confusão poderia ter sido pior”, disse Danilo.

“Marcha-ré” faleceu no dia 27 de julho do ano passado, em consequência de problemas no coração e nos rins. Ele havia completado 80 anos em abril e dedicou 30 deles à arbitragem. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Bola tingida de sangue

Nestor Pedroso, o “Fruto”, nasceu em Dom Pedrito, no ano de 1903, mas só começou a se dedicar ao futebol em 1918. Naquela época existia em Dom Pedrito o E.C. 15 de Novembro, fundado pelo doutor Oscar Fontoura, então jogador do E.C. Cruzeiro, que mais tarde foi eleito deputado estadual e membro do secretariado do Governo do Estado. O craque Fontoura passava as suas férias na cidade natal e não querendo perder a forma e nem o contato com a bola fundou o clube.

“Fruto” fazia sucesso e ganhava fama nas “peladas”. Seria um grande elemento para o 15 de Novembro. Apareceram logo associados interessados em aproveitar o seu concurso. Mas não foi nada fácil ingressar no 15, que era um clube de brancos. Foi preciso uma reunião de Assembléia Geral para Fruto ser aceito no quadro.

No 15 ficou dois anos, era um futebol pobre, de amadores. Depois foi aconselhado a ir para Bagé, onde teria maiores possibilidades de desenvolvimento. Aceitando a sugestão partiu para a “Rainha da Fronteira”, onde estreou pelo Guarany, em 1921, sempre na posição de centromédio.

No fim do campeonato de 1921 aconteceu com “Fruto” uma coisa muito desagradável. Faltavam dois minutos para terminar uma partida e os dois adversários estavam em condições de igualdade no marcador. Nisso uma bola passou por ele. O goleiro pensando que Fruto interromperia a passagem da bola, parou. Foi gol. A torcida do Guarany pensou que ele havia se vendido por dinheiro. Foi um abalo muito grande que sofreu. Naquela época nem se ouvia falar em suborno.

Aborrecido, “Fruto” deixou Bagé e foi para Rio Grande, disposto a nunca mais ouvir falar em futebol. Passeou uns dois anos sem jogar. Mas como trabalhava na Padaria Bento, atendendo à insistência de amigos, resolveu atuar pelo E.C. Padeiral, que congregava a classe dos padeiros.

“Fruto”, pelas suas qualidades de jogador e pela ascendência que possuía sobre os seus companheiros, passou a ser a figura máxima do clube, dentro e fora dos gramados. No Padeiral era chamado de “governador”.

Um sério conflito no qual foi assassinado um torcedor do clube dos padeiros, fez com que se pensasse na mudança de denominação do Padeiral, nome este que fazia recordar aquele acontecimento sangrento. “Fruto” foi contra, mas a maioria decidiu trocar o nome do clube para Americano, isso em 1927. Ele aproveitou a oportunidade e junto de Carruíra e outros jogadores ingressou no S.C. Rio Grande, que sempre foi o seu clube de coração.

Em 1929 foi para o Brasil, de Pelotas, onde atuou até 1934, ano em que foi para o Flamengo, do Rio de Janeiro. A torcida do Brasil sentiu imensamente a saída de seu grande jogador e lhe ofertou um retrato com os dizeres: “Por baixo as vezes passa, por cima nunca”.

No Flamengo, “Fruto” teve a má sorte de encontrar Flávio Costa, que era o centromédio do clube rubro-negro carioca. Mas já estava passando da idade, quando Fruto chegou. O dirigente Bastos Padilha então disse-lhe: “Flávio, o gaúcho a partir de hoje vai ocupar o seu lugar. Você nos prestará mais serviços cuidando do time como técnico”.

Foi a desgraça de “Fruto”. Flávio passou a persegui-lo de todos os modos, bem como antigos companheiros de time, a quem ele não apreciava. O treinador fazia “Fruto” treinar de zagueiro para jogar de centromédio. Quando reclamava treinava de centromédio e jogava como zagueiro. Um inferno. Por fim não suportou mais. Resolveu voltar para o Sul. Os diretores do Flamengo, todavia, queriam impedir a sua saída. Argumentaram, discutiram, mas “Fruto” não cedeu.

Chegaram ao ponto de desconfiar que era a sua esposa que estivesse influindo na decisão. Uma comitiva de dirigentes flamenguistas foi até a casa do jogador, numa hora em que ele se encontrava ausente, para saber da mulher se estava faltando alguma coisa em casa. Ela de pronto respondeu que estava tudo bem.

Ao saber da visita, “Fruto” disse que nunca na vida havia passado tão bem. Recebera de luvas Cr$ 5.000.00 de luvas, uma verdadeira fortuna para a época e ganhava um salário de Cr$ 800.00 por mês, mais casa e luz. Mas o certo é que seu desejo era ir embora.

Em 1935 estava de volta ao Brasil, de Pelotas, onde ficou por apenas um ano. Em 1936 foi para o S.C. Rio Grande, onde se sagrou campeão municipal por antecipação, o que lhe garantiu o direito de disputar o estadual.

Em novembro e dezembro, o Rio Grande enfrentou o Grêmio Atlético 9º R.I., de Pelotas, em dois jogos, realizados em Rio Grande e Pelotas. Tendo vencido ambos os confrontos, o tricolor riograndino se classificou para enfrentar em Porto Alegre ao E.C. Novo Hamburgo, depois Floriano e hoje novamente E.C. Novo Hamburgo, a quem venceu por 5 X 2.

Estava o Rio Grande habilitado a decidir o título frente o Sport Club Internacional, de Porto Alegre. A final seria disputada em dois ou três jogos, todos marcados para o campo do Força e Luz, na capital gaúcha. O primeiro deles foi realizada no dia 17 de janeiro de 1937 e o S. C. Rio Grande venceu pelo placar de 3 X 2, com gols de Souza, Pecce e Ernestino. Os gols do Internacional foram marcados por Salvador e Sílvio.

O S. C. Rio Grande jogou com: Munheco – Fruto e Cazuza – Juvêncio – Chinês e Roberto - Ernestinho – Darinho – Souza (Carruíra) - Marzol e Pecce.

A segunda partida foi novamente vencida pelo Rio Grande, pelo placar de 2 X 0, sagrando-se Campeão Gaúcho. A escalação do Rio Grande foi a seguinte: Munheco - Cazuza e Juvêncio – Chinês – Sanguinha e Roberto – Ernestinho - Carruíra (Caringi) – Souza - Marzol e Pecce.

Na volta para Rio Grande, os jogadores foram recebidos com muita festa, tendo inclusive desfilado pelo centro da cidade em automóveis conversíveis.

Como lembrança dessa competição memorável, o S.C. Rio Grande guarda em sua sede a bola do jogo e a camiseta de “Fruto”, ambas manchadas de sangue. Tudo aconteceu quando “Fruto” pulou junto do jogador Salvador, do internacional, cabeceando a bola e o adversário. O choque foi tão violento que Salvador chegou a gritar: “Ô mãeeee” e foi de imediato levado de ambulância para um hospital. “Fruto”, mais resistente, continuou em campo, molhado de sangue.

Também a bola no final do jogo, se apresentava com os gomos pintados de vermelho. O pessoal do S.C. Rio Grande a guardam na sede, como exemplo de uma dedicação de atleta superior aos próprios sofrimentos físicos. Na época a bola era arrematada por fora, e recebia o nome de tento. Era uma costura de couro crú, e quem tinha a coragem de cabeceá-la, muitas vezes saia com um ferimento na cabeça.

Em 1936, o selecionado gaúcho eliminou o onze carioca, no Campeonato Brasileiro de Seleções, por isso teve tempo e aceitou jogar um amistoso em Rio Grande, frente o S.C. Rio Grande.

“Fruto” começou o jogo como zagueiro, mas minutos depois trocou de posição, com Chinês (pai de Chinesinho), passando para o centro da intermediária, pois na sua visão aquele setor da equipe não estava bem. Com isso, a linha atacante carioca, composta por Orlando, Leônidas, Carvalho Leite, Feitiço e Patesko, ficou paralisada.

Ao final do jogo, Feitiço, num lance desleal tirou “Fruto” do gramado. Terminada a partida com o placar igual em 2 x 2, “Fruto” lamentou que sua equipe não tivesse marcado o terceiro gol num pênalti. Devido o técnico carioca ter reclamado muito, “Fruto”, que era o capitão do time, ordenou que a falta fosse batida ostensivamente para fora. Pênalti, na época dele era considerado covardia, pois o goleiro não podia se mexer. Geralmente era batido para fora, só convertiam, se esse gol estivesse fazendo falta.

Na opinião de “Fruto”, esse foi o melhor time que o S.C. Rio Grande montou em toda a sua história de quase 113 anos. “Fruto” jogou no Rio Grande até 1943, atuando como zagueiro e centromédio.

A maior emoção de sua vida teve-a em 1936, quando na campanha vitoriosa do Estadual, o Rio Grande derrotou o então poderoso esquadrão do 9º RCB, atual Farroupilha, de Pelotas, que tinha em seu plantel jogadores altamente categorizados, como Cardeal, Cerrito, Selistre, Brandão e outros.

Os maiores jogadores que conheceu foram Luiz Carvalho, em Porto Alegre, Mário Reis, em Pelotas, o uruguaio Greco, em Bagé, Carruíra, em Rio Grande e Juvenal de Brito, em São Paulo.

“Fruto” foi sempre um jogador firme, mas leal, que geralmente levava vantagem pelo porte físico avantajado que possuía. Mal encostava e o adversário já caia. Ele e o atacante Luiz Carvalho, que também era muito forte, proporcionaram grandes duelos, mas nunca houve lesões nessas disputas entre eles.

Um filho de “Fruto”, que também levava o seu apelido, chegou a jogar nos aspirantes do S.C. Rio Grande. Outros clubes tentaram contratá-lo, mas o pai nunca deixou. E explicava porque: “Ou joga no Rio Grande ou não joga em ninguém mais”.

O grande jogador é até hoje lembrado em Rio Grande, onde virou nome de rua. Na Vila Maria José, existe a rua Nestor Pedroso. (Pesquisa: Nilo Dias)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O "Leão" pernambucano

Como e porque o “Leão” é o símbolo do Sport, tradicional clube do futebol pernambucano? Ginanildo Alves conta isso em detalhes nio seu livro “História do Futebol em Pernambuco”. Em 1919 o Sport promoveu uma excursão até Belém do Pará, para vários jogos contra equipes daquele Estado. Era a primeira vez que um clube de Pernambuco era protagonista de uma longa viagem fora do Estado.

Para isso o time foi reforçado com Bermudes, do América, e Lelis, do Flamengo, este incluído na delegação rubro-negra sem que seu clube tivesse autorizado. Por outro lado, o Sport conseguiu junto ao Santa Cruz permissão para levar Alcindo Wanderley, o célebre Pitota, considerado o primeiro grande ídolo do futebol pernambucano.

Só que ele viajaria como árbitro, não como jogador. Era comum naqueles tempos, jogadores apitarem. Fazia parte da rotina do futebol. Em três jogos dos rubro-negros em Belém, Pitota empunhou o apito, mas pelo menos em um, vestiu a camisa do Sport..


O time pernambucano saiu de Recife no dia 12 de março, a bordo do navio “Olinda”, tendo como chefe da delegação o desportista Hybernon Wanderley. Mais o secretário-geral, José Luiz da Silveira Barros, e os jogadores Mário Franco, Afonso Alarcon, Arlindo Lelis, José Bermudes, Antonio Mazullo, João Batista, Aníbal Madeira, Pedro Mazullo, Nestor Cruz, Luciano Pereira, Alcindo Wanderley, Mário Mattos, Henrique Adour, Ruy Gouveia, Carlos Wanderley e Rodrigo Carneiro.
O primeiro jogo do Sport em gramados paraenses foi no dia 23 de março, quando empatou em 3 X 3 com o Combinado Remo-Paysandu. No dia 27 enfrentou e venceu o Selecionado Paraense por 3 X 2, ganhando o "Troféu Lão do Norte". Nesse jogo o Sport mandou a campo: Mário Franco - Alarcon e Antônio Mazullo - Nestor Cruz - Bermudes e Lelys - Baptista - Pitota - Annibal - Ruy e Luciano Pereira.

No dia 30 perdeu de 4 X 0 para o Paysandu, mas se reabilitou no dia 3 de abril, derrotando mais uma vez o combinado Remo-Paysandu, desta vez por 2 X 1.

Na despedida, o onze pernambucano perdeu para o Remo por 1 X 0. A excursão foi considerada um sucesso, pois nos cinco jogos disputados venceu dois,empatou um e perdeu duas vezes.

A viagem de volta foi feita no navio “Rio Negro”, que atracou no cais do porto de Recife no dia 14 de abril. No portaló do vapor, vaidoso e sorridente, o chefe da delegação, Hybernon Wanderley, mostrava aos torcedores que recepcionaram o time, o enorme e rico troféu, denominado “Leão do Norte”, conquistado na partida contra a Seleção do Pará.

O bronze, até hoje guardado com carinho no Museu do Sport, é trabalho de um escultor francês, e representa um gladiador dominando um leão. O troféu está um tanto danificado, devido um incidente ocorrido momentos antes de o Sport regressar ao Recife.

A revista “Rubro-Negro”, edição de outubro de 1951, publicou matéria sobre o assunto que diz:

“O fato mais curioso da história do bronze ”Leão do Norte” está ligado à sua conquista. Os clubes do Pará tinham a certeza de que o bronze ficaria em Belém, por isso ostentava a legenda: “O caboclo paraense domina o Leão do Norte”.

Mas, tal não se deu e, como o Sport o conquistara, recusaram entregar-lhe o brinde, sendo necessário o presidente da embaixada rubro-negra ir à Polícia para reclamar direitos líquidos do clube pernambucano, para que o bronze fosse entregue a seus conquistadores. Foi o bronze levado para o vapor e lá deixado em exposição, quando apareceu um torcedor local que o mutilou, num protesto mudo porque o bronze não ficara no Pará”.

Cerca de 30 automóveis saíram do porto para o Cais José Mariano, sede do Sport, passando antes pelas principais ruas da cidade, onde o povo nas calçadas aplaudia os jogadores. O cortejo foi precedido pela banda de música da Escola Correcional do Recife, vindo logo em seguida um carro “Overland”, no qual iam, acenando para a multidão, Hybernon Wanderley, Carlos Médicis e Armando Loyo. À noite, no Restaurante Leite, a diretoria do Sport ofereceu um banquete aos jogadores e convidados especiais.

O memorável feito dos jogadores rubro-negros foi eternizado pouco tempo depois, com a adoção do "Leão" como símbolo do clube. (Pesquisa: Nilo Dias)

O troféu que originou a adoção do "Leão", como símbolo do clube.