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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O futebol cearense está de luto

O futebol cearense está de luto, com o falecimento hoje, na avançada idade de 105 anos, de Valdemar Caracas, um dos fundadores do Ferroviário Atlético Clube, tradicional agremiação esportiva de Fortaleza, que em 2013 completará 80 anos de história, e o mais velho fundador, ainda vivo, de um time de futebol no país.

Ele não resistiu a uma insuficiência renal, conseqüência da pneumonia que o levou a ser internado desde meados de dezembro, em um hospital particular de Fortaleza. No início de janeiro, Valdemar Caracas chegou a ser submetido a uma traqueostomia, procedimento cirúrgico que consiste em abrir um orifício na traquéia e inserir uma válvula para auxiliar na respiração do paciente.

Os que o conheceram afirmavam que se tratava de um homem que soube ser filho, pai, avô, bisavô, marido e desportista no melhor estilo. O vice-presidente do Ferroviário, Edmilson Junior lamentou a morte de Valdemar Caracas que, segundo ele, foi um dos maiores nomes da história do futebol cearense. "Era uma referência, um ícone”.

O dirigente afirmou ainda que o clube vai homenagear o seu fundador no velório, enterro e durante a partida desta quarta-feira contra o Tiradentes no estádio Presidente Vargas. Ele garantiu que Caracas não será esquecido pelo clube e pela torcida. O Ferroviário decretou luto oficial de 9 dias em sua homenagem.

O corpo de Valdemar será velado a partir das 17h desta segunda-feira (14) na Funerária Ethernus, na rua Padre Valdevino, 1688 - Aldeota, em Fortaleza. O sepultamento, que também será marcado por uma Missa, ocorrerá na manhã de terça-feira (15), a partir das 10h, no Cemitério Parque da Paz, no bairro Passaré.

Caracas não foi apenas um dos fundadores do Ferroviário e o primeiro cronista esportivo do Estado, era também fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB), no Estado, o mais antigo previdenciário do Ceará, tendo ainda sido sub-prefeito de Parangaba, na gestão do Prefeito Manoel Cordeiro Neto.

Valdemar Cabral Caracas nasceu em Pacoti (CE), no dia 9 de novembro de 1907. A casa aonde veio ao mundo ainda pertence à mesma família. Está localizada na entrada da cidade, no sítio “Pau do Alho”, no primeiro quarteirão. Ali, ele foi batizado pelo monsenhor André Tabosa.

Em 1936, quando era vereador em Fortaleza, Valdemar Caracas enviou um projeto propondo o nome de Monsenhor Tabosa, à rua do cemitério. Sobre a sua primeira moradia, Caracas contou que o proprietário, de nome Silveira, foi atropelado na calçada por um jipe e morreu.

Ainda jovem se mudou com a família para Fortaleza para estudar em escola pública. O pai dele era empregado de um comércio em Fortaleza, que começava a fervilhar. Saiu de Pacoti, na região do Maciço de Baturité, com a família, e alugou uma casa de duas janelas no Centro de Fortaleza. A mãe, viúva, com seis filhos, casou-se de novo e teve mais sete filhos no segundo casamento, do qual Caracas é o primogênito.

Diplomado pela escola de comércio em Fortaleza, Caracas teve a história confundida com a de Fortaleza em vários âmbitos. Foi o primeiro cronista esportivo do Estado do Ceará, trabalhando na Ceará Rádio Clube, pioneira da radiodifusão cearense, além de ter sido correspondente do “Jornal do Brasil” e do “Jornal dos Sports”, do Rio de Janeiro. Foi funcionário público, dirigente esportivo, técnico de futebol e vereador.

Em 1922, Valdemar Caracas ainda não tinha completado 15 anos quando ingressou na Rede de Viação Cearense (RVC), onde chegou ao cargo de chefe do Escritório de Manutenção da empresa. Sua carreira na RVC foi concluída no cargo de secretário, o qual ocupou por três anos, até se aposentar.

Em 1926, se envolveu em um acontecimento insólito, ao fazer “uma paródia” de música com o seu chefe. A brincadeira lhe custou a transferência para Missão Velha, onde muitas vezes tinha de andar armado. Na época, o porte era livre.

A cidade seguidamente convivia com cangaceiros. Por lá aconteceu um episódio que Caracas nunca mais esqueceu, embora não tivesse chegado a ver, mas ouviu os tiros. O cangaceiro Isaías Arruda matou o segundo tenente Fernando Pinto e o sargento José Pereira Nascimento, fato que teve enorme repercussão na época.

Em maio de 1933, ficou sabendo que alguns de seus colegas da Rede de Viação Cearense haviam criado um time de futebol e realizavam jogos em um campo no subúrbio de Fortaleza, mas seguidamente se envolviam em confusões.

Disciplinador, Caracas resolveu dar uma organização mais eficiente ao time, começando assim a história do Ferroviário Atlético Clube e também a sua, dentro do tradicional clube cearense. Ele próprio contou detalhes da fundação do Ferroviário, em crônica escrita em maio de 1994:

“Vou falar sobre o Ferroviário, precisamente do Ferroviário Atlético Clube. Nascido em 1933, fruto da junção das equipes "Matapasto" e "Jurubeba", recebeu, na pia batismal, o nome de Ferroviário Footbal Clube, mas, na confirmação da crisma, fiz substituir o Football por Atlético.

Iniciava-se o ano de 1933, quando a direção da Rede de Viação Cearense (RVC) autorizou a execução de serviços extraordinários nas oficinas do Urubu, para a reparação de locomotivas, carros e vagões, durante um expediente noturno, que começava às 18 e terminava às 20 horas.

Como o expediente normal expirava às 16:25, os operários mais jovens que residiam longe dali (Barro Vermelho, Soure, Otávio Bonfim, Quilômetro 8, Parangaba, Mondubim) resolveram aproveitar a hora de folga para a prática de futebol; na preparação do campo, a relva retirada do espaço a ele destinado, era constituída de mata-pasta e jurubeba.

A verve operária, que era fértil, escolheu, então, estas plantas medicinais para denominação dos dois onzes, que se defrontavam todas as tardes, no campo improvisado. As traves das metas eram roliças, confeccionadas que foram com tubos inservíveis, retirados de caldeiras das "Marias-fumaça".

Com aquele "timezinho" cognominado apenas de Ferroviário, eles, os operários-atletas, ou melhor, “pebolistas”, foram aos subúrbios onde realizaram partidas amistosas, com real proveito para a harmonia do conjunto, tudo sem qualquer interferência da minha parte.

Foi, então, que deliberei fazer dele gente, como se diz na gíria. Reuni operários, meus companheiros, promovi sessão com livro para a lavratura de atas, fiz um retrospecto da agremiação que surgia, completei o nome desta e disse-lhes da importância daquela reunião, como fator auspicioso para projeção da classe ferroviária.

Era pretensão minha que tal ocorresse a 9 de novembro, quando eu completaria 26 anos, mas o entusiasmo exigiu a antecipação e não perdi tempo, marcando o dia para 9 de maio, exatamente 6 meses antes de 9 de novembro. Parti, então para a nova missão, aproveitando as horas disponíveis da minha atividade funcional.

Fui tudo no Ferroviário, menos presidente, porque nunca quis sê-lo. Fui pai, mãe, babá e, sobretudo, seu educador, disciplinando-o, pois a equipe suburbana era useira e vezeira em tomar o apito do árbitro, quando a decisão deste não lhe fosse agradável. Acabei com essa prática danosa ao seu comportamento, o time se fez clube, cresceu e está aí, vencendo os tropeços e dando alegrias a todos nós, seus torcedores”.

Além de fundador, Caracas chegou a se aventurar como jogador, mas não deu certo. Depois foi diretor e técnico do Ferroviário, tendo sido campeão cearense de 1945, no primeiro título estadual conquistado pelo “Ferrim”.

Valdemar também se envolveu com a política e, devido sua influência junto aos trabalhadores da RVC, foi eleito vereador de Fortaleza em 1936, pelo Partido Republicano Conservador (PRC).

No ano seguinte, ocorreu o golpe de Getúlio Vargas que instalou o “Estado Novo” e, no dia 10 de novembro de 1937 teve seu mandato cassado pela então recém-instaurada ditadura varguista. Era até hoje o único vereador vivo daquela legislatura. Posteriormente, em 1947, ajudou a fundar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Estado do Ceará .

Valdemar Caracas não mais acompanhava os jogos do Ferroviário, como antes, mas nem por isso ficava alheio a complicada situação vivida pelo clube de seu coração nos últimos anos. Enquanto teve forças, participava de perto da vida do Ferroviário, sendo um de seus mais fervorosos torcedores. Depois que se afastou do futebol, recebeu inúmeras homenagens.

Quando completou 100 anos, foi homenageado com um busto de bronze no salão principal dos alojamentos da Vila Olímpica Elzir Cabral, mandado colocar pelo então presidente, Francisco Neto..

A última homenagem prestada publicamente à Caracas foi por ocasião da reabertura do Estádio Presidente Vargas, em setembro do ano passado. Por determinação da prefeita Luizianne Lins, a “Calçada da Fama” leva o nome de Valdemar Cabral Caracas. Na oportunidade foi entregue também, uma placa comemorativa da reabertura do novo estádio.

O Estádio de futebol de Bom Jardim, leva o nome de ”Valdemar Caracas”, graças a um projeto de Decreto Legislativo dos vereadores José do Carmo e Tin Gomes (PHS). Eles justificaram a homenagem pela história de vida de Valdemar Caracas, pelos seus valorosos préstimos à comunidade do município e Estado.

O PSB cearense, quando completou 60 anos, lhe ofereceu uma placa pelo pioneirismo de ter criado no Ceará “um partido de luta pelos ideais socialistas e pelos princípios de liberdade e justiça social”.

Valdemar Caracas sempre dizia que em meados do século passado, os craques faziam a diferença. Ao contrário do que pensa a maioria dos desportistas, ele não via Pelé como o maior jogador do mundo. “Não tenho qualquer dúvida em apontar o Leônidas da Silva como o melhor de todos os tempos. Ele era incomparável”.

Além de Valdemar Caracas, o Ferroviário perdeu na última sexta-feira, 11, em Brasília, o padre Haroldo Coelho, de 77 anos. Ilustre e querido torcedor do “Ferrim”, era presença constante em jogos e eventos relacionados ao clube ”coral”. Padre Haroldo fora à Brasília passar as festas de fim de ano com familiares e há 10 dias estava internado na UTI do Hospital Daher, no Lago Sul.

Nos últimos dois dias ele não vinha respondendo aos antibióticos e apresentava um quadro de infecção generalizada, até sofrer uma parada respiratória. No jogo do último sábado, contra o Icasa, em Juazeiro do Norte, foi respeitado um minuto de silencia em homenagem à ele. (Pesquisa: Nilo Dias)

Valdemar Caracas. (Foto: Jornal "O Povo")

A fantástica máquina de fazer gols (Final)

Em 1955 o Frigorífico A. C. conquistou o título da 2ª Zona do Campeonato Fluminense, que na época não foi considerado título estadual. O reconhecimento só ocorreu em 1962, por decisão da FFD.

A confusão aconteceu por causa da recusa de niteroienses e campistas de disputar o campeonato fluminense organizado pelo DEP a partir de 1953.

Até chegar ao título máximo, o Frigorífico jogou 19 partidas, venceu 11 (uma por Wx0), empatou cinco, e perdeu apenas quatro. Marcou 45 gols e sofreu 27. No jogo contra o Royal, em Barra do Piraí, Nenzinho foi autor de três gols que deram a vitória ao Frigorífico por 4 X 3, assegurando a conquista do título.

P campeonato estadual foi organizado entre os campeões de Niterói, Campos e Vale do Paraíba, sendo esta última região aquela da qual fazia parte o Frigorífico. Frigorífico e Barra Mansa classificaram-se para o Campeonato Fluminense, ficando ambos no Grupo A ao lado do Cruzeiro, de Niterói. Infelizmente o alvinegro terminou em último lugar neste grupo e não seguiu adiante na competição.

Faltando apenas duas rodadas para o término do campeonato, o Superior Tribunal de Justiça da então CBD, mandou que fossem incluídos na competição os times da A. A. Volta Redonda e 1º de Maio S.C. , o que provocou uma crise na FFD, apoiada por todos os filiados, que se recusaram a jogar com aquele clube.

Esse fato levou a FFD a proclamar o Volta Redonda campeão, sem disputar uma única partida. Chegou a ser marcado um primeiro jogo entre Volta Redonda X 1º de Maio, que também não se realizou em face do desinteresse do clube de Santanésia de participar da polêmica questão. O “Jornal dos Sports”, de 18/12/55, noticiava:

“O OUTRO CAMPEÃO – O Frigorífico, primeiro colocado no certame de 1955, já havia garantido o título de campeão quando surgiu o caso da inclusão da A. A. Volta Redonda no certame. Tendo se unido aos demais seis clubes que não concordavam com o ingresso do novo concorrente, o Frigorífico, campeão de direito sacrificará a conquista gloriosa, mas não arredará do seu ponto de vista.

Mas isso não aconteceu. Depois de algumas reuniões realizadas em Barra do Piraí e Volta Redonda, foi sugerido que Frigorífico e Volta Redonda, formassem um combinado para representar o Sul do Estado nas eliminatórias que apontariam o representante fluminense na Taça Brasil. Mas no fim o Volta Redonda acabou participando do torneio que apontaria aquele representante, enquanto o Frigorífico tinha seu título reconhecido.

No dia 13 de dezembro aconteceu a festa de entrega das faixas aos campeões, num jogo amistoso frente a Seleção Carioca de Amadores (Departamento Autônomo), que se preparava para excursionar à Europa. O jogo contou com a participação de todos os jogadores que atuaram no campeonato. O resultado final foi um empate de 4 X 4. Os gols do Frigorífico foram marcados por Ceoca, Nenzinho, Tarrachinha e Cunha.

Na oportunidade, foi prestada uma significativa homenagem ao extraordinário craque Zé Magro, que havia encerrado sua carreira um ano antes, depois de quase 15 anos de participação decisiva na conquista de tantas vitórias e títulos que engrandeceram o clube.

Nos Campeonatos Estaduais de 1956, 1957, 1959 e 1991 o Frigorífico teve fracas participações, o que motivou o seu fechamento. Mas, inegavelmente, nos 74 anos em que participou de várias competições, deixou um legado de muitas conquistas, que até hoje são lembradas pelos torcedores de Mendes.

Muitos craques do futebol brasileiro vestiram a gloriosa camisa do Frigorífico, entre eles: Jair Rosa Pinto, que jogou pelo Madureira, Flamengo, Vasco da Gama, Santos e Seleção Brasileira; Ceoca, meia-esquerda talentosíssimo, assemelhava-se aos grandes “canhotos” que fizeram história no nosso futebol; Ramos, meia-esquerda, foi o artilheiro da equipe no campeonato de 1943, com 29 gols, estabelecendo um recorde histórico nos campeonatos da Liga Desportiva de Barra do Piraí. Era do Corpo de Fuzileiros Navais e em 1944 transferiu-se para o Madureira E.C., do Rio de Janeiro; Cunha, meia-esquerda, autor do gol que deu ao Frigorífico o título do Torneio Início do Supercampeonato de Profissionais de 1955. Pertencia ao São Cristóvão F.R., do Rio de Janeiro, na categoria “não-amador”, e veio para Mendes atraído por uma proposta para trabalhar no escritório do Frigorífico Anglo; Placedez Benitez Guglielmi, argentino, recomendado ao C.R .Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, chegou a Mendes no início de 1940 e acabou ficando para sempre.

Mas o maior ídolo da história do Frigorífico A.C. foi sem dúvida José Francisco dos reis Filho, o “Zé Magro”. O apelido veio por causa de sua magreza. Mas sabia fazer de tudo: passes, dribles desconcertantes, senso de colocação na hora de receber a bola e gols, com incrível facilidade.

Emérito goleador, que desmoralizava e humilhava os adversários com seus dribles curtos, desconcertantes e sucessivos no menor espaço de campo, Zé Magro era o terror das defesas adversárias e principal responsável pelos gols que redundaram em tantas vitórias importantes e títulos conquistados.

Foi o principal artífice de incontáveis e importantes vitórias – algumas pela impressionante marca de três gols – que tanto engrandeceram o Frigorífico. Sua fase áurea foi de 1944 a 1950, com um período de experiência no Clube Atlético Mineiro, frustrada por uma lesão mal curada, que abreviou a sua carreira.

Na memorável partida contra o Central, em Barra do Piraí, em 1948, pelo campeonato da LDBP, e que o Frigorífico venceu por 4 X 2, Zé Magro realizou talvez a maior partida de sua vida. Ao marcar o quarto gol, ele, que havia feito o primeiro e dado passes para Magela e Lair marcarem os outros dois, dirigiu-se ao local onde se encontrava a torcida do Frigorífico e exclamou, batendo no peito: “Eles têm que respeitar esta camisa!”

No final de 1950, Zé Magro estava afastado do futebol. Resolvera parar, por razões pessoais. O Cipec chegara ao final do campeonato daquele ano com um ponto de vantagem sobre o Central e dependia tão somente de suas forças para conquistar o ambicionado o título. Para isso bastava vencer o seu último jogo, contra o Frigorífico.

Didi, capitão do time do Frigorífico não gostava do Cipec, por isso insistiu para que Zé Magro jogasse aquela partida decisiva. Inicialmente, “Zé Magro” não aceitou o convite, mas depois de muitos apelos acabou cedendo e disse: “Está bem. Se depender de mim, eles não serão campeões”.

”Zé Magro” se preparou para o jogo, dando atenção ao preparo físico, que inclusive se prolongavam pela noite, com demorados passeios de bicicleta. E no domingo não deu outra: Frigorífico 2 X 1, com dois gols de “Zé Magro” e o Cipec se retirando de campo.

Para quem nunca ouviu falar em “Zé Magro”, este fato diz tudo. O grande Jair Rosa Pinto, em uma entrevista ao “Museu da Imagem e do Som”, quando indagado sobre os maiores jogadores que viu atuar no futebol brasileiro disse: “Pelé, Garrincha e Zé Magro”.

Ante a surpresa do repórter pelo inusitado da resposta, Jair acrescentou: “Zé Magro vocês não conheceram, mas foi o maior driblador do futebol brasileiro. Era do Frigorífico de Mendes”.

Em 07 de setembro de 1994, na presidência de Paulo César Caramez, o Estádio da Vila Wesley passou a denominar-se “Estádio Zé Magro”, numa justa homenagem aquele que foi o maior craque que o Frigorífico A.C. e o futebol de Mendes conheceram em todos os tempos.

Em toda a sua trajetória pelos gramados fluminenses, o Frigorífico conquistou vitórias memoráveis, que até hoje são lembradas: 7 X 0 sobre a seleção de Valença, em 1935; 9 X 2, em Mendes, sobre o Central de Barra do Piraí, em 1941; 5 X 2 sobre o Royal, em Barra do Piraí, pelo campeonato da LABP, em 1940; 8 X 4 sobre o time misto do C.R. Flamengo, em 1957; 5 X1 sobre o Cipec, em 1947, na decisão do Torneio Municipal.

Vitórias emocionantes como a de 3 X 2 sobre o Royal, em Barra do Piraí, que valeu o título de campeão da LDBP de 1952; 4 X 3 sobre o mesmo Royal, em Barra do Piraí em 15 de novembro de 1955, garantindo a conquista do título de Supercampeão Estadual de Profissionais. Vitórias dramáticas como a de 1 X 0 sobre o Metalúrgico, em São Gonçalo, em 1946, após mais de duas horas de jogo.

Vencendo no tempo regulamentar, o Metalúrgico levou a disputa para decisão numa prorrogação de 30 minutos, que terminou empatada em 0 X 0. Ou a de 3 X 2 sobre o poderoso esquadrão do Icaraí, no estádio Caio Martins, num ambiente de verdadeira batalha. Vitórias épicas como a de 6 x 4 sobre o Central, em Barra do Piraí, na decisão do título de campeão do Torneio Início de 1946, após terminar o primeiro tempo do jogo perdendo de 4 X 1.

Mas a vitória que talvez devesse ser emoldurada como um raro exemplo de garra e amor à camisa foi a que deu ao Frigorífico o título de campeão invicto da LDBP em 1945. O time alvi-negro derrotou o adversário por 3 X 0, em Barra do Piraí, depois de empatar o primeiro jogo realizado em Mendes, por 1 X 1.

O Frigorífico jogou desfalcado de Bibi e Mascote, que se transferiram para o futebol carioca. Além desses dois importantes joga dores, o clube havia perdido também Rubi, transferido para o 1º de Maio, e Robeval, Marino, Armando e Abdo, que haviam acompanhado Sabino Catete para o recém fundado Cipec E.C.

Títulos conquistados: Campeonato Fluminense (1955) ; Campeonato da Liga Esportiva Sul Fluminense (1935 e 1936); Campeonato da 2ª Zona Fluminense (1955); Campeonato da Liga Desportiva de Barra do Piraí (1943, 1944 (invicto) e 1945) e Torneio Municipal de Barra do Piraí ( 1947). (Pesquisa: Nilo Dias)

Entrega das faixas de campeão de 1955. (Foto: Acervo do Frigorífico A.C.)

A fantástica Máquina de fazer gols (I)

O Frigorífico Atlético Clube, da cidade de Mendes (RJ), foi fundado no dia 7 de setembro de 1917 por funcionários da “Brazilian Meat Company”, precursora do Frigorífico Anglo. A razão social S.A. Frigorífico Anglo só foi adotada em 1941. Mas o futebol em Mendes começou a ser jogado em 1915, dois anos antes do surgimento do Frigorífico A.C., por iniciativa dos irmãos Alcindo e Nestor Fonseca, que organizaram os primeiros times na então vila.

Mendes já foi parte de Piraí , Vassouras e Barra do Piraí mas, graças ao seu grande crescimento econômico, conseguiu emancipação em 1952 , por força da Lei n.º 1.559, de 11 de julho daquele ano, e foi definitivamente instalado em 11 de janeiro de 1953 .

O primeiro campo de futebol foi construído em um terreno ao lado esquerdo da “Estrada de Santa Rita”, então um local nobre da vila, pela sua proximidade com o “Hotel Santa Rita”, onde se concentravam as atividades dos veranistas que lotavam as suas dependências. O primeiro jogo disputado pelo Frigorífico, que se tem noticia, foi realizado no dia 7 de setembro de 1919 entre duas formações do próprio clube, que serviu para inaugurar o campo de futebol da Vila Wesley e apresentar a banda de música recém-organizada.

Segundo uma tradição oral, na impossibilidade de adquirir as camisas aprovadas pela assembléia geral, nas cores vermelha e branca, que não existiam no mercado, o clube acabou optando pelas cores preta e branca, que se tornaram definitivas.

O Frigorífico não se limitou apenas ao futebol, foi responsável por uma notável obra de integração social no município. Seu time principal nunca se negou a participar de festivais beneficentes em favor de igrejas, bandas de músicas, instituições culturais, esportivas, assistenciais e de jogadores veteranos. Ainda no setor esportivo, organizava campeonatos internos de vôlei, basquete e futebol de salão, com a participação de vários bairros e entre empregados do Frigorífico Anglo, e associações diversas, alguns reunindo cerca de 200 participantes. Seus campeonatos infantis faziam vibrar a garotada de Mendes.

O Frigorífico Atlético Clube foi um dos pioneiros do futebol no antigo Estado do Rio de Janeiro. Nos anos 20 e 30 chegou a ser quase um mito, sendo considerado o melhor time do Estado, em razão de uma série de 27 partidas sem perder. Esse verdadeiro recorde foi interrompido pelo Fluminense em 1921. O time tricolor tinha na sua formação a maioria dos jogadores que haviam se sagrado tri-campeão carioca em 1919.

Esse jogo histórico foi idealizado por Henry Welfare, da “Brazilian Meat Company”, que jogava no Fluminense, onde foi um dos grandes goleadores. Welfare, que depois foi para o Vasco da Gama, também jogou várias vezes pelo Frigorífico. O Fluminense teve uma recepção calorosa em sua visita a Mendes, tendo sido oferecido ao elenco carioca um banquete na plataforma de embarques do matadouro-frigorífico, além de um cartão de prata, entregue momentos antes do jogo.

O Fluminense venceu por 2 X 1, acabando com a invencibilidade do Frigorífico, que durara 27 partidas. O jogo se constituiu num grande acontecimento social e esportivo. Pena que as fotografias que registraram o evento, e que se encontravam em quadros nas paredes do Estádio da Vila Wesley, tenham sido destruídas pela grande enchente de 1945, que causou profundos danos as dependências do clube.

Naquele histórico jogo o time do Frigorífico formou com Gastão - João Soares e Gramofone – Alcindo - Décio Monteiro e Chiquito - Jair Taubaté - Rômulo Guariento - João Guariento - Manoel Braga e Gasolina. O atacante Manoel Braga era filho do coronel Júlio Braga. Os irmãos Guariento procediam de um clube de Bangu, chamado Esperança, e acabaram eternizando esse apelido, que se transformaria numa legenda dentro do clube, e do qual Humberto Guariento foi um extraordinário continuador.

O Frigorífico conquistou o seu primeiro título oficial em 1933, quando venceu o Central por 1 X 0, na final do Torneio Início da Liga Esportiva Sul Fluminense, disputado em Barra do Piraí. Também venceu o mesmo Central, por 3 X 2, no jogo inaugural do Campeonato da LEFS. Em 10 de março de 1940 foi disputado o “Torneio do Cinquentenário”, vencido pelo Central.

No dia 18 de abril, o então prefeito Paulo Fernandes, reuniu todos os clubes do município, para a fundação da Liga Atlética de Barra do Pirai, que depois mudou a denominação para Liga Desportiva de Barra do Piraí. Os clubes fundadores foram América, Brasil, Central, Fábrica, Frigorífico, Itacolomy (atual Cipec E.C.), Royal, Santana, Sublime e 1º de Maio.

Em 1943 o Frigorífico fez uma campanha espetacular, marcando 78 gols e sofrendo apenas 21, em 18 partidas do campeonato, com a fantástica média de 4,3 gols por jogo, com 17 vitórias e um empate, sagrando-se campeão barrense. O último jogo foi contra o Central, em Mendes, e terminou 4 X 0, com gols de Ramos (2), Tandão e Mascote.

A equipe campeã formou com: Bananada - Didi e Lourival – Robeval - Pedrão e Bibi – Mascote – Barbosa - Zé Magro - Ramos e Rubi. O time que disputou esse campeonato é considerado por muitos o melhor time Frigorífico de todos os tempos, e até mesmo do próprio futebol fluminense da época.

Na semifinal do Campeonato Estadual de Clubes Campeões de 1943, organizado pela Federação Fluminense de Desportos, o Frigorífico empatou em Mendes por 3 X 3 com o Icaraí F.C., de Niterói, atuando quase todo o segundo tempo com apenas 10 jogadores. No jogo de volta, no estádio Caio Martins, o Frigorífico vencia o Icaraí por 3 X 2 na prorrogação (2 X 2 no tempo normal) quando o jogo foi interrompido em virtude de um conflito iniciado por dirigentes e torcedores do time niteroiense, que invadiram o gramado inconformados com o terceiro gol alvinegro.

Depois, em decisão que ninguém entendeu,o Tribunal de Justiça Desportiva da FFD deu os pontos da partida para o Icaraí, que foi considerado campeão. No Campeonato estadual de 1943 a equipe somente entrou na Segunda Fase, sendo eliminado na fase seguinte.

O profissionalismo no futebol do então Estado do Rio de Janeiro começou em 1952, por determinação da Federação Fluminense de Desporto, o que provocou muita discussão. Uns entendiam que a medida fortaleceria o futebol fluminense, enquanto outros achavam que se tratava de manobra centralizadora de poder, destinada a acabar com as ligas municipais.

Naquele mesmo ano foi criado o Departamento Estadual de Profissionais, ao qual logo aderiram os principais clubes de Barra Mansa, Nova Iguaçu, Paracambi, Paraíba do Sul, Resende, Três Rios e Volta Redonda. De Barra do Piraí, aderiram inicialmente o Adrianino e o Central. Só em 1953, Frigorífico, Royal e 1º de Maio ingressaram no profissionalismo, juntamente com o Fluminense, de Vassouras, e os clubes de Valença.

O profissionalismo dos times do interior logo se mostrou altamente nefasto aos clubes, que na maioria faliram. Para completar, os jogos do Campeonato Carioca eram transmitidos pelas rádios, esvaziando os estádios nas pequenas cidades.

No Estadual de 1954 a equipe ficou no grupo da 2ª Zona junto com 1° de Maio de Piraí, Adrianino de Eng° Paulo de Frontin, Brasil Industrial e Tupy de Paracambi e Central e Royal de Barra do Piraí. O alvi-negro não se classificou, passaram de fase apenas Brasil Industrial, Central e Royal. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Frigorífico Mendes Club que inaugurou a arquibancada do estádio da Vila Vesley, em 1920. Da esquerda para a direita, de pé: Murilo Neves - Augusto dos Santos - João Soares - Gastão - Nestor Fonseca, Ambrose Evelyn Moore e Thomaz Santos; ajoelhados: Chiquito - Décio Monteiro e Gramofone. Sentados: Jair Taubaté - Rômulo Guariento - João Guariento - Manoel Braga e Alcindo Fonseca. (Foto: Acervo do Frigorífico A.C.)