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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Os 100 anos do Nacional de Manaus (1)

O Nacional Futebol Clube, de Manaus (AM), desde o último dia 13 faz parte do seleto grupo de clubes centenários do futebol brasileiro. A tradicional agremiação amazonense foi fundada no dia 13 de janeiro de 1913, depois de uma cisão no "Manaos Sporting", que era presidido pelo doutor Edgard de Melo Freitas.

A cisão foi motivada por desentendimento entre o presidente e o capitão da equipe Manuel Fernandes da Silva, o “Fernandinho”, quando em reunião da Diretoria discutia-se determinado artigo do Estatuto do clube. A oposição de “Fernandinho” encontrou apoio entre seus companheiros de equipe, da qual faziam parte, entre outros, o senhor José Marçal dos Anjos, de tradicional família de Manaus, que em solidariedade o acompanharam na saída do "Manaos Sporting".

Dessa maneira surgiu o “Eleven” Nacional F.C., depois de uma reunião acontecida em uma casa da rua 7 de Setembro. O nome Nacional foi o escolhido, em razão de que o grupo de jogadores era composto só por brasileiros, numa época em que a maioria dos praticantes do futebol em Manaus, era de ingleses, que já haviam fundado clubes como o "Manaos Sporting". A palavra inglesa “Eleven”, adotada pelo Nacional no inicio de sua existência, que dizer “onze”.

O primeiro grupo de jogadores era formado por: Fernando da Silva, Antonio, Jose Ernesto, Moisés Cordeiro (goleiro); Jorge Hermes, Manuel Laiza, Althberto Rocha, Santos Ferreira, Paulo Melo, Cícero Costa, José Melo e Fausto Paiva.

Uma curiosidade. Na ata de fundação do Nacional consta o seguinte: “O brasão do N.F.C. será constituído por um escudo verde e amarelo, em triângulo alternado dois a dois, com uma borda branca sobre o qual estarão as iniciais NFC encarnadas, e coroando o escudo uma estrela azul”. Porém, ao se olhar o brasão do clube, não se vê nada do que foi dito na ata. Por exemplo, a cor verde é praticamente inexistente, enquanto o azul que sequer foi citado, é a cor que predomina na história do clube.

Tempos depois, já bem estruturado, o clube retirou o nome “Eleven”, em razão de críticas feitas pelo professor Coreolano Durand, passando a chamar-se "Onze Nacional’’. Nesse tempo a agremiação não permitia a entrada de ingleses ou de qualquer outro estrangeiro na equipe. Daí a justificativa para a sugestão de mudança de nome do clube por parte de Durand.

Mais tarde o clube também abandonou o termo “Onze”, passando a denominação de Nacional Foot-ball Club. Durante anos a sigla NFC foi usada no escudo bordado nas camisas.

A primeira sede social do Nacional foi instalada na gestão de José Onando Mendes e Coronel Leopoldo Matos, na hoje Avenida Epaminondas, Centro comercial da Manaus.

A primeira competição oficial que o Nacional disputou foi o Campeonato Amazonense de 1914. A estreia foi contra o "Manaos Sporting", clube de onde saiu a maioria dos seus sócios fundadores. Como a maior parte dos documentos históricos do clube foi perdida, não se sabe ao certo qual foi o resultado daquele confronto.

Nesse primeiro campeonato, o Nacional aplicou as duas maiores goleadas de sua história no seu maior rival, o Rio Negro, que também estreava no certame: 2 de Março de 1914, no campo do Bosque Municipal, Nacional 9 X 0 Rio Negro. E em 19 de Abril de 1914, Nacional 12 X 0 Rio Negro, mais uma vez no campo do Bosque Municipal.

Desde 1918, quando superou o "Manaos Sporting", é o clube com maior número de conquistas no futebol profissional do Amazonas. Entre 1914 e 1920, o Nacional ganhou sete campeonatos estaduais, inclusive sagrando-se penta campeão amazonense com os títulos de 1916 a 1920. Nos anos de 1924 e 1925 o campeonato não foi disputado, e em 1926 houve uma competição que não é reconhecida pela Federação Amazonense de Futebol. Em 1927 o Nacional pela primeira vez deixou de disputar o Campeonato Amazonense, voltando no ano seguinte.

No período entre 1928 a 1959, o clube venceu mais 10 campeonatos. O Nacional também não participou dos Campeonatos Estaduais de 1929, 1947 e 1951, motivado por sérias crises financeiras. Na década de 1950 o Nacional venceu somente dois campeonatos.

Em 1945, a Federação retirou o título de campeão estadual do Nacional, atendendo recurso do Olímpico Clube, que embora perdendo o jogo por 3 X 2, alegou que o adversário utilizara um jogador de forma irregular. Com isso o Rio Negro foi declarado campeão.

Inconformado, o Nacional recorreu e o Tribunal de Justiça Desportiva devolveu-lhe os pontos e em consequência o título de campeão. Em razão disso o Rio Negro resolveu se desfiliar da Federação, voltando atrás logo em seguida.

No período de 1960 a 1969 o Nacional conquistou quatro campeonatos e foi vice-campeão duas vezes. O time de 1963 era muito bom, contando com jogadores de como Boanerges, Jonas, Sula, Jayme Basílio, Vanderlann, Hugo, Fredoca, Portuguêsa, Dermilson e Pepeta.

No final dos anos 60 o Nacional disputou três amistosos contra o Flamengo, do Rio de Janeiro, em Manaus, não perdendo nenhum: o primeiro em 1967, terminou empatado em 2 X 2. O segundo, em 1968, teve vitória do Nacional por 1 X 0, gol de Pepeta. E o terceiro, ainda em 1968, empate em 0 X 0.

Em 1969 o Nacional ganhou o Campeonato Norte/Nordeste, derrotando todos os seus adversários e garantindo lugar na final contra o Grêmio Maringá, campeão do Centro/Sul. A decisão foi no dia 24 de agosto de 1969, no Maracanã, na preliminar de Brasil x Venezuela, jogo valido pela eliminatória da Copa do Mundo de 1970.

Logo aos 8 minutos do primeiro tempo o atacante Pepeta driblou três zagueiros adversários, invadiu a grande área e com um chute forte e certeiro fez o gol que garantiu ao Nacional a maior conquista da história do futebol amazonense. Chamado de “Menino de ouro" do Nacional, Pepeta foi o maior jogador amazonense em todos os tempos, sendo que chegou a ser contratado pelo Palmeiras.

Na chegada a Manaus, milhares de pessoas foram ao aeroporto da “Ponta Pelada” receber os jogadores campeões, que seguiram no carro dos bombeiros até a sede do clube. O então governador Danilo Areosa declarou ponto facultativo por dois dias.

A euforia foi tão grande, que o hoje jornalista Mário Adolfo, na época ainda criança, retirou a bandeira do Estado do Amazonas, que se encontrava no mastro da residência oficial do Governador, para em seu lugar colocar um guardanapo azul e branco, fazendo alusão ao Nacional.

Em 1972 o Nacional disputou o Campeonato Brasileiro, com a seguinte campanha: 25 jogos, 4 vitórias, 10 empates, 11 derrotas, 23 gols a favor (14 de Campos, Vice artilheiro do campeonato) e 30 gols contra. As vitórias, todas no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus foram: contra o Corinthians ( 2 X 0), Portuguesa de Desportos (2 x 0), CRB, de Maceió (2 x 1) e Cruzeiro, de Belo Horizonte ( 2 X 1).

Em 1974 o Nacional fez a melhor campanha da história do Campeonato Amazonense de Futebol, conseguindo um feito que permanece até hoje: foi campeão vencendo todos os 10 jogos que disputou, com destaque para a goleada de 4 X 0 sobre o rival Rio Negro. O time levou apenas três gols, marcando 27.

Nos anos 70 o Nacional conseguiu um inédito hexa-campeonato (1976-1981), contando com uma equipe poderosa, onde despontavam craques como Campos, Toninho Cerezzo e Paulo Izidoro, todos juniores do Atlético Mineiro que vieram por empréstimo, Alfredo Mostarda e Antenor (campeão brasileiro em 1977 com o São Paulo).

Nessa época ainda vestiram a camisa do Nacional jogadores como Procópio, Luís Florencio, Borrachinha, Paulo Galvão, Careca, Bendelack e Reis, com destaque também para o técnico Laerte Dória, que dirigiu a equipe em três dos seis títulos conquistados.

5 jogadores campeões mundiais pela Seleção Brasileira em 1970, no México, vestiram a camisa do Nacional anos depois: Rivelino, Edu, Jairzinho, Clodoaldo e Dario. Jairzinho jogou pelo Nacional no Campeonato Brasileiro de 1979, mas participou de apenas três jogos sem marcar gols.

Clodoaldo, titular um bom tempo do Santos (SP), com 55 atuações pela Seleção Brasileira, veio para Manaus em 1981 para defender o Nacional no Campeonato Brasileiro daquele ano, estreando contra o Itabaiana, e jogando ainda contra o Santa Cruz e o Paysandu.

Rivelino veio a Manaus para fazer um amistoso contra a seleção amazonense, e foi convidado pelo Nacional a ficar em Manaus, para disputar apenas um jogo, contra o Remo (PA) num amistoso, em 19 de julho de 1984, que terminou empatado em 1 X 1.

Edu, com 50 jogos pela Seleção, e Dario (Dadá Maravilha) foram contratados para a disputa do estadual de 1984, em que o Nacional foi campeão, e Dadá Maravilha foi o artilheiro do campeonato, com 14 gols. A final foi contra o Rio Negro, e o Nacional jogava pelo empate, que foi garantido com um gol de Dadá.

Em 1985, Dadá e Edu disputaram o Campeonato Brasileiro pelo Nacional, atuando em 21 jogos e fazendo bom número de gols. Em entrevista recente à revista Placar, Dadá declarou que a dupla que formou com Edu no Nacional foi a melhor da sua carreira.

De 1980 até 1987 o Nacional conseguiu seis campeonatos amazonenses, o que sempre lhe fez chegar ao Campeonato Brasileiro. Nesse período disputou seis edições do Campeonato Brasileiro de Futebol- Série A, e uma Série B.

O Nacional foi o primeiro clube da Região Norte do Brasil a disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 1972 ao lado do Clube do Remo do Pará. E é a equipe amazonense que mais disputou o Brasileirão da Série A, num total de 14 edições. Sua ultima participação na competição foi em 1986, sendo o único de quatro clubes da Região Norte a chegar a segunda fase daquele ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Nacional, que derrotou o Maringá, do Paraná, em jogo realizado no Maracanã, em 1969. Em pé: Ferreira Pedras - Téo - Pedro Hamilton - Sula - Valdomiro, Mario Motorzinho e Marialvo. Agachados: Zezé - Pretinho - Rangel - Rolinha e Pepeta. (Foto: http://www.bauvelho.com.br/?p=828)