Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O clássico do pote

O futebol baiano foi sempre pródigo em apresentar personagens folclóricos, que faziam a alegria dos demais torcedores presentes aos estádios da “boa terra”. É o caso de “Pedro Capenga”, popular peixeiro do Forte São Pedro, o mais fanático torcedor do Botafogo Sport Club, de Salvador. Ele se tornou por demais conhecido, por costumar desafiar os torcedores do Bahia.

Certa ocasião ele mesmo fabricou um pote de barro, que carregava durante os jogos e dizia que dava sorte ao seu time. Até que uma ocasião, em 1931, o Botafogo levou uma surra histórica do Bahia, que até então não era considerado rival. Adversário mesmo era o Esporte Clube Ypiranga. Mas a partir daí, “Pedro Capenga” prometeu que quebraria o vaso, quando o seu time derrotasse o tricolor baiano.

E os torcedores de ambos os lados, motivados pela imprensa, passaram a chamar o jogo entre Botafogo X Bahia de “Clássico do Pote”. Detalhe é que o tabu permaneceu intocado por longos sete anos, sem que o time de “Pedro Capenga” conseguisse uma única vitória.

E nesse tempo quase que o pote foi quebrado. “Pedro Capenga” se descuidou e o objeto escapou da sua mão e caiu ao chão, rachando. O jogo em que isso aconteceu terminou empatado. Somente em 5 de setembro de 1937, no 13º jogo após a promessa, o Botafogo conseguiu derrotar o Bahia por 3 X 1.

Quando o juiz apitou o fim do jogo, o gramado foi invadido por torcedores botafoguenses em delírio, aos gritos, gente frenética, jogadores desmaiando de emoção, numa verdadeira apoteose. E “Pedro Capenga” conseguiu finalmente quebrar o pote em incontáveis pedaços, que foram levados como relíquias pelos apaixonados aficcionados do alvi-rubro. No outro dia a fotografia do folclórico torcedor foi destaque nas páginas dos jornais de Salvador.

“Pedro Capenga” acompanhava o Botafogo há vários anos. Em 1922, quando seu time se sagrou campeão baiano, aplicando uma goleada de 7 X 0 no grande adversário da época, o Ypiranga, ele foi lembrado pelos jogadores Manteiga e Seixas, que levantaram um brinde em sua homenagem, por comandar a animação da torcida alvi-rubra.

O Botafogo Sport Club foi fundado no dia 1 de novembro de 1914, pelo sargento Antônio Valverde Veloso, do Corpo de Bombeiros, que buscou inspiração nas cores e no objetivo do seu batalhão para fundar o clube. As cores do Botafogo são o vermelho e branco.

O Botafogo existe até hoje, mas não é mais nem sombra do poderoso clube do passado. Em 1916 participou pela primeira vez do Campeonato baiano. O Botafogo rivalizou à época com o Ypiranga, pois ambos dominaram o cenário futebolístico da Bahia até 1930. Para que se tenha uma ideia, os dois alternaram títulos de 1917 a 1930.

Nesse período apenas duas agremiações, fora Botafogo e Ypiranga venceram o campeonato baiano: a Associação Atlética da Bahia e o Clube Bahiano de Tênis. Todos os outros títulos ficaram com Botafogo ou Ypiranga.

O Botafogo ganhou o seu primeiro título estadual em 1919, interrompendo uma sequência de conquistas do Ypiranga. Botafogo e Fluminense terminaram a competição empatados, ambos com 17 pontos, o que obrigou a realização de um jogo desempate em 24 de fevereiro de 1920.

Perante um grande público e com arbitragem de Solly, goleiro da Associação, o jogo terminou empatado em 1 X 1. Devido às irregularidades ocorridas no desenrolar do prélio, a Liga entrou em crise, que só foi superada em maio.

O segundo jogo desempate foi marcado para 23 de maio, com João Nova, do Ypiranga, no apito. Durante a madrugada caiu sobre a cidade um forte temporal, ficando interrompido o tráfego até o estádio. O Fluminense, como que prevendo o verdadeiro “dilúvio” que se abateu sobre Salvador, tratou de levar na véspera o seu time para o Rio Vermelho, onde pernoitou na residência do sócio e jogador Astério Sobrinho.

O Ypiranga desde às 8 horas esperava o adversário, que com dificuldades de transporte só conseguiu chegar ao estádio às 10 horas, quando o tráfego foi restabelecido. Pelo regulamento o Fluminense já era campeão, por WO. Mas o Fluminense não quis os pontos e preferiu jogar. Azar seu, o Botafogo venceu por 1 X 0, gol de Antoninho F. Dias, numa escapada. E depois recuou o time todo para a defesa. Era o primeiro título do Botafogo.

Depois, foi bicampeão em 1922 e 1923 e campeão em 1926, 1930, 1935 e 1938. Com todas essas conquistas o Botafogo atraiu muitos torcedores e se tornou o segundo clube mais popular do Estado, atrás só do Ypiranga. Naquela época o Bahia, fundado em 1931, recém estava engatinhando e a acumular simpatizantes.

Em 1922, no primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, o Botafogo-BA reforçado apenas de um atleta emprestado por outro clube, representou o estado da Bahia ficando entre os melhores colocados ao final do torneio

Botafogo X Ypiranga é o clássico mais antigo do futebol baiano. A rivalidade entre Bahia X Vitória só começou a acontecer no início da década de 1950, quando o rubro-negro voltou a se dedicar mais ao futebol e ganhar títulos. Até 1937 os mais ferrenhos adversários do Bahia eram Botafogo e Ypiranga. Depois veio o Galícia, que também rivalizou com o tricolor.

No inicio dos anos 20 começou a se acentuar a rivalidade entre Botafogo X Ypiranga. O melhor jogador da época, Apolinário Santana, o “Popó” jogava no Ypiranga, que tinha até uma musica “Popó chuta chuta, chuta por favor, mela, mela, mela e lá vai é gol”. Melar na época queria dizer driblar o adversário.

O time do Ypiranga era realmente muito forte. A linha média era formada por Mica, Nebulosa e Hercílio. O ataque tinha Lago, Popó, Dois Lados, Matices e Cabloco. As goleadas impostas pelo Ypiranga aos adversários eram comuns: quatro, cinco, seis e até mesmo dez gols; Em 15 de abril de 1923, numa tarde de gala, “Popó” fez cinco gols no Fluminense (RJ), no Campo da Graça em jogo vencido pelo onze baiano por 5 X 4.

O Botafogo também tinha uma linha media espetacular, formada por Serafim, Tenente e Chico Bezerra. E um ataque sensacional com Tatuí, Macedo, Manteiga, Seixas e Pelego. Manteiga era o seu jogador principal. No amistoso contra o Fluminense carioca, em 12 de abril de 1923, ele marcou os dois gols da vitória alvi-rubra.

Em 1920, quando o Botafogo levantou a taça de campeão, depois de vencer a Associação Atlética por 1 X 0, o jogador “Dois Lados”, teve o pé que marcou o gol banhado por champagne.

O Botafogo teve a honra de participar do jogo inaugural da “Fonte Nova”, que durante anos foi o templo do futebol baiano. Em 28 de janeiro de 1951, Botafogo X Guarany empataram em 1 x 1. Nélson, do Botafogo marcou o primeiro gol do estádio que levava o nome de Otávio Mangabeira.

Títulos conquistados pelo Botafogo baiano. Campeonatos Estaduais: (1919, 1922, 1923, 1926, 1930, 1935 e 1938); Vices-Campeonatos Estaduais: (1918, 1929, 1932, 1943, 1954, 1965 e 1977); Vice-Campeonato Baiano da Segunda Divisão: (1984); Torneio Início: (1924, 1925, 1940, 1948, 1952 e 1963).

O Botafogo fechou seu departamento de futebol em 1990, mas reabriu em 2011 e passou a disputar a 2ª Divisão do Campeonato Baiano, quando foi eliminado na primeira fase da competição. O primeiro jogo após o seu regresso foi disputado em 28 de abril de 2011, e o clube foi derrotado por 3 X 0 pelo Ypiranga, tradicional adversário do passado.

Em 2011 o Botafogo disputou os jogos do “Baianão” da 2ª Divisão, no estádio “Roberto Santos”, no bairro de Pituaçu, em Salvador. O ano passado, graças uma parceria com o município de Terra Nova, os jogos foram disputados no estádio Luis Eduardo Magalhães, naquela cidade.

Para este ano de 2013, graças a uma parceria com o Esporte Clube Vitória, irá disputar seus jogos no Barradão. Até 1990, quando o Botafogo fechou as portas, o time jogava em casa no Estádio Campo da Pólvora, localizado em Salvador, que tinha capacidade máxima para 2.000 pessoas. (Pesquisa: Nilo Dias)