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segunda-feira, 29 de abril de 2013

A marca da violência

Muitos foram os zagueiros violentos que desfilaram em nossos gramados. Só para lembrar alguns: Tomires e Pavão, no Flamengo da década de 1950. O atacante precisava ser macho, para enfrentá-los. Daison Pontes, do Gaúcho, de Passo Fundo, recordista nacional em expulsões, foram mais de 20. Aterrorizou todo o Rio Grande. Foi o primeiro jogador de futebol a bater em um árbitro.

No Flamengo, onde permaneceu por apenas três meses, recebeu a ordem de deixar o treino do saudoso Flávio Costa após um lance violento contra Airton Beleza, que foi jogado na grade.

No São Borja e Bagé teve Aguiar, um negrão com quase dois metros de altura. Batia para valer. Agora o São Borja, que voltou ao futebol, tem outro zagueiro, de nome Bonaldi, que só o ano passado foi expulso três vezes. Em toda a carreira de 20 anos, perdeu a conta de quantas vezes foi tirado do gramado mais cedo. Num jogo em Bagé quis bater de relho no jogador Adão e apanhou da torcida.

Claro que por esse Brasil afora tiveram e tem muitos jogadores violentos, incapazes de ganhar o “Prêmio Belfort Duarte”, que era dado aos jogadores que passassem 10 anos sem serem expulsos de campo.

Mas poucos se igualam a Antenor José Cardoso, o Pinheirense, um zagueiro que jogou no Náutico, de Pernambuco e na Ferroviária, de Araraquara. Era respeitado pelos atacantes, que quando o viam em campo, tratavam logo de ficar o mais longe possível da área adversária meio de campo.

No Náutico, Pinheirense atuou entre 1979 e 1980. Gostava de relembrar uma cena ocorrida quando de uma excursão do Náutico ao Caribe. Foi num jogo contra os Cosmos, dos Estados Unidos. No primeiro lance contra o jogador Chinaglia, Pinheirense chegou junto e acertou o tornozelo do italiano, que chiou bastante. Como era um “touro” de forte, continuou no jogo.

Pelo time de Araraquara, jogou entre 1982 e 1983, inclusive na brilhante campanha da inesquecível Taça de Ouro de 1983. Segundo pesquisa de Marcelo Cirino, atuou com a camisa da Ferroviária em 85 jogos. Venceu 26, empatou 27 e perdeu 32. Marcou um gol.

A fama de homem mau se consolidou na Ferroviária, nos anos 80, quando impiedosamente “abria a caixa de ferramenta”, diziam antigos locutores esportivos. Na maioria das vezes acertava meio gomo da bola e metade do pé do adversário.

Pinheirense também vestiu as camisas do Botafogo, de Ribeirão Preto (SP), Ituano (SP), em 1988, Coritiba (PR), Paulista, de Jundiaí (SP), Londrina (PR), São Caetano (SP), Lençoense (SP), Lemense (SP) e Corinthians, de Presidente Prudente (SP), onde encerrou a carreira em 1993.

Só na Ferroviária ele foi expulso de campo em quatro oportunidades e muitas outras vezes nos outros clubes que defendeu. Duas delas entraram para a história como fato inédito e pela valentia. Dia 13 de outubro de 1982, em jogo que a Ferroviária perdeu de 4 x 1 para o São Paulo, no Morumbi, Pinheirense e Serginho Chulapa foram expulsos aos dois minutos de jogo.

Pinheirense disse na época que não tinha medo de nada, por isso enfiou a mão em Serginho, que era mais forte. Ele revidou e Pinheirense teve que correr para não apanhar.

Em 15 de maio de 1983, no jogo Ferroviária 0 x 1 Corinthians, na Fonte Nova, em Araraquara, a Ferroviária buscava o empate, quando Ataliba puxou o contra-ataque e Pinheirense o derrubou. O juiz Dulcídio Wanderley Boschillia de imediato expulsou o zagueiro, que inconformado e raivoso pisou na garganta de Ataliba, que estava caído.

Revoltados, os jogadores do Corinthians partiram para cima de Pinheirense, que só não levou uma surra porque foi salvo pelo médio alvinegro Paulinho, amigo dos tempos de Náutico. Na confusão, Mauro e Casagrande foram expulsos.

Depois do jogo, o atacante Casagrande disse que Pinheirense tinha que ser eliminado do futebol, e ameaçou fazer uma denúncia contra ele no Sindicato dos Atletas Profissionais, citando o “currículo” do zagueiro nos gramados. Foi expulso oito vezes por Boschillia, cinco por Godói e quatro vezes por Morgado, e mais uma série incontável por outros juízes.

Apesar de tudo, Pinheirense não conseguiu ser o jogador expulso de campo mais cedo. O lateral-direito Édson Abobrão, da Ponte Preta, de Campinas bateu todos os recordes, ao ser mandado para o chuveiro pelo árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna, com apenas um minuto de jogo, num clássico de Campinas (SP), após entrada violenta sobre o meia Neto, hoje comentarista esportivo.

Em 1983, depois da Ferroviária ter derrotado o Grêmio pelo Campeonato Brasileiro, em pleno Estádio Olímpico, um torcedor do time gaúcho acertou um soco no rosto do jogador Bozé, do time araraquense. Pinheirense que também saia de campo naquele momento, viu a cena e saiu como um louco atrás do torcedor, que se jogou no fosso. Foi quando Renato Gaúchoe Bonamigo partiram contra o zagueiro, a fim de defender o torcedor. O Bozó já tinha sumido e ele precisou encarar os dois sozinhos. Ao chegar no vestiário grená, meio chorando, meio que sorrindo ele esbravejou. "Me deixaram sozinho, mas eu sou o cabra macho" .

Apesar da fama de violento, Pinheirense garantia que também sabia sair jogando com a bola dominada. Trabalhou com grandes técnicos, como Sérgio Clérice, Bazzani, Pepe, Zé Duarte e Roberto Brida, entre outros.

Desde 2000 que Pinheirense estava mal e vivendo em cadeira de rodas em razão de ter sido vítima de tentativa de homicídio, efetuada pelo marido de uma ex-namorada no bairro de Pirituba, na capital paulista. Ele vivia da aposentadoria de um salário mínimo que tinha, e fez muitos eventos com os amigos que muito o auxiliavam.

Pinheirense nasceu na cidade de Pinheiros, no interior do Maranhão, no dia 4 de novembro de 1956. Era filho de Pinheiro, um dos maiores “xerifes” da história do Sport e faleceu aos 53 anos de idade, em Recife, onde morava, no dia 22 de agosto de 2009, vítima de uma infecção generalizada, decorrente dos tiros recebidos anos atrás. O jogador foi sepultado no Cemitério Santo Amaro, na capital pernambucana e deixou um único filho. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pinheirense disputou com Daison Pontes, a condição de zagueiro mais violento do futebol brasileiro.