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sábado, 4 de maio de 2013

O craque "rastafári"

Alan Cole, considerado o melhor jogador do futebol da Jamaica em todos os tempos, nasceu em Kingston, no dia 14 de outubro de 1950. Apelidado de “Habilidade” ou “Skilly”, foi o primeiro jamaicano a jogar no futebol brasileiro, onde defendeu o Náutico, de Recife. E também o atleta mais jovem a vestir a camisa da Seleção do seu país.

Alan Cole foi criado no bairro operário de Woodford Park, em Kingston. Seu pai, Alan Cole Sr, o influenciou bastante para que se tornasse um futebolista. Ele era um apreciador dos esportes e foi quem o ensinou a chutar uma bola, tanto com o pé direito, quanto o esquerdo.

Desde adolescente, Alan Cole era grande amigo de Bob Marley, que tempos depois se tornaria o maior cantor jamaicano da história. Eles se conheceram em Nine Mile, uma vila situada na paróquia de Saint Ann, onde Marley nasceu.

Até os 13 anos, o sonho de Bob era ser jogador de futebol. E quem o viu jogar, dizia que era bom de bola. Mas, na realidade esse foi o caminho do seu amigo Alan Cole que, ainda novo, mostrava muita habilidade no futebol.

Em 1962, com 12 anos de idade, Cole foi para o Kingston College, então uma potência no futebol colegial, que participava com seu time da “Copa Manning”, a principal competição esportiva do país. Mesmo sendo visto como um talento raro, nunca jogou na competição. A escola ganhou a Copa em 1965. Mas em 1964 ele havia se transferido para o Campion College, onde ficou por um ano.

Enquanto Cole se desenvolvia no mundo do futebol e até foi comparado com Pelé na época, Bob Marley se desenvolvia no mundo do “reggae”. Mas o detalhe mais importante dessa amizade foi a música “War”, uma das grandes canções do rei do “reggae”, composta por Cole, ainda adolescente, e o baterista Carlton Barrett, dos Wailers. “War” foi uma citação feita na época, pelo imperador da Etiópia, Haile Selassie I.

O craque da seleção jamaicana ainda foi co-autor da música “Natty Dread”, com Rita Marley. As duas composições fazem parte do álbum “Rastaman Vibration”.

No começo da década de 70, Chris Blackwell, produtor musical dos “Wailers”, comprou uma mansão no “Hope Road”, zona nobre de Kingston. Quando os “Wailers” lançaram o álbum “Catch a Fire”, Chris deu posse da casa a Marley. E para lá foi Bob morar, levando consigo alguns amigos, entre eles “Skilly” Cole. Uma das atividades mais frequentes dos “dreads” era jogar bola, ou no quintal da mansão ou no campo da, primeiro time de “Skilly”.

Em 1965, quando tinha 15 anos foi jogar no Vere Técnico, time que disputava a “Copa Dacosta”, onde foi o artilheiro com 38 gols. Graças as suas boas atuações foi convocado para a Seleção da Jamaica, com apenas 16 anos, o que o consagrou como o jogador mais jovem a vestir a camisa da seleção nacional.

Ao final dos anos 60, Cole jogou duas temporadas no Atlanta Chiefs, que disputava a incipiente “North American Soccer League”, antes de voltar para jogar no Real Mona, em seguida, “Cidade dos Meninos”. Em 1970 defendeu a equipe da Ethiopian Airlines. Em novembro de 1971 foi contratado pelo Clube Náutico Capibaribe, do Recife.

O clube pernambucano fez uma excursão ao Caribe e seus dirigentes ficaram impressionados com o futebol do centro-avante jamaicano, quando de um jogo contra o “Red Brigade”. Logo trataram de contratá-lo, com seu indefectível cabelo “black Power”. No Náutico jogou ao lado de Marinho Chagas, que participou da Copa do Mundo de 1974, pela Seleção Brasileira.

Cole atuava como um centro-avante moderno, do tipo que arma as jogadas. Sua estréia no Náutico foi num amistoso contra o Sport, na “Ilha do Retiro”. O jogo terminou empatado em 1 X 1 e o gol do Náutico foi assinalado por Alan Cole, que passou a disputar com Marinho Chagas o status de maior ídolo do alvirrubro.

Mas a fama de goleador durou pouco. Cole só balançou as redes em apenas três oportunidades naquela temporada e acabando por não se firmar no time titular. No campeonato brasileiro de 1972, atuou em três partidas, nas quais o Náutico não perdeu. Mas também não ganhou: um empate sem gols com o CRB, em Maceió, e dois empates em 1 X 1 no estádio do Arruda, contra América-RJ e Santos. No Campeonato Nacional, Cole jogou contra grandes nomes do futebol brasileiro, como Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho.

A saída de Alan Cole do Náutico não demorou a acontecer: ainda em 1972, ele foi mandado embora dos Aflitos. O motivo, óbvio, foram as práticas religiosas do centroavante “rastafári" (um movimento religioso que proclama ´Hailê Selassiê I, imperador da Etiópia, como a representação terrena de Jah (Deus): fumar quantidades generosas daquela popular erva sagrada dos adeptos de Jah. Numa cidade provinciana e conservadora como o Recife no início da década de 1970, aquilo não era visto com bons olhos. Entrou em choque com a diretoria do Náutico por não abdicar de fumar “unzinho” aberta e freqüentemente. Terminou voltando para a Jamaica depois de um ano.

No seu país foi jogar no F.C. Santos, de Kingston, clube fundado em 1964, onde ganhou três títulos nacionais. O nome foi uma homenagem a Pelé. Lá, Cole encerrou em 1974 a carreira de jogador de futebol. A grande façanha de seu time foi derrotar em um amistoso ao “New York Cosmos”, de Pelé e companhia, em jogo disputado no “Estádio Nacional da Jamaica“.

Já mais velho Alan “Skill” Cole dominava o futebol jamaicano. Enquanto, os jamaicanos dançavam ao som de muito “reggae” de Bob Marley, o público também se emocionava com o futebol do velho amigo do rei do “reggae”. Alguns de seus compatriotas mais exaltados, chegaram a compará-lo a Pelé.

Muitos torcedores consideram este período o melhor da sua carreira, com um pico quando a seleção nacional, comandada por ele, derrotou o Santos, de Pelé e o “Cosmos”, dos Estados Unidos.

As arquibancadas do Estádio Nacional estavam lotadas. Numa noite de setembro de 1975 (Timothy White, autor da biografia de Bob, diz que foi no dia 30; já a revista “Placar”, de março de 1999, afirma que foi no dia 21), 45 mil torcedores, entre eles Bob Marley e seus irmãos “dreads”, se espremeram nas arquibancadas para assistir o Santos Jamaicano enfrentar o Cosmos, milionária equipe de Nova York que contava com o Rei Pelé no comando do ataque. Para “Skilly”, a partida era uma chance de mostrar suas qualidades e, talvez, ser contratado para jogar no Cosmos.

O time nova-iorquino não demonstrava garra dentro de campo, para irritação da torcida. Aos 25 minutos do primeiro tempo,”Skilly” deu o passe para o ponta direita Errol Reid balançar as redes. O único gol da partida, uma heróica vitória dos jamaicanos. Pelé teve uma noite apagada e sofreu algumas entradas violentas, como a do zagueiro Billy Perkins, que o tirou do jogo.

Mesmo assim não escapou das críticas da imprensa e dos populares, decepcionados com a atuação do Rei: uma "piada", de acordo com o jornal “Daily Gleaner” do dia seguinte. Na opinião do jornal, “Skilly” sozinho valeu o ingresso.

No entanto, o bom futebol apresentado por Alan Cole não foi o suficiente para a sua contratação pelo time de Nova York. Clive Toye, presidente do Cosmos naquela época, em entrevista ao “Daily Gleaner”, disse ter dúvidas acerca da dedicação do jogador, embora tenha ficado bastante impressionado com seu domínio de bola e achasse que ele teve ótima atuação, apesar de impetuosa.

Pela seleção Jamaicana, Alan “Skill” Cole enfrentou o Santos, numa partida amistosa durante excursão do time brasileiro a Jamaica, em que teria dado um “drible da vaca” em Pelé. Cole ainda participou da “Copa do Mundo” de 1974, em que seu antigo parceiro Marinho Chagas, foi um dos craques daquele torneio. Depois, Alan Cole foi morar na Etiópia, onde treinou as equipes do Porto Morant, Arnett Gardens e Rockfort, todas da “Major League”.

Em 1980, ele estava de volta no acampamento de Marley como gerente de estrada para o que seria a última turnê do cantor. Mas Cole nunca escondeu a sua ambição de ser treinador da Seleção Nacional, mas acredita que tenha sido desprezado pelas respectivas administrações da Federação de Futebol da Jamaica.

Fora das quatro linhas, Cole integrava uma tropa de choque que atuava pressionando os DJs dos “soundsystems”, de Kingston para tocarem músicas de seu amigo Bob Marley. Quando os dois já eram ídolos no que faziam, Bob Marley convidou o jogador para uma de suas turnês, onde Alan Cole girou o mundo como um executivo, em 1976.

A amizade entre Bob Marley e Alan Cole é citada no livro “Queimando Tudo”, biografia de Marley. Nela, o jornalista Timothy White envolve as histórias entre os dois em lendas e mistérios, como o do atentado que Bob sofreu em dezembro de 76, que obrigou o cantor a se mudar para a Inglaterra.

Alan Cole foi apontado como culpado pelo crime: endividado e pressionado por traficantes, teria mandado a conta para Bob Marley, que não arcou com as dívidas do parceiro e por isso teve a sua casa baleada.

Segundo o autor de “Queimando Tudo”, o ex-jogador alvirrubro não gozava da confiança de Bob. No entanto, Cole chegou a dirigir a “Bob Marley Foundation”, instituição que administra a comercialização da obra de Bob Marley.

Os jornais da época publicaram que os dois amigos estavam em conflito por direitos autorais. Até o sequestro de Bob Marley foi dado como de autoria de Alan Cole por se sentir prejudicado. Mas, não durou por muito tempo, pois a farsa desse conflito foi desvendada e a parceria deu continuidade.

Em 1980, Alan Cole foi gerente da turnê de Bob Marley. Ele esteve com o rei do “reggae” fazendo “cooper” no Central Park, no momento em que Bob sofreu um colapso. O ícone tentou tratamento em Munique.

Em 2007, Cole voltou aos noticiários. Não exatamente esportivos, muito menos musicais. ele foi condenado por tráfico de drogas a 18 meses de prisão e multa de 15 mil dólares jamaicanos. Cinco anos antes, em 2002, foram encontrados nada menos do que 149 quilos de maconha na casa do ex-jogador. A sentença foi anulada em 8 de outubro de 2010 e convertida em uma multa de 330 mil dólares jamaicanos. Cole estava em liberdade sob fiança aguardando o resultado de sua apelação.

Em 26 setembro de 2010, ele foi homenageado pela Federação de Futebol da Jamaica, ocasião em que recebeu do presidente da FIFA , Joseph Sepp Blatter , um prêmio por seu trabalho no futebol jamaicano . Edward Seaga e PJ Patterson, dois antigos primeiros-ministros, estavam entre os 10 destinatários, mas os maiores aplausos foram para o Cole enigmático. (Pesquisa: Nilo Dias)

No detalhe, Alan Cole quando jogava no Náutico.