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terça-feira, 24 de setembro de 2013

O velho (e bom) futebol goiano (Final)

Com a criação da Associação Goiana de Esportes Athleticos (Agea), esperava-se uma mobilização geral em torno do futebol no Estado. Comerciantes, artistas, políticos, jornalistas, poetas, escritores e populares se uniram para apoiar sua criação, bem com suas ações, como a da construção de um estádio a ser administrado pela recém fundada entidade.

Foi lançada uma “Lista Pró-Estádio”, com a finalidade de conseguir os recursos para a obra. Os eventuais colaboradores concorriam a prêmios, que ficavam expostos na vitrine da Casa Nicolau. Ao final de setembro já haviam sido alcançados recursos na ordem de 200 mil réis, que foram depositados no Banco Hypothecario e Agrícola do Estado de Minas Gerais, em sua agência da Cidade de Goiás.

Aí teve início um grande mutirão para tornar realidade o sonho do estádio. Primeiro alguns operários foram contratados para efetuarem os trabalhos braçais, como o de roçar o terreno onde seria levantada a obra. Rapazes que possuíam automóveis, como Péricles Fleury, Calígula Macedo, Claudio Cunha e outros, puseram seus veículos à disposição do Comitê Feminino, que era responsável pela organização do mutirão.

As senhoras se mostraram muito competentes na missão, tanto que conseguiram emprestadas por um dia, todas as ferramentas da Secretaria de Obras do Estado.

Mesmo com a ativa participação de estudantes, militares, mulheres e a comunidade em geral, os maiores louros desse movimento comunitário foram para o paulista Genaro Rodrigues, funcionário dos Correios, que fora transferido de São Paulo para a capital de Goiás.

Os jornais de São Paulo até certo ponto exageravam na importância de Genaro na criação da Agea. Na capital paulista ele fora diretor de clubes de esportes, jurado de luta-livre, árbitro de futebol, representante da Associação Paulista de Esportes Athleticos (Apea) e autor da letra do Hino da S.E. Palmeiras, com música de Antônio Sergi. Costumava usar o pseudônimo de “Nage”.

Por isso era apresentado como alguém de “espírito irrequieto e empreendedor”, legítimo herdeiro da velha tradição bandeirante. Atribuíam a ele a visão de que o futebol no Estado só se desenvolveria com a criação de um órgão que centralizasse todas as decisões. Na verdade, Genaro Rodrigues não descansou enquanto não conseguiu ver organizada a Associação Goyana de Esportes Athleticos.

O mesmo ocorria com jornais de Goiás, que diziam estar o futebol estadual em pleno desenvolvimento, graças aos esforços do grande esportista Genaro Rodrigues, principal responsável pela criação da Associação Goyana de Esportes Athleticos. Raramente eram citados os nomes de outros membros da primeira diretoria da entidade, como Cesar de Alencastro Veiga, José de Alvarenga Peixoto, Sebastião da Rocha Lima, Joaquim Ramos Jubé Junior, Claudio Cunha e Jacques Saddi, entre outros.

Foi esse grupo, ao lado de mulheres como Maria Carlota Guedes, Maria Augusta da Rocha, Floracy Artiaga, entre outras, que efetivamente viabilizou boa parte das condições necessárias para a criação de uma associação esportiva em Goiás.

A afirmativa da imprensa paulistana, de que não havia clubes e nem competições organizadas no Estado de Goiás, não refletia a verdade, pois desde princípios da década de 1920 já estavam em curso algumas competições de maneira mais ou menos bem delineadas. É certo, também, que no período posterior a 1930, houve uma considerável intensificação das atividades esportivas em Goiás, sobretudo do futebol.

Isso não foi obra da Agea, que teve papel reduzido nesse sentido, pois apenas três clubes da capital filiaram-se à ela, que tinha um caráter bastante seletivo, excludente mesmo. A adesão de clubes precisava atender um conjunto considerável de exigências.

Para se filiar a Agea, o clube deveria ter sedes social e esportiva, pagar taxas de joias e anuidades, além de ter estatutos. Enfim, estar constituído como uma entidade jurídica formal, o que custava cerca de 300 mil contos de réis, de acordo com o valor pago pela própria Agea no seu processo de formalização burocrática.

As joias custavam 50 mil contos de réis para a divisão principal e para a primeira divisão, e 30 mil contos de réis para as demais. A isso, somavam-se outros 30 mil contos de réis de anuidade, igual para todas as divisões, bem como outros dois mil contos de réis por cada jogador inscrito nos clubes da divisão principal.

Para mudar de nome ou de cores, o time, além de depender de aprovação da diretoria da Agea, deveria pagar uma taxa correspondente ao dobro da joia de sua divisão, além de nova taxa de inscrição de todos os seus jogadores. Dessa forma, um clube com 24 jogadores, que pretendesse fazer parte da divisão principal da Agea deveria desembolsar, de início, apenas com taxas e joias destinadas à própria entidade, 128 mil contos de reis.

Esse fator foi determinante para que a quase totalidade dos clubes não se filiasse a Agea, sobretudo os do interior. A entidade queria se filiar à Confederação Brasileira de Desportos, para que clubes do Estado finalmente pudessem disputar competições interestaduais. Mas para isso também era preciso cumprir algumas exigências, como possuir certo número de clubes filiados.

Em 1932, as criticas se avolumavam porque o estado dos gramados era péssimo e o desanimo tomava conta dos esportistas locais. Por isso foi feito um apelo aos dirigentes, para que filiassem seus clubes a Agea e fossem organizados também os campeonatos das cidades. Mas tais tentativas foram infrutíferas.

Os embates futebolísticos que mobilizaram grande número de torcedores a partir de 1930 e 1931 foram resultado de acordos firmados diretamente entre os próprios times, geralmente através de telegramas, sem apoio ou intermediação de nenhuma liga ou associação esportiva.

O fracasso da Agea também passou pelo regresso de Genaro Rodrigues a São Paulo. Mas não foi só a saída do importante desportista paulista, a responsável pelo pouco reconhecimento dado a entidade centralizadora. Mais do que isso foi o fato da Agea ter se utilizado de um modelo de organização importado de São Paulo, do que basear-se na realidade local.

De acordo com os estatutos, todos os jogos da divisão principal seriam disputados na capital; a realização de jogos amistosos dependeria de licença concedida pelo presidente da Agea; além disso, 1/3 da renda de todos os jogos seriam destinados à associação. 

O primeiro clube profissional do Estado de Goiás foi o União Americana Esporte Clube, fundado em 28 de abril de 1936, já na atual capital goiana. Também participou do primeiro jogo de futebol realizado em Goiânia, quando enfrentou o Botafogo Sport Clube, de Anápolis. Durante o período de afirmação do futebol na nova capital surgiram vários clubes que foram extintos em pouco tempo.

Fundado em 2 de abril de 1937, com raízes no bairro de Campinas, e tendo um “Dragão” como mascote, o Atlético Goianiense é o pioneiro no futebol de Goiânia e foi o primeiro clube a conquistar um título estadual, em 1944.

Por escolha da maioria dos fundadores, o uniforme tem as cores vermelha e preta, inspirado no Flamengo, e o escudo segue os moldes do São Paulo. Participaram da fundação do Atlético, os irmãos Nicanor Gordo – primeiro presidente do Conselho Deliberativo, Alberto Alves Gordo, Afonso Garcia Gordo, Edson Hermano, primeiro goleiro do clube, João de Brito Guimarães, João Batista Gonçalves, Ondomar Sarti e Benjamim Roriz, entre outros.

O Vila Nova F.C. foi fundado em 29 de julho de 1943. O “Tigrão”, como é conhecido por conta do seu mascote, possui a segunda maior torcida da capital goianiense. Foi o primeiro clube goiano a disputar uma competição internacional, a Copa Conmebol de 1999. É considerado um dos maiores clubes do Centro-Oeste do Brasil, e um dos três grandes de Goiás, juntamente com o Goiás E.C. e o Atlético Clube Goianiense.

O escudo do Goiânia Esporte Clube sugere o ano de 1938 como o da sua fundação. Entretanto, publicações dizem algo diferente sobre a história do clube. Na versão do jornalista e escritor, João Batista Alves, falecido em 2008, publicada no livro “Arquivos do futebol goiano”, o 30 de abril de 1936 seria o dia exato em que o Goiânia E.C. teria sido originalmente criado. Idealizado por Joaquim da Veiga Jardim, que também teve participação nas fundações de Atlético Goianiense, Vila Nova e Goiás, foi segundo relatos o “pai” do “Galo Carijó”.

Em 6 de abril de 1943 os irmãos Lino e Carlos Barsi, juntamente com João Padatella, Ozório de Oliveira, Luiz Rocha, Pedro Pio Nogueira, Sebastião Ludovico Coelho, Feliz Sadde, Arthur Oscar de Macedo, Sebastião Oscar de Castro, Antônio Camargo e Esmeraldo dos Santos fundaram o Goiás Esporte Clube. A agremiação nasceu para competir contra os poderosos clubes goianos da época, Atlético e Goiânia, que de 1944, ano do primeiro campeonato goiano, dividiram os títulos até 1960.

Sobreviveram apenas o Atlético, o Goiânia, o Vila Nova e o Goiás.
O primeiro campeonato goiano, que já foi disputado 70 vezes, foi realizado em 1944, com a participação de apenas cinco equipes: Vila Nova, Atlético, Goiânia, Goiás e Campinas, fundado em 1943, hoje extinto e que tinha seu time composto por jogadores reservas do Atlético.

Até os anos 60 o Campeonato Goiano foi uma competição entre times de Goiânia e de cidades vizinhas, como Nova Veneza, Inhumas e Campinas, na época um município. Cidades como Anápolis e Buriti Alegre tinham suas próprias competições.

O primeiro campeão foi o Atlético Clube Goianiense e o primeiro artilheiro Ari, também do Atlético, com oito gols. O time disputou a final com o Goiânia, cena que se repetiu em todas as edições até 1960, com exceção de 1951, quando a final ficou por conta de Goiás e Goiânia.

O Catalão também se considera o primeiro campeão goiano, extraoficial, pelo fato de ter ido até Anápolis e derrotado o time local por 2 X 0, que antes havia vencido partidas em Goiás, Inhumas, Morrinhos e Pirenópolis.

O time base do Atlético nesse campeonato era Paulista (Wolney) - Tonico (Ditinho) e Chancão (Fão) - Waldemar Bariano - Tocafundo (Mira) - Pixo (Pirulito) - Cid, Ari, Cigano, Nazaré, Dido e Nery.

O Goiás, que hoje é o grande clube do Estado, levou 22 anos até conquistar um título estadual. Isso só ocorreu em 1966. Desde então, o alviverde foi se firmando como grande equipe.

Em 1997, ao conseguir seu 15° título, passou a frente do Goiânia e agora é o clube com mais títulos estaduais, 24, nove a mais que o segundo colocado, o Vila Nova, com 15. Em terceiro está o Goiânia, com 14 títulos e em quinto o Atlético Goianiense, com 12 conquistas.

O interior também teve times campeões estaduais, e foram quatro: o Anápolis Futebol Clube, em 1965; o Crac, de Catalão, em 1967 e 2004; o Goiatuba Esporte Clube, em 1992 e o Itumbiara, em 2008.

O Goiânia, hoje um clube em franca decadência, foi pentacampeão estadual de 1949 a 1954, tri entre 1958/1960 e bi em 1945/1946. O Goiás igualou o feito entre 1996 a 2000. Ainda possui um tri, de 1989 a 1991 e quatro bi, 1971/1972, 1975/1976, 1986/1987 e 2002/2003. O Vila Nova foi tetracampeão de 1977 a 1980 e tricampeão entre 1961/1963. O Atlético foi apenas bicampeão estadual, em 2010 e 2011. Nenhum time interiorano ganhou dois títulos seguidos.

Quem mais marcou gols em uma única edição do Campeonato Goianense foi Baltazar, que pelo Atlético Goianiense fez 31 gols em 1978. É seguido por Bé, do Vila Nova (29 gols em 1993), e Dill, do Goiás (29 em 2000). Em quarto está Foca, do Goiânia, com 28 gols em 1951, e em quinto Zé Amaro, do Anápolis, com 27 em 1981, e Aloísio, do Goiás, também com 27 em 1997.

Dimas Diniz, quando defendia o Goianáz, de Nova Veneza foi o primeiro artilheiro do Estadual, atuando por uma equipe do interior do Estado. Líbano, do Inhumas, Nélson Parrilha, do Anápolis e Toninho Índio, do CRAC, conquistaram a artilharia duas vezes. O jogador de um clube do interior que mais marcou gols em uma única edição do “Goianão” foi Zé Mauro, do Anápolis, que balançou as redes adversárias em 27 oportunidades, em 1979.

O primeiro grande estádio de Goiânia foi o Olímpico. Nele aconteceram os grandes embates dos campeonatos estaduais e nacionais até a construção do “Serra Dourada”, nos anos 70. O estádio mantinha a cara de uma cidade pequena, acolhedora, calorosa, onde todos se conheciam.

Na metade dos anos 60 chegou a vender cadeiras cativas, uma ideia que não deu certo, apesar de uma grande campanha publicitária que teve até o “Rei Pelé” como garoto-propaganda.

Foram 59 os clubes que já disputaram o Campeonato Goiano de Futebol, sendo 17 de Goiânia, contando os quatro campineiros: Atlético, Campinas, São Paulo e São Luís; seis de Anápolis; três de Itumbiara e três de Inhumas. 30 cidades já tiveram times no estadual.

Outra competição de relevância que tivemos no Estado foi o “Campeonato Goiano do Interior”, disputado entre 1956 e 1964. Os times de Anápolis não disputavam este torneio. Os campeões foram: América (1957); 1958, não foi disputado; Ceres (1959); Inhumas (1960);  Botafogo, de Buriti Alegre (1961); São Luis (1962);  Independente, de Goiás (1963) e Ceres (1964).Em 1956 não se tem informação oficial de quem conquistou o título.

Grandes jogadores que atuaram no futebol goiano. No Goiás Esporte Clube: o lendário Tão Segurado; Lincoln; Peghetti; Macalé; Matinha; Lucinho; Tuíra; Carlos Alberto Santos; Dadá Maravilha; Péricles; Luvanor; Zé Teodoro; Cacau; Uidemar; Baltazar; Dil; Fernandão e atualmente Walter.

No Atlético Goianiense: Ari; Dido; Tarzan; Fábio; Dadi; Baltazar, o “Artilheiro de Deus”; Júlio César, o “Imperador” e Valdeir, o “The Flash”, todos revelados no clube.

No Goiânia E.C.: Túlio Maravilha; Finazzi; Hermes Neves Soares; Nonato e Danilo Portugal. (Pesquisa: Nilo Dias)


Atlético Goianiense, campeão goiano invicto de 1957. (Foto:Acervo fotográfico do Atlético Clube Goianiense)

Jogadores do Catalão F.C., campeão goiano extraoficial em 1923: Antonio Lucas – Alberto Mendes – Afrânio Righetto - Caim – Guim – Delermando Sampaio – Isaac da Paixão – Cuia – Carlos – José Righetto e Cairo. (Foto: Arquivo de Sylvim Netto )