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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Os 100 anos do “Leão da Paulista”

A Associação Atlética Internacional, da cidade de Limeira (SP), foi fundada do no dia 5 de outubro de 1913. O clube nasceu graças a fusão dos dois times que existiam na cidade, “Almofadinhas” e “Barroquinhas”, este, fundado um ano antes.

O nome foi uma homenagem aos imigrantes de várias nacionalidades radicados em Limeira, como japoneses, italianos, alemães, portugueses e outros. E também ao extinto Internacional, que fazia sucesso na capital paulista.

O campo de terra que se localizava nos fins da rua Dr. Trajano, então Rua do Comércio, onde o “Barroquinhas” realizava seus treinos e jogos, serviu tempos depois para nele ser erguido o “Estádio de Vila Levy”, onde a Internacional sediou os jogos por muito tempo.

A primeira Diretoria do clube foi esta: Presidente, José Alves Penteado; Vice-Presidente, Fausto Esteves dos Santos; Secretário, Ajax Garroux; Capitão, Antônio Esteves dos Santos Junior (Tonico Esteves) e Fiscal de Campo, João Busch.

Os dirigentes se reuniram pela primeira vez no “Theatro da Paz”, quando foi deliberado que somente associados poderiam jogar pelo clube, além de pagar mensalidade de $1000 (mil réis). O capitão da equipe ficou com a responsabilidade de manter a ordem e a disciplina. O uniforme escolhido foi camisa listrada nas cores preto e branco, calções brancos, com uma faixa preta do lado e meias pretas, com duas listras brancas.

O primeiro jogo da história da A.A. Internacional aconteceu no dia 12 de outubro de 1913, contra o Sport Clube Carioba, na Vila Americana, na cidade de Americana. Não se sabe o resultado. No período de amadorismo, a Internacional conquistou oito vezes o campeonato de Limeira, sendo até hoje o maior vencedor da história da competição.

Em 1921, a família Levy comprou o terreno onde a Internacional jogava e mandou fazer a terraplanagem, deixando-o em condições de receber grama, vestiários, arquibancadas e outras estruturas. Na Vila Levy, a Internacional manteve a marca de 212 partidas sem perder.

Na década de 1920 a Internacional recebeu da imprensa paulista o título de “Leão da Paulista”, após ser derrotada pelo Palestra Itália em partida de muita dificuldade disputada em Limeira, no dia 15 de dezembro de 1924. A Internacional jogou aquela partida com Quinze - Lau e Fenga – Ceará - Zequinha e Munhóz – Campineiro – Pollastri – Pacheco - Augusto Américo e José Petrelli.

No dia 26 de setembro de 1926, o Paulistano, a melhor equipe da temporada e que realizou vitoriosa excursão pela Europa, tendo em seu elenco o então considerado melhor jogador do mundo, foi até Limeira e perdeu por 2 X 1 para a Internacional.

Em 1932 a Internacional doou todos os seus troféus para a "Campanha do Ouro", deflagrada durante a Revolução Constitucionalista.

A profissionalização do clube ocorreu na década de 1940, depois de várias reuniões entre clubes do interior paulista, que garantiram participações nos campeonatos oficiais organizados pela FPF.

Os times pioneiros foram Guarani F.C. e A.A. Ponte Preta, de Campinas; E.C. Mogiana, de Ribeirão Preto; Palmeiras F.C. e A.A. Francana, de Franca; E.C. XV de Novembro, de Piracicaba; Rio Branco E.C., de Americana; Botafogo F.C., de Ribeirão Preto; Batatais F.C., de Batatais; Esportiva Sanjoanense, de São João da Boa Vista; E.C. Taubaté, de Taubaté; A.A. São Bento, de Marília, atualmente Marília Atlético Clube e a A.A. Internacional, de Limeira.

Como a FPF proibiu a participação de clubes de cidades com população inferior a 50 mil habitantes na Primeira Divisão, a Internacional teve que disputar em 1948, o Campeonato da Segunda Divisão. Fez bonito, terminando como vice-campeão.

Em 1947 foi composto o hino oficial do clube, com letra de Renato P. Guimarães e música de Mário Tintori. “Eis a equipe altaneira/Do bravo Internacional/que p’ra glória de Limeira/Não teme nenhum rival./Oh! Leão, Oh, meu Leão/Entra firme no gramado/Vai com garra e coração/Para um gol bem conquistado/Ruge Leão... Aaaaaa.... Uuuuuuuu.../Urra Leão... Aaaaa... Uuuuuuu/Pé na bola, sem demora/Sacode a juba, meu Leão/sejas hoje, como outrora/Sempre, sempre, campeão.../Oh! Leão, Oh, meu Leão/Entra firme no gramado/Vai com garra e coração/Para um gol bem conquistado/Ruge Leão... Aaaaaa.... Uuuuuuuu...Urra Leão... Aaaaa... Uuuuuuu”

Em 1966, a Internacional teve como presidente o desportista, Benedicto Iaquinta, até hoje lembrado como um dirigente modelo. Foi na gestão dele, conhecida como a “Era Iaquinta”, de 1961 a 1974, que o clube conquistou o título de campeão da 2ª Divisão de Profissionais, atual Série A3 e o acesso à Primeira Divisão.

Em 1961, logo na primeira gestão, veio a glória com o título da “Série Algodoeira”, ao vencer o Internacional, de Bebedouro, por 5 X 0, no jogo final.

Mas as exigências da Federação Paulista de Futebol tiraram o time da Primeira Divisão, pois o seu estádio não se enquadrava nas exigências do Regulamento. Não restou outra alternativa ao presidente, se não solicitar licenciamento. Mas para isso foi obrigado a disputar todos os torneios amadores, além de cumprir com as obrigações financeiras como taxas de inscrições do time a FPF. A Internacional ganhou cinco dessas competições.

Em 1962 o estádio da “Vila Levy”, teve a sua capacidade aumentada para 3 mil pessoas através da construção de arquibancadas de madeira. Também no mesmo ano, no dia de aniversário da cidade, 15 de setembro, foi inaugurada a nova iluminação do campo.

Em 1967, com o intuito de reduzir despesas para poder construir um estádio próprio, Iaquinta se viu forçado a dar passe livre aos jogadores. Logo após o lançamento da pedra fundamental do Estádio Major Levy Sobrinho, em 1974, e graças a uma administração séria, o presidente encerrou seu mandato sem deixar uma única dívida.

O clube estava pronto para voltar ao futebol profissional, na Série B do Campeonato da Primeira Divisão de 1975. A Diretoria conseguiu licença da FPF para mandar seus jogos na cidade vizinha de Araras, no Estádio do União São João, enquanto as transformações no seu estádio não terminassem. A pedra fundamental do novo Estádio Major José Levy Sobrinho foi lançada em 1974.

Foi uma fase de “time cigano”, por não ter um lugar fixo para realizar seus jogos e treinos. Os campos que o clube utilizou nesse período difícil foram os do Clube Paulistano, do Estudantes, do Clube Atlético Usina Iracema (Iracemápolis) e o da Usina São João, único aceito pela FPF.

A primeira partida na volta ao profissionalismo, foi no campo do Paulistano, contra o Piracicabano. No retorno, em 1975, a Internacional pertencia à Série B do Campeonato da Primeira Divisão. 

Mas a recompensa só veio três anos depois, em 1978, quando ganhou a competição e o direito de participar da Divisão Especial em 1979. O time estreou com um bom 9º lugar, o que deu direito a disputar o Campeonato Brasileiro, onde só não chegou as quartas de finais porque foi eliminado pelo Internacional, de Porto Alegre, campeão do ano anterior, que tinha no plantel jogadores como Falcão.

Foi quando começou um período de glórias na história do clube. No início da década de 1980 foi o 4º colocado no campeonato, tendo disputado o "Quadrangular Final". Porém, foi desclassificado pelo São Paulo, que conseguiu o título.

No jogo contra a Internacional, o “Tricolor” colocou em campo o atacante Zé Sérgio, de forma irregular na partida, sem sofrer qualquer punição. Mas ainda assim a Internacional foi confirmada na antiga “Taça de Ouro” de 1981, chegando as quartas de finais, quando foi derrotada pelo Grêmio.

Em 1981 foi sexta colocada no Campeonato Paulista, mas garantiu classificação para disputar a “Taça de Ouro” de 1982, campeonato este em que não passou da primeira fase. No Paulistão 82, a Internacional ficou em 11º, entre os 20 times participantes e não passou da primeira fase na “Taça de Ouro”. Já em 1983, a Internacional mais fez uma campanha razoável e ficou em 9º lugar no Campeonato Paulista. E no ano seguinte, em 10º lugar.

Entre os anos de 1982 e 1984, o clube construiu o Clube de Campo, um local de lazer destinado aos seus associados.

Em 1984, assumiu a presidência o desportista Richard Drago. Em 1985, começou a formação do elenco que surpreenderia o Brasil no ano seguinte. Foram feitas contratações de jogadores conhecidos como Silas, Gilberto Costa, Carlos Silva, Vilson Cavalo, Pecos, João Batista, João Luís, Éder e Bolivar, entre outros. Da categoria de base, os atletas Tato e Lê foram promovidos ao grupo de profissionais.

E veio 1986. E com ele a conquista do primeiro Campeonato Paulista, por um time do interior do Estado. Esse foi o maior feito da história centenária do clube de Limeira, que derrotou o poderoso Palmeiras e fez calar milhares de vozes no estádio do Morumbi.

No primeiro turno o time comandado por José Macia, o “Pepe”, foi sexto colocado. No segundo turno deu aula de futebol e faltando duas rodadas, já tinha garantido a primeira colocação na classificação geral.

Nas semifinais derrotou o Santos por 2 X 0, em plena Vila Belmiro e por 2 X 1, no “Limeirão”, classificando para as finais frente o Palmeiras, que há 10 anos não ganhava um título sequer. E sem o direito de jogar em Limeira. Os dois jogos decisivos foram no Morumbi.

No primeiro jogo, dia 31 de agosto, um empate sem gols. No segundo confronto, em 3 de setembro, frente a 64.564 pagantes e mais milhares de credenciados, com renda de Cz$ 2.443.610.00, a Internacional venceu por 2×1, com gols de Kita e Tato, com Amarildo descontando.

A Internacional mandou a campo os campeões Silas - João Luís – Juarez - Bolívar e Pecos – Manguinha - Gilberto Costa e João Batista (Alves) – Tato - Kita e Lê (Carlos Silva). Treinador, José Macia, o “Pepe”.

O artilheiro da competição foi o centroavante Kita, da Internacional, com 24 gols. Também conquistou a “Taça dos Invictos”, um dos troféus mais cobiçado do futebol paulista, depois de ficar 17 partidas sem perder. O troféu se encontrava em poder do Santos, que ficou 15 jogos invicto.

A campanha por si só, diz tudo. Em 42 jogos foram 21 vitórias, 14 empates e sete derrotas. Foram anotados 59 gols e sofridos 33 gols. A Seleção do Campeonato, escolhida pela imprensa e publicada no jornal “Folha de São Paulo” tinha sete jogadores da equipe limeirense: Silas, Juarez, João Luis, Gilberto Costa, João Batista, Tato e Kita.

Por essa razão, a Internacional foi considerada a "Dinamarca Caipira" em alusão à seleção europeia destaque da Copa do Mundo de 1986, pelo seu futebol alegre e competitivo.

Ainda em 1986 o clube realizou a sua primeira excursão ao exterior, jogando em gramados da África. Acompanhou a delegação e jogou pela Internacional, o jogador Jairzinho, o "Furacão" da Copa do Mundo de 1970.

Depois desse feito a estrela da Internacional só voltou a brilhar em 1988, quando ganhou o Campeonato Brasileiro da Série Amarela. Nesse ano foi 5º lugar no Campeonato Paulista. Nos anos 90 veio a decadência, depois que o ex-presidente Fernando Collor de Mello confiscou a poupança do clube, que ficou em uma situação financeira muito ruim. Isso teve influência decisiva dentro de campo, com o time fazendo péssimas campanhas.

Até que em 1990 foi rebaixado pela primeira vez no certame paulistano e também no brasileiro. Mas em 1991 conseguiu voltar a elite, para cair outra vez. Teve de esperar até 1996, para o retorno à Divisão Principal, após conquistar o Campeonato Paulista da Série A2, depois de golear por 4 X 0 a Portuguesa Santista, em jogo realizado no dia 28 de julho, no “Limeirão”. O técnico era mais uma vez José Macia, o “Pepe”.

Dessa vez a Internacional conseguiu se manter por sete anos na elite do futebol paulista, só voltando a cair em 2003. Em 2004 conseguiu novamente o acesso. O time era dirigido tecnicamente pelo ex-jogador Pintado, que iniciava a carreira de treinador.

A alegria durou pouco, pois no ano seguinte o clube foi novamente rebaixado. E daí por diante foram seguidos rebaixamentos, até as últimas divisões do Campeonato Paulista, até que em 2010 conquistou o acesso à Série A3, onde permanece até hoje.

O clube manda seus jogos no Estádio Major José Levy Sobrinho, o “Limeirão”, que pertence a Prefeitura Municipal de Limeira e tem capacidade para 28 mil pessoas. O nome é uma homenagem ao desportista que doou o terreno onde foi construído o estádio.

O “Limeirão” foi inaugurado no dia 30 de janeiro de 1977, com o jogo Internacional 2 X 3 Corinthians. O primeiro gol foi de Tião Marino, da Internacional. O recorde de público foi no jogo inaugural, com 44 mil expectadores.

Na época de sua inauguração foi o segundo maior estádio paulista, atrás somente do Morumbi, na capital. Com a construção de outros estádios maiores em Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Presidente Prudente, entre outras cidades, o “Limeirão” perdeu a condição de maior do interior do Estado.

Em 2012, com a eleição do jovem presidente Taymom Bueno, de apenas 27 anos, a Internacional começou a passar por uma ampla reformulação. Projetos nunca antes vistos foram postos em prática, como a construção do Memorial, a Loja Oficial, revitalização da fachada do Estádio Major José Levy Sobrinho, Departamento Comercial e de Marketing atuantes e profissionalização em todos os departamentos.

O clube passou a ser formador de atletas de alto rendimento, o que foi reconhecido pela CBF, que deu a Internacional uma certificação que poucos clubes no país possuem. A categoria Sub-15 é tida como uma das melhores do Estado e faz brilhante campanha no Campeonato Paulista. A equipe sub-17 profissionalizou cinco atletas que compõem o atual elenco profissional.

Fora de campo o clube também vem buscando resgatar sua imagem, com projetos solidários. Em parceria com a Associação Limeirense de Combate ao Câncer (ALICC), a Inter busca cumprir seu papel junto a sociedade, destinando parte da arrecadação de produtos oficiais e rendas de jogos para a entidade, participando da campanha “Outubro Rosa”.

O centenário foi comemorado no último dia 5, com uma carreata que percorreu as principais ruas da cidade. No domingo, quando o time entrou em campo houve uma grande queima de fogos. No intervalo do jogo Internacional 3 X 0 São Bento, pela Copa Paulista, a “Banda Henrique Marques” apresentou uma nova versão do hino do clube.

A noite, aconteceu o “Jantar dos 100 anos”, com presenças de autoridades da FPF, do Governo Municipal, ex-presidentes do clube e ex-jogadores. O evento, que foi aberto para toda a torcida do clube, aconteceu no “Gran São João”.

Os principais rivais da Inter, de Limeira são clubes da região: Independente, XV de Piracicaba, Rio Branco, Guarani, Ponte Preta, União Barbarense, Velo Clube e Paulínia. O clássico com o Independente, de Limeira recebe o nome de “Le-Gal”, referência às torcidas “Leonina” e “Galeão”. O Independente, fundado em 1944, só se profissionalizou no início da década de 1970.

Ao final dessa década a Internacional subiu para a Primeira Divisão Paulista e a cidade ficou sem assistir o seu clássico por quase 30 anos, voltando com tudo em 2007. Apesar de todos esses anos sem o famoso encontro, a rivalidade nunca esfriou. O último jogo entre essas duas equipes foi na Copa Paulista de Futebol deste ano de 2013, quando ocorreu um empate pelo placar de 1 X 1.

Títulos conquistados: Campeã da Série Algodoeira, 2ª Divisão de Profissionais (1961); Vice-Campeão da Série Dr. João Havelange, 2ª Divisão de Profissionais (1962); Campeã da Série B – Semi-finais, 2ª Divisão de Profissionais (1962); Campeã da Segunda Divisão de Profissionais (1966, junto com a Ituveravense); Vice-campeã do Torneio Brigadeiro Jerônimo Bastos (1976); Campeã da Intermediária, garantindo o direito de disputar o Campeonato Paulista da Divisão Especial de Profissionais, hoje Primeira Divisão (1976); Campeã Paulista de Futebol – O primeiro time fora do Eixo dos Grandes (1986); Campeã do Torneio Interestadual RJ –SP, tendo derrotado o Flamengo, por 2 x 0, na final (1986); Detentora da Taça dos Invictos, com 17 jogos (1986); Campeã do Grupo “G” do Torneio Paralelo (1986); Campeã Brasileira da Série Amarela – Grupo Especial (1988); Campeã Taça BH de Futebol Júnior (1990); Campeã Paulista da Série AII – Retorno à Série de Elite (1996); Campeã Paulista Sub20 – Primeira Divisão (2003); Campeã Paulista da Série AII – Retorno à Série de Elite (2004) e Campeonato Amador de Limeira (1944, 1945, 1946, 1970, 1971, 1972, 1973 e 1975). (Pesquisa: Nilo Dias)

1986. Campeão Paulista. Em pé: Silas - Bolivar - João Luis - Pecos - Manguinha e Juarez. Agachados: Tato - Gilberto Costa - Lê - Kita e João Batista. (Foto: "R7 Esportes")