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domingo, 10 de novembro de 2013

Um campeão de longevidade

Alcebíades Brizolara, o “Tibirica”, foi um jogador símbolo de garra e perseverança na história centenária do G.E. Brasil, um dos mais tradicionais clubes de futebol do Rio Grande do Sul. Jogava de lateral-direito e tinha na marcação forte a sua maior virtude. Nasceu em Pelotas no dia 22 de setembro de 1924 e faleceu em sua cidade natal no dia 28 de setembro de 1985, seis dias antes de completar 61 anos.

Começou a carreira de futebolista no time amador do Marechal Floriano F.C. Depois foi para as categorias de base do G.E. Brasil, em 1942, quando tinha 18 anos de idade. De cara sagrou-se campeão pelotense da categoria de aspirantes. No ano seguinte, “Tibirica” já era titular absoluto.

Seu primeiro jogo no time de cima foi um amistoso disputado no antigo “Estádio das Oliveiras”, na cidade de Rio Grande, contra o S.C. Rio Grande, dia 4 de abril de 1943, que terminou empatado em 3 x 3.

Seu último jogo com a camisa rubro-negra foi no dia 11 de fevereiro de 1962, no “Estádio Bento Freitas”, em Pelotas, válido pelo “Torneio da Morte” do Campeonato Estadual da Divisão Especial, num empate em 1 X 1 com o E.C. São José, de Porto Alegre.

A camisa rubro-negra foi a única que vestiu ao longo de 20 anos de carreira. Ao todo foram 445 jogos pelo time “Xavante” e sete gols marcados. “Tibirica” encerrou a carreira em 1962, aos 38 anos de idade, um ano antes do G.E. Brasil comemorar o seu cinquentenário.

Em sua passagem como jogador  do “Xavante”, participou de momentos gloriosos da vida do clube, como a excursão ao Uruguai, em 1950, quando o G.E. Brasil enfrentou a “Celeste Olímpica”, que se preparava para o Campeonato Mundial daquele ano, onde se sagrou campeão, no famoso “Maracanazzo”.

Naquele jogo inesquecível o clube pelotense conseguiu uma estrondosa vitória por 2 X 1, surpreendendo os “orientales” em pleno Estádio Centenário. Os gols foram de Darci e Mortosa, este. pai de Flávio “Mortosa” Teixeira, auxiliar técnico de Luiz Felipe Scolari, na Seleção Brasileira.

“Tibirica” também esteve na excursão que o clube pelotense realizou em 1965, por 10 países das América Central e do Sul. Foi uma maratona de 104 dias pelo exterior e 28 jogos disputados em países diferentes. O saldo foi esplendido, 16 vitórias, 6 empates e 6 derrotas.

Ele fez parte de célebres linhas-médias do G.E. Brasil, tais como: Tibirica, Juvenal (zagueiro da Seleção em 50) e Tavares, em 1946; Tibirica, Garcia e Tavares, em 1948 e Tibirica, Seara e Jari, em 1954 e 1955.

Títulos conquistados: Campeão da Cidade (1946, 1948, 1949, 1950, 1952, 1953, 1954 e 1961); Campeão da Taça Eficiência (1945, 1946, 1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955 e 1957; Campeão do Torneio Início (1947, 1950, 1955, 1956 e 1957); Campeão da “Taça Galenogal” (1947); Campeão da “Taça Ouriversária Cruz” (1950); Campeão da “Taça Prefeitura Municipal de Pelotas” (1947); Campeão da “Taça White Star” (1956); Campeão do Interior (1953,1954 e 1955); Campeão Regional (1949, 1950, 1953, 1954, 1955 e 1961); Campeão da “Taça Casa Oliveira” (1955); Campeão do “Torneio Dia do Futebol” (1949); Campeão do “Torneio Quadrangular Internacional da República de El Salvador” (1956); Campeão Estadual da Divisão de Acesso (1961); Campeão do “Torneio Rio Grande-Pelotas” (1952); Campeão do “Torneio Triangular Bagé-Pelotas” (1954); Campeão do “Torneio Triangular Rio Grande-Pelotas” (1956) e Campeão do “Torneio 50º Aniversário do 9º Regimento de Infantaria Motorizada (1959).

Foi ainda: Vice-campeão Municipal (1943, 1945, 1951, 1957 e 1959); Vice-campeão estadual (1953, 1954 e 1955); Vice-Campeão da Festa da Liga Pelotense de Futebol (1961); Vice-campeão do Interior (1949, 1950 e 1952); Vice-campeão Regional (1946); Vice-campeão da ”Taça Companhia de Cigarros Sudan (1949); Vice-campeão da “Taça Confeitária Gaspar (1947); Vice-Campeão da Taça Eficiência (1943); Vice-campeão da “Taça Eva Perón” (1952); Vice-campeão da “Taça Fayacal” (1943); Vice-campeão da “Taça Prefeitura Municipal de Pelotas” (1950); Vice-campeão da “Taça Sezefredo Ernesto da Costa, o Cardeal” (1954); Vice-campeão do “Torneio Cidade de Pelotas” (1956); Vice-campeão do “Torneio Dia do Futebol “ (1953); Vice-campeão do Torneio Início (1949); Vice-campeão do Torneio Municipal (1946) e Vice-campeão do “Torneio 32º Aniversário do E.C. Cruzeiro” (1959).

Eu fui amigo do “Tibirica”. Muitas vezes nos encontramos no antigo “Bar Cruz de Malta”, na esquina das ruas XV de Novembro e Voluntários da Pátria e falávamos de futebol. Eu era editor de esportes do jornal “Diário Popular”, quando “Tibirica” deixou de jogar.

Mas eu o conheci nos tempos de jogador. Uma vez até participei de um treino do Brasil, quando o técnico era o saudoso Teotônio Soares. Por azar, me colocaram na ponta-esquerda, sendo marcado pelo “Tibirica”, que era um sujeito forte e grandalhão. Costumava jogar com os cotovelos a mostra. Bater nele era o mesmo que se chocar contra um muro.

Lançaram uma bola em velocidade e eu rapidamente me desfiz dela, colocando entra as “canetas” do "Tibirica". E ele, furioso, deu uma trombada que me fez desistir de voltar a atacar. A partir daí me limitei a ficar pelo meio de campo, como quem não quer nada.

Quando “Tibirica” morreu, em 1985, eu morava em São Gabriel. Fiquei muito sentido com o ocorrido, pois além de um amigo, foi com ele uma parte importante da história do futebol gaúcho e brasileiro. “Tibirica” foi um campeão de longevidade, jogando numa época em que o máximo que um atleta aguentava era jogar até os 33, 34 anos. Ele foi até os 38.

Quando perguntado qual era o segredo de ter jogado por tanto tempo, ele costumava dizer brincando: “Não bebo, não fumo, me alimento em horas certas, faço sexo regularmente e durmo cedo”. Na verdade, “Tibirica” era o contrário disso tudo. (Pesquisa: Nilo Dias)


"Tibirica" marcava forte. (Foto: "Colecionador Xavante")