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domingo, 29 de dezembro de 2013

O demolidor de campeões

Francisco Barbosa Gomes, o “Caiçara”, foi jogador e técnico de futebol. Começou a carreira no Íbis, de Pernambuco,em 1948, e depois se transferiu para o Náutico, onde jogou até 1959, sendo depois contratado pelo Vitória, de Guimarães, Portugal.

O apelido ele ganhou quando ainda jogava como amador. O dono de um time chegou num caminhão cheio de garotos escurinhos para levá-lo a um torneio. Era conhecido por Gomes, e tinha um cabelo alourado. Ao subir no caminhão, a molecada gritou: "Esse sarará é caiçara?” Era uma gíria para designar alguém branco. E aí pegou o apelido com o qual se destacou em sua carreira.

“Caiçara” vestiu a camisa vermelha e branca pernambucana por quase nove anos, tendo conquistado vários títulos. Entrou para a história do clube, ao formar zaga com “Lula”. Os dois também atuaram juntos na Seleção Pernambucana.

O prestigio de “Caiçara” era tão grande, que uma ocasião ele precisou ser atendido em um hospital de referência em Recife. O atendente passou sua ficha para o médico, que leu: paciente Francisco Barbosa Gomes. "Diga que pode esperar". Ao que retrucou o atendente: "Vou falar para o "Caiçara" que tenha mais paciência”. E o médico, ao ouvir o apelido do cliente mudou rápido de idéia: "É o "Caiçara"?. Por que não me disse logo. Mande-o entrar imediatamente.”

“Caiçara” jogou 260 partidas pelo Náutico e fez 25 gols. Pela Seleção Pernambucana foram 29 jogos. Além de um defensor firme, que jogava duro, mas era leal, tinha um chute muito forte e fez muitos gols de falta. Seu primeiro gol foi marcado num jogo contra a Seleção da África do Sul, num torneio em Johanesburgo, quando atuava pelo Vitória, de Guimarães.

Depois de encerrar a carreira, ele foi treinador e dirigiu equipes como o Botafogo (PB), ABC (RN), Fortaleza, Ceará, Flamengo (PI) e Santa Cruz (PE). Fez o curso de treinador em Portugal e assumiu o clube Felgueiras, onde foi bi-campeão distrital em 1978 e 1979. Tinha trânsito livre na Europa, quando pouco se falava na exportação de talentos brasileiros para lá.

“Caiçara”, na condição de treinador alcançou um feito que só ele e o ex-treinador Moésio Gomes, já falecido, conseguiram em solo cearense: são os únicos que conquistaram títulos estaduais comandando as equipes rivais do Fortaleza e Ceará. No Fortaleza conseguiu que o time ficasse 12 jogos invictos, feito superado apenas em 2012, pelo técnico José Luiz Mauro, o “Vica”.

Na Paraíba fez história dirigindo o Botafogo. Em 1986, conseguiu quebrar um jejum de 11 anos sem títulos. Em todos esses anos foram todos ganhos por times de Campina Grande.

Mas o seu grande feito no Botafogo foi uma improvável vitória sobre o Flamengo, do Rio de Janeiro, pelo Campeonato Brasileiro, em pleno Maracanã, no dia 6 de março de 1980, que derrubou milhões de apostadores da Loteria Esportiva, em uma das maiores “zebras” de todos os tempos.

O Flamengo era um time forte, com jogadores categorizados como Raul Plassmasn, Júnior, Adílio, Tita, Andrade, Zico e Paulo César Carpegiani. A vitória flamenguista era favas contadas. O Botafogo tinha um time bom, mas era totalmente desconhecido no país inteiro.

O treinador “Caiçara” até ousou na escalação, com quatro atacantes e foi para cima do rubro-negro. O primeiro tempo terminou 0 X 0. Na fase final os gols saíram. Soares fez 1 X 0 para o time paraibano. Tita empatou e Zé Eduardo, aos 36 minutos decretou a “zebra”. Esse jogo é considerado até hoje como a mais espetacular façanha do clube em sua história.

O professor Raimundo Nóbrega, que já foi dirigente do Botafogo paraibano e é dono de um imenso acervo histórico do clube, conta uma curiosidade sobre aquele jogo. O Botafogo ia jogar de branco, mas João Saldanha, que era técnico do Botafogo, do Rio de Janeiro, conversou com o presidente do time paraibano, Álvaro Magliano, e pediu para que jogassem de listrado.

A intenção era conseguir o apoio dos torcedores do alvinegro carioca. O presidente comprou estas camisas às pressas, e o time acabou jogando aquela partida com um uniforme sem escudos.

Ainda naquele “Brasileirão”, o time orientado por “Caiçara” conseguiu mais duas vitórias históricas, 1 X 0 em cima do Náutico, em pleno Estádio dos Aflitos e 2 X 1 frente o então campeão brasileiro invicto, o Internacional, no Estádio Almeidão, em João Pessoa. A partir daí o time passou a ser chamado de “demolidor de campeões", apelido que foi também estendido ao treinador.

Depois de 1980, “Caiçara” ainda comandou o Botafogo em 1995, quando o presidente era de novo Álvaro Magliano. Como o clube paraibano atravessava uma grande crise, o treinador não conseguiu ganhar o campeonato estadual daquele ano.

Caiçara” morreu no dia 9 de janeiro deste ano, aos 80 anos de idade, no Hospital Português, em  Recife, onde estava internado. O Fortaleza emitiu “Nota Oficial”, lamentando a morte de um dos técnicos mais vitoriosos da história do clube.

Os principais títulos de Caiçara, como treinador. Bi-Campeão Distrital pelo Felgueiras, de Portugal (1965 e 1966); Bi-Campeão Estadual pelo Botafogo, da Paraíba (1978 e 1979); Campeão Estadual pelo Fortaleza, do Ceará (1969 e 1973); Campeão Estadual pelo Ceará (1975, 1976, 1980, 1981 e 1986); Campeão estadual pelo ABC, de Natal (1970); Campeão Estadual pelo América, de Natal (1979, 1982 e 1987). (Pesquisa: Nilo Dias)