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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um inglês histórico treinou o S.C. Rio Grande

Pouca gente sabe e com certeza alguns estudiosos do futebol vão se surpreender com a revelação de que Charles Albert Williams, o primeiro goleiro da história a marcar um gol, tenha sido treinador do S.C. Rio Grande, da cidade gaúcha de Rio Grande, em 1912. Ele foi contratado pelo clube mais velho do futebol brasileiro, por sete contos de réis, soma considerável na época.

Num tempo em que os times de futebol existentes eram orientados tecnicamente pelos seus capitães, o S.C. Rio Grande, o clube mais velho do futebol brasileiro em atividade, também foi pioneiro no Rio Grande do Sul na contratação de um profissional específico para a função de treinador.

Williams nasceu no dia 19 de novembro de 1873 em Welling, cidade situada no condado de Kent, na região Sudeste da Inglaterra. As informações sobre a sua carreira não são muitas, mas sabe-se que ele começou a jogar futebol em 1891, no time do Arsenal, onde ficou até 1894, quando ganhou a titularidade. Mas foi também o seu último ano no clube, após a contratação de Harry Storer.

Em 1894 Charlie Williams foi para o Manchester City, onde chegou como titular absoluto e ganhou de cara o carinho da torcida, tornando-se um verdadeiro ídolo. E deu sorte também, pois com ele como goleiro, o Manchester City conquistou seu primeiro título, o de campeão inglês da Segunda Divisão, em 1898/99.

E foi lá que ele entrou para a história do futebol mundial, quando marcou um dos gols de seu time diante do Sunderland, no distante dia 14 de abril de 1900. Dizem que foi até meio sem querer. Williams deu um chutão para frente a fim de afastar a bola do ataque do adversário. O chute foi tão forte que pegou o arqueiro desprevenido e a bola acabou no fundo da rede. Oficialmente, este gol é tido como o primeiro marcado por um goleiro em todos os tempos.

Williams ficou oito temporadas no Manchester City (1894 a 1902), onde ganhou dois títulos e jogou mais de 200 partidas. Mudou-se depois para o Tottenham Hotspur, onde atuou por mais três temporadas (1902 a 1905) e levantou dois troféus, o de campeão da Segunda Divisão (1902/1903) e da “Western League” na edição 1903/04, torneio que envolvia equipes do Oeste inglês. 

Jogou também no Norwich City (1905 a 1907) e no Brentford (1907 a 1908), onde encerrou a carreira. Mesmo tendo sido um goleiro brilhante nas equipes que atuou, Williams nunca foi convocado para a Seleção de seu país. 

Depois que deixou os gramados, Williams dedicou-se a carreira de treinador. Sua primeira experiência foi dirigir a Seleção da Dinamarca, ainda em 1908. E começou com brilhantismo, tendo levado sua equipe a conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas de Londres, onde foi vice-campeã de futebol, perdendo a final para a Inglaterra por 2 X 0.  

Em 1911 Williams foi contratado pelo Fluminense, do Rio de Janeiro para ser o técnico, recebendo por isso um salário mensal de 12 Libras Esterlinas, mais alimentação e moradia além de duas passagens para transporte Londres-Rio.

Esse foi mais um pioneirismo dele, pois tornou-se o primeiro profissional a assumir o comando técnico de uma equipe no futebol carioca, e ainda por ter participado do primeiro clássico “Fla-Flu” da história, em 7 de julho de 1912 no estádio das Laranjeiras (vitória do Fluminense por 3 X 2). No seu primeiro ano no futebol brasileiro sagrou-se campeão carioca.

Depois do tricolor carioca é que Wlliams foi ser o técnico do Sport Club Rio Grande. Além de uma pequena referência no livro “O Futebol em Pelotas”, de Eliseu de Melo Alves, nada mais se sabe da sua passagem pelo time gaúcho.

Depois de treinar o S.C. Rio Grande Williams foi para a Dinamarca onde treinou o B93. Ainda dirigiu o Olympique Lillois (atual Lille) da França, até retornar ao Brasil e ao Fluminense em 1924, quando conquistou mais um título de campeão carioca.

Contratado como treinador do Flamengo em 1930, não conseguiu fazer sucesso, levando a equipe somente ao oitavo lugar do Campeonato Carioca daquele ano e ao sexto de 1931, quando encerrou a carreira de técnico.

Seu primeiro jogo a frete do time rubro-negro foi em 6 de abril de 1930, Flamengo 3 X 1 Bonsucesso. E o último em 27 de setembro de 1931, Flamengo 1 X 2 Fluminense. No seu período a frente do Flamengo conheceu 38 derrotas, 14 vitórias e 22 empates. Como técnico o ex-goleiro foi vice-campeão olímpico em 1908 e campeão carioca em 1911 e 1924.

Depois disso ele fixou residência no Brasil e na Inglaterra, para onde viajava seguidamente. Williams faleceu em 1952 aos 79 anos. Seu bisneto Seth Burkett, nascido em Peterborough em 1991, tornou-se o primeiro jogador britânico a jogar profissionalmente no Brasil, tendo defendido o Sorriso, do Mato Grosso em 2009. Ele jogava como lateral-esquerdo.

Como no futebol sempre existem controvérsias, no livro “Guia dos Curiosos”, do jornalista Marcelo Duarte, consta que o primeiro registro de um gol de goleiro aconteceu em 25 de março de 1882. O autor teria sido James McAulay, da seleção da Escócia, em um jogo contra País de Gales.
    
No Brasil, o primeiro gol de goleiro foi obra de Anderson Williams Waterman, que jogou no Fluminense entre 1906 e 1910. O gol aconteceu no dia 5 de julho de 1908, durante uma partida contra o Riachuelo, vencida pelo tricolor pelo acachapante escore de 11 X 0. 

O Fluminense ainda teve um pênalti a seu favor, o que causou revolta aos jogadores do Riachuelo, que saíram de campo. Mesmo assim o goleiro Waterman bateu a penalidade com o arco escancarado, fechando o placar em 11 X 0.
    
O primeiro gol de um goleiro batendo tiro de meta no Brasil, aconteceu em 2 de novembro de 1962, obra do goleiro Navarro, do Noroeste, de Bauru (SP), em um jogo contra o Taubaté, válido pelo Campeonato Paulista. O lance foi validado pelo árbitro Carmelito Vói e o jogo terminou 6 X 0 para o Noroeste. Antes dele, somente em cobranças de pênaltis goleiros haviam marcado gols.
    
Outro gol famoso de goleiro ocorreu no dia 19 de setembro de 1970, num jogo realizado no Rio de Janeiro, entre Flamengo e Madureira. O goleiro rubro-negro Ubirajara cobrou um tiro de meta que fez a bola quicar duas vezes e dar um chapéu no goleiro do Madureira, antes de entrar. Apesar do lance histórico, o Madureira venceu o jogo por 2 X 1.
    
Já Hiran Spagnol, ex-jogador do Internacional, de Porto Alegre e da Ponte Preta, de Campinas, com 2,01 metro de altura foi o único goleiro em todo o mundo, que marcou dois gols de cabeça na carreira. O primeiro, em 1997 quando jogava pelo Guarani, de Campinas. Ele fez num cabeceio o gol de empate em 3 X 3 contra o Palmeiras, no “Brinco de Ouro da Princesa”, aos 48 minutos do segundo tempo.

E o segundo gol em 6 de junho de 1999, pelo Santo André, num jogo contra o Juventus, pelo Campeonato Paulista da Série A-2 daquele ano. Um historiador está procurando dados que comprovem os dois feitos de Hiran, para que ele possa ter seu recorde reconhecido pelo “Guinness Book”.
    
O primeiro gol do recordista Rogério Ceni foi marcado numa cobrança de falta em 15 de fevereiro de 1997, contra o União São João, no Campeonato Paulista. A revista “Four-Four-Two”, em sua primeira versão nacional - outubro de 2008, traz logo de cara um artigo que destaca Rogério Ceni, como um dos 12 goleiros que revolucionaram o futebol mundial.

O atleta são-paulino aparece junto de James McAulay, "o Príncipe dos Goleiros"; Leigh Richmond Roose, "o Soldado"; Ricardo Zamora, "o Divino"; Amadeo Carrizo, "o Maluco"; Apostol Sokolov, "o Diabo Loiro"; Lev Yashin, "o Aranha Negra"; Robert Mensah, "o Yashin Africano"; Ubaldo "Pato" Fillol; Hugo "El Loco" Gatti; Bruce Grobbelaar, o "Pernas de Espaguete" e Peter Schmeichel "o Viking Dinamarquês". (Pesquisa: Nilo Dias)

 
Charlie Willians (marcado pela seta), quando defendia o Manchester City, em 1899. (Foto: Autor desconhecido)