Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um botafoguense revolucionário

Os torcedores do Botafogo, do Rio de Janeiro costumam dizer que algumas coisas só acontecem com o clube. A superstição andou sempre lado a lado com o alvinegro.  Talvez muitas pessoas nunca tenham ouvido falar em Djalma Dutra. Ele jogou no Botafogo desde o glorioso ano de 1910, em que o clube conquistou seu primeiro título de campeão carioca.

A bem da verdade, Djalma, nascido em 1895, recém estava chegando ao clube, para jogar na Escolinha de Futebol. O Botafogo foi pioneiro na organização de categorias de base, no Rio de janeiro. Sua primeira escolinha se chamava Carioca F.C., criada em 1905. Depois foi extinta e o clube fundou em 1908 o Botafogo Infantil.

Djalma Dutra foi um dos astros dessa equipe. Em 1910, enquanto o time principal se sagrava campeão, os infantis venciam o maior rival da época, o Fluminense e levantavam o caneco do “Torneio Infantil”.

Foram dois jogos para decidir quem seria o campeão. No primeiro, realizado dia 30 de Junho de 1910, o Botafogo ganhou por 4 X 2. Os gols foram anotados por Paulo Azeredo e Mário Pinto, dois cada um. O time formou com Waldemar - Adolfo Couto e Carlos Amorim -  Ewaldo - Rui Bandeira e Paulo - Jorge Martins - Djalma Dutra - Mário Pinto - Paulo Azeredo e Tavares.

A segunda partida aconteceu em 3 de julho de 1910, om nova vitória botafoguense, dessa feita por 2 X 1. Mário Pinto e Djalma Dutra fizweram os gols. O campeão mandou a campo Mário - Augusto Tavares e Carlos Amorim - Adolfo Couto - Ewaldo e Kiki - Luiz Menezes - Djalma Dutra - Mário Pinto - Paulo Azeredo e Burlamaqui.

Djalma Dutra tinha tudo para seguir uma carreira exitosa no futebol. Quando chegou na idade de servir ao Exército, sua vida mudou por completo. Com espirito idealista, lutou com ardor por causas em que acreditava.

Cursou a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, e em 1922 já estava envolvido em movimentos revolucionários. Foi considerado desertor quando servia no regimento de Dom Pedrito (RS), terra do operador deste blog e juntou-se a “Coluna Prestes”.

Depois que as tropas comandadas por Luiz Carlos Prestes, já desgastadas pela longa marcha, terem abandonado o território brasileiro, encerrando aquela fase da luta, exilou-se na Argentina junto com a maioria dos demais líderes revolucionários.

Em 1929, Djalma veio clandestinamente ao Brasil, junto de Siqueira Campos, que fora um dos líderes da “Coluna Prestes”, para preparar uma insurreição em São Paulo. A policia paulista os localizou em uma casa da rua Andrade e esperou que saíssem, recebendo-os à bala. Siqueira Campos regaiu também atirando, conseguindo escapar.

Djalma Dutra foi preso e levado para o Rio de Janeiro, tendo conseguido fugir pouco tempos depois, para  juntar-se novamente ao movimento revolucionário.

Com a derrota da candidatura de oposição a Getúlio Vargas nas eleições presidenciais, Djalma regressou para São Paulo em março, para preparar a deflagração do movimento armado que visava depor o presidente Washington Luís. Em Outubro, quando teve início a “Revolução de 1930”, encontrava-se em Minas Gerais, onde tomou parte em combates.

O movimento revolucionário do qual fazia parte ganhou força a partir do rompimento entre as oligarquias paulista e mineira, ambas ligadas a interesses de produção e exportação de café. Djama Dutra morreu em outubro de 1930 quando tomava parte na tomada do 4º Regimento de Cavalaria, sediado em Três Corações (MG).

Teve participação destacada na “Coluna Prestes”, tendo sido comandante de um dos quatro destacamentos em que se dividia o exército rebelde, que percorreu cerca de 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil entre 1925 e 1927.

Sua história não foi esquecida. Tanto é verdade que hoje é nome de rua em São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Recife, Manaus, Salvador, Belém, Presidente Prudente (SP), São Bernardo do Campo (SP),Araraquara (SP),  Olinda (PE), Niterói (RJ), Santos (SP), Senhor do Bonfim (BA), Pilares (SP), São José dos Pinhais (PR), Bacabal (MA), Escada (PE), Camamau (BA), Brejo Alegre (SP), São Sebastião do Paraíso (MG), Cruzeiro do Sul (AC), Nova Cruz (RN), Caruaru (PE), Iararé (SP), Glória do Goitá (PE), Altamira (PA), São João do Rio Peixe (PB), São Vicente (SP), Poções (BA) e Carpina (PE).

Além de identificar ruas em todas essas cidades, Djalma Dutra é nome de uma estação ferroviária e de um time de futebol amador em Divinópolis (MG). Djalma Dutra também foi nome da cidade baiana de Poções, durante algum tempo, mas em 1943 voltou a denominação anterior.

Para completar, Djalma Dutra também empresta seu nome a um vapor que transporta passageiros no rio São Fracisco, denomina um hospital municipal em São Luiz (MA) e a uma estação de metrô em São Paulo. (Pesquisa: Nilo Dias)