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quinta-feira, 24 de abril de 2014

O "Fio de Esperança"

Em 26 de abril deste ano foram completados 8 anos do falecimento do ex-jogador e técnico, Telê Santana da Silva, um dos mais importantes nomes da história do futebol brasileiro. Ele nasceu em Itabirito (MG), no dia 26 de julho de 1931 e faleceu em Belo Horizonte, aos 75 anos de idade, em 21 de abril de 2006, devido a uma infecção intestinal, que desencadeou uma série de outras complicações.

Telê começou a carreira de jogador de futebol em 1945, aos 14 anos, no time do Itabirense Esporte Clube, de sua cidade natal, que tinha a sede próxima de sua casa. E depois no América Recreativo de São João Del Rey, cujo técnico e presidente era o seu pai, caminho para o Fluminense, do Rio de Janeiro.

No tricolor carioca foi contratado depois de ser o destaque de um jogo treino contra o Bonsucesso, em que fez nada menos do que 5 gols. O então diretor de futebol do Fluminense, João Coelho Neto, o “Preguinho”, autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em um campeonato do mundo, deu o aval para a contratação.

No Fluminense foi bi-campeão de Juvenis, em 1949 e 1950. Em fevereiro de 1951 foi promovido para os profissionais, tendo sido lançado pelo professor Zezé Moreira, de quem se tornou um grande amigo.

A partir daí teve a oportunidade de mostrar o seu melhor futebol e não largou mais a titularidade. Telê foi um dos ponteiros-esquerdos pioneiros na tarefa de voltar para marcar no meio de campo.

Os torcedores do Fluminense o apelidaram de “Fio de Esperança”, depois de um concurso promovido pelo jornalista Mário Filho, então diretor do “Jornal dos Sports”. “Fio” pelo seu porte físico, magro com apenas 57 quilos. E “Esperança” pela sua habilidade, rapidez, inteligência e aplicação tática.

O concurso surgira como ideia do dirigente tricolor Benício Ferreira. Na época, Telê tinha os apelidos pejorativos de "Fiapo" e "Tarzan das Laranjeiras", em função de seu corpo franzino.

O dirigente achava que o jogador merecia algo mais honroso e deu a ideia ao amigo Mário Filho, que criou o concurso com o tema "Dê um slogan para Telê Santana e ganhe 5 mil cruzeiros".

Mais de quatro mil sugestões foram enviadas à redação do jornal. O locutor esportivo José Trajano conta que seu pai participou do concurso propondo o apelido "A Bola". Três leitores acabaram empatados no primeiro lugar na votação final, com as alcunhas "El todas", "Big Ben" e "Fio de Esperança", que caiu no gosto dos torcedores.

Permaneceu no Fluminense por 14 anos. Do tricolor carioca foi para o Guarani, de Campinas (SP), que na época tinha como presidente o carioca Jaime Silva, que era torcedor do tricolor, o que facilitou sua transferência.

Já no final de carreira, foi de Campinas para o Madureira, do Rio de Janeiro, onde demonstrou seu amor pelo Fluminense. Embora seu time levasse 5 X 1, Telê chorou ao fim do jogo por ter marcado um gol no seu clube de coração. Ainda atuou pelo Vasco da Gama.

Telê jogou 557 partidas pelo Fluminense e marcou 165 gols, se tornando o terceiro jogador que mais atuou pelo clube e seu terceiro maior artilheiro. Como jogador conquistou os seguintes títulos mais importantes: Campeonato Carioca (1951 e 1959); Torneio Rio-São Paulo (1957 e 1960) e a Copa Rio (1952).

Depois de deixar os gramados foi aproveitado como técnico. Começou na categoria de juvenis, do próprio Fluminense, sendo campeão carioca em 1968. No ano seguinte foi guindado a treinador dos profissionais, conquistando o campenato carioca nesse mesmo ano, e formando a base do time que seria campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1970.

Telê foi ainda um defensor dos jogadores do Fluminense, que eram obrigados a entrar e sair do clube pela porta dos fundos. Depois de uma reunião à noite com dirigentes, pediu que abrissem a porta dos fundos para ele. Disseram que como ele não era jogador poderia sair pela entrada social.

Telê recusou-se a fazer isso e pulou o muro, porque não encontrou ninguém para abrir a porta dos fundos.  Anos mais tarde, ao lembrar o episódio Telê disse que foi jogador e o aviso também servia para ele.

Em 1970 Telê foi treinar o Atlético Mineiro, ganhando de cara o certame estadual. Até hoje, é o técnico que mais dirigiu o “Galo”, 434 vezes em jogos oficiais. Entre janeiro e julho de 1973, treinou pela primeira vez o São Paulo, mas foi afastado ao entrar em conflito com os ídolos Paraná e Toninho Guerreiro.

Retornou ao Atlético Mineiro em agosto, substituindo Paulo Benigno. Permaneceu no clube até setembro de 1975, sendo substituído pelo inexperiente Mussula. No primeiro semestre de 1976 assumiu o comando técnico do Botafogo, sem obter os resultados esperados.

Em 9 de setembro de 1976, substituiu Paulo Lumumba no Grêmio , levando-o a recuperar a hegemonia do Campeonato Gaúcho após oito anos de domínio do Internacional. No Grêmio, permaneceu até o fim de 1978.

Em 1979, foi contratado pelo Palmeiras, substituindo Filpo Núñez. Treinou a equipe até fevereiro do ano seguinte, quando foi convidado a comandar a Seleção Brasileira. Foi anunciado oficialmente como treinador da “Canarinho” em 12 de fevereiro de 1980 pelo então presidente da CBF, Giulite Coutinho.

Na Copa do Mundo de 1982, implantou uma forma de jogo que encantou, tanto os torcedores brasileiros, como os do resto do mundo. O time contava com jogadores técnicos como Zico, Sócrates e Falcão, entre outros. Apesar de grande performance, a Seleção foi derrotada pela Itália. Nesta sua primeira passagem, comandou a Seleção em 38 partidas.

Em 1983 foi contratado por altos valores pelo Al-Ahli, da Arábia Saudita, levando com ele os assessores Marinho Peres e Moraci Sant'anna. No clube árabe ganhou todas as competições que disputou. Em novembro de 1984 foi convidado pela CBF para retornar à Seleção, porém o Al-Ahli não o liberou.

Em 23 de maio de 1985 aceitou dirigir a Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, substituindo Evaristo de Macedo. Ainda tinha vínculo com o Al-Ahli. Em dezembro desse ano conseguiu rescindir o contrato com o clube saudita.

Em 17 de janeiro de 1986 o dirigente Nabi Abi Chedid, recém-eleito vice-presidente da CBF, confirmou Telê como o treinador para a Copa do Mundo de 1986. Na competição mundial realizada no México, Telê buscou valorizar a experiência e montou um time com jogadores que atuaram em 1982, alguns já em fim de carreira.

A Seleção foi eliminada da Copa de forma invicta, em uma disputa de pênaltis com a França. A partir dai o técnico passou a conviver com a pecha de “pé frio" por parte da imprensa brasileira.

Telê voltou a carreira em 7 de agosto de 1987, novamente no Atlético Mineiro, onde ficou até outubro de 1988, quando saiu para assumir o Flamengo, do Rio de Janeiro. Começou com uma goleada do rubro-negro frente o Guarani, de Campinas, por 5 X 1, em 23 de outubro.

Ficou no clube da Gávea até 19 de setembro de 1989, depois de uma discussão com o jogador Renato Gaúcho. Voltou ao Fluminense em 29 de outubro, ficando até o fim do ano. Em 14 de maio de 1990 assinou contrato com o Palmeiras, substituindo Jair Pereira. O alviverde foi o único clube em que Telê não ganhou nenhum título.

Ainda nesse ano foi comentarista dos jogos da “Copa do Mundo” pelo Canal SBT. Permaneceu no alviverde paulista até 16 de setembro, quando foi demitido após uma derrota para o Bahia, em pleno Parque Antártica.

Em 12 de outubro daquele ano o São Paulo o contratou. No clube do Morumbi ficou até 1996, tendo conquistado duas vezes a “Taça Libertadores da América” e a “Copa Intercontinental de Clubes”. Telê, chamado no São Paulo de “Mestre”, é até hoje considerado o melhor treinador que o clube teve em toda a sua história.

Em janeiro de 1996, após sofrer uma isquemia cerebral, teve que abandonar o futebol e viu a sua saúde debilitar-se bastante, com problemas na fala e na locomoção, entre outros. Apesar de debilitado, acreditava que poderia voltar a trabalhar e, nos dias de mau humor, culpava a família por "impedi-lo". No começo de 1997, chegou a fechar contrato para ser o técnico do Palmeiras, mas seus problemas de saúde impediram que assumisse o cargo.

Após sua morte, recebeu diversas homenagens, entre as quais: “Troféu Telê Santana”, de Minas Gerais; “Estádio Mestre Telê Santana da Silva”, em Duque de Caxias; “Hotel Concentração Telê Santana”, no “Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras”, do Fluminense; e uma rua no bairro Cachoeira, em Curitiba, além de um busto no Mineirão, em 2008.

Em livro, foi publicado, em 2000, “Fio de Esperança — Biografia de Telê Santana”, com base em entrevistas dadas por ele ao jornalista André Ribeiro, e “Telê e a Seleção de 82 – Da Arte à Tragédia”, de Marcelo Mora. Em filme, foi lançado em 2009 o documentário “Telê Santana: Meio Século de Futebol-Arte”, dirigido por Ana Carla Portella e Danielle Rosa.

Títulos, como jogador. Fluminense: Campeão Carioca de Juvenis (1949 e 1950); Campeão Carioca de Profissionais (1951 e 1959); Copa Rio (1952); Campeão do Torneio José de Paula Júnior, em Minas Gerais (1952); Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca (1954 e 1956) e Campeão do Torneio Rio-São Paulo (1957 e 1960).

Como treinador. Fluminense: Campeão Carioca de Juvenis (1968); Campeão da Taça Guanabara (1969); Campeão Carioca (1969). Atlético Mineiro: Campeão Mineiro (1970 e 1988); Campeão Brasileiro (1971). Grêmio: Campeão Gaúcho (1977); Al-Ahli, da Arábia Saudita: Campeão Saudita (1983-84); Campeão da Copa do Rei Árabe (1982-83) e Campeão da Copa do Golfo (1985).

Flamengo: Campeão da Taça Guanabara (1989); Campeão da Copa Porto de Hamburgo, Alemanha (1989) Campeão do Troféu Clássico das Multidões (1989) e Campeão do Troféu Seis Anos da Rede Manchete (1989).

São Paulo: Campeão da Copa Intercontinental (1992 e 1993); Campeão da Copa Libertadores da América (1992 e 1993); Campeão da Supercopa Libertadores (1993); Campeão da Recopa Sul-Americana (1993 e 1994); Campeão Brasileiro (1991); Campeão Paulista (1991 e 1992); Campeão do Troféu Cidade de Barcelona – Espanha (1991 e 1992); Campeão do Torneio Ramón Carranza – Espanha (1992); Campeão do Torneio Tereza Herrera – Espanha (1992); Campeão do Troféu Cidade de Santiago – Chile (1993), Campeão do Torneio Santiago de Compostela – Espanha (1993); Campeão do Torneio Jalisco – México (1993); Campeão do Torneio Cidade de Los Angeles – EUA (1993); Campeão da Taça San Lorenzo de Almagro – Argentina (1994); Torneio Rei Dadá (1995) e Campeão da Copa de Clubes Brasileiros Campeões Mundiais (1995).

Prêmios individuais: Belfort Duarte, que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem sofrer uma expulsão, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais. (Pesquisa: Nilo Dias)