Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sábado, 21 de junho de 2014

A morte da “Muralha” palmeirense

Morreu por volta de 23h30min da noite de ontem o ex-goleiro da S.E. Palmeiras, de São Paulo, Oberdan Cattani, na avançada idade de 95 anos, completados no dia 12 deste mês. A causa da morte teria sido uma infecção pulmonar.

Conhecido pelo apelido de “Muralha” era o único jogador vivo que jogou no antigo Palestra Itália e no Palmeiras. Foi ele que entrou em campo carregando a bandeira do Brasil, na primeira partida em que o clube deixou de ser Palestra para se chamar Palmeiras, devido a proibição de entidades brasileiras usarem nomes estrangeiros.

O jogo foi contra o São Paulo, disputado em 20 de setembro de 1942, com vitória palmeirense por 3 x 1, conquistando o título estadual daquele ano.

Desta forma, o Germânia passou a ser Pinheiros; o Espanha, de Santos, Jabaquara; e o São Paulo Railway, Nacional. Até a Portuguesa de Esportes, que não precisava mudar nada, passou a se chamar Portuguesa de Desportos, se bem que ninguém viu muita diferença em tal alteração.

Havia, naquela época, outros dois Palestras Itália no Brasil: um em Belo Horizonte e outro em Curitiba. Estes, claro, também tiveram de mudar seus nomes, passando a se chamar Cruzeiro, o de Minas Gerais e Coritiba o do Paraná.

Oberdan estava internado há 10 dias no Hospital do Servidor Público, na Zona Sul da capital paulista, para exames de rotina, em razão da cirurgia do coração a que foi submetido recentemente. Oberdan estava se recuperando em casa. Além do coração também foi operado de um joelho. Ultimamente perdeu o apetite e pouco se alimentava.

O Palmeiras já foi contatado e estuda como fazer para colaborar no sepultamento do ídolo. O velório acontece na sede social do clube e o sepultamento será no Cemitério do Araxá. Ele atuou no “Verdão” entre 1941 e 1954, tendo disputado 351 partidas, com 207 vitórias, 76 empates, 68 derrotas e 409 gols sofridos.

Em um sinal da importância de Oberdan na história do clube, o Palmeiras aprovou, no final do ano passado, a construção de um busto em sua homenagem, honraria concedida apenas a outros três jogadores: Waldemar Fiume, Junqueira e Ademir da Guia – o ex-goleiro Marcos também deve ganhar o seu em breve.

Porém, com a doença de Oberdan, a cerimônia de inauguração do busto, que deveria ter ocorrido ontem, véspera de sua morte, foi adiada.

Oberdan nasceu em Sorocaba (SP), onde foi caminhoneiro e quando viajava para a Capital costumava assistir os treinos do Palmeiras. Também participava de jogos de futebol nos campos da sua cidade natal.

Foi convidado para fazer testes no Corinthians, mas sua família não deixou. Todos disseram que se tivesse de jogar, seria no Palestra, pois o sangue que corria em suas veias tinha as cores verde, vermelha e branca, da bandeira da Itália.

Em 1940 conseguiu fazer o tão sonhado teste no Palestra. O então técnico Caetano de Domenico, arremessava a bola com as mãos. A primeira lançou no ângulo e Oberdan defendeu com apenas uma das mãos.

A seguir arremessou por cobertura e, com uma tapinha, o goleiro jogou a bola por cima. Na terceira o treinador lançou com força, esperando que ele devolvesse com um soco, como era tradicional. Mas Oberdan defendeu com uma só mão.

Ele foi o único aprovado entre os 16 jogadores que participaram do teste. Estreou no time principal em março de 1941, contra o Nacional. Um detalhe marcante, ele não usava luvas.

Em sua carreira atuou apenas por dois clubes o Palmeiras, onde conquistou a Copa Rio de 1951, o Torneio Rio-São Paulo de 1941, o Campeonato Paulista de 1940, 1942, 1944, 1947 e 1950 e a Taça Cidade de São Paulo, em 1945, 1946, 1950 e 1951, e o Juventus, no final de carreira. 

Por isso foi impedido de ganhar um busto no antigo Parque Antárctica, pois enfrentou o alviverde quando jogou pelo time da Mooca, em uma única partida.

Ele deixou o Palmeiras quando tinha 35 anos de idade. A Diretoria, presidida por Paschoal Giuliano, não o queria mais como camisa 1 e deram-lhe passe livre. Ele queria continuar no clube, fosse como treinador de goleiros, auxiliar de preparação física e até massagista, mas não queria sair do Parque Antárctica. O máximo que lhe ofereceram foi o cargo de cobrador de recibos dos sócios.

Sem escolha, foi jogar no Juventus. No Campeonato Paulista de 1954, defendeu seis dos sete pênaltis batidos contra ele. Lembrava de um especial contra o Corinthians, cobrado por Cláudio. Ele chutou no ângulo e Oberdan foi buscar com uma só mão.

Reza a lenda que ele é o autor da frase “Os corintianos são os rivais dos Palmeirenses; os são-paulinos, inimigos.” Mas ele sempre negou a autoria da frase.

Oberdan era conselheiro vitalício do Palmeiras e até pouco tempo antes de morrer, podia ser visto caminhando pelos arredores do Parque Antárctica. Em 2004 teve suas mãos esculpidas na Sala de Troféus do clube.

O também ex-goleiro Marcos, em um de seus últimos jogos coma camisa 1 do Palmeiras, homenageou Oberdan, posando para fotografias com um bigode igual ao do “Muralha”. O ex-goleiro usou o mesmo estilo de bigode e penteado até a morte.

Sabe-se que Oberdan queria estar vivo e presente na inauguração do novo estádio do Palmeiras, o que lamentavelmente não vai se concretizar. Ele tinha uma verdadeira paixão pelo clube alviverde e guardava em sua carteira recortes de jornais com fotos antigas, que costumava mostrar para os amigos.

O casamento de Oberdan foi na Sala de troféus do Palmeiras, em 1945. Na ocasião ele disse que ali era a sua casa, pois o Palmeiras era a sua vida.

Oberdan também jogou pela Seleção Brasileira em 1944 e 1945, participando da campanha que terminou com o vice do Campeonato Sul-Americano. O goleiro, porém, teve o seu sonho de atuar na Copa de 1950 frustrado pelo treinador Flávio Costa, que optou por Barbosa e Castilho, que jogavam no futebol carioca. Oberdan foi também Campeão Brasileiro de seleções em 1941 e 1942 pela seleção paulista. (Pesquisa: Nilo Dias)