Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Um jogo em Dom Pedrito

Como os amigos sabem, o operador deste blog é natural de Dom Pedrito (RS). Encontrei este bonito artigo de autoria do Kledir Ramil, da famosa dupla de cantores gaúchos, Kleiton e Kledir. É gostoso demais, daí a publicação aqui.

Futebol de Campanha

Eu estava lá no Laranjal sem nada pra fazer e apareceu o Toco dizendo que ia ter uma costelada em Dom Pedrito, na estância de um primo dele. Juntamos a turma, lotamos a Rural Willis do Joca e pegamos a estrada.

Já na chegada, nos olharam meio atravessado. É claro, se tu chega sozinho num churrasco sem ser convidado, tudo bem, sempre sobra um naco de carne. Mas levar mais oito amigos é um exagero. Além disso, no Interior ninguém gosta quando vem gente de fora, porque as gurias ficam ouriçadas.

Pra quebrar o clima pesado, Toco sugeriu pro primo que se organizasse um jogo de futebol. Os de casa contra os forasteiros, no caso, nós. Futebol de campanha é um jogo pra macho. Só quem já viu pra entender. Não tem muita regra. Com camisa pra lá, sem camisa pra cá e do pescoço pra baixo, é canela.

Pra quem não é gaúcho, eu preciso explicar que campanha é aquela região do Rio Grande, onde o trabalho duro e cotidiano com a agropecuária vai tornando os homens um pouco mais, digamos assim, embrutecidos. Resumindo, é terra de grosso.

O campinho ao lado da estância era todo esburacado e cheio de bosta de vaca. Ficava numa várzea que tinha sido plantação de arroz e depois virou um clube que, além do "estádio", tinha cancha de bocha e um bolicho pra vender cachaça.

Jogaram uma moeda pra cima e começou o entrevero.
Na falta de uma estrutura de equipe e alguma tática de jogo, combinei com os companheiros que eu seria o ponto de referência. Era só jogar a bola pra mim, que o resto eu resolvia.

Corri pro meio da área adversária e fiquei na banheira, esperando um lançamento. Não sei como, de repente a bola sobrou. Matei a redonda no peito e o zagueiro se veio na minha direção. Era um alemão de dois metros de altura, com cara de quem tomou chá de losna sem açúcar. Uma jamanta.

O índio jogava de bota, bombacha e espora chilena. E eu ali, de pé descalço. Tentei reclamar com o juiz, mas Sua Excelência estava totalmente borracho, com um apito numa mão e uma garrafa de canha na outra. Já estava naquele ponto em que dava um gole no apito e assoprava o gargalo.

Pois bem, matei a bola no peito e o animal se veio. Dei um toquinho de calcanhar e o balão de couro descreveu uma circunferência no ar, por cima daquele caminhão de carne com osso e espora chilena.

Quando o taura tentou frear, escorregou no barro, levantou as patas em direção ao céu, deu um duplo twist carpado invertido e caiu de bunda no lamaçal.

A torcida veio abaixo, às gargalhadas. Desloquei o goleiro com uma firula e joguei a bola no fundo das redes. Ato contínuo, corri pra galera e dediquei aquela obra-prima pra uma loira assanhada que estava sentada na primeira fila da arquibancada.

Nesse meio tempo o alemão já havia se levantado e veio bufando pra cima de mim. O tempo fechou. O pau comeu. O que era pra ser um jogo de futebol virou espetáculo de luta livre. Com camisa versus sem camisa.


Nunca mais pude voltar a Dom Pedrito. Juro que não foi deboche. Como é que eu ia saber que a loira era noiva do zagueiro?


terça-feira, 27 de outubro de 2015

O Galo Preto da Vila Alzira

Agora, por ocasião do aniversário de Pelé, a imprensa brasileira esmiuçou a fundo a vida do jogado. Toda a sua vitoriosa carreira foi relembrada, e nessa busca certamente nada faltou. Foi lembrado até o primeiro gol que Pelé, quando era chamado de “Gasolina”, marcou como profissional, em 1956.

E esse gol foi marcado contra o Corinthians, de Santo André, cidade do interior paulista, da região do ABC. E isso me fez vasculhar a história desse clube centenário, fundado em 15 de agosto de 1912, apenas dois anos após a criação do Sport Club Corinthians Paulista.

O jogo que colocou o até então quase desconhecido Corinthians de Santo André na história, aconteceu no dia 7 de setembro de 1956, no histórico Estádio Américo Guazelli, na Vila Alzira, que não existe mais.  Cedeu espaço ao conjunto de piscinas e a um campo menor, de posição invertida em relação ao original. Américo Guazelli presidiu o clube em 1927.

Foi um amistoso e o Santos goleou impiedosamente por 7 X 1. O jogo, com portões abertos, foi promovido pela Prefeitura Municipal de Santo André, para comemorar o aniversário da Independência.

O gol de Pelé foi marcado aos 36 minutos do segundo tempo. O zagueiro santista Hélvio disputou um lance pelo alto e a bola sobrou na altura do meio-campo para Pelé. Ele dominou a pelota, arrancou, passou pelo volante Schank, driblou mais um marcador, invadiu a área e tocou a bola por baixo das pernas do goleiro Zaluar, marcando o sexto gol santista.

Zaluar, então com 30 anos de idade, era reserva do Corinthians, de Santo André. O goleiro iniciou o jogo no banco e entrou em campo durante a partida, com a missão de tentar evitar um prejuízo ainda maior para o time da casa.

Também como Zaluar, Pelé, então com 15 anos, entrou no segundo tempo, substituindo o experiente Del Vecchio quando o placar já era de 5 X 0.

O Santos mandou a campo Manga - Hélvio e Ivan (Cássio) - Ramiro (Fioti) - Urubatão e Zito (Feijó) - Alfredinho (Dorval) - Álvaro (Raimundinho) e Del Vecchio (Pelé) - Jair e Tite. Técnico: Lula.

Corinthians: Antoninho (Zaluar) - Bugre e Chicão (Talmar) – Mendes - Zico e Schank – Vilmar – Cica - Teleco (Baiano) - Rubens e Dore. Técnico: Jaú.
Juiz: Abílio Ramos. Renda: Cr$ 39.910,00. Gols: Alfredinho (30), Del Vecchio (32), Álvaro (36), Alfredinho (41), Del Vecchio (61), Pelé (81), Vilmar (86) e Jair (89)
Semanas depois do jogo é que Zaluar se deu conta, que mesmo sofrendo uma goleada de 7 X 1, ele havia entrado para a história. E fez questão de divulgar isso até falecer, em 1995. Tinha sempre no bolso um cartão de visita em que constava não apenas o seu nome completo: Zaluar Torres Rodrigues. Este vinha acompanhado de um complemento: “goleiro do primeiro gol de Pelé”. E a data histórica: 07/09/1956.

Nunca na história um goleiro apreciou tanto ter levado um gol. Nas peladas de veteranos que disputava, usava um uniforme especial. Personalizado. Com o seu nome na parte da frente acompanhado da inscrição “Goleiro Rei Pelé 0001″.

Mas na verdade não foi um gol qualquer. Sim, o número um dos 1.284 marcados por Pelé em sua carreira. Zaluar chegou a jogar nas seleções sergipana e baiana e perambulou por vários clubes sem se destacar em nenhum.

Quando da fundação do Corinthians Foot-Ball Club, Santo André pertencia a São Bernardo do Campo. A emancipação aconteceu somente em 1938. 

Aproveitando a mudança, o clube também alterou sua denominação para Corinthians Futebol Clube. Assim como o Sport Club Corinthians Paulista, o nome da equipe de Santo André também surgiu devido ao Corinthians Football Club, equipe inglesa que excursionava pelo Brasil.

A ideia de fundar um clube de futebol nasceu dos garotos que jogavam nas ruas e nas áreas de pastos, e depois sentavam numa calçada frente a fábrica do Zanolli, sob a lua fraca de um poste que dava para a rua Agenor Camargo.

Os fundadores do clube tiveram a chance de escolher o nome do clube entre Flor da Índia e Corinthians, quando da primeira reunião que foi realizada na rua Agenor de Camargo, esquina da Rua da Fábrica, quase ao lado da atual Avenida Perimetral. Prevaleceu a segunda proposta.

Os fundadores do Corinthians, de Santo André foram  meninos entre 12 e 15 anos, relacionados por Paschoalino Assumpção no livro “O Galo Preto de Vila Alzira”. Foram eles: Albino Pezzolo, Alcebiades Pezzolo, Amadeu Veronesi, Américo Tiezzi, Ângelo Balista, Carmine Rossini, Domingos Tiezzi, Henrique Manna, Jacomo Guidotti, João Balista, João Daniel, João Manetti, João Rossini, José Suster, Luiz Berne, Pedro Polez, Romeu Carolo, Severino Gamberini, Sýlvio Brunoro e Túlio Mascotto.

O primeiro presidente do clube foi o desportista Carmine Rossini. A primeira escalação da equipe foi esta: João – Túlio – Manetti -  Polesi e Veronesi - Jacomo e Américo – Paulista – Cortez - Severino e Carmine.

A primeira bola que o clube teve, foi presente do presidente Carmine Rossini, e não durou mais que uma semana, conta o desportista Nicola Rossini, irmão do primeiro mandatário do clube. Os treinos contavam quase sempre com 15 jogadores de cada lado.

Entre 1917 e 1924 jogaram pelo Corinthians João e Nicola Rossini, Pelizon, Caio, Otávio, Guerra, Polez, Joaquim Caiúba, Lindolfo, Italo, Carello, Perigo, Arduíno, Candinho, Cortez, Severino, Albino, Paulo, Amálio, Ferrucio, Veronese, Martelini, Perez, Gabrielzinho, Lenti e Nico.

O primeiro campo se localizava próximo à estrada de ferro. Em 1922 o time ganhou o seu primeiro troféu, a “Taça Independência”. Entre 1928 e 1930 o Corinthians fez fusão com o 1º de Maio, nascendo o Clube Atlético São Bernardo, de curta duração. O clube mudou-se, então,  para a rua Gertrudes de Lima.

A primeira sede foi na rua Agenor de Camargo, 14. A segunda, na rua Alfredo Flaquer, batizada de “garagem”. A terceira foi na mesma rua.

Em 1923, um timaço. E a conquista do Campeonato de São Paulo com apenas uma derrota: Nicola – Otávio e Guerino – Polesi – Lindolfo e caio – Amálio – Perez – Dindino – Quilim e Basílio.

Nessa mesma época o Asilo Anália Franco, de São Paulo, ofertou uma riquíssima medalha de prata, para ser decidida em uma partida contra o Corinthians. Vitória do time de Santo André por 5 X 0 e a conquista da medalha. Foi o maior time da história do clube.

Em 1929 o Corinthians disputou uma partida amistosa contra o São Caetano, da cidade de igual nome, no Estádio Américo Guazelli. O destaque foi a presença de um juiz inglês arbitrando o jogo, o que foi um acontecimento para a época.

Em 1933, 1934 e 1935 foi tricampeão municipal de Santo André. O Corinthians tinha um timaço: Pelado – Souza e Chico Beiço – Haroldo – Tragédia e Chinco – Majorano- Tonico – Sidney – Laércio e Renato. Esse time goleou o São Caetano por 3 X 0, no final de 1935.

Em 13 de julho de 1952, no Estádio Américo Guazzelli, um jogo inesquecível. O Corinthians derrotou o Palmeiras por 2 X 0. O time formou com Ivo - Date e Dias – Radamés - Bria e V. Ferreira – Armando – Branquinho - Campos (Camargo) - Wilson e Mariano. O Palmeiras tinha Fábio - Rubens e Juvenal – Fiume - Túlio e Dema – Odair – Liminha – Silas - Jair e Rodrigues (Alfredinho). Gols: Wilson e Camargo.

O Corinthians disputou 12 edições do campeonato paulista de futebol, pelas segunda, terceira e quarta divisões. Série A2: (1949, 1950, 1951 (campeão da Zona Sul), 1952, 1953, 1955, 1956 e 1970); Série A3 (1957 e 1961); Segunda Divisão (1932). Em1960 parou por falta de recursos financeiros e se dedicou ao futebol amador.

Entre os jogadores mais importantes que vestiram sua camisa destacam-se Paulo Lunardi, Ângelo Balista, Ageklo Lalista, Haroldo Mattei, Zaluar, Américo Guazelli, Antonio Schank Filho, o Schank, que marcou Pelé no dia em que o Rei fez seu 1º gol pelo Peixe, Jovenil Saleme, Paschoalino Assumpção, que foi um dos dirigentes mais antigos do clube e que fez muito pela agremiação, Alécio Cavaggioni, Ariovaldo Alves, Manna e Benê Góes, o popular “18”, que foi um grande artilheiro, entre tantos outros nomes que ficaram marcados entre décadas na história do clube.

O Corinthians de Santo André ainda existe. Com sede e espaço poliesportivo na rua Sete de setembro, 288, na Vila Alzira, eixo comercial em Santo André, o clube tem uma área aproximada de 20 mil metros quadrados.

Hoje, nas dependências da sede, possui quadra coberta, piscina, academia, salões de festa, social, sala dos troféus, campo de futebol, sala para cursos para idosos, lanchonetes e espaço reservado ao setor administrativo.

O Corinthians tem hoje pouco mais de 400 associados, mas a diretoria planeja revitalizar o setor social aderindo mais adeptos às modalidades. Uma das metas é construir, em breve, um busto para Pelé em homenagem ao seu 1º gol no clube.

Os dirigentes destacam que ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, o Conselho Deliberativo teve de resistir “às ofertas milionárias de grupos de empreendedores imobiliários” buscando comprar a enorme área.

Na década de 1980, a Volkswagen mostrou interesse em adquirir o patrimônio para investir em supermercados, mas os conselheiros sempre “votaram contra a venda”. De acordo com especulações, o local suportaria seis prédios de 18 andares cada.

Nos bons tempos do profissionalismo era conhecido como “O Galo Preto da Vila Alzira”. O apelido surgiu pelo fato do “Corintinha”, como também era conhecido, aceitar na equipe atletas negros.

Está há muitos anos fora do futebol profissional. Mas agora, está voltando aos poucos aos gramados. Há quatro anos voltou com os másters. Em 2010, a Terceira Divisão do Campeonato Amador. Na bagagem, a camisa tradicional branca, mas também nas versões azul, vinho e amarela.

Quando da comemoração do centenário do clube, em 2012, aconteceu uma vasta programação, com destaque para visitas de antigos atletas e historiadores, além do jantar dançante da noite da sexta-feira , 17 de agosto, nas dependências do salão social, que se constituiu no grande sucesso dos festejos.

São poucos os clubes que chegam aos 100 anos sem mudar o nome. Muitos jogadores famosos jogaram no campo do Estádio Américo Guazelli, casos do capitão do tricampeonato mundial, Carlos Alberto Torres e de Ademir da Guia, o “Divino”, do Palmeiras.

Por muitos anos, a “Festa do Vinho”, do Corinthians, foi famosa e famílias até da Capital não perdiam um reencontro. A festa começava às 21 horas e não acabava antes das 5 horas da manha. (Pesquisa: Nilo Dias)

Corinthians, de Santo André, na década de 1950. (Foto: www.abcdpedia.com.br)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O Olaria também é centenário

O Olaria Atlético Clube, uma tradicional agremiação esportiva do Rio de Janeiro, completou seu centenário no último dia 1 de julho. O clube foi fundado por um grupo de rapazes que costumava jogar futebol na rua Filomena Nunes, naquele bairro leopoldinense. O que era quase uma ousadia, pois no início do século 20 o esporte era tido como uma exclusividade das elites.

No dia 1 de julho de 1915, uma quinta feira, os fundadores do clube se reuniram na residência do capitão Alfredo de Oliveira, na Rua Filomena Nunes 202 (atual 796). Todos queriam que o clube tivesse o nome do bairro, o que realmente aconteceu. Na fundação chamava-se Olaria Football Club.

Os fundadores foram Alfredo de Oliveira, Carolino Martins Arantes, Sylzed José de Sant’Anna, Elmano Jofre, Hermogêneo Vasconcellos, Manoel Gonçalves Boaventura, Isaac de Oliveira, Jaci de Oliveira e outros. Suas primeiras cores foram o preto e o branco e o primeiro escudo era constituído de um losango preto com as iniciais “OFC”.

A denominação atual de Olaria Atlético Clube foi definida em 1920. As cores também mudaram, passando a ser azul e branco e foi concebido o atual escudo, cujo primeiro desenho é atribuído a um associado cujo apelido era “Gasolina”.

O escudo atual reúne as atividades esportivas dos primeiros anos de fundação: futebol, tênis e escotismo do mar, este praticado na extinta praia de Maria Angu, aterrada durante as obras da Avenida Brasil.

Inicialmente o Olaria filiou-se à extinta Liga Suburbana e seu primeiro campo ficava na Rua Leopoldina Rego. Em 1931, o clube sagrou-se campeão invicto da Segunda Divisão da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), até hoje um dos mais importantes títulos da sua história. Com a conquista ganhou o direito de participar da Primeira Divisão do Campeonato Estadual.

Foi vice-campeão carioca de 1933, em um dos campeonatos organizados pela então Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), que era filiada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Quatro anos depois, em 1937, o Olaria viveu um dos momentos mais dramáticos da sua existência, ao ser afastado da nova Federação, criada para unificar o futebol carioca. Com isso, até a continuidade do clube foi ameaçada.

Foram 10 anos de espera, mas em 1947 o Olaria conseguiu retornar de forma triunfante à Primeira Divisão, depois de erguer o seu estádio na Rua Bariri, o “Antônio Mourão Vieira Filho”, que foi inaugurado com o jogo amistoso entre Fluminense X Vasco da Gama, vencido pelo time tricolor por 5 X 4.

Friaça, atacante do time cruzmaltino foi o autor do primeiro gol no estádio que era chamado de “Alçapão”, pelas dificuldades que os adversários encontravam para bater o Olaria em seus domínios.

O Complexo Esportivo da Rua Bariri se completa com o “Ginásio Álvaro da Costa Mello”, com capacidade para mais de duas mil pessoas, e o Parque Aquático, erguido em 1963, na gestão do então presidente José de Albuquerque. Com isso, o Olaria tornou-se uma das referências de lazer na zona leopoldinense.

Com o advento do Maracanã, em 1950, o Olaria, a exemplo dos demais clubes cariocas, deixou o seu estádio para jogar no “maior do mundo”, na época. E não fez feio, tendo chegado a frente de Flamengo e Fluminense, no primeiro campeonato que disputou no Maracanã.

A escalação do Olaria naquele ano, qualquer criança carioca sabia de cor: Mílton - Amaro e Lamparina – Jair - Olavo e Ananias – Jarbas – Alcino – Maxwell - Washington e Esquerdinha. e Fluminense.

Um feito histórico aconteceu em 1954, quando tornou-se o primeiro clube carioca a dar uma volta ao mundo. A excursão foi entre 27 de março e 7 de julho, mais de 100 dias fora do Brasil, a chamada "volta ao mundo", impraticável para os dias atuais.

Ao todo, foram 30 jogos em 10 países: Alemanha, Colômbia, Equador, Espanha, EUA, França, Inglaterra, Líbano, Luxemburgo e Turquia. O saldo não foi dos melhores, oito vitórias, nove empates e 13 derrotas.

Em 1960, foi campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca, tendo surpreendido o Fluminense no jogo final, com uma vitória de 2 X 0. Foi também o primeiro clube a ganhar um título no recém-criado Estado da Guanabara.

Em 1962, o Olaria formou um timaço, que tinha grandes valores: Ernâni – Murilo – Navarro - Haroldo e Casemiro - Nélson e Valdemar – Jaburu – Cané - Rodarte e Romeu.

Quase todos foram contratados por gigantes do futebol brasileiro. Haroldo, pelo Santos de Pelé. Murilo, Nélson e Navarro pelo Flamengo. A transferência mais badalada, no entanto, acabou sendo a de Jarbas Faustino, o Cané, negociado com o Napoli, onde jogou por 10 anos, e que está na Itália até hoje.

Depois de uma campanha excelente no Campeonato Carioca, ganhou o direito de disputar o Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte. A participação do Olaria na competição interestadual não foi boa. Os resultados obtidos foram estes:

14/02: Flamengo 4 X 1 Olaria; 20/02: Botafogo 2 X 1 Olaria; 02/03: Fluminense 1 X 0 Olaria; 06/03: Vasco 0 X 0 Olaria; 10/03: São Paulo 2 X 1 Olaria; 16/03: Santos 5 x 1 Olaria; 21/03: Corinthians 2 X Olaria; 24/03: Olaria 1 x 3 Palmeiras e 28/03: Olaria 4 x 4 Portuguesa de Desportos.

O time foi o último colocado entre os 10 participantes, com a seguinte campanha: Jogos: 09; Pontos Ganhos: 02; Vitórias: 0; Empates: 02 e Derrotas, 07; Gols marcados: 09: Gols sofridos: 23 e Saldo Negativo: 14 gols.

Quando o Santos jogou pela primeira vez no Rio, em 22 de março de 1964, os 11 jogadores que entraram em campo, para enfrentar o Fluminense, fizeram uma homenagem aos cariocas, em agradecimento ao apoio dado, quando das vitórias de 4 X 2 e 1 X 0 sobre o Milan-ITA, na conquista do bicampeonato mundial, obtido em novembro de 1963. Cada craque vestiu a camisa de um clube local. E o “Rei Pelé” estava com a do Olaria.

Em 1971 o time foi terceiro lugar no Estadual, atrás apenas de Fluminense e Botafogo, mesmo sem ter jogado uma só partida na Rua Bariri, pois o estádio se encontrava em obras. A equipe jogou aquela competição com camisas listradas.

O time era bom: Pedro Paulo – Haroldo (que não era o do Santos) – Miguel - Altivo e Alfinete - Afonsinho e Roberto Pinto - Marco Antônio – Salvador - Luiz Carlos Feijão e Antoninho.

Miguel atuou na “Máquina Tricolor” em 1976. Pedro Paulo, Alfinete e Afonsinho, no Vasco. E “Feijão” foi “Pelé”, quando jovem, no filme sobre a vida do “Rei”.

Em 1972 o grande destaque foi a presença de Garrincha na equipe. Também foi o último time do “Anjo das Pernas Tortas” como jogador profissional. Jogou 10 partidas pelo time, tendo marcado somente um gol. Foi num empate de 2 X 2 contra o Comercial, de São Paulo, em 23 de março de 1972.

Os anos de 1973 e 1974 marcaram a participação do Olaria na Divisão Principal do Campeonato Brasileiro, quando conseguiu, inclusive, a façanha de derrotar o Santos por 2 X 1 em plena Vila Belmiro.

Em 1973, entre 40 participantes, o Olaria classificou-se em 31º lugar. Somou 24 pontos em 28 jogos; Venceu 7 jogos; Empatou 10 e perdeu 11; Marcou 27 gols, sofreu 29 e teve um saldo negativo de 2 gols.

Em 1974, melhorou a colocação, chegando em 29º lugar entre os 40 participantes. Disputou 19 jogos e somou 16 pontos; Venceu 5 partidas, empatou 6 e perdeu 8; Seu ataque marcou 17 gols e a defesa sofreu 22, com um déficit de 5 gols.

O clube se orgulha de ter revelado Romário de Souza Farias para o futebol brasileiro e mundial. Em 1979, um olheiro o levou para fazer testes no infantil do Olaria, onde marcou os primeiros sete gols, dos mil contabilizados.

De cara ele foi artilheiro e campeão carioca na categoria infantil. Destaque entre os jogadores da equipe foi levado depois ao Vasco da Gama, onde foi obrigado a fazer um "estágio" de um ano, pois não tinha condições legais de ingressar no clube por causa de sua tenra idade.

A estreia pelo time da rua Bariri foi num empate de 1 X 1 com o Flamengo, em 23 de fevereiro de 1972. O último jogo com a camisa do Olaria foi em uma derrota de 5 X 1 para a Caldense, de Minas Gerais, dia 7 de setembro de 1972.

O último ano que traz boas lembranças ao Olaria foi 1981 quando conquistou um título nacional de grande importância, o de campeão brasileiro da “Taça de Bronze”, quando venceu nas finais ao Santo Amaro, de Recife (PE).

No primeiro jogo, disputado no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril, o Olaria goleou por 4 x 0. No segundo jogo, dia 1º de maio, na casa do adversário perdeu por 1 X 0 e foi campeão.

Outros jogadores de destaque nasceram ou vestiram a camisa azul com a faixa branca, como os goleiros Ubirajara Alcântara e Wagner, o lateral Moreira, os zagueiros Gonçalves e Joel Santana, os meias Jair Pereira e Aílton, e os atacantes Dé, Mickey e Ézio.

Em 2005 foi rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Carioca. No ano seguinte conseguiu retornar a elite, conquistando uma das quatro vagas de um torneio seletivo, em que participaram 16 clubes. Contudo a Justiça anulou esse certame e o clube teve de jogar a segunda divisão no ano seguinte.

Em 2007 a Segunda Divisão carioca classificou cinco times para a Primeira Divisão, mas o Olaria não conseguiu nenhuma das vagas. Como consolo foi vice-campeão da Copa Roberto Dinamite de Juvenis, revelando alguns jogadores como Wander, contratado em 2008 pelo Manchester United, da Inglaterra.

Em 2008, as vagas foram apenas duas. Mas o time ficou somente na quarta posição. Em 2009, conseguiu finalmente o acesso para a Primeira Divisão do Campeonato Carioca, depois de cinco anos.

Em 2010 se garantiu na elite, com a oitava colocação no Estadual.  Em 2011, o Olaria fez grande campanha na Taça Rio e conseguiu se classificar para as semifinais do campeonato, mas acabou sendo eliminado pelo Vasco, quando foi derrotado por 1 X 0.

Em 2012 foi 10° colocado, mas conseguiu permanecer na Divisão Principal carioca. Em 2013, depois de uma péssima campanha, acabou sendo rebaixado para a Segunda Divisão.

O Olaria centenário, amarga desde 2014 a Série B do Estadual, mas é o nono clube com o maior número de presenças na divisão de elite do Rio, ao todo 63 vezes, de 1924 a 2013, entre os 70 clubes que já disputaram o campeonato desde 1906. Está atrás apenas de Fluminense, Botafogo, Flamengo, América, Bangu, Vasco, São Cristóvão e Madureira. (Pesquisa: Nilo Dias)

Elenco campeão da Taça de Bronze de 81, com a Igreja da Penha ao fundo. (Foto: Wikipédia)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Um espetáculo único no mundo

Os moradores da pequena cidade de "Čierny Balog", localizada na região central da Eslováquia, com apenas 5.186 moradores, eram até pouco tempo os únicos a desfrutarem do privilégio de assistirem um espetáculo inédito no mundo: a passagem de um trem pelo interior de um estádio de futebol.

É isso mesmo. Mas, graças a um vídeo postado no “YouTube” por Alexander Loidl, um advogado de Linz na Áustria, que é funcionário do Museu Ferroviário de Steyr, com o auxilio de Dušan Janosovka, jornalista, do “Tribune”, o mundo descobriu este "segredo", 

Loidl é um aficionado pelo tema e aproveita os finais de semana para viajar e fotografar antigas estradas de ferro e estações da Europa Central, que oferecem roteiros pela Áustria, Alemanha, República Checa. Foi assim, que ele se surpreendeu quando o “Trem Museu” em que viajava, atravessou um campo de futebol bem no meio de uma partida.

O pequeno estádio, de gramado impecável, pertence ao “TJ Tatran Cierny Balog”, um clube amador fundado em 1933, que de repente tornou-se a maior atração turística do lugar. Os dirigentes do clube eslovaco estão adorando essa fama, maior que muito time grande profissional. E tem publicado em sua página no Facebook todas as notícias referentes a esse fato extremamente inusitado.  

A ferrovia foi construída antes do estádio. O trem que circulava por ela era chamado popularmente de “Grande Trem Preto'', ou "Čierny Hron Railway”, na língua local. Entre 1898 e 1982, era utilizada para o transporte de passageiros (a partir de 19 de Julho de 1927) e madeira das serrarias de Cierny Balog e Hronec, na antiga Tchecoslováquia. Em meados do século 20, a estrada de ferro tinha um comprimento total de 131,97 km, a mais extensa rede ferroviária florestal na Tchecoslováquia.

Tempos depois perdeu sua função e a linha foi fechada dando lugar ao estádio do “TJ Tatran Cierny Balog”.  Mas em 1992, 10 anos após a linha ser desativada, os moradores da cidade decidiram restaurá-la.

O futebol era praticado pelos próprios ferroviários. Ali mesmo, em torno da linha ferroviária foi que surgiram os primeiros clubes, ainda no século 19. Após a separação do país, a ferrovia foi declarada monumento cultural da Eslováquia e desde 1992 funciona como museu.

A Eslovaquia é formada por gente que cultua a história, preserva seu passado e evita que modernos predadores destruam suas ligações com o ontem. Quando o Museu foi recuperado nesses últimos 10 anos, ficou decidido pela comunidade que tanto a linha ferroviária quanto o estádio deveriam ser preservados.

E agora, um comboio turístico proporciona quatro passeios diários na alta temporada pela linha de 17 quilômetros. A responsável pela ferrovia é Mary Bílkov, que disse ter a ferrovia se tornado uma atração turística do lugar.

Gente dos mais variados lugares do mundo, agora visita a pequena cidade, só para ver o espetáculo único de um trem com locomotiva a vapor atravessar a lateral do gramado, enquanto os jogadores continuam tranquilamente a praticar o futebol. As vezes a fumaça atrapalha um pouco, mas nada que possa parar o jogo.

Os expectadores entram em delírio a cada vez que o trem passa. E o maquinista, sempre simpático, costuma cumprimentar a multidão e soprar o apito da máquina. Tudo sob os aplausos dos torcedores que acompanham a partida e tiram fotografias. Atualmente, quem vai ao estádio, na maioria, é para ver o espetáculo do trem. (Pesquisa: Nilo Dias)

Trilhos da ferrovia, entre a arquibancada e o gramado. (Foto: Smelyzajko sk)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Os 100 anos do "Vingador"

O Alecrim Futebol Clube, chamado de “Periquito” em razão da cor verde de seu uniforme, é um dos clubes mais populares e tradicionais do Rio Grande do Norte. Comemorou os 100 anos de fundação no último dia 15 de agosto.

O clube nasceu graças a perseverança de um grupo de rapazes formado por Lauro Medeiros, Pedro Dantas, coronel Solon Andrade, José Firmino, Humberto Medeiros, Gentil de Oliveira, José Tinôco, Juvenal Pimentel e Miguel Firmino.

Também foi fundador do clube, João Augusto Fernandes Campos Café Filho, ex-Presidente da República e ex-goleiro do Alecrim. Isso torna o Alecrim o único clube de futebol do mundo, que viu um ex-jogador seu chegar à presidência de um país. Café Filho, governou o Brasil entre 1954 e 1955,

Na época, o jovem Café Filho tinha apenas 16 anos e estava longe de iniciar sua carreira política. Sem habilidade com a bola nos pés, restou ao garoto, que depois ficaria famoso, ser o goleiro da equipe em ocasiões eventuais entre 1918 e 1919.

Em sua autobiografia, publicada em 1966 e intitulada “Do Sindicato ao Catete: Memórias políticas e confissões humanas”, Café Filho tratou com ironia o fato de ter atuado na derrota do Alecrim para o América por 22 X 0.

“O arqueiro que certa vez me substituiu deixou que os adversários fizessem 12 gols, enquanto eu deixei a bola passar nas traves apenas 10 vezes”, escreveu.

Os fundadores do clube se reuniram na residência do coronel Solon Andrade, no bairro do Alecrim, próximo da atual Igreja São Pedro, onde hoje funciona o Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos.

Naquela época, o espaço abrigava uma vila de moradores no bairro que deu nome ao clube. Era uma propriedade chamada Vila Maria; antigamente se morava em família dentro de vilas.

Então, Humberto Medeiros, que era o “cabeça” dessa família na Vila Maria, juntou os sobrinhos e os filhos para fundar o Alecrim. Ele foi o líder do movimento que criou o clube, um homem que enxergou a necessidade de fundar um novo time em Natal com uma essência mais popular.

Há quem diga que o Alecrim não foi fundado em 15 de agosto de 2015, sim em 15 de agosto de 1917. Mas essa possibilidade cai por terra em razão de uma notícia publicada pelo jornal “A República”, edição de 26 de setembro de 1916, na coluna “Várias”, que dizia o seguinte:

“No bairro do Alecrim, alguns moços fundaram o Alecrim Foot Ball Club que manterá uma escola nocturna gratuita para o ensino às creanças pobres daquelle bairro. Louvamos a iniciativa dos jovens daquella associação, que por esta forma esforçam-se para extinguir o analphabetismo que em grande escala se desenvolve no nosso paiz” (grafia da época).

O fato da notícia ter sido publicada em 1916, não quer dizer muita coisa. Naquela época era comum notícias serem publicadas até com um ano de atraso, de acordo com interesses da imprensa. Junte-se a isso a distância que o bairro do Alecrim ficava da zona considerada nobre.

A prova definitiva do ano de fundação do Alecrim encontra-se na própria Federação Norte-Riograndense de futebol: um papel timbrado da década de 40, que traz a data da fundação como 15 de agosto de 1915.

O Alecrim não foi sempre “verdão”. Quando nasceu, era, na verdade, tricolor. Além do verde e branco, o vermelho figurava no primeiro uniforme. A fim de se tornar único, a cor rubra logo foi excluída para evitar qualquer semelhança com o rival América.

Mas foi somente em 2003 que o escudo oficial, que era praticamente igual ao do rival, foi trocado pelo atual. Antes, quando os jornais eram impressos em preto e branco saía uma foto e ninguém sabia se era América ou Alecrim. O escudo oficial foi mudado justamente por isso.

Natal se concentrava praticamente na Ribeira, zona chique da cidade. O Alecrim era chamado de bairro novo e localizava-se na Zona Rural da capital. Na época, jogadores e torcedores de ABC e América, também clubes tradicionais de Natal, faziam parte da elite da cidade.

Já o Alecrim F.C. era formado basicamente de negros e descendentes de índios, o que os tornava vulneráveis a todo o tipo de preconceito, coisa bastante comum nos primórdios do futebol no Brasil.

A aceitação do Alecrim no futebol potiguar só aconteceu em 1924. Até aquele ano a equipe fazia apenas partidas amistosas, e por isso não há muitos registros sobre a participação do ex-presidente Café Filho debaixo dos três paus.

Em 1916, Café Filho tinha apenas 17 anos e já mostrava traços de liderança. Fanático por futebol, o adolescente que estava estudando em Pernambuco, negociou o primeiro duelo interestadual no Rio Grande do Norte, um amistoso do recém-fundado Santa Cruz contra o ABC.

Café Filho foi peça fundamental para a realização do primeiro Campeonato Potiguar da história em 1919. Como o reconhecimento do Alecrim demorava a acontecer, seria necessário mais um clube para disputar com ABC e América.

Então o jovem participou da fundação de mais um clube, o Centro Sportivo Natalense, que contou com o primeiro time feminino do Estado. Em 1921, aos 22 anos, entrou para a política, para nunca mais sair.

O Alecrim foi o primeiro time do Rio Grande do Norte a ter um técnico de futebol, Alexandre Kruze, em 1925. Nesse ano sagrou-se  também o primeiro campeão invicto do Estado. Porém, o título foi anulado pela Federação que não admitia time de subúrbio ser campeão.

Em que pese todos os problemas que enfrentou, ainda assim o Alecrim conseguiu se destacar no futebol do Rio Grande do Norte. É o único clube potiguar que nunca se licenciou.

Nos anos 60 os seus torcedores e a imprensa chegaram a chamá-lo de “Vingador”, visto que América e ABC quase sempre perdiam para times de outros Estados em visita a Natal, enquanto o Alecrim os derrotava.

Até hoje é lembrada a excursão do Rampla Juniors, do Uruguai, pelo Brasil. O time estava invicto, havia empatado em 0 X 0 com o Americano de Campos (RJ); ganhou do Democrata, de Governador Valadares (MG), por 2 X 1; bateu o Fortaleza, do Ceará por 2 X 0; empatou em 1 X 1, com o Treze de Campina Grande(PB); empatou com o Náutico, do Recife, por 2 X 2 e perdeu para o Alecrim por 1 X 0, gol de Rui.

Grandes desportistas ajudaram a construir a história centenária do Alecrim F.C., entre eles Bastos Santana, Severino Lopes, Humberto Medeiros, coronel Veiga, coronel Pedro Selva, Clóvis Mota, Walter Dore, Braz Nunes, Rubens Massud, Wober Lopes Pinheiro, Gabriel Sucar, coronel Solon Andrade, além do patrono monsenhor Walfredo Gurgel, que dá nome a atual sede campestre do clube.

Foi na gestão do governador Walfredo Gurgel que foi doado o terreno da avenida Alexandrino de Alencar, posteriormente vendido ao Ministério da Marinha que proporcionou recursos para a compra do terreno da atual sede campestre.

Nas décadas de 70 e 80, o Alecrim possuía um grande patrimônio: uma sede campestre, localizada na "Grande Natal". Era uma área valiosíssima entre Parnamirim e Macaíba.

O amplo espaço tinha cinco campos de futebol e era utilizado para o lazer de milhares de sócios. O clube tinha uns seis ou sete mil sócios. Todas as pessoas com cerca de 40 anos, hoje em dia, com certeza uma vez ou outra, na infância, frequentaram a sede campestre do Alecrim.

Com o tempo, o esmeraldino perdeu grande parte do patrimônio cobrindo custos de ações trabalhistas e, atualmente, o único bem que restou foi a sede na Rua dos Caicós, no bairro do Alecrim.

O Alecrim foi o primeiro clube de Natal a possuir um Centro de Treinamento (CT), em 1978, que se localizava em Macaíba. Também foi a primeira agremiação do Rio Grande do Norte a adquirir um ônibus em 1968. É a equipe que tem a mais antiga, fiel e atuante torcida organizada do Estado a Fieis Esmeraldinos Radicais (FERA), criada em 1977.

Em sua história centenária o Alecrim participou da inauguração de alguns estádios, entre os quais o "Marizão", em Caicó, o "Maria Lamas Farache" (Frasqueirão) em Natal, o "Pascoal de Lima" na cidade da Esperança e o estádio da cidade de Areia Branca.

Muitos foram os jogadores que vestiram a camisa verde do Alecrim nestes 100 anos. Os que mais se destacaram foram Pindaró, Foster, Caçula, Veiga, Mundico, Gentil, Sansão, Manuelzinho, Perequeté,  Zezé, Berilo, Miltinho, Orlando, Miro, João Paulo, Capiba, Sileno, Anchieta, Vasconcelos (ex-jogador do Náutico, Palmeiras, Internacional e Colo-Colo do Chile), Odilon, Alberí, Baíca, Curió, Valter Cardoso, Saraiva,Ticão, Icário, Burunga, entre outros.

Em 2001, alguns jornalistas, pesquisadores e torcedores elegeram o Alecrim do século, que escolheu Manuelzinho – Saraiva – Miro - Berilo e Anchieta. Valdomiro - Pedrinho e Vasconcelos. Zezé - Odilon e Icário. Técnico: Pedrinho Teixeira, o “Pedro 40”.

Em 2006 o Alecrim voltou a ser destaque, agora como autor do primeiro gol de um estádio particular. O do “Frasqueirão”, do ABC. Da Cunha, foi o autor do feito num jogo amistoso, que terminou empatado em 1 X 1.

Em sua trajetória centenária, o Alecrim coleciona muitas histórias. Esta, por exemplo, é bastante interessante e ao mesmo tempo curiosa. Num jogo contra o São Gonçalo, o árbitro deu um pênalti contra o Alecrim depois do zagueiro do time ter confundido o barulho de um apito vindo das arquibancadas com o apito do juiz do jogo.

Isso tornou o Alecrim, talvez o único time do mundo a ter um pênalti marcado contra si, por intervenção de um torcedor seu. Pensando que o jogo estava parado, o jogador pegou a bola com a mão. E aí foi marcado o pênalti. Isso aconteceu no então estádio “Alçapão do Touro”, que anos depois se tornou a casa do próprio alviverde, com o nome de “Ninho do Periquito”.

Mas a “tragédia” não parou por ai. Inconformado com o lance, José Erivan de Azevêdo, o famoso “Pastel (torcedor símbolo da equipe que faleceu em 2011) tomou o apito do juiz e o quebrou com raiva.

O São Gonçalo, em 2007, apareceu de novo na vida do Alecrim. Foi na última rodada do Campeonato Potiguar. O alviverde precisava ganhar por quatro gols de diferença para não ser rebaixado para a segunda divisão. E conseguiu a proeza, para a alegria de sua torcida, que não conteve a emoção.

O Alecrim nunca havia vencido o São Gonçalo antes desse dia. Aqueles 4 X 0 garantiram o time na Primeira Divisão. Quem esteve no estádio não esquece até hoje aquele momento impar: “Era tanto homem chorando, que até parecia velório”, dizem os saudosistas.

Títulos conquistados. Campeão potiguar (1924, 1925, 1963, 1964, 1968, 1985 e 1986; Torneio Início (1926, 1961, 1966 e 1972); Taça Cidade do Natal (1979, 1982 e 1986); Torneio Incentivo (1976, 1977 e 1978).

Outras conquistas. Vice-Campeonato Potiguar (1928, 1953, 1962, 1965, 1966, 1970, 1972 e 1982); 3º Colocado do Campeonato Potiguar (1990 e  2014); Categorias de base. Campeão Potiguar Sub-20. (2006 e 2013); Campeão Potiguar Sub-15 (2006).

O Alecrim, como vimos acima, já ganhou por sete vezes o Campeonato Estadual. Isso lhe garante o terceiro lugar entre os clubes campeões do Rio Grande do Norte, ficando atrás somente de ABC e América.

Sua última conquista aconteceu em 1986, quando se sagrou bicampeão. O técnico era Ferdinando Teixeira, chamado de “papa títulos”. O time “periquito” tinha bons jogadores, com destaques para Freitas, Curió, Edmo, Didi Duarte, Saraiva e Odilon, este o maior artilheiro da história dos Campeonatos Estaduais e principal artilheiro do Alecrim em todos os tempos, com 68 gols marcados. 

Graças ao título conquistado, o Alecrim ganhou uma vaga na Série A do Campeonato Brasileiro. Foi a primeira e única vez que isso aconteceu. Depois disso o alviverde alcançou classificação em 2009 para à Série C do Campeonato Brasileiro, após ser quarto colocado no campeonato potiguar. O time participou este ano da Copa do Brasil, junto de América e Globo F.C. Foi eliminado na primeira fase pelo Tupi, de Minas Gerais.

O Alecrim orgulha-se de Garrincha, um dos maiores jogadores que o futebol brasileiro conheceu em todos os tempos, ter vestido a camisa do clube. Foi no dia 4 de fevereiro de 1968, num amistoso contra o Sport, de Recife, disputado no Estádio Juvenal Lamartine. O time pernambucano venceu por 1 X 0, gol de Duda.

Mais de seis mil pessoas pagaram ingresso, para ver o “craque das pernas tortas”. A renda somou Cr$ 21.980.00. O Alecrim mandou a campo Augusto – Pirangi – Gaspar - Cândido e Luizinho. Estorlando e João Paulo. Garrincha (Zezé) – Icário - Capiba (Tarciso) e Burunga.

A Assembleia Legislativa do Estado homenageou o Alecrim F.C., pela passagem de seu centenário, em sessão especial realizada dia 20 de agosto, atendendo pedido dos deputados Ricardo Motta (PROS) e Kelps Lima (SDD).

Na ocasião foram homenageadas personalidades que fizeram parte da história do clube. Os ex-jogadores Odilon e Edmo Sinedino e o ex-treinador Ferdinando Teixeira, campeões pela equipe esmeraldina, assim como os representantes da “Torcida Fera” e familiares do falecido José Erivan de Azevêdo, o conhecido "Pastel", torcedor símbolo da equipe.

O centenário teve outras atrações. Dirigentes e torcedores se encontraram frente ao tradicional “Relógio do Alecrim” para a realização de ações sociais e panfletagem e houve uma Missa em Ação de Graças na igreja de São Sebastião.

Além disso, houve o lançamento de um livro contando grandes momentos da história do “Periquito”, de autoria do desportista Alberto Pinheiro de Medeiros.  (Pesquisa: Nilo Dias)

Alecrim, bi-campeão potiguar em 1985. (Foto: Revista "Placar")

domingo, 4 de outubro de 2015

A morte do artilheiro "Kita"

Morreu às 13h15min da tarde de ontem, 3, o ex-jogador de futebol João Leithardt Neto, mais conhecido como “Kita”, de 57 anos. Na quinta-feira, ele não se sentiu e foi internado no Hospital do Trauma IOT, em Passo Fundo (RS), onde residia. 

O ex-jogador era diabético e lutava contra um câncer agressivo no fígado, que lhe comprometeu diversos órgãos.

Os problemas de saúde se avolumaram a partir de julho de 2011, quando precisou amputar um dos seus pés após um quadro de infecção generalizada, quando era paciente de uma cirurgia para reconstrução dos ligamentos do tornozelo. 

Era diabético e em razão disso, teve de ficar internado na UTI do Hospital Prontoclínica durante várias semanas, em estado grave, mas acabou se recuperando.

O velório de “Kita” ocorreu a partir do final da tarde de ontem, no Memorial Vera Cruz, em Passo Fundo. O sepultamento aconteceu às 9 horas da manhã de hoje, no Cemitério dos Ribeiros. A prefeitura de Passo Fundo, onde o ex-jogador trabalhava, decretou luto oficial de três dias no município. O ex-jogador deixou mulher e três filhos.

“Kita” nasceu no dia 6 de janeiro de 1958, em Passo Fundo. Começou a carreira como meia-direita do Gaúcho, de sua cidade natal. Passou também por 14 de Julho, de Passo Fundo, Criciúma, de Santa Catarina, Esportivo, de Bento Gonçalves, Guarani, de Garibaldi, Internacional, de Porto Alegre, Internacional, de Limeira (SP), Flamengo, do Rio de Janeiro, Brasil, de Pelotas (RS), E.C.Pelotas, Juventude, de Caxias do Sul, onde foi comandado por Luiz Felipe Scolari, Portuguesa de Desportos, de São Paulo, Grêmio e Atlético Paranaense.

Em 1983 foi artilheiro do Campeonato Gaúcho, pelo Juventude sendo contratado pelo Internacional, em 1984, sagrando-se campeão gaúcho. Nesse mesmo ano ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles defendendo a Seleção Brasileira. Otime tinha a base do próprio Internacional, tendo Jair Picerni como treinador.

Também foi campeão paulista pela Inter de Limeira, em 1986, e brasileiro com o Flamengo no ano seguinte. Pelo Grêmio, em 1989, ganhou o “Gauchão” e Copa do Brasil.

“Kita” viveu o auge da carreira quando esteve na Internacional, de Limeira, em 1986. Na oportunidade, anotou um dos gols que deu o título de campeão paulista a equipe, na decisão contra o Palmeiras, em pleno Morumbi, quando a Inter venceu por 2 X. 1. Aquela conquista foi a primeira de um clube interiorano paulista na história.

O time de Limeira era formado por Silas - João Luiz - Juarez - Bolivar e Pecos. Gilberto Costa - Manguinha e João Batista - Tato - Kita e Gilcimar. Destes, Juarez e Pecos também são falecidos, ambos em acidentes de trânsito.

Além de sagrar-se campeão paulista, o ex-jogador foi o artilheiro da competição com 23 gols, cinco a mais do que Mirandinha, do Palmeiras, que veio logo atrás.

Quando teve o seu problema de saúde agravado,"Kita" passou a ser ajudado financeiramente por ex-companheiros com jogos de exibição. O time do interior paulista, atualmente na Série A3 estadual, comercializou camisas com o rosto do atacante para arrecadar dinheiro e ajudar na sua recuperação. 

No Flamengo para onde foi depois de sair da Inter, de Limeira, “Kita” estreou fazendo dois gols sobre o Corinthians. No Atlético-PR, foi artilheiro do Paranaense de 1990, conquistado pela equipe rubro-negra.

Jogando pela Seleção Olímpica Brasileira nos Jogos de Los Angeles, em 1984, conquistou a medalha de prata. Começou no banco de reservas e conseguiu chegar à titularidade no quinto jogo. Em quatro confrontos, marcou um gol.

Em 1987, quase que “Kita” foi parar no Corinthians. Só não foi porque o presidente do time paulista na época, Vicente Matheus, lhe ofereceu menos do que ele ganhava no Flamengo. 

Após encerrar a carreira, fixou residência em Passo Fundo e até tentou ser treinador. Mas não decolou na carreira, passando a ter uma vida simples e modesta.(Pesquisa: Nilo Dias)

“Kita”. (Foto: Divulgação)