Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Tragédia no mar

Ari Ercílio Barbosa, ou simplesmente Ari Ercílio como era conhecido, nasceu em Porto Alegre no dia 18 de agosto de 1941 e faleceu de maneira trágica em 18 de novembro de 1972, no Rio de Janeiro. Era zagueiro e dos bons, tendo jogado no Internacional, Corinthians Paulista, Grêmio, Fluminense, do Rio de Janeiro e Seleção Brasileira.

Começou a carreira de futebolista no Internacional, assinando seu primeiro contrato como profissional quando tinha 19 anos de idade. Era lateral direito de origem, mas também jogou como zagueiro.

Ganhou o seu primeiro título estadual em 1961, pelo Internacional, quando o clube colorado conseguiu impedir o Grêmio de ser hexa-campeão estadual. O time campeão formava com Silveira – Zangão - Ari (que ainda não usava o Ercílio) - Kim e Ezequiel - Sérgio Lopes (Claúdio) e Osvaldinho – Sapiranga – Alfeu - Flávio Minuano (Larry ou Paulo Vecchio) e Gilberto Andrade.

Depois de conquistar esse campeonato o Internacional conheceu um jejum de títulos que só acabou em 1969, quando conseguiu ser campeão de novo.

Seu primeiro jogo no time principal colorado foi contra o Juventude, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Recém havia saído das categorias de base, acompanhado do centromédio e também quarto-zagueiro, Cláudio Dani, que mais tarde foi com ele para o Corinthians Paulista.

O time Juvenil do Internacional era muito forte. Os dois pontas de lança eram, Alcindo Martha de Freitas, o "Bugre", que depois se consagrou no Grêmio e jogou ainda no Santos e na Seleção Brasileira e Flávio “Bicudo”, que ainda vestiu as camisas de Corinthians, Fluminense, Porto, de Portugal e Pelotas. Eram dois notáveis artilheiros.

No início de carreira Ari Ercílio era tão somente um zagueiro esforçado, com pouca técnica e muito espírito de luta. Ele foi lançado nesse amistoso na Serra Gaúcha, junto do promissor Sergio Poletto, também vindo da Base, que depois se tornou um técnico renomado e vencedor, principalmenrte trabalhando em times interioranos. Poletto faleceu em 11 de abril do ano pssado, vitimado pelo câncer, aos 72 anos de idade.

A presença dos dois no time de cima foi ocasionada pelo fraco desempenho que os titulares Osmar e Barradas vinham apresentando. O Internacional acabara de ser goleado pelo Grêmio, por 5 X 1, em pleno "Eucaliptos", na época o estádio colorado, na Rua Silvério.

Como o tempo é o melhor remédio para tudo, o até então tosco Ari Ercílio, que costumva jogar de peito aberto, alto e para frente, foi aperfeiçoando o seu futebol até tornar-se um zagueiro seguro, que dificilmente falhava, qualidades que o levaram a barrar o lendário Airton Ferreira da Silva, o "Pavilhão", até então tido e havido como o melhor zagueiro central gaúcho de em todos os tempos.

Tudo acontecei em 1967, ano em que a entao Confederação Brasileira de Desportos (CBD) resolveu colocar no "Robertão", o Campeonato Brasileiro da época, times gaúchos, paranaenses, mineiros e pernambucanos.

Airton já estava em fim de carreira, jogando mais no nome do que outra coisa. Mesmo assim ele não gostou da nova formação tática do seu treinador, o discutido, polêmico e eficiente capitão Carlos Froner, que montou uma defesa com um zagueiro central e outro de espera, que foi Ari.

O clássico Airton mostrou-se injustiçado e melindrado, dizendo que para um zagueiro da qualidade dele, seria uma afronta jogar atrás, achando que o esquema fosse uma maneira de cobrir seus furos. Froner, que não tolerava insubordinação, achou melhor utilizar três zagueiroe e optou por Ari Ercílio, Paulo Souza e Áureo.

Em 1963 Ari Ercílio foi contratado pelo Corinthians. Foi no clube paulista que ele recebeu a complementação de Ercílio no nome, pois o time já contava com Ari Clemente. Pelo “mosqueteiro” jogou 27 partidas, com 15 vitórias, quatro empates, oito derrotas e nenhum gol marcado.

Como sua passagem pelo Corinthians não foi das mais brilhantes, Ari Ercílio voltou para o Rio Grande do Sul em 1965, dessa feita para uma curta passagem pelo Novo Hamburgo. Depois foi defender o Grêmio no ano seguinte, onde foi bicampeão gaúcho em 1967-1968.

Lateral direito de origem, atuou também como zagueiro durante sua carreira. Parrudo, alegre e com uma condição atlética de dar inveja, Ari Ercílio só fez amigos. Era um cara bom caráter. Em abril de 1972, quando já estava com 31 anos, foi contratado pelo Fluminense, do Rio de Janeiro.

Sua apresentação no ”Tricolor das Laranjeiras” foi cercada de muita expectativa pela grande promoção de marketing criada pelos cartolas cariocas, que tinham no time estrelas do porte de Gerson, o “Canhotinha de Ouro” e o artilheiro Artime, todos apresentados no mesmo dia na sede das “Laranjeiras”.

Ari Ercílio pouco jogou com a camisa tricolor. Gerson, realizava o sonho de atuar no seu time de coração, sendo campeão carioca de 1973. E Artime fracassou em sua passagem pelo tricolor.

Na segunda feira, 20 de novembro de 1972, os jogadores do Fluminense estavam de folga, depois de perderem para o Botafogo por 2 X 1, em jogo do Campeonato Carioca. Por isso Ari convidou a esposa Helena e foram pescar no lugar conhecido como “Chapéu do Pescador”, no “Costão do Vidigal“, onde se encontravam alguns amigos seus.

Ao fim da tarde, quando já se preparavam para ir embora, a tragédia aconteceu. Ari foi atingido por uma onda, escorregou nos rochedos e caiu no mar. Ele lutou desesperadamente para subir de novo nas pedras, mas acabou perdendo as forças e desapareceu nas fortes correntes daquele lugar. O corpo só foi encontrado cinco dias depois na “Praia do Pepino”.

Segundo o jornalista carioca Addison Coutinho, Ari Ercílio teria cometido um erro que lhe custou a vida, ao tentar voltar para as pedras em vez de nadar para o mar e permanecer boiando à espera do resgate.

O Fluminense prestou toda assistência aos familiares e pagou integralmente os salários do jogador, que eram de 160 mil cruzeiros mensais, até o final do contrato, em maio de 1974.

Ari Ercílio também vestiu a camisa da Seleção Brasileira. Foram apenas dois jogos, ambos contra o Chile, válidos pela “Taça Bernardo O’Higgins”, realizados em abril de 1966. Dia 17, vitória por 1 X 0, no Estádio Nacional, em Santiago. E dia 20, derrota por 2 X 1 no Estádio Sausalito, em Viña del Mar. (Pesquisa: Nilo Dias)
  
Ari Ercílio nos tempos de Fluminense. ( Foto: Tardes de Pacaembu)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Por pouco Pelé não parou no Brasil de Pelotas

Uma das mais famosas historias do futebol brasileiro é aquela da proposta de troca de “Pelé”, por “Joaquinzinho”, ídolo do Brasil, de Pelotas, quando da excursão do clube paulista por gramados do Rio Grande do Sul ao final dos anos 50. “Pelé” tinha 16 anos, e recém começava a ganhar oportunidades no time titular. Seu apelido na época era “Gasolina” e não “Pelé”.

Dirigentes do clube pelotense ficaram impressionados com o talento mostrado pelo garoto de canelas finas e corpo franzino, destaque no empate de 1X 1 no jogo amistoso disputado em 22 de março de 1957, no Estádio Bento Freitas. Um encontro entre dirigentes dos dois clubes aconteceu no saguão do Grande Hotel, de Pelotas, ocasião em que o presidente “xavante”, Carlos Russomano, ouviu do técnico Lula o pedido de liberação do atacante “Joaquinzinho”, o grande destaque daquele time.

O presidente Russomano disse que só liberaria o jogador por CR$ 400 mil e i Santos cedesse também "aquele negrinho rápido" que entrara no jogo no segundo tempo. O treinador santista disse que então não haveria acerto, pois o menino era um talento a ser lapidado, e que o clube não gostaria de se desfazer dele. E aí acabou a especulação. Esse acontecimento é confirmado por Pelé, como autêntico.

Tem também outra história que é considerada lenda. A proposta do Santos seria de levar o jogador pelotense em definitivo e, como compensação ao negócio, deixaria três juvenis emprestados por um período, entre eles o Pelé. E o Brasil teria recusado. Esta história, dizem, é confirmada pelos envolvidos, principalmente por Joaquinzinho e Pelé.

O jornalista Luiz Lanzetta, que foi meu colega de redação no jornal “Diário Popular”, de Pelotas, jura que essa versão é a verdadeira. Em 1976, ele fez uma entrevista com “Joaquinzinho”. Nesse papo, ocorrido no bairro do Areal, em Pelotas, ele teria falado ao jornalista sobre a famosa troca que acabou não ocorrendo entre Brasil e Santos.

A matéria saiu na época num jornal chamado “Xavante”, que era editado por Lanzeta e um pequeno grupo de jornalistas. Lanzetta mora em Brasília há muitos anos e por coincidência, na mesma cidade satélite que eu, Sobradinho.

Joaquim Gilberto da Silva, o “Joaquinzinho” nasceu em Pelotas no dia 31 de dezembro de 1934. Começou a carreira de futebolista em 1950, quando tinha apenas 16 anos, nas categorias de base do próprio Brasil, de Pelotas. Quatro anos depois, em 1954 já era titular absoluto no time treinado por Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, o mais importante treinador da história do clube,

Seu esplendoroso futebol chamou a atenção de dirigentes do S.C. Internacional, de Porto Alegre. Em 1957 foi para o “Colorado” da Capital, que enfrentava grave crise, vendo o rival Grêmio acumular títulos. Os jogadores que haviam participado da jornada vitoriosa do Pan-Americano de 1956 ou haviam sido negociados ou decaiam de produção pela implacável chegada dos anos.

Não demorou para que no segundo semestre de 1959 “Joaquinzinho” fosse negociado com o Corinthians Paulista, clube que enfrentava uma crise técnica maior que a do Internacional, sem ganhar títulos há muitos anos. Prova disso é que em apenas dois anos passaram oito técnicos e inúmeros jogadores.

Seu jogo de estreia no Corinthians aconteceu em 19 de setembro de 1959, num amistoso contra a Portuguesa de Desportos, em que marcou dois gols, na vitória de goleada por 4 X 1.

Por lá o craque pelotense também não teve sorte e ficou negativamente lembrado por ter sido integrante do time do "Faz-me rir", apelido dado pelos torcedores rivais, em erazão do fracasso de 1961. No Corinthians fez 108 jogos e marcou 48 gols.

No tricolor carioca o seu futebol renasceu. Em 1963, com o paraguaio Fleitas Solich como treinador, conquistou o título de campeão do Torneio Rio-São Paulo. E em 1964 o de campeão carioca. Nas duas conquistas foi titular absoluto.

Depois voltou para o futebol paulista, defendendo a Ponte Preta, de Campinas e na sequência o XV de Novembro, de Piracicaba. Em 1969 retornou a sua cidade natal, Pelotas, onde vestiu a camisa do grande rival “xavante”, o Esporte Clube Pelotas, onde encerrou a carreira. O áureo-cerúleo tinha na época este time: Piva – Hermínio – Osmar - Walmir e Severo. Serafim ou Luizito e Jara ou Joaquinzinho - Sidnei Buttini – Leal - Walter e Paraguaio.

Para “Joaquinzinho”, os melhores técnicos que conheceu foram Tim, Sílvio Pirillo, Martim Francisco e Fleitas Solich. Foi um jogador polivalente, atuando nas cinco posições mais ofensivas, mas tendo preferência pela meia-esquerda. Tinha um chute forte e certeiro, tendo marcado inúmeros gols nas equipes onde atuou. “Joaquinzinho” faleceu em 20 de julho de 2007, em Pelotas, após sofrer uma isquemia.

Seu corpo foi velado no salão nobre do estádio Bento Freitas e enterrado no Cemitério São Francisco de Paula. Ele era supervisor técnico das categorias de base do Grêmio Esportivo Brasil. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O mestre dos comentaristas esportivos

No dia 6 de abril de 2001 morreu em São Paulo o jornalista Ary Silva, aos 84 anos, proprietário e diretor do jornal semanário “A Gazeta da Zona Norte”, fundado por ele. Também foi um dos fundadores da Associação dos Jornais de Bairro de São Paulo (AJORB). 

Era filho do motorista de praça Antônio Justino da Silva, e de Maria Benedicta de Moraes, que morreu meses depois de dá-lo a luz. Foi criado por sua avó materna, Maria Emília de Souza, que era cozinheira do Palácio Campos Elíseos. Filho de negros, Ary nasceu no bairro do Canindé, capital paulista, a 21 de junho de 1917.

Começou a trabalhar cedo. Primeiro foi vendedor de rádio, mas não conseguiu vender nenhum. Então passou a ser redator e revisor de jornal. O pai de Ary tinha um amigo que era motorista do famoso jornalista e empresário Assis Chateaubriand, o que facilitou a conquista do novo emprego.

Ary na época já estudava Direito. No jornal foi trabalhar na Editoria de Esportes. Ao receber o seu primeiro salário comprou uma caneta “Parker”, e um terno. Estudou com livros dados, e se formou advogado, pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Mas não abandonou o jornalismo esportivo. Mudou de emprego, indo trabalhar na Rádio Bandeirantes onde foi escalado para cobrir a Copa do Mundo de 1938, trabalho que outros colegas desprezaram.

Foi em Caxambu, Minas Gerais que Ary Silva tornou-se o primeiro comentarista esportivo do rádio brasileiro. Da Bandeirantes passou para as Emissoras Associadas de São Paulo. Sempre no rádio. Em 1966 transferiu-se para a rádio Excelsior, que dois anos antes havia sido adquirida pelas Organizações Globo. Ficou por lá até 1970.

Como comentarista esportivo, durante longos anos, destacou-se no rádio e na televisão. Ainda marcou presença como líder comunitário estando sempre à frente das principais reivindicações que beneficiaram o bairro de Santana e a Zona Norte paulista. Por várias legislaturas ocupou uma cadeira na Câmara Municipal  de São Paulo.

Com a frase “Torcida amiga, bom dia”, Ary Silva começava a coluna de esportes que diariamente escrevia no Diário de São Paulo. Naquele tempo as pessoas almoçavam em casa, ao contrário de hoje, e traziam embaixo do braço o jornal para que os outros familiares também o lessem.

A expectativa era sempre muito grande para se saber o que Ary Silva havia escrito a respeito do fascinante mundo do futebol. Também tinham grandes audiências a sua opinião abalizada nas transmissões esportivas da TV Tupi, onde atuava junto de cobras do jornalismo da época, como Geraldo Bretas, Maurício Loureiro Gama, Carlos Spera e o inconfundível repórter “Tico-Tico”.

Os argumentos irrefutáveis de Ary Silva levaram o doutor Paulo Machado de Carvalho, a convidá-lo a participar da “Comissão de Especialistas” que traçou o planejamento da Seleção Brasileira que participou e venceu o Mundial de 1958 , na Suécia. 

Quando de sua atuação frente o jornal a “Gazeta do Ipiranga”, Ary Silva mostrou-se um líder comunitário atuante, depois de ter sido vereador por São Paulo. Ele costumava chamar o periódico de “Menina”, e que lutava pelos interesses do bairro de Santana, onde sempre morou e região.

Ary foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Também criou a Associação dos Jornais de Bairro (AJORB) ao lado de outros pioneiros como Durval Quintiliano, à época a frente da “Gazeta de Pinheiros”, Armando da Silva Prado , da “Gazeta de Santo Amaro” e Araci Bueno, da “Gazeta do Ipiranga”.

Em 1950, quando chegou a televisão, quase todos os elementos que comentavam esportes, quer no rádio, como na televisão, eram formados em Direito. E nisso se incluía Ary. A profissão exigia muito improviso, o que facilitou a ida de muitos deles para a política. E Ary não foi exceção.

Ele era muito conhecido, até por seus trabalhos na Federação Paulista de Futebol, onde foi Diretor do Departamento de Árbitros. Isso o ajudou a se eleger vereador pelo Partido Republicano. Depois foi eleito por duas vezes, para a Assembléia Estadual de São Paulo.

Ao tentar pela terceira vez uma cadeira na Assembléia, acabou não conseguindo. E deixou a política. Pediu demissão da Globo e fundou o seu próprio jornal, “A Gazeta da Zona Norte”, em 1963.  

A luta com seu jornal de bairro foi intensa. E assim foi ele que, praticamente, levou a modernidade para a zona norte da capital paulistana. Lutou pela construção da Ponte Cruzeiro do Sul, que hoje leva o seu nome e fez o projeto da Avenida Brás Leme, da Água Fria, da Avenida Santos Dumont, enormes vias de acesso àquela região. Foi também dele a criação das Delegacias das Mulheres.

O seu jornal ganhou penetração, até porque não era vendido, dependia de anunciantes para sobreviver. Mas Ary conseguiu manter o jornal que circula até hoje. Lutou por Santana e sua população. Casado com Maria Santos Silva, com quem comemorou “Bodas de Ouro”, teve filhos e netos. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mestre Acir, o descobridor de Alex

Acir Côrtes, mais conhecido por “Sisico” trabalhou 34 anos como técnico nas categorias de base do Coritiba, um verdadeiro recorde, tratando-se de Brasil, onde os treinadores não conseguem criar “limo”, como diz o ditado. Ultimamente integrava a comissão técnica permanente do time sub-20.

Com mais tempo de casa no clube, ficou somente atrás de Dirceu Krüger que tem nada mais, nada menos, que 49 anos de Coritiba. Kruger. Iniciou sua carreira profissional em 1963, aos 17 anos, no extinto Britânia Sport Club, no qual atuou até 1966, quando foi comprado pelo Coritiba.

Foram 10 anos de clube entre 1966 e 1976.  Foi campeão paranaense nos anos de 1968, 1969, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1976. Depois de se aposentar como jogador, o ídolo trabalhou como técnico, auxiliar e coordenador das categorias de base do “Coxa”. Kruger, nos tempos de atleta, era conhecido pelo apelido de "Flecha Loira".

Certa ocasião chegou a ficar entre a vida e a morte em razão de um choque em um jogo entre Coritiba e Água Verde, em 1970, pelo Campeonato Paranaense. Ele bateu com a barriga no joelho do goleiro adversário, foi mal para o hospital, mas conseguiu se recuperar. Chegou a receber a extrema-unção.

Foi técnico da equipe principal em 185 ocasiões, sendo a primeira vez, em 1979. Como técnico, está entre os profissionais que mais comandaram o clube em toda a sua história. E como homenagem por tantos anos de serviços prestados, a equipe do Alto da Glória batizou o alojamento das categorias de base com seu nome.

Já “Sisico” não foi cria do Coritiba. Chegou ao clube em 1 de março de 1981 por indicação de Dirceu Kruger. Esteve sempre envolvido no futebol, onde foi torcedor, jogador de várzea e atleta profissional. Aos 23 anos, aposentou-se da meia-direita, onde se destacava como um dos melhores batedores de pênalti da época, e assumiu o comando da categoria de base do Britânia Sport Clube.

Mas veio a se destacar mesmo foi como treinador, no próprio Britânia. Depois que chegou ao “Coxa” mostrou dedicação total ao clube. O Estádio Couto Pereira virou praticamente a sua casa.

Chegava pela manhã e só saia de lá à noite. Isso não impediu que também fosse extremamente carinhoso com a família. Casou-se com Ana Lucia na década de 1960 e da união teve dois filhos, Marcos e Carlos Alberto, este falecido em 2014. O “Mestre” também viu a chegada de cinco netos: Carlos Eduardo, Giuliane, Alisson, Alan e Matheus.

Embora sua ligação com o futebol, não fez esforço algum para que os filhos seguissem a mesma carreira. Incentivou-os aos estudos, fazendo questão de vê-los formados. Ainda assim os dois jogaram nas categorias de base do Coritiba. Mauro foi treinado por “Sisico”, mas não teve chances no time do pai.

Por ser um homem muito correto, não queria ver seu trabalho questionado, por isso não escalava o filho, evitando com isso que alguém dissesse que ele o estava favorecendo. Por isso Mauro saiu do Coritiba e foi jogar no Ferroviário, onde foi tricampeão jogando as finais justamente contra o Coritiba, treinado por seu pai.

Diferente da carreira como jogador profissional, seu trabalho como técnico foi longo. Somou 57 anos como comandante de equipes.

Era um treinador muito exigente. Os jogadores tinham que repetir as jogadas até que ele estivesse satisfeito. Seu método de trabalho certamente rendeu bons frutos. Foram revelados por ele nomes importantes como o de Alex, Pachequinho, Rafinha, Adriano, Miranda, Henrique, Luccas Claro, William Farias, o meia Dudu e os atacantes Pachequinho e Keirrison.

E os jogadores não esqueciam dele. Prova disso que foi convidado de honra no jogo mil de Alex e na partida da aposentadoria do meia.

Sobre Alex, “Sisico” lembra que o “castigava” muito. Depois dos treinos fazia com que ele ficasse mais uns 15 minutos chutando de direito e esquerdo, acertando as camisas que eram penduradas nas traves.

Os treinos eram realizados em um campo no “Mossunguê”, que tinha uma árvore enorme ao lado. “Sisico” mandava que Alex acertasse a bola na árvore. E Alex sempre reconheceu que o primeiro treinador de verdade que ele teve foi “Sisico".

Alex sempre elogiou a visão do ex-treinador, que já o ensinava técnicas do presente no passado. Considerava o ex-treinador um “monstro”, salientando que tudo o que ouviu de Felipão, Zico, Luxemburgo e Aragonês, sobre conceito de bola, de jogar na posição, de como se portar perante qualquer situação, já ouvira do “Sisico”, quando tinha apenas 15 anos de idade.

Além do futebol tinha verdadeira paixão pelo jogo de Sinuca, onde era um habilidoso jogador. Apesar do gosto pelo jogo, odiava as mesas de bar. Jogava apenas nos clubes de Curitiba. A Sociedade Morgenau, por exemplo, sempre foi o reduto dos campeonatos de sinuca entre ele e os amigos.

Além de “Mestre Sisico”, Acir também ficou conhecido como “Cabra”. Por onde andava o chamavam pelo apelido que surgiu por não conseguir decorar nomes. “Ele chamava todo mundo da mesma forma: “cabra”, não importava quem fosse”.

“Sisico“ não era muito chegado a frequentar restaurantes. Gostava muito de doces, que sua esposa sabia fazer muito bem. Em pratos salgados não dispensava uma boa lasanha.

“Sisico” tinha problemas nos rins e acabou sendo vitimado por isso. Morreu em Curitiba, dia 28 de agosto deste ano, aos 80 anos de idade. Ele esteve internado durante todo o mês de agosto em um dos hospitais de Curitiba. O velório aconteceu no “Espaço Belfort Duarte”, no Estádio Couto Pereira e o sepultamento no Cemitério de Água Verde.

Ainda em 2014, o Coritiba criou o "Troféu Acir Cortes", entre equipes Sub-20, homenageando o segundo funcionário mais antigo da história do clube. Na final da competição, disputada dia 26 de novembro de 2014, no CT do Atuba, o “Coxa” derrotou o Atlético Paranaense por 4 X 0 , gols de Anderson,  Juninho,  Guilherme Paraguaio e Fábio, e sagrou-se campeão. (Pesquisa: Nilo Dias)

Alex, no seu jogo mil, homenageou "Sisico", seu primeiro treinador. (Foto: Albari Rosa)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Uma vida dedicada ao Santos F.C.

O Santos Futebol Clube completou 100 anos em 2012. E na metade de todo esse tempo, 50 anos, apenas uma pessoa esteve presente nos momentos de ouro do clube, na era Pelé e mais recentemente nos novos tempos vitoriosos de Neymar e companhia. Trata-se de José Joaquim Neto, o “Zuca”, roupeiro do clube que recém agora, aos 76 anos de idade se aposentou.

Paraibano de Taperoá, onde nasceu no dia 3 de abril de 1939, é filho do casal de agricultores José Joaquim Donato e Judite Maria da Conceição. Tem cinco irmãos ainda vivos, quatro homens e uma mulher. É casado desde 11 de junho de 1964 com Dilza Apolônia Joaquim, paulista de Rancharia (SP), com quem tem seis filhos: Jussara, Jurema, José Marcelo, Alexandre, Alessandra e o caçula Anderson.

Estudou pouco, pois na época em que era criança tudo era difícil, teve de trabalhar na roça com a família desde os 10 anos. Plantavam feijão, milho, mandioca e algodão. É aquela vida. Diversão era só os “bailinhos” de forró e as novenas de santos na Igreja, quando se ia com as namoradas. Nunca jogou futebol, foi conhecer o esporte no Sul. A vida não era fácil para quem trabalha na roça, disse.

Em 1958, com 19 anos de idade foi embora para o Rio de Janeiro. Três de seus irmãos também saíram de lá. No Nordeste é assim, os filhos vão embora e ficam apenas os casais de velhos, porque não tem mesmo para onde ir. Às vezes entregam suas terras, porque não tem com quem trabalhar, a mão de obra é difícil. Então os filhos mandam as coisas para eles, até dinheiro.

O primeiro a sair foi seu irmão mais velho, que faleceu em 1983, vítima de um acidente de carro. Ele morava no Morumbi, em São Paulo. A rua tinha uma subida grande, e ele morava lá em cima, quase em frente o Shopping Morumbi.

Zuca lembra que nessa época saía gente para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília. O pessoal da agência de ônibus ficava oferecendo passagens. A gente fazia os cálculos, onde seria o melhor, ficava uma semana decidindo. Não tinha ônibus todo dia, aquilo ali era uma vez por mês.

Ele chegou ao Rio de Janeiro com a cara e coragem e só com uma malinha. Levou o endereço de uns parentes, de uns amigos que foram criados com eles lá na Paraíba, e ficou hospedado por lá.

Quem chegava a cidade grande sempre levava cartas de pais para filhos. E se escolhia um dia para fazer as entregas. E as pessoas convidavam para morar com eles. Existia muito apoio quando chegava um nordestino no sul. Eles procuravam e todo mundo vinha ajudar. Havia muita solidariedade das pessoas.

Já no Rio de Janeiro, Zuca tentou voltar aos estudos, mas ingressou no mundo do futebol e teve que parar. Os treinos começavam depois das seis, e ele tinha que estar às sete horas no colégio. Teve que fazer a escolha e preferiu ficar com o futebol.

No Rio de Janeiro trabalhou de vendedor ambulante por uns tempos. Vendia relógio, carnê de sorteios e o que tivesse pela frente. Ganhava apenas comissão, o que era muito pouco. Aí não deu certo e em 1959 ele foi para Santos.

Certo dia, ao ler um jornal, se deparou com o anúncio de um estaleiro do Guarujá, que precisava de funcionários para serviços gerais de concertos em barcos de pesca, lanchas e rebocadores. Foi e ganhou uma das vagas.

Trabalhou como ajudante de carpinteiro. A firma era a Construnave, que construía e concertava barcos. Zuca fez amizade com o gerente, administrador geral, o que facilitou sua vida. Eles alugaram um navio para pegar sal e argila no Nordeste. A embarcação estava por chegar, ia descarregar em Santos e depois iria para o Rio de Janeiro fazer uns reparos.

O gerente seu amigo o colocou na lista de funcionários que fariam parte da companhia de navegação, que pertencia a Construnave, que alugava navios da Naveíco. Zuca foi como ajudante de soldador. Ficaram seis meses no Rio de Janeiro. Mas deu azar, com a demora no concerto do navio a firma entrou em concordata.

O dono, que era o presidente do Santos F.C., na época, Modesto Roma, chamou os funcionários e disse que quem quisesse entrar em acordo, poderia conversar com ele. Quem não quisesse que ingressasse na Justiça.

Zuca foi então convidado por Modesto Roma para trabalhar no Santos F.C. Aceitou e começou no Departamento Amador de Futebol, como roupeiro, em 25 de março de 1963.

Ele disse que em 1962 estava escutando pelo rádio os jogos da Copa do Mundo no Chile. Aí falavam que tinha Pelé, Zito, jogadores do Santos e foi começando a se entrosar com o futebol e aprendendo a amar o Santos.

Nesse tempo os amadores trabalhavam somente duas vezes por semana, terças e quintas-feiras. Para preencher o tempo trabalhava na segunda-feira, ajudando o roupeiro dos profissionais, que era o Ranolfo, um senhor de idade. Ele limpava chuteiras, colocava material no lugar, enchia bola, aquele negócio todo.

Quando das viagens o Ranolfo lhe deixava encarregado de atender o pessoal que ficava. As vezes viajavam uns 18 jogadores e ficavam uns 12 treinando.

Em 1969 o seu Ranolfo se aposentou e Zuca tomou o seu lugar. Ele assumiu com a força dos jogadores, até do Pelé. Lembra da primeira viagem que fez com o Santos para fora do país, com a presença do “Rei”.

Hoje Zuca mora na Praia Grande, onde comprou um apartamento. Aproveita a nova vida de aposentado frequentando com a família a Colônia de Férias do Santos F.C. No fins de semana gosta de sair de carro com os familiares, passear em algum lugar.

Recentemente ele foi ao Paraná, onde sua esposa se criou, embora seja de Rancharia (SP). Este ano, mesmo, sua esposa foi com o filho caçula e uma filha, passar o Carnaval no Paraná.

Zuca lembra de algumas passagens vivenciadas no Santos. Era viagem em cima de viagem. Certa vez o clube foi jogar na Argentina. O jogo estava marcado para Buenos Aires, mas na última hora mudaram para Mar Del Prata. De lá viajaram para Montevidéu, para enfrentar o Peñarol.

Depois de novo na Argentina para jogar com o Racing. Era jogo lá e jogo aqui. Muitas vezes se chegava de viagem pela manhã em Santos e à tarde tinha que viajar novamente, fazer o Campeonato Brasileiro no Nordeste, em Recife, Salvador, qualquer lugar.

O ex-roupeiro gosta de falar do milésimo gol de Pelé. Garante que foi um negócio impressionante. Lembra que o Santos foi fazer um jogo no Recife, pelo Campeonato Brasileiro. Depois desse compromisso ficou faltando um gol para o Pelé fazer o milésimo.

O presidente do clube nessa época era o Athiê Jorge Curi. Depois do jogo em Recife estava marcado um amistoso com o Botafogo, da Paraíba, em João Pessoa, na segunda à noite. Aí, o que fizeram? Contrataram um ônibus de luxo para a viagem de Recife a João Pessoa. Era jogar e voltar, porque no meio de semana já tinha um jogo no Rio.

O vice-presidente do Santos era o coronel do exército Osmar de Moura. E foi ele que arrumou esse jogo. Se o Pelé jogasse poderia fazer o milésimo gol, o que originaria um problema. A imprensa local só falava isso “Pelé vai fazer aqui o milésimo gol”.

O “Rei” recebeu até homenagens na Câmara de Vereadores de João Pessoa. Depois a ida até o estádio que ficava longe do centro da cidade. Casa cheia, gente na rua tentando entrar no estádio e não conseguindo. Superlotação.

Todo mundo querendo ver o milésimo gol em João Pessoa. Mas o Santos queria que o gol fosse marcado no Campeonato Brasileiro, não em um amistoso.

Aí o que fizeram? Engessaram o braço de um goleiro e a perna do outro. E, com a desculpa de que não tinha ninguém para jogar no gol, Pelé foi escalado. E se saiu muito bem. O Santos ganhou por 5 X 2.

A imprensa perguntou como o Santos ia fazer para jogar na quarta-feira com o Vasco, com os goleiros todos machucados. Disseram que no outro dia seriam avaliados pela comissão médica e um dos dois teria condições de jogar.

Veio o jogo no Maracanã e o milésimo gol de Pelé.  E o estádio foi invadido, era repórter de tudo o que era lado querendo entrevistar o “Rei”. Depois que ele conseguiu chegar no vestiário, o pessoal ficou filmando de fora e o time todo teve que amanhecer no Maracanã.

A relação de Zuca com os jogadores foi a melhor possível. Eles sempre o trataram bem. E garante que não é só com o roupeiro esse tratamento de respeito, é com todos os funcionários, o médico, o massagista e o preparador físico.

Ele guarda uma única mágoa do tempo em que trabalhou no clube. Ter sido afastado da função quando da chegada do treinador Wanderlei Luxemburgo, que trouxe um roupeiro de sua confiança.

Na época, Zuca pediu para ir embora. Propôs que o Santos lhe pagasse uma parte de seus direitos, que desse para ele comprar um apartamento. Mas os dirigentes não aceitaram.

O ex-roupeiro conta que é comum os jogadores ganharem chuteiras de presentes dadas por torcedores. Por isso alguns chegam a ter até três pares. É preciso sempre perguntar ao atleta qual a chuteira que ele quer para tal jogo.

O vestiário do Santos leva o nome de Edson Arantes Nascimento. Embora há muito tempo tenha deixado de jogar, ainda tem lá o seu armário. Não está completamente vazio tem dentro a santinha dele, Nossa Senhora dos Montes e umas fitas cassete.

No dia em que comemorou os 50 anos de Clube, o roupeiro foi homenageado com um vídeo produzido pela Santos TV, com mensagens de parabéns dos jogadores e membros da comissão técnica do Peixe. Zuca ainda recebeu uma carta enviada pelo presidente da época, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro e um relógio do Centenário do Santos FC. (Pesquisa: Nilo Dias)

Pelé e Zuca. (Foto: Divulgção)