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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Os 100 anos do "Leão da Cantareira"

O Jabaquara Atlético Clube, de Santos (SP), foi fundado em 15 de novembro de 1914. É mais um clube centenário do futebol brasileiro e uma das entidades fundadoras da atual Federação Paulista de Futebol. Quando da fundação se chamava Hespanha Foot-ball Club.

O clube surgiu graças a um grupo de jornaleiros espanhóis, ou "tribuneiros", como eram conhecidos, que tinham interesse em organizar um time de futebol na região em torno do atual bairro do Jabaquara.

Já havia um time de espanhóis na localidade, o Afonso XIII, nome de um monarca espanhol, que não parecia muito adequado para um clube sediado no Brasil, um país republicano.

A reunião de fundação foi realizada na casa de José Domingues, um zelador que residia na “escada de pedras” da pedreira, no final da atual rua Rangel Pestana, próximo à subida do morro da Nova Cintra.

E foi “Nova Cintra” o primeiro nome cogitado para batizar o novo clube, por ser nome do morro onde morava a maioria dos espanhóis em Santos. O nome “Jabaquara” também foi sugerido, por ser o local do campo de futebol.

Um senhor negro, ex-escravo, sugeriu o nome “Hespanha”, tendo em vista o grande número de espanhóis associados, e foi esta última idéia aceita por todos sem mais discussão. Assim nasceu o “Hespanha Foot-ball Club”, com as cores da bandeira espanhola: amarela e vermelha.

A primeira diretoria foi escolhida em caráter provisório: Luiz Lopez Ramos (presidente); Ricardo Rodriguez (vice-presidente); José Giraldez Batalha, Cristóvão Ramos, João Alves Lopez e Odillo Prieto Garcia, nos demais cargos.

Pouco tempo depois o senhor Luiz Lopez Ramos renunciou à presidência, assumindo o vice, senhor Ricardo Rodriguez. Em 1916 o Hespanha já havia registrado seus estatutos e realizou a primeira eleição oficial. Foi eleito presidente o senhor Odillo Prieto Garcia.

O primeiro jogo oficial da história do Hespanha aconteceu em 1916, frente o Clube Afonso XIII, formado na maioria por espanhóis, que se reuniam em uma área das proximidades da pedreira do Contorno, no bairro do Jabaquara.

O resultado do jogo foi um empate em 1 X 1. A partida se constituiu num grande acontecimento, em que não faltaram discursos, flores e banda de música.

Em 1917 o Hespanha Foot Ball Club disputou o primeiro campeonato oficial, promovido pela Liga Santista de Jogos Atléticos. No mesmo ano, promoveu um jogo contra o temido time da São Paulo Railway Athletic Club (SPR), que dias antes havia goleado o Corinthians Paulista por 5 X 2.

A equipe do Hespanha era formada por Atanásio – Cotó e Luiz Campeão – Lagreca – Dominguinho e Armando – Marrieto – Bertoni – Manequinho - Camilo e Belmiro. O Hespanha venceu por 2 X 1 e a renda somou 865 mil réis, quantia que resolveu a péssima situação financeira em que se encontrava o clube.

O evento terminou à noite, com um jantar de confraternização. A alegria era tanta que jogadores e torcedores saíram em corso pela cidade, carregando a taça, a bola e a bandeira,

Em 1918 conquistou o seu primeiro título, campeão da “Taça Grande Café D’Oeste”, feito que se repetiu nos anos de 1919 e 1920, o que lhe garantiu a posse em definitivo do troféu. Em 5 de dezembro de 1920, participou como convidado na inauguração do “Estádio Ulrico Mursa”, da Associação Atlética Portuguesa.

Na ocasião, o Hespanha enfrentou o Brasil Futebol Clube, empatando por 1 X 1. Os outros jogos do evento foram Portuguesa 1 X 1 Palestra e SPR 0 X 0 América.

Em 14 de dezembro de 1924 o Hespanha inaugurou o “Estádio Antônio Alonso”, localizado no bairro do Macuco, que levou o nome do seu proprietário.

Entre 1927 e 1930, mesmo não ganhando títulos, o Hespanha permaneceu entre os primeiros colocados no mais importante torneio de amadores da época: vice campeão da Liga de Amadores em 1927 e 3° colocado em 1928.

Com o tempo o time foi ganhando respeito, não tomando conhecimento dos chamados “grandes” do futebol paulista. Tinha jogadores que sempre demonstravam muita garra e vontade, casos de Gomes, Apelian, Dito, Manolo, Marreiros, Vilas, Argentino, Izolino, Espoleta, Tito e Passos. Por causa disso, os torcedores apelidaram o onze dos espanhóis de “Leão do Macuco”.

O Hespanha disputou a Primeira Divisão Paulista (atual A-1) entre os anos de 1927 a 1963, com apenas sete ausências. Atualmente faz parte da Série B (Quarta Divisão) do Campeonato Paulista de Futebol, organizado pela FPF.

O primeiro jogo de caráter internacional da história do Hespanha, aconteceu no dia 29 de março de 1930, quando enfrentou e venceu por 3 X 2 a Seleção de Buenos Aires, com um gol de Cassoli e dois de Bento.

Em 1939, o terreno onde se situava o estádio do Hespanha foi vendido pelo seu proprietário, o senhor Antonio Alonso. Mas ele não deixou o clube na mão, doou uma quantia suficiente para a compra de um terreno próprio.

Enquanto o novo estádio não saia do papel, o Hespanha passou a utilizar em seus jogos o Estádio Ulrico Mursa, da Portuguesa Santista. Só nos anos 40 que o clube adquiriu uma área na Ponta da Praia, próximo de onde hoje se situa o Aquário Municipal.

O local não gozava de boa reputação, pelo contrário, era considerado um dos piores bairros de Santos. Não tinha nenhuma infraestrutura e sofria com problemas de alagamentos. Em tal local, o máximo que se pode fazer foi construir um campo para treinamentos.

O Hespanha foi um dos clubes fundadores da Federação Paulista de Futebol, em 22 de abril de 1941, ao lado de Clube Atlético Ypiranga, Sport Club Corinthians Paulista, Santos Futebol Clube, Sociedade Esportiva Palmeiras, Associação Atlética Portuguesa Santista, Nacional Atlético Clube, Associação Portuguesa de Desportos, Clube Atlético Juventus, São Paulo Futebol Clube e Comercial Futebol Clube.

No início da década de 1940, em decorrência da Segunda Guerra Mundial, houve a necessidade de mudança do nome de Hespanha, em razão de um decreto governamental que proibia entidades de usarem denominações que lembrassem os países do “Eixo”.

Foram cogitados os nomes de “XV de Novembro”, “Cruzeiro do Sul”, e outros, mas a escolha recaiu em Jabaquara, por sugestão do associado Raul Vasquez Rios, que quis homenagear o bairro onde o clube surgiu e onde se situava o seu primeiro campo de futebol.

Isso aconteceu no dia 7 de novembro de 1942. Mesmo sendo o fim de uma era, a Diretoria organizou no Restaurante Bodega, aquilo que se denominou de “o banquete do adeus”. Na ocasião, chegou a ser ensaiado alguns gritos de “JAC”, as iniciais do novo nome.

Mas essa idéia não prosperou. O repórter esportivo Adriano Neiva da Motta e Silva, o famoso “De Vaney”, não gostou do que ouviu, e na edição seguinte do “Jornal de São Paulo”, em sua coluna “O Esporte”, chamou o clube de “Jabuca”, que de cara caiu no gosto da torcida.

No período entre 1940 e 1957, sob o comando do técnico Arnaldo de Oliveira, o “Papa”, o Jabaquara revelou vários jogadores para o futebol paulista e brasileiro, entre os quais o goleiro Gilmar, que depois jogou no Corinthians e foi campeão mundial pelo Santos e Seleção Brasileira.

E ainda Osvaldo da Silva, mais conhecido por Baltazar, que se notabilizou no Corinthians como o “Cabecinha de Ouro” e que tinha como maior virtude o cabeceio.

Outros craques formados no time de Santos foram Marcos, que jogou no Corinthians; Feijó, Getúlio, Ramiro e Álvaro, que brilharam no Santos; Célio, que defendeu o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro e Melão, que depois de atuar no Santos, foi para o futebol italiano.

Em 1944, o Jabaquara formou um dos melhores times de sua história. O ataque era sensacional, com Doca – Baltazar – Bahia - Leonaldo e Tom Mix.

Em dezembro daquele ano obteve vitórias expressivas sobre o São Paulo (3 X 2) e Corinthians (5 X 2), com três gols de Baltazar, um de Tom Mix e um de Alemãozinho.

Dai para a frente o time teve altos e baixos. Em 1945 foi quinto colocado no “Paulistão”. Depois passou por nova crise financeira. Em 1954, por pouco não foi rebaixado para a Segunda Divisão.

No início dos anos 50, o Jabaquara vendeu a área de seu campo de treinos, na Ponta da Praia, o que não livrou o clube de suas dificuldades financeiras. E foi assim que o time, sem campo próprio e contrariando mais de 40 anos de tradição, passou a treinar em São Vicente, em um gramado emprestado.

Em 1957 todos previam o fim do clube, que não tinha campo e o time era de regular a ruim. Foi quando a Diretoria contratou o técnico argentino Nelson Filpo Nunes ou "Dom Filpo", como era carinhosamente chamado. Ele levantou o time, que passou a vencer quase todos os jogos.

Em 31 de julho de 1957, a noite, o Jabaquara escreveu uma das mais bonitas páginas de sua história, quando derrotou em plena Vila Belmiro, ao Santos de Pelé e companhia, por 5 X 3, e de virada. Em 22 minutos de jogo o Santos já havia feito 3 X 0. A imprensa chamou aquele jogo de “Terremoto na Vila”.

Pasmem. O Jabaquara colocou em seu time um zagueiro desconhecido, que ao final do jogo se soube ser Oswaldo Malcriado, o tesoureiro do clube, escalado pelo técnico Filpo Nuñes para completar o quadro de 11 jogadores.

Depois disso "Dom Filpo" passou num constante vai e vem no Jabaquara. Em 1959, o técnico mais uma vez evitou o rebaixamento. Mas em 1963, não deu mais para fazer milagres.

Quando faltavam dois jogos para disputar e precisando vencer os dois, para poder disputar a vaga com a Prudentina, penúltima colocada, a coisa ficou feia. Um desses jogos era contra o Santos. Não deu outra, o time de Vila Belmiro ganhou de goleada, 5 X 3, e o Jabaquara caiu para a 2ª Divisão.


Em 1961, o clube conseguiu comprar uma grande área no bairro da Caneleira. O terreno, com 67.380 m2, de propriedade de José Ferreira, recebeu como garantia e sinal da transação, um cheque de CR$ 1 milhão, adiantado pelo desportista Manoel Ramos Lopes. Em janeiro de 1963, o terreno já estava totalmente quitado.

A área era bem maior que o necessário. Para se ter uma idéia, a Vila Belmiro mede 18 mil m2. Mas nenhum torcedor ou sócio do clube admitia a idéia de vender um metro quadrado sequer da área para investir dinheiro no futebol. Talvez fossem lembranças amargas do passado sem campo.

Em março de 1964 o Jabaquara realizou a sua primeira excursão ao exterior, jogando alguns amistosos na Argentina. Em 1967, teve de pedir licenciamento da Federação Paulista de Futebol, deixando o profissionalismo e se dedicando apenas às competições amadoras.

Em 1971 o clube inaugurou o "Estádio Hespanha", localizado na avenida Francisco Ferreira Canto, 351, no bairro da Cantareira, na divisa com o município de São Vicente. Na ocasião passou a ser chamado por seus torcedores de "Leão da Cantareira".

O festival de inauguração contou com estes jogos: Itararé 1 X 0 Jabaquara (Veteranos); Barreiros 3 X 2 Horto Municipal (Principal); Jabaquara 2 X 1 Pasteur (Infantis); Pasteur 1 X 0 Jabaquara (Amadores) e Jabaquara 0 X 0 Fefis (Principal).

Em 1976, sem gastos com o futebol, o Jabaquara conseguiu terminar o seu ginásio sócio-esportivo, que recebeu o nome de “José Vilarinho Cortês”.  Em 1977 o time voltou ao profissionalismo, dessa vez para disputar a “Terceira Divisão”.

Seu primeiro jogo foi contra o M.A.F., de Piracicaba, com vitória de 5 X 3. (M.A.F. são as iniciais do empresário Manoel Ambrósio Filho, proprietário da indústria de máquinas de costura Leonan, que dava apoio financeiro para o time.)

Em 1980, por ser clube fundador da Federação Paulista de Futebol, disputou como convidado o campeonato da 2ª Divisão intermediária, mas no final acabou voltando à 3ª Divisão. Em 1983, uma manobra de Nabi Abi Chedid aumentou o número de times da 2ª Divisão, e o Jabaquara subiu automaticamente. Mas de nada adiantou porque foi novamente rebaixado no final.

Em 1987, em comemoração ao seu 73° aniversário, jogou um amistoso contra o São Bento, de Sorocaba, quando vestiram a camisa rubro-amarela os campeões mundiais Clodoaldo e Rivelino e o santista Douglas. O Jabaquara venceu por 1 X 0.

Em novembro de 1991, o Jabaquara concluiu um novo sistema de iluminação para o "Estádio Hespanha". Na inauguração promoveu dois amistosos, perdendo para o Santos por 2 X 0 e empatando com a Portuguesa Santista em 0 X  0.

Em 1993, disputando com 56 equipes, sagrou-se campeão paulista da Terceira Divisão. Em 1995 foi campeão paulista invicto de Juniores, da Segunda Divisão. Em 1997 teve o artilheiro do campeonato da B1-A da Federação Paulista de Futebol, Sérgio Miler, com 26 gols.

Em 2002 o Jabaquara foi campeão paulista da Série B-3, quando manteve uma invencibilidade de 23 jogos, a maior série de sua história. Em 2004, o clube festejou uma boa condição financeira, com todos os seus compromissos rigorosamente em dia.

Em 2004 o “Jabuca” disputou o Campeonato Paulista da Série B-2, chegando à segunda fase da competição e terminando na 11ª posição da classificação geral, com uma invencibilidade de 23 jogos.

No ano de 2006, o time fez uma de suas piores campanhas no Campeonato Paulista da Quarta Divisão. Em 2007, através de uma parceria com a equipe do Litoral Futebol Clube, chegou às quartas de final do Campeonato Paulista da Quarta Divisão.

Em 2008 o Litoral Futebol Clube, clube de um projeto social idealizado por Pelé, foi anexado ao Jabaquara. Com isso a equipe conseguiu apoio para as disputas da Série B estadual e para as categorias de base, além de um patrocínio com a empresa alemã "Puma", fornecedora de materiais esportivos.

Além do Jabaquara, o recém criado Monte Alegre e o Paulista de Jundiaí também fazem parte do projeto.

Títulos. Estaduais: Campeão - Série A3 (1993); Campeão Paulista - Segunda Divisão (2002); Campanhas de Destaque: Taça Grande Café D'Oeste (1918, 1919 e 1920); Vice-Campeão Paulista Sub-20 - 2ª Divisão (2011 e 2012); Vice-Campeão Paulista (1927). (Pesquisa: Nilo Dias)

Linha de ataque do Jabaquara em 1944: Doca, Baltazar, Bahia, Leonaldo e Tom Mix. (Foto: Arquivo fotográfico do clube)