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segunda-feira, 22 de junho de 2015

O "violino" parou de tocar

Morreu hoje, segunda-feira, 22, Luiz Carlos Nunes da Silva, o “Carlinhos Violino”, aos 77 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Anos antes de falecer, Carlinhos já sofria com problemas de saúde. 

A elevação da taxa de ácido úrico causou problemas de cicatrização, obrigou a amputação de um dedo do pé, gerou complicações no sistema circulatório, perda de memória e, além disso, complicações na carótida e a necessidade de colocar pontes de safena. A morte ocorreu em função desses problemas.

O velório de Carlinhos acontecerá amanhã, terça-feira, entre 10 horas e 14 horas, no Salão Nobre da sede do Flamengo, na Gávea. O clube carioca destacou no seu site oficial a perda de um dos maiores ídolos da sua história.

Cria da casa, logo no início da carreira, em 20 de janeiro de 1954, recebeu, simbolicamente, as chuteiras do jogador Biguá, destaque do Flamengo na época e que estava encerrando sua carreira. O interessante é que ele repetiu o gesto em sua aposentadoria como atleta, passando seu instrumento de trabalho para um garoto promissor da Gávea – Arthur Antunes Coimbra, o “Zico”.

Destacou-se como um volante técnico e refinado, a ponto de ganhar o apelido de “Violino”. “Parecia que o ex-meia jogava por música”, diziam os comentaristas esportivos da época. Um dos momentos que Carlinhos mais brilhou como jogador foi no Fla-Flu decisivo do Campeonato Carioca de 1963, quando liderou o time no empate de 0 X 0 que deu o título ao Flamengo.

O jogo foi realizado no dia 15 de dezembro, no Maracanã, perante um público de 177.020 pagantes e 16.947 não pagantes, o maior em um jogo oficial entre dois clubes no futebol mundial. Mas existiram, na época, especulações dizendo que o público real foi de cerca de 200 mil espectadores.

Foi um dos poucos atletas a ganhar o “Prêmio Belfort Duarte”, oferecido aos jogadores que nunca foram expulsos de campo. Era apontado como um dos melhores da posição de todos os tempos do futebol brasileiro.

Dono de voz mansa, muita classe e aparência sempre tranquila, o “Violino” levou consigo a marca de ser um rubro-negro como poucos. Jogou no Flamengo de 1958 a 1969. Nutria uma verdadeira paixão pelo clube. Vivia o Flamengo no dia-a-dia, fosse como funcionário ou torcedor.

Como jogador, Carlinhos vestiu a camisa do Flamengo, em 517 vezes. Na condição de técnico dirigiu a equipe em 313 oportunidades, tornando-se o melhor treinador de futebol da história do clube, tendo comandando jogadores da envergadura de Zico, Bebeto, Leandro, Renato Gaúcho e Júnior. Somando tudo, como profissional rubro-negro disputou 880 partidas: 517 como jogador e 313 como técnico.

É verdade que muitas vezes foi usado como um técnico "tampão". Pela habilidade de contornar crises, ficou conhecido internamente como um “bombeiro” do clube. Porém, entre 1991-1993, começou a ganhar respeito ao trazer para a Gávea um improvável troféu de campeão brasileiro em 1992, o quarto do Flamengo.

“Violino” recebeu sua primeira oportunidade como treinador do Flamengo ao substituir Paulo César Carpegiani, em 1983. Naquele ano, Carlinhos fez parte da conquista do tricampeonato brasileiro, já que assumiu o time como interino na campanha que teria como comandante o então treinador Carlos Alberto Torres.

Sua última passagem pelo Flamengo como técnico ocorreu entre maio e outubro de 2000, época em que conquistou a Taça Rio e logo depois o bicampeonato estadual. Carlinhos chegou também a treinar o Guarani de Campinas e o Clube do Remo, do Pará. Mas a sua paixão pelo Flamengo resultou em, nada mais, nada menos, do que sete passagens pela “Gávea”.

Há quem diga que Carlinhos, e não o Andrade (com o penta do flamengo em 2009), tenha sido o primeiro negro a conquistar, como técnico de futebol, o campeonato Brasileiro. Porém Carlinhos pode ser identificado como mestiço e não necessariamente negro.

Carlinhos, mesmo sendo dono de uma qualidade incontestável, foi um dos atletas injustiçados por nunca terem tido uma sequência na Seleção Brasileira. Ele disputou somente uma partida com a camisa canarinho, talvez porque na época Santos e Botafogo cediam a maior parte dos convocados.

Foi no ano de 1964, contra a Seleção de Portugal. Nessa partida, outro rubro-negro esteve em campo junto com Carlinhos, Aírton Beleza, centroavante que fez dupla central de ataque com Pelé. A Seleção Brasileira saiu vitoriosa do Maracanã naquele dia.

Dois anos antes, nos preparativos para a Copa do Mundo de 1962, o então treinador da Seleção Brasileira, Aimoré Moreira, convocou 41 jogadores, mas destes, somente 22 foram ao Chile. A preferência para a reserva de Zito, acabou recaindo em Zequinha, do Palmeiras, ao invés dele, embora fosse a grande sensação do momento.

O ex-treinador era frequentador assíduo da sede do Flamengo, a que chamava de sua segunda casa. Em 12 de fevereiro de 2011, Carlinhos foi homenageado pelo Flamengo, com a inauguração de um busto e uma praça na sede social do Clube, no bairro da Gávea. Na inauguração, foi tomado pela emoção e transbordou em prantos.

Títulos. Flamengo, como jogador: Torneio Início do Campeonato Carioca (1959); Torneio Rio-São Paulo (1961); Campeonato Carioca (1963 e 1965); Torneio Internacional de Israel (1958); Torneio Hexagonal de Lima, Peru (1959); Torneio Internacional de Verão do Uruguai (1961); Torneio Internacional da Tunísia (1962); Troféu Naranja, Espanha (1964); Troféu Mohammed IV, no Marrocos (1968); Torneio Gilberto Alves, em Goiânia (1965) e Troféu Restelo, em Portugal (1968).

Como treinador. Pelo Flamengo: Campeonato Carioca: 1991,1999 e 2000; Taça Guanabara (1988 e 1999); Taça Rio: 1991 e 2000; Campeonato Brasileiro (1992); Módulo Verde da Copa União (1987); Taça Brahma dos Campeões Brasileiros, disputada no Paraná (1992); Troféu Eco-92, disputado no Rio de Janeiro(1992); Troféu Libertad, na Argentina (1993); Troféu Raul Plasmann, no Rio de Janeiro (1993); Torneio Internacional de Kuala Lumpur (1994); Copa Pepsi Cup'94, no Japão (1994) e Copa Mercosul (1999). (Pesquisa: Nilo Dias)