Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 26 de abril de 2016

"Teleco", o rei das viradas

Uriel Fernandes, o “Teleco”, é dono de um recorde até hoje mantido, o de jogador com a maior média de gols por partida. Ele conseguiu a incrível marca de 1.02 gols por jogo, marca que nem mesmo Pelé foi capaz de bater.

O “Rei” fez 1281 gols em 1375 jogos – média de 0,93 gols por partida. Ele foi um dos primeiros ídolos da história corinthiana, tendo jogado nos anos 30.

E de lambuja, “Teleco” marcou 251 gols em 246 jogos pelo Corinthians Paulista, o que lhe garante a terceira colocação entre os principais artilheiros do clube até hoje, atrás somente de Baltazar, com 269 gols, e Cláudio, que é o maior artilheiro da história do clube com 305 tentos.

“Teleco” foi um dos primeiros ídolos da história corinthiana, tendo jogado nos anos 30. Nos 246 jogos que “Teleco” jogou pelo Corinthians, ganhou 155 e perdeu apenas 38.

“Teleco”, apelido que recebeu de sua avó, quando ainda era menino, nasceu em Curitiba no dia 12 de novembro de 1913. Começou a carreira em 1933 na equipe paranaense do Britânia, um dos clubes que deram origem ao Paraná Clube e foi para o Corinthians em 1934, após chamar a atenção em uma partida pela Seleção Paranaense.

Foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa corinthiana. Teve ainda breves passagens pelo Santos, também em 1944 e depois pelo Juventus.

Com 21 anos já era titular do Corinthians, onde jogou por 10 anos, na posição de centroavante. Fez a sua estreia pelo Corinthians em 16 de dezembro de 1934, quando o seu time foi goleado pelo Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, por 5 X 0.

O seu primeiro gol pelo clube veio logo depois, na última partida de 1934, marcando duas vezes na vitória por 4 X 1 sobre a Portuguesa Santista, em jogo amistoso disputado no Estádio Ulrico Mursa, em Santos.

Vestindo a camisa alvinegra conquistou quatro títulos de campeão paulista,1937, 1938, 1939 1941, e foi cinco vezes o artilheiro do Campeonato Paulista, nos certames de 1935 (9 gols), 1936 (28 gols), 1937 (15 gols), 1939 (32 gols) e 1941 (26 gols).

“Teleco” é também o corintiano que mais vezes marcou num “Paulistão” só: 32 vezes, no torneio de 1939. O jogador quase virou lenda, tal a sua dedicação em campo.

A facilidade que “Teleco” tinha de fazer gols era um desafio à lógica. De cabeça, com os pés, e principalmente, de virada - sua jogada mortal -, eles sempre saíram em profusão.

Era chamado pelos torcedores de "O Rei das Viradas", porque antes de chutar a gol costumava se virar de costas para a meta adversária, para rapidamente torcer o corpo no ar e arremessar a bola para dentro do gol. Era também conhecido por "O Homem Gol".

Contam que em 1937, chegou a jogar com um dos braços imobilizado, com talas escondidas sob o uniforme de manga longa, num importante confronto frente o Palestra Itália, que anos depois virou Palmeiras. Ele estava fora do jogo, mas como o seu reserva imediato, “Zuza”, desmaiou ao saber que iria jogar, foi obrigado a entrar em campo.

Mesmo sem contar com toda a forma física, ainda assim “Teleco” marcou de cabeça o gol que deu a vitória ao Corinthians, e em consequência a conquista do título paulista.

Depois que deixou os gramados permaneceu no clube como funcionário responsável por cuidar da “Sala de Trofeús” duante 25 anos, até o dia em que morreu, 22 de julho de 2000, aos 86 anos. A causa da morte não foi revelada. (Pesquisa: Nilo Dias)


terça-feira, 12 de abril de 2016

Um grande goleiro

Oscar Modesto Rodrigues Urruty, um dos melhores goleiros que conheci, é uruguaio de Durazno, onde nasceu em 1934. Filho de Modesto Rodrigues e Segunda Josefa Urruty de Rodrigues, começou a carreira de futebolista no pequeno Wanders, de Montevidéu. Ele veio para o Brasil em 1954, com 18 anos de idade, para jogar no Guarany, de Bagé.

Ainda em 1954 quase foi parar no G.E. Gabrielense, de São Gabriel, que recém se tornara profissional.  Não houve acerto. Em 1955 passou por testes no Internacional, de Porto Alegre, mas não ficou por lá.

Em 1956 alçou vôos mais altos: foi para São Paulo, defender a Sociedade Esportiva Palmeiras, mas não teve muita sorte. Lesionou-se, parou por algum tempo e resolveu retornar para o Sul, onde defendeu o G.E. Brasil, de Pelotas.

Em 1957, foi para o rival Pelotas, indicado pelo técnico Paulo de Souza Lobo, o “Galego”. Deu sorte. Foi tricampeão da cidade, em 1958, ano em que o clube comemorava o seu cinquentenário. Em 1960 foi “Campeão dos Campeões”, do interior do Estado.

Em 1962 mudou de endereço, indo jogar no Farroupilha, também de Pelotas. No time do bairro Fragata novas glórias o esperavam: fez parte do time que marcou época no futebol pelotense na década de 1960. Jogou ao lado de Wilson Carvalho, Lelo, Cascudo, Noredin, Wellington e Dias.

Só saiu do Farroupilha em 1965, para jogar no São Paulo, de Rio Grande. Ainda teve uma passagem pelo Flamengo, de Caxias do Sul, hoje S.E.R. Caxias.

Depois de deixar os gramados Oscar se tornou treinador. Seu grande momento foi quando conquistou com o clube “xavante”, a “Taça Governador do estado”, 1972. Uma curiosidade, ele trabalhou de graça, sem cobrar nada, depois que uma comissão formada por dirigentes e torcedores foram em caravana a sua casa, no bairro Cruzeiro, para convencê-lo a assumir o comando técnico.

Oscar era bastante polêmico. Certa vez fez duras criticas ao presidente da Federação Gaúcha de Futebol, o autoritário Rubens Hoffmeister (já falecido), que não gostou e  exigiu uma "retratação". E o que fez Oscar? Mandou-lhe uma foto 3 X 4 com dedicatória em bom castelhano: “Es la retratación.”

A mania de sempre dizer o que pensa é de sua naturalidade. O acompanha desde que jogava futebol. Gosta de dizer que jogou no “time dos rebeldes”. Nunca foi puxa saco de dirigentes, costumava lutar por seus direitos.

Não admitia que atrasassem seus salários, o que lhe garantiu muitos problemas. Dizia que arriscava a sua cabeça na chuteira dos adversários. Foi um dos fundadores do extinto Sindicato dos Jogadores Profissionais de Pelotas, com apoio jurídico do advogado Ápio Cláudio de Lima Antunes.

Oscar, apesar de ter jogado nos três clubes profissionais de Pelotas, garante que não torce para nenhum deles, sim pelos amigos que deixou em sua trajetória profissional. A maior parte da família de Oscar Urruty mora no Uruguai e torce pelo Peñarol.

Depois de abandonar a carreira de treinador, Oscar se dedicou a outra arte – marcenaria. Ele é até hoje restaurador de móveis antigos. Atualmente também se dedica a cutelaria - a arte de fabricar facas. Utiliza o mesmo metal usado em tesouras de esquila. Os cabos são feitos de rabo de tatu e pata de avestruz. Tudo trabalhado a mão.

Depois que sai de Pelotas, 1m 1975, e lá se vão 41 anos, nunca mais tive o prazer de ver Oscar Urruty. O último contato que tive com ele foi num churrasco em sua casa, do qual participaram vários jogadores de futebol que trabalharam com ele.

Eu ajudei a servir a cerveja, atendendo um pedido de Oscar. Na época eu trabalhava na imprensa esportiva de Pelotas, mais precisamente no jornal “Diário Popular”.

Os jornalistas pelotenses Ayrton Centeno, Luiz Lanzetta e Lourenço Cazarré - os três foram meus colegas no jornal "Diário Popular", de Pelotas, pretendem lançar, até o final di ano, provavelmente na "Feira do Livro de Pelotas", um livro que visa resgatar a história e a importância do "Triz", jornal alternativo que circulou em Pelotas no final de 1976. E curiosamente, com uma única edição.

O jornal dedicou, na oportunidade, três, das suas 16 páginas, para uma antológica entrevista com o ex-goleiro Oscar Urruty, já dedicado aos trabalhos de artesanania em madeira. Na ocasião, Oscar, que não tinha papas na língua disse que abandonou o futebol por estar desalentado com a patifaria que reinava no época, patifaria.


No entender do ex-goleiro o jogador pode fazer suas farrinhas. Não influi nada no procedimento. Não escondeu que sempre bebeu. Disse que quando jogou no Pelotas, havia uns 8 ou 10 que eram da boêmia. e assim mesmo foi tricampeão.  pelo Pelotas. Confessou ter jogado 11 vezes com o joelho infiltrado, debaixo de agulha, durante todo o primeiro turno de 1961.

Seu filho, também de nome Oscar, nascido em 1961, curiosamente no mesmo dia em que comemora aniversário, seguiu a carreira do pai. Foi excelente goleiro, tendo atuado pelo Brasil, de sua cidade, passou depois por São Paulo, de Rio Grande (RS), Internacional, de Limeira (SP), Francana, de Franca (SP), Paulista, de Jundiai (SP), Paysandu, de Belém (PA) e Figueirense, de Florianópolis (SC).

Como preparador de goleiros trabalhou no Brasil, de Pelotas, Al Ettifaq, da Arábia Saudita, Grêmio Portoalegrense, Figueirense, de Florianópolis (SC), Jubilo Iwata, do Japão, Cruzeiro, de Belo Horizonte (MG),  Atlético Mineiro, Santos  e no Palmeiras, onde se encontra desde setembro de 2014.

“É sempre uma satisfação muito grande retornar. O Uruguai é um país extremamente hospitaleiro, do qual absorvi algumas coisas pelo contato, por ter ido várias vezes para lá desde pequeno. Tomo mate, o nosso chimarrão, como muita carne na parrilla (churrasco)…

A gastronomia é fantástica. E, a passeio, gosto de ir também a Punta del Este, Piriápolis... O litoral uruguaio tem praias lindas, é muito bacana”, elogia Oscar Rodriguez. (Pesquisa: Nilo Dias)


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Um torcedor apaixonado

João Faria da Silva, o “Russão”, foi um dos mais apaixonados torcedores do Botafogo, do Rio de Janeiro. Era estofador de móveis por profissão, tendo sido o fundador da extinta “Torcida Folgada”, que depois se chamou “Torcida Russão”.

Antes, em 1965, quando tinha 18 anos de idade fundou na geral do Maracanã, a torcida “Fogo-Duro”, formada por torcedores pobres e fanáticos que, antes das 7 horas, pulavam o muro do estádio e permaneciam escondidos até à abertura do portão.

Em 1968, por sugestão de Tolito, dono da mais famosa banca de jornais alvinegra do Rio de Janeiro, sugeriu a “Russão” que criasse uma nova torcida, a organizada “Fogo-Lito”, para atuar na arquibancada, em vez da geral.

Foi quando “Russão” conheceu “Tarzan”, outro fanático torcedor. Os dois conviveram bem até 1974, quando “Tarzan” resolveu voltar para Belo Horizonte, deixando  seu amigo Celso, diretor da bateria, como líder da torcida.

Mas este não conseguiu segurar a barra, que era realmente pesada, e passou a liderança para “Russão”. Em 1978, porém, “Tarzan” voltou a morar no Rio de Janeiro e retomar a liderança da torcida organizada.
“Russão” conseguiu se manter no cargo, mas a torcida ficou dividida. Por causa disso ele acabou por passar a liderança ao seu amigo “Barriga”.

Tempos depois, em entrevista concedida a revista “Placar”, “Russão” disse que não guardava a menor mágoa de Tarzan, que aprendera com ele a ser mais Botafogo, a ser mais valente, fiel e a defender as cores do clube.

Em setembro de 1981, fundou a “Torcida Folgada”, que depois se chamou “Folgada do Russão”, que chegou a ter 800 sócios de carteirinha, que pagavam mensalidades. Foi o auge da liderança do torcedor. A exemplo de outras torcidas do clube a “Folgada” acabou por ser extinta.

Em setembro de 2010, “Russão” precisou ser hospitalizado em uma clínica no bairro de Laranjeiras, com infecção generalizada em uma das pernas, que teve de ser amputada. Ele sofria de diabetes. Na época, o torcedor chegou a pedir ajuda em dinheiro, já que tinha problemas financeiros.

Em 2011, quando das eleições presidenciais no Botafogo, “Russão” esteve no clube sentado em uma cadeira de rodas. Ao entrar em General Severiano, o torcedor foi recebido por uma salva de palmas de todos os presentes. “Russão” se emocionou e chorou muito.

Ele aproveitou para lembrar dos tempos em que ajudou a erguer a atual sede do “Glorioso”, antes de sua última reforma. Disse que capinou tudo por lá.

Contou que 15 pessoas moravam no local e consumiam drogas. Botou todo mundo para fora, salientando que ali é a casa do alvinegro, enquanto gritava “Eu te amo, Botafogo”.

Era o presidente de honra da torcida “Loucos pelo Botafogo”, que vinha levantando fundos para adquirir uma perna mecânica, para que “Russão” pudesse frequentar o “Engenhão” e o seu time em ação.

Em 28 de fevereiro de 2012, “Russão” faleceu aos 63 anos de idade, devido a vários problemas que fragilizaram sua saúde.

O Botafogo prestou solidariedade e divulgou nota oficial sobre a morte.

O Botafogo comunica e lamenta o falecimento de um seus torcedores-símbolo: João da Silva Faria, o “Russão”. O clube decreta luta oficial de três dias e hasteia sua bandeira a meio mastro, além de colocar à disposição suas dependências para o velório. Haverá um minuto de silêncio antes da partida entre Botafogo e Americano, a ser jogada em Campos.

Exemplo de amor e dedicação ao Botafogo, “Russão” sempre defendeu os interesses do clube e o representou nas arquibancadas. A “Folgada do Russão”, durante anos, foi uma das principais torcidas organizadas do Glorioso - destacou o clube no comunicado.

O Botafogo presta solidariedade à família de um torcedor apaixonado, que dedicou grande parte de sua vida ao clube, e será uma eterna referência nas arquibancadas.(Pesquisa: Nilo Dias)