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segunda-feira, 9 de maio de 2016

O futebol paranaense está de luto

Morreu na manhã do último sábado 7, o ex-jogador de futebol José Roberto Marques, o “Zé Roberto”, que brilhou em vários clubes do futebol brasileiro. Ele estava internado há uma semana no hospital Amparo, da cidade de Serra Negra, no interior paulista onde residia, tendo sido vítima de uma apendicite supurada. Após uma piora em seu estado de saúde, ele passou por uma cirurgia e acabou não resistindo.

A supuração acontece quando o apêndice não é retirado a tempo e acaba se rompendo, ocasionando o derrame de fluidos inflamatórios com bactérias na cavidade do abdômen, podendo provocar peritonite e insuficiência de múltiplos órgãos.

Nos últimos 15 anos, estava muito debilitado pela vida desregrada. Vivia modestamente por conta de uma aposentadoria da Prefeitura de Serra Negra, onde residia.

Em 2013 foi internado em uma clínica da cidade, por conta de um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC), que deixou seu braço esquerdo parcialmente paralisado. Recuperado, chegou a comparecer a um encontro de ex-atletas do Palmeiras ainda naquele ano.

Zé Roberto, que era considerado o melhor jogador de toda a história do futebol paranaense,  estava aposentado e iria completar 71 anos no próximo dia 25. Ele deixou três filhos, Rose, Renata e Roberto, dois netos e dois bisnetos.

Batizado José Roberto Marques, e chamado pelos torcedores dos clubes onde jogou, de "craque-encrenqueiro", nasceu no dia 31 de maio de 1945 em São Paulo. Começou a carreira de futebolista jogando nas divisões de base do Botafogo, de Ribeirão Preto.

Seu Jerônimo, pai de Zé Roberto, tinha seu passado marcado pelo futebol. Foi também jogador do Botafogo nos anos 40 e conhecia muito bem o mundo de ilusões que cercam os gramados.

Um dia descobriu uma perturbadora e preocupante coincidência. O filho, outro sonhador com apenas 13 anos de idade, faltava na escola para jogar no infantil do mesmo Botafogo Futebol Clube.

O garoto, que vivia com os avós em Ribeirão Preto, dizia que ia para o grupo escolar e no caminho deixava os livros de lado e tirava sua chuteirinha surrada da sacola. Foi assim que seu Jerônimo decidiu enviar o filho para São Paulo.


Sob os cuidados da mãe, voltaria sua cabeça para os estudos e com tarefas produtivas que o ajudariam na construção de um futuro melhor. O primeiro emprego, como datilógrafo, foi arrumado pela própria mãe, em um escritório da Rua São Caetano.

Depois dessa primeira ocupação, Zé Roberto também trabalhou como corretor no bolsa de valores. Até o dia em que descobriu o time amador do São Paulo no bairro de Santa Terezinha.

Novamente, faltava nos compromissos para jogar futebol e coincidentemente, o time do bairro de Santa Terezinha também apresentava cores iguais ao Botafogo, de Ribeirão Preto.

Ai não teve jeito. Do São Paulo de Santa Terezinha ele acabou no São Paulo do Morumbi. Seu Jerônimo nem falava mais nada. Como ponta de lança, centroavante ou mesmo ponta esquerda, Zé Roberto sabia fazer gols.

Alto, o corpo esguio e um tanto desengonçado, o jovem talento não demorou muito tempo para cair nas graças do saudoso Vicente Feola, que sempre arrumava um tempinho para assistir aos garotos das divisões de base.

E Zé Roberto foi crescendo dentro do Morumbi. O ano de 1964 apresentou os primeiros frutos na carreira do atacante. Convocado para o selecionado nacional juvenil que foi aos jogos olímpicos do Japão, Zé Roberto anotou os três gols da vitória de 3 X 0 sobre os argentinos, em partida disputada ainda no período de preparação da equipe.

Profissionalizou-se pelo São Paulo, onde foi considerado “o craque do futuro” pelo técnico Vicente Feola, e ganhou o apelido de “Gazela”, devido as pernas finas. Depois da olimpíada, Zé Roberto atuou por empréstimo pelo Guarani e pela Francana no ano de 1966.

A fama de “jogador problema” não demorou para chegar. Zé Roberto amava popularidade, não ligava para o dinheiro e gostava mesmo era da vida na boemia.

Mesmo querido dentro do clube, o presidente Laudo Natel não pensou duas vezes em liberar o atacante por empréstimo quando surgiu o interesse do Atlético Paranaense. Para o São Paulo, Zé Roberto era um irrecuperável.

Além de Zé Roberto, o presidente do Atlético, Jofre Cabral, investiu em veteranos consagrados contratando Bellini e Djalma Santos.
Com o uniforme do Furacão, o “Gazela”, apelido de Zé Roberto, logo se transformou em ídolo. Durante essa primeira temporada no cenário paranaense, anotou 24 tentos e foi o artilheiro da competição.

Com o término do empréstimo, o Atlético não dispunha da quantia exigida pelo São Paulo. E assim, Zé Roberto voltou ao Morumbi. O Atlético tentou de tudo para contratá-lo em definitivo. Não conseguiu.

Campeão paulista de 1970, não demorou muito tempo para que ele voltasse ao futebol paranaense. Dessa vez o destino foi o Coritiba Foot Ball Club.

Segundo o Grupo Helênicos, no primeiro treino do meia no Coxa, o estádio ficou lotado de torcedores ansiosos por sua estreia. No “Coxa”, Zé Roberto aprendeu muito seguindo orientações do técnico Tim.

Em 1972 atingiu o auge de sua carreira ao conquistar o concorrido prêmio da “Bola de Prata” da revista Placar. Nos anos seguintes, foi campeão do Torneio do Povo em 1973 e tetracampeão paranaense (1971, 72, 73 e 74).

Defendendo o Coritiba, jogou 146 partidas e marcou 72 gols, sendo o sétimo maior artilheiro da história do clube. Filho de jogador, que jogou no Corinthians de 1942 a 1955, deixou sua marca como o maior artilheiro dos anos 70, com 73 gols em partidas oficiais de competição. Sua última partida pelo Coritiba foi no dia 13 de julho de 1974, contra o Fortaleza, no estádio Belfort Duarte.

Em 1974, Zé Roberto foi negociado com o Corinthians e tudo parecia ser um casamento perfeito, Em seu primeiro clássico contra o Palmeiras no estádio do Pacaembu, o “Gazela” anotou os três gols da espetacular virada alvinegra por 3 X 1.

Zé também foi o autor do gol da vitória contra o São Paulo, que deu ao Corinthians o título de campeão do primeiro turno, o que valeu qualificação para disputar o encontro final do campeonato paulista.

Depois da sofrida derrota na finalíssima do certame para o Palmeiras, Zé Roberto voltou ao seu tradicional “porto seguro”, o Coritiba, onde permaneceu até o ano de 1977.

Jogou ainda no CRB, de Alagoas, Guarani, de Campinas e Francana, de Franca (SP). Voltou ao “Furacão” em 1977, quando tinha 32 anos, mas já não estava em boas condições físicas e decidiu se aposentar.  Daí em diante só voltou aos gramados em times amadores.

Além de ser um artilheiro sem igual dentro de campo, Zé Roberto carregava consigo todo o folclore de ser um jogador boêmio e adorado por praticamente todos aqueles foram seus companheiros de equipe. Ele definia muitos fatos como lenda, mas admitia que tinha sim um gosto pela vida noturna.

Antes de chegar ao “Timão”, a passagem dele pelo “Coxa” foi marcante, tendo empilhado títulos: Torneio do Povo, em 1973; tetracampeão paranaense em 1971, 1972, 1973 e 1974. (Pesquisa: Nilo Dias)