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domingo, 29 de maio de 2016

Quando a supertição entra em campo

O Botafogo, do Rio de Janeiro foi um clube quase sempre cercado de crendices e superstições. Essa fama começou em 1948, quando o presidente era o folclórico Carlito Rocha, que adotou como mascote do clube um bonito cachorro de nome “Biriba”, de pelo preto e branco, as cores do Botafogo. E como o time foi campeão carioca, a partir daí o mascote quase virou “santo”.

Por incrível que possa parecer, nenhum jogador do time que tinha uma verdadeira constelação de astros foi responsabilizado pela conquista do título, e sim o cachorro “Biriba”, que foi achado na rua pelo jogador “Macaé”, e levado para General Severiano.

O presidente Carlito Rocha, era um supersticioso de carteirinha, desde os seus tempos de jogador do clube, quando era capaz de entrar em campo com 40 graus de febre. Durante um jogo em que a equipe de reservas do Botafogo venceu o Madureira por 10 X 2, em 1948, o cãozinho preto e branco invadiu o campo como que a comemorar o décimo gol.

Aquela cena bastou para que Carlito considerasse ter sido um “sinal”. Então, adotou o “Biriba” como mascote oficial, mesmo sabendo que o dono era o zagueiro “Macaé”.

A partir daí Carlito levou o vira-lata “Biriba” a todas as partidas do Botafogo no campeonato de 1948, o qual acabou por ganhar espetacularmente na decisão com o “Expresso da Vitória”, a poderosa equipe do Vasco da Gama.

O cachorro tinha lugar privilegiado no banco de reservas e participava na comemoração dos gols. Carlito considerava que "Biriba" dava sorte e ninguém conseguia barrar o animal, fosse onde fosse.

A partir daí ele foi adotado como mascote pelo presidente, depois que o Botafogo venceu naquela semana, com “Biriba” no banco de reservas. Na verdade, “Biriba” tornou-se muito mais do que um simples mascote, quando o adversário estava apertando o Botafogo, Carlito Rocha mandava “Macaé” soltar o cachorro dentro do campo.

“Biriba” corria em direção a bola e os jogadores do Botafogo tinham ordem de não se mexer. Na tentativa do juiz e adversários em pega-lo, o jogo parava e esfriava. Então o Botafogo reagia e vencia. E “Biriba” tornou-se uma espécie de jogador numero doze.

Esse fato registrou-se inúmeras vezes no Campeonato Carioca de 1948 até que os dirigentes dos outros times começassem a estrilar. Houve até ameaças de seqüestrar “Biriba”, como precaução. Para se prevenir das ameaças, Carlito Rocha ordenou a “Macaé” que dormisse com o cachorro numa das torres da sede.

Outras ameaças vieram depois, como de envenenar “Biriba”. Então “Macaé” tinha de provar a comida do cachorro antes que ele a comesse.

Outro fato pitoresco, que fez aumentar ainda mais a crença de que o cachorro era verdadeiramente um talismã, aconteceu quando ele, na véspera de um jogo importante, fez “xixi” na perna do jogador Braguinha e o Botafogo ganhou.

A partir daí, em todo jogo importante, o presidente Carlito obrigava Braguinha a emprestar sua perna para servir de poste ao mascote.  Ou então “Biriba” tinha de lamber as chuteiras do jogador Otávio.

Num jogo frente o Vasco da Gama, no primeiro turno do certame de 1948, o presidente cruzmaltino, Ciro Aranha, proibiu a entrada de “Biriba” no estádio de São Januário. Carlito Rocha então perguntou: “E o presidente do Botafogo, pode entrar?” Ciro Aranha respondeu evidentemente que sim.

Então Carlito Rocha pegou “Biriba” no colo e, impávido, entrou com ele nas sociais do Vasco. O Botafogo foi campeão derrotando o Vasco na ultima rodada e “Biriba” posou com os craques na foto oficial, aos pés de Pirilo e Otávio.

Como presente ganhou uma coleira de ouro com o escudo do Botafogo. E também deram-lhe champanhe no prato esmaltado e, por intermédio de “Macaé”, passou a ganhar até bicho.

O Botafogo só faltou registra-lo na federação e o cachorro vivia a contrafilé. Em 1948, com a presença de “Biriba”, o Botafogo registou 17 vitórias e 2 empates, sagrando-se campeão invicto após 13 anos.

“Biriba” viajava com o time para todo lado. Certa ocasião, o ônibus estava lotado, e faltava lugar para ele. Carlito Rocha não teve dúvida, afastou um jogador da delegação para que o animal pudesse ir em seu lugar.

Mas a sorte de “Biriba” só ocorreu em 1948. A partir de 1949 o Botafogo andava tão mal que o mascote viu sua estrela se apagar e começou a ser abandonado. Passou a viver pelos cantos do clube e às vezes desaparecia durante dias e ninguém dava por sua falta.

Como a sua carreira no futebol estava encerrada, por volta de 1953 “Macaé” o levou para seu apartamento em Copacabana. O sindico, um vascaíno amargo e vingativo, não queria saber de cachorros no prédio – muito menos aquele. Mas teve de ceder.

“Macaé” deu a “Biriba” todo o amor que podia e o levava para passear quase todos os dias. Com 12 anos de idade, praticamente cego e sofrendo do coração nos últimos anos, morreu no dia 10 de agosto de 1958, vitimado por um colapso.

“Biriba” morreu na residência do seu dono, a rua Raul Pompéia (Copacabana), do zagueiro “Macaé”, que foi o seu lançador como mascote do “team” naquele campeonato de 1948.

Até hoje, o símbolo mais conhecido do Botafogo é o cachorro, que foi sofrendo alterações ao longo dos anos e é desenhado das mais diversas formas. A torcida organizada “Fúria Jovem” divide-se atualmente em “canis” e as torcidas adversárias apelidaram os botafoguenses de “cachorrada”.

Osvaldo Baliza, um dos maiores goleiros da história botafoguense, era quem mais gostava de “Biriba”, depois de Carlito Rocha é claro. Os jogadores diziam que antes e depois dos treinos Osvaldo andava com o cachorro a tira colo.

Em 2008, a tradição foi revivida quando um cão, chamado “Perivaldo”, em homenagem ao ex-jogador do clube nos anos 1970, entrou em campo junto com o time em uma partida da Copa do Brasil, levado por seu dono, um carioca e fanático torcedor botafoguense residente na Paraíba.

Em suas costas negras, o beagle “Perivaldo” trazia uma marca de nascença em formato de estrela na cor branca, remetendo ao símbolo máximo do clube, a estrela solitária. Neste mesmo ano, o clube lançou dois mascotes oficiais, chamados “Biriba” e “Biruta”, para se identificarem com crianças.

No Tocantins uma família de torcedores do Botafogo batizou o cão recém-nascido de “Biriba Júnior”. O animal é todo preto com uma mancha branca em cima da cabeça e lembra o escudo do time carioca. E para o dono dele, José Ribamar Alves, o cachorro deu sorte para o time que foi campeão da Série B do ano passado e garantiu a volta do time a Série A do “Brasileirão”.

“Biriba Júnior” nasceu em Pium, região central do Tocantins e além do nome igual, o cachorro é vira-lata assim como o mascote original. E de acordo com Ribamar, desde que o “Biriba júnior” nasceu, no dia 29 de setembro do ano passado, o Botafogo foi só crescendo na competição, até se sagrar campeão.

A cadela deu 8 filhotes de várias cores. No terceiro que saiu, veio um todo pretinho, com um sinalzinho branco e foi escolhido para ficar na casa. Até aí o dono não tinha percebido nada. Quando mandou uma foto dele para os seus filhos, eles falaram do desenho da estrela solitária.

Todo o botafoguense tem superstição e com Ribamar não foi diferente. Assiste todos os jogos com o cachorro ao seu lado e acredita na sorte que ele dá ao time. (Pesquisa: Nilo Dias)