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terça-feira, 31 de maio de 2016

Há 38 anos morria o craque Boszik

Uma das seleções mais poderosas que o mundo conheceu foi sem dúvida a da Hungria, na Copa de 1954, disputada na Suíça. Nos cinco jogos que disputou, conseguiu a façanha de ser até hoje, passados 62 anos a seleção mais ofensivas da história, com o recorde de gols em uma única edição de Copa do Mundo, 27.

A Seleção Magiar assombrou o mundo, como na goleada de 6 X 3 sobre a Inglaterra em 1953, quando se preparava para a Copa do Mundo. O ataque húngaro era uma verdadeira máquina de fazer gols, com Puskás, Kocsis, Czibor, Hidegkuti e Budai. Esse cinco nomes se eternizaram, jamais serão esquecidos.

József Bozsik jogava mais atrás, era um gênio de seu tempo, mas pouco reconhecido. Sua genialidade no futebol começou na infância, ao lado de Puskás, talvez a maior lenda do futebol húngaro em todos os tempos. Os dois eram vizinhos e juntos transformaram a história do Kispest, posteriormente chamado de Honvéd. E, também a seleção.

Ferenc Puskás, ingressou na equipe principal do Kispest dois anos depois de Bozsik. A mudança de nome veio em 1949, quando a equipe tornou-se do Exército. Até então mediana, o Honvéd tornou-se um dos mais fortes times do país, recebendo vários craques recrutados por Sebes, dentre eles Gyula Grosics, László Budai, Sándor Kocsis e Zoltán Czibor.

Os títulos que o Kispest nunca conquistara não demoraram a chegar após a transformação. Bozsik faturou os campeonatos húngaros em 1950, 1952, 1954 e 1955.

A primeira partida de Bozsik pela Hungria foi em 1947. O país, porém, decidiu não participar das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1950, juntamente com os demais comunistas do Leste Europeu, com exceção da Iugoslávia.

Cinco anos depois, Bozsik ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952 com a seleção. O Honvéd era a base do time, que no início da década de 1950 viveu uma invencibilidade ainda não igualada de 32 partidas.

A consagração definitiva ocorreu na Copa do Mundo de 1954: no ano anterior, a Hungria ganhou a Copa Dr. Gerö, precursora da atual Eurocopa, e bateu por 6 X 3 a Inglaterra em pleno Wembley, tornando-se a primeira seleção não-britânica a vencer os ingleses nos domínios deles.

A um mês do mundial, na revanche do English Team em Budapeste, a Hungria ampliou seu favoritismo, massacrando por 7 X 1.

A Seleção Magiar conseguiu fazer uma revolução tática no futebol da época, a qual dependia bastante de Bozsik, que dava o equilíbrio necessário no meio do campo. Era um dos responsáveis pela dinâmica do time. A maior parte das jogadas passava por ele, que tinha excelente saída de bola e sabia dar proteção à zaga, além de aparecer na frente como elemento surpresa.

Os húngaros chegaram até a final da Copa de 54, após uma campanha brilhante: na primeira fase, impuseram novos massacres: foram 9 X 0 na Coreia do Sul e 8 X 3 na Alemanha Ocidental.

Depois, nas quartas-de-final e semifinais, venceram por 4 X 2 as seleções que decidiram a Copa do Mundo anterior, Brasil e Uruguai. O jogo contra a Celeste foi o único em que ele não participou: contra os brasileiros, havia sido expulso juntamente com Nilton Santos, após ambos trocarem empurrões e pontapés, em uma partida tão marcada pela violência das duas equipes que ficou conhecida como "Batalha de Berna", em alusão também à cidade onde foi realizada a partida.

Ao ser indagado pelo árbitro da partida, o inglês Arthur Ellis, se havia sido suspenso posteriormente pela federação nacional, Bozsik respondeu desdenhosamente que "na Hungria, nós não prendemos deputados".

E ele realmente voltou ao time na final, onde novamente os húngaros enfrentaram a Alemanha Ocidental. Os magiares estavam certos de nova vitória e não se abalaram nem após os alemães empatarem aos 18 minutos do primeiro tempo a vitória parcial por 2 X 0 que a Hungria conseguira construir nos sete primeiros minutos, mesmo com o segundo gol alemão saindo após falta no goleiro Grosics.

Bastante autoconfiantes, os húngaros nunca protestavam contra a arbitragem, pois costumavam compensar eventuais erros dela com muitos gols.

Porém, não foi o que aconteceu. Os alemães impuseram uma marcação firme sobre o principal armador das jogadas húngaras, Nándor Hidegkuti, e souberam fechar-se na defesa.

A seis minutos do fim, em um contra-ataque, viraram a partida e conseguiram suportar a pressão húngara nos últimos minutos, em que um gol de Puskás chegou a ser anulado. A invencibilidade húngara caiu naquela partida, justo quando não podia.

Quatro anos depois, Bozsik disputou a Copa do Mundo de 1958 como um dos titulares remanescentes de 1954, ao lado de Gyula Grosics, László Budai e Nándor Hidegkuti.

A Hungria sentiu a decadência sofrida pelo Honvéd após a crise de 1956. Puskás, Czibor e Kocsis, justamente os três melhores jogadores do time, haviam preferido o exílio no futebol espanhol. Os húngaros, sem eles, já não eram considerados favoritos como antes.

Curiosamente, foi nesse ambiente que Bozsik marcou seu primeiro (e único) gol em Copas, na estreia contra o País de Gales. Porém os húngaros resolveram recuar para segurar o resultado, sofreram o empate e terminaram a partida sofrendo pressão galesa, algo inimaginável anos antes.

No jogo seguinte, a Hungria enfrentou a anfitriã Suécia. Bozsik foi escalado no meio-de-campo, em uma posição mais avançada. Ele fez o que pôde, armando jogadas para que o jovem Lajos Tichy desferisse seus chutes violentos, mas apenas um deles resultou em gol, enquanto os nórdicos fizeram dois e venceram.

A partir daquela partida, o técnico Lajos Baróti, para o espanto geral, decidira não escalar mais Bozsik e Hidegkuti juntos: Hidegkuti não jogou contra a Suécia, voltou contra o México (contra quem Bozsik não jogou) e novamente saiu para a volta de Bozsik no play-off, em que os magiares voltaram a enfrentar Gales.

Apesar da violência húngara, os britânicos conseguiram vencer de virada e desclassificaram prematuramente os vice-campeões mundiais.

Bozsik permaneceu fiel às cores do Honvéd e da Hungria, as únicas duas equipes de sua carreira. Já em 1962, despediu-se da equipe nacional pouco antes do Mundial do Chile, se tornando o segundo jogador da história a superar a marca de 100 partidas por uma seleção.

Ainda atuou como deputado, dirigente e técnico na Hungria. Transformou-se em autoridade no país que ajudou a dar projeção graças à seleção. Bozsic morreu ainda jovem, aos 52 anos vítima de um ataque cardíaco, em 31 de maio de 1978, em Budapest.

Tinha um sentimento, o de nunca mais ter visto os ex-companheiros de seleção que fugiram do país, inclusive o amigo Puskás. 


Em janeiro de 2015 morreu ao Norte de Budapeste, na avançada idade de 85 anos o lateral direito Jeno Buzanszky, último integrante da mítica seleção de futebol húngara da década de 1950, que ficou invicta por quatro anos.

Buzanszky nasceu em Újdombóvár em 3 de maio de 1925 e começou sua carreira aos 13 anos de idade em uma equipe de sua cidade natal. Depois, jogou nas equipes Pécsi VSK e Dorogi Bányász, pela qual fez 274 partidas na primeira liga húngara.

Entre 1950 e 1956, vestiu a camisa da seleção húngara em 49 ocasiões, e em 1952 ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Helsinque.

Buzanszky encerrou sua carreira ativa em 1960, quando começou a trabalhar como treinador de vários times em Dorog e Esztergom. Em 1993, foi eleito membro da direção da Federação Húngara de Futebol.

O ex-jogador foi internado no hospital de Esztergom em 12 de dezembro, onde foi operado. O estádio de Dorog, onde jogou entre 1947 e 1960, tem o nome de Buzanszky desde 2010. (Pesquisa: Nilo Dias)