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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A morte de um ídolo colorado

O futebol do Rio Grande do Sul perdeu no domingo, 31, um de seus maiores expoentes, Olávio Dorico Vieira, mais conhecido como “Vacaria”, lateral esquerdo que foi campeão brasileiro pelo S.C. Internacional, de Porto Alegre e destacado treinador em clubes do Sul e Centro Oeste do país. Era natural de Urussanga (SC), onde nasceu no dia 26 de janeiro de 1949, Estava com 67 anos quando morreu.

O óbito ocorreu em Canoas, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre onde morava. Vacaria estava em coma induzido desde a manhã de sábado e não resistiu.

O ex-jogador tinha um histórico de problemas de saúde. Em 2013, ele sofreu um AVC e foi internado em Santa Catarina. No ano passado, foi encontrado desacordado em casa pela família, diagnosticado com hepatite C e internado em Novo Hamburgo.

O velório do ídolo colorado ocorreu às 18h de sábado, no Cemitério Ecumênico de São Leopoldo. O sepultamento foi no mesmo local, às 16h do domingo.

Vacaria começou a carreira no time do Urussanga, de sua cidade natal, sem ganhar nada. Dali foi para o “Bota de Ouro”, de Vacaria, para jogar como ponta esquerda em troca do hotel e 10 cruzeiros por semana.

Era pouco, mas já era alguma coisa para quem tinha planos de um dia chegar em Porto Alegre. O Glória de Vacaria o contratou quando tinha apenas 16 anos. Com 18 anos, o jogador se tornou atleta profissional e rumou ao G.E.R. 14 de Julho, de Passo Fundo.

No time passofundense foi campeão da Série B gaúcha em 1968. Graças as suas boas atuações, chamou a atenção de outros clubes. Sempre teve qualidades de bom marcador e era dono de um poderoso chute de canhota, especialmente em bolas paradas.

Alguém podia pensar que ele nasceu em Vacaria ou tenha morado lá. Nada disso. O apelido veio de forma curiosa. Num treino do 14 de Julho, ele rebateu uma bola com tanta força que ela saiu do estádio, passando por cima da arquibancada. E um jogador, seu colega, não resistiu e disse em tom de gozação: “Essa bola foi parar lá em Vacaria" (a 190 km de Passo Fundo).

No ambiente de vestiário todo mundo tem que ter um apelido, então o pessoal começou a lhe chamar de Vacaria, pois havia jogado antes no Glória. O nome pegou e até hoje o carregou com muito orgulho, dizia.

No time de Passo Fundo trocou a ponta esquerda pela lateral esquerda. Eleito como o melhor lateral esquerdo do campeonato estadual de 1970, o técnico do Internacional, Daltro Menezes, mandou buscá-lo.

Em 1970 foi contratado pelo Internacional, de Porto Alegre. No time colorado Vacaria viveu seus melhores momentos como jogador de futebol. Mesmo se sagrando bicampeão gaúcho em 1970 e 1971, não se firmou como titular, tendo sido emprestado ao Figueirense, onde foi campeão catarinense em 1972. 

Em Santa Catarina, Vacaria se destacou, a ponto de chamar atenção de clubes de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1973 retornou ao Internacional, dessa vez para ser titular absoluto das equipes formadas por Dino Sani (1972-73) e depois por Rubens Minelli (1974-76).

E colecionou títulos. Sagrou-se novamente campeão gaúcho em 1973, 1974, 1975 e 1976, além de bicampeão brasileiro em 1975 e 1976, ao lado de monstros sagrados como Manga, Figueroa, Falcão, Carpegiani, Valdomiro e Lula.

Vacaria participou de todos os jogos da vitoriosa campanha de 1975, mas ficou fora da final contra o Cruzeiro, de Belo Horizonte, por causa de uma lesão. A conquista de 1975 é até hoje a de melhor desempenho de um clube na história do Campeonato Brasileiro, com 19 vitórias em 23 jogos disputados.

Com 1m75 e 71 kg, era definido de forma bem humorada por Falcão como um encurvado “Frango d’água”.

Em 1977 deixou novamente o Internacional, se transferindo para o Palmeiras, de São Paulo. No clube alviverde chegou novamente a final do Brasileiro em 1978, mas perdendo o título para o Guarani, de Campinas (SP), onde encerrou a carreira de atleta em 1980.

Conforme registros do Almanaque do Palmeiras, de autoria de Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Vacaria disputou 29 partidas pelo alviverde com 16 vitórias, 9 empates, 4 derrotas e 1 gol marcado.

A partir dai passou a trabalhar como treinador, dirigindo principalmente clubes do interior do Rio Grande do Sul. Mas, também dirigiu a categoria Júnior, do Internacional, ganhando o título estadual em 1988.

Fora do Estado treinou o Atlético Paranaense em 1993. Posteriormente ganhou o título catarinense de 1998 pelo Criciúma. Treinando o Avenida, de Santa Cruz do Sul foi campeão da Segundona Gaúcha, em 1999. Repetiu o feito em 2000, treinando o Novo Hamburgo, e em 2003, no Porto Alegre.

Depois do anilado hamburguês, Vacaria passou a treinar apenas clubes pequenos. Em janeiro de 2008 foi contratado pelo Sinop, que terminou o campeonato matogrossense em 12º lugar, entre 20 disputantes. Este foi seu último trabalho.

Atualmente, Vacaria trabalhava no setor de relacionamento social do Inter e participava dos eventos consulares do clube em várias cidades do Estado.

Títulos conquistados como jogador. 14 de Julho, de Passo Fundo. Campeonato Gaúcho da Série B (1968); Internacional. Campeonato Gaúcho (1970, 1971, 1973, 1974, 1975, 1976); Campeonato Brasileiro (1975 e 1976) e Figueirense. Campeonato Catarinense (1972).

Como treinador. Internacional. Campeonato Gaúcho Júnior (1988); Criciúma. Campeonato Catarinense (1998). Avenida. Campeonato Gaúcho da Divisão de Acesso (1999); Novo Hamburgo. Campeonato Gaúcho da Divisão de Acesso (2000) e Porto Alegre. Campeonato Gaúcho da Série B (2003).

No jogo contra o Corinthians, em que o Internacional perdeu por 1 X 0, o clube prestou homenagens ao ídolo. A morte de Vacaria estremeceu e entristeceu não apenas a comunidade colorada, mas seus ex-colegas de elenco no Inter dos anos 70.

Paulo César Carpegiani recordou com saudosismo as constantes brincadeiras do "querido" Vacaria nos vestiários do Estádio Beira-Rio. Disse lamentar profundamente sua morte. Para ele, Vacaria era uma pessoa magnífica dentro e fora de campo. Extrovertido, brincalhão, malandro. De uma picardia incrível.

Outro parceiro de Vacaria, Jair lembrou da alegria esbanjada pelo ex-colega em um jogo recente a que assistiram lado a lado no Beira-Rio. Tricampeão brasileiro, o “Princípe Jajá” ainda ressaltou a parceria do ex-lateral no ambiente do vestiário colorado.

“O Vacaria era uma grande pessoa, um coração grande. Rapaz que sempre colaborou, um cara que não complicava nada. Um cara fora de série. Infelizmente. Perdemos mais um companheiro, lamentavelmente as coisas acontecem. A vida é assim. Levou mais um dos nossos amigos, do grupo da época. A gente é obrigado a aceitar.

Mas o Vacaria, puxa vida, foi um cara que sempre lutou pelos objetivos da vida dele, para os companheiros. Parece que não cai a ficha. Ontem, ele estava lá, com a gente, brincando, conversando. Que que eu vou fazer? Ele vai para o céu. Cumpriu sua tarefa. Um cara do bem. Deus vai abraçá-lo”, disse.

Em seu Twitter, Elías Figueroa, mesmo de longe, no Chile, manifestou tristeza pela morte do "grande amigo". O chileno ainda pediu que Vacaria "voe alto". “Muito triste com o falecimento do meu grande amigo e companheiro. Voe alto, Vacaria. Que Deus te receba em seus braços”, escreveu. (Pesquisa: Nilo Dias)