Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Um grande nome do futebol caxiense

Em Caxias do Sul o nome de Osvaldo Valentim Palmiro Artico,é até hoje lembrado com respeito e até veneração. Ele esteve presente em momentos importantes da cidade, especialmente no futebol. Foi um dos fundadores do Sport Club Ideal, o primeiro time de futebol que se tem notícia em Caxias do Sul.

O Sport Clube Ideal foi fundado em 3 de outubro de 1910, por jovens amadores que praticavam o futebol de forma precária, sem um campo fixo e sem equipamentos, jogando com bolas de pano, laranjas ou bexigas de animais. Até mesmo seu uniforme era improvisado.

A situação era tão difícil que até mesmo os calções eram feitos de sacos de linhagem, que eram furados no fundo para os jogadores passarem as pernas. E depois eram amarrados com um pedaço de corda na barriga, como se usa nos pijamas.

O surgimento do Ideal deu-se em uma cidade conservadora onde até então os principais esportes eram o jogo de cartas, o jogo da mora e o jogo da bocha.

Osvaldo tinha o apelido de “Mirim”, para diferenciá-lo de seu avô, que tinha o mesmo nome. O apelido ele carregou por toda a vida. No Ideal destacou-se como um líder, tendo se envolvido em incontáveis brigas durante os jogos, coisa comum entre a meninada da época.

Nessas ocasiões costumava usar um cinturão de onde pendia pesada fivela de metal. Fora isso, era bem quisto por companheiros e adversários.

Com o tempo o Ideal foi crescendo, desenvolvendo outras atividades além do futebol, como "matinés dançantes" que atraíam os jovens de todos os cantos da cidade;

Nessas ocasiões a disciplina era bastante rígida, quase uma postura militar. Era proibido que os moços tocassem nas moças. A religião e a moral católica eram princípios fundamentais.

Mas nem por isso os escândalos não eram totalmente evitados. Uma coisa que nos dias de hoje nem chamaria atenção, era tratada como um desrespeito naqueles distantes anos. A presença de jogadores do Ideal com as pernas descobertas.

Também esteve presente na fundação do Esporte Clube Juventude, em 29 de junho de 1913, onde se destacou como atleta, capitão, diretor de departamentos e presidente. Ainda ajudou a fundar o Recreio da Juventude, um dos mais tradicionais clubes sociais de Caxias. Em 1938 foi secretário do Recreio Guarany.
Osvaldo foi jogador titular do Juventude desde a primeira partida, atuando como centromédio. O clube era formado basicamente por adultos, e para criar um quadro de juniores Osvaldo propôs ao Ideal se fundir ao Juventude.

Mas a ideia não foi bem aceita, ao contrário, provocando uma cisão. Metade gostou, mas a outra metade, não, preferindo aderir ao Clube Juvenil, fundando o seu Departamento de Futebol.

Com a fusão, Osvaldo foi designado capitão-instrutor dos Juniores. Em 1915, atuou como diretor de Campo do Juventude. Em 1917 foi presidente, e jogador ao mesmo tempo, sendo o capitão em 1917 e 1918.

O historiador do Juventude, Michielin, descreveu Osvaldo como um dos "imortais" do clube. E lembrou de um jogo contra o Cruzeiro, disputado em 1918, em, que classificou a atuação de Osvaldo como "fantástica".

Ainda recordou de uma partida frente o 14 de Julho, de Santana do Livramento, em 1919: "Osvaldo Artico, depois de sete temporadas seguidas, está no auge de sua classe, jogando com uma gana incrível. Sua raça é indomável, não há “leão” que o assuste.

Toma conta do campo e marca o terceiro e quarto tentos. No placar, Juventude 4 X 1. É uma loucura". A referência ao “leão” é uma alusão ao 14 de Julho, chamado “Leão da Fronteira”, que se encontrava invicto até enfrentar o time caxiense. A partir dessa vitória histórica, o Juventude passou a ser chamado pela imprensa da capital de “Tigre da Serra".

Osvaldo Artico ainda ocupou várias outras funções no Juventude, deixando uma importante marca na história do clube. Em 1924 esteve no Conselho Fiscal; em 1931 ocupou a Presidência pela segunda vez; em 1933 e 1934 integrou o Conselho Técnico; em 1935 e 1936 foi capitão-geral; e em 1938 foi diretor técnico.

Sua atuação no futebol não se limitou ao Ideal e ao Juventude. Em 1934 foi um dos fundadores e primeiro presidente da Liga Interna Caxiense de Foot-Ball, depois renomeada Liga Esportiva Caxiense.

Fora do futebol foi comerciante e político. Teve elogiada atuação como sub-prefeito do distrito de São Marcos, em 1939 e 1940, onde também foi um dos fundadores da Associação Rural, um dos fundadores e dirigente do Tiro de Guerra 248, com a patente de capitão, um dos fundadores e primeiro vice-presidente da seção local da Liga de Defesa Nacional, um dos fundadores do Diretório Municipal de Geografia de Caxias e do Grêmio Americano, de quem foi o primeiro presidente honorário.

Foi reconduzido ao cargo em 1941 e 1942. Depois transferiu-se para o distrito de Ana Rech, onde foi sub-prefeito em 1948. Em 1976 a Prefeitura de Caxias honrou sua memória batizando uma rua com seu nome.

Osvaldo Artico descendia de uma antiga família da nobreza italiana, que habitava a região compreendida entre o Friuli e o Vêneto. Depois, um ramo familiar mudou-se para Ceneda. E foi lá, em 1845, que nasceu o avô de Osvaldo, também de nome Osvaldo.

Ele casou com Magdalena de Nadai, foi militar e oficial de Giuseppe Garibaldi, lutando no “Risorgimento” italiano. Em 1879 decidiu emigrar para o Brasil, indo para Caxias do Sul, não se sabe por quais razões.

Em terras gaúchas, participou dos trabalhos de fundação de Caxias do Sul. Trabalhou como professor, ferreiro e foi dono de uma bodega, além de membro da Comissão de Obras da primeira Igreja Matriz e um dos fundadores da Sociedade Príncipe de Nápoles.

Foi por iniciativa dele que a cidade ganhou a primeira fábrica de fogões a lenha. Depois tornou-se industrial do vinho. Faleceuo em 1909 em confortável situação financeira e prestigiado socialmente. Seu sepultamento foi um dos mais concorridos da época. Deixou seis filhos: Antônio, Augusto, José, João, Celestina e Maria.

Os negócios do avô Osvaldo tiveram continuidade, com Augusto tomando conta da ferraria. Antônio, casado com Teresa Segalla, e pai de Osvaldo (“Mirim”) assumiu a direção da cantina e a ampliou significativamente, exportando 10 mil barris de vinho por ano e tendo seu produto premiado.

Antônio esteve ainda ligado a política, sendo dirigente do Partido Republicano Rio-Grandense, e membro da Diretoria da Associação dos Comerciantes. Em 1921 o negócio da cantina faliu, e Antônio abriu um pequeno hotel com restaurante, onde organizava banquetes de encomenda.

Morreu no dia 6 de março de 1936. Com Teresa teve o filho Osvaldo e as filhas Ilda, falecida na infância, Irma, Norma, Graciema e Rina.

Osvaldo foi casado com Erci Sturtz. Seus filhos Ervaldo e Juarez também permaneceram ligados ao Juventude. Ervaldo foi jogador, conhecido pelo apelido de “Nenê”. Juarez também jogou e depois passou por funções administrativas, chegando a ser diretor administrativo, diretor dos juniores, vice-presidente de futebol e presidente do Conselho Deliberativo. (Pesquisa: Nilo Dias)

Osvaldo Artico. (Foto: "Wikipedia)

Osvaldo fez parte da primeira equipe da história do Juventude. (Foto: "Wikipedia)