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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Tragédias do futebol

Foram muitas as tragédias verificadas em estádios de futebol no decorrer dos anos. A maior delas até hoje envolveu um jogo entre Peru X Argentina, pelas eliminatórias da Copa do Mundo , no Estádio Nacional de Lima.

O jogo se transformou no motim oficial de futebol mais mortal da história. Depois de um gol do Peru ser anulado pelos árbitros, os torcedores ficaram violentos, o que levou a polícia a intervir com gás lacrimogêneo para tentar dominar a revolta. No final, 318 pessoas morreram, ao tentarem escapar da cena pelas saídas do estádio que estavam fechadas.

Num jogo entre as equipes do Accra Hearts of Oak, de Acra, contra o Assante Kotoko, de Kumasi, clubes de Gana, disputado no  Estádio Accra, em maio de 2001, ocasionou a morte de mais de 120 pessoas.

No final do jogo a torcida do Assante Kotoko, que perdia por 2 X 1,  começou a atirar garrafas e outros objetos no campo. A polícia respondeu jogando bombas de gás lacrimogêneo. O pânico tomou conta e aconteceu um tumulto que ocasionou as mortes. Essa foi a quarta tragédia fatal relacionada a futebol em solo africano em um mês.

Nem todas as catástrofes esportivas são causadas por torcedores. Em 1988, quando começou a cair granizo durante uma partida no estádio nacional de futebol em Katamandu, Nepal, os torcedores correram em busca das saídas para evitar serem apedrejados.

Das oito saídas disponíveis, a multidão de 30 mil pessoas só pode acessar uma para escapar, resultando na morte de 93 torcedores por sufocamento ou esmagamento.

Em 1996, a partida de qualificação para a Copa do Mundo entre Guatemala e Costa Rica se tornou mortal depois que milhares de torcedores que haviam comprado ingressos falsos tentaram forçar a entrada ao estádio na Cidade da Guatemala.

Sem nenhum lugar para ir, e cercadas por torcedores raivosos que se tornaram violentos, cerca de 80 pessoas foram sufocadas ou esmagadas até a morte no tumulto.

Em fevereiro de 2012 o que deveria ter sido um jogo de futebol normal em Port Said, no Egito, entre o time local Al-Masry e o Al Ahli, do Cairo, acabou em desastre, depois de uma briga que tirou a vida de mais de 70 pessoas e feriu pelo menos mais 1.000.

A tragédia abalou a nação politicamente frágil, que culpou pelo tumulto o governo, as forças de segurança, o conselho da federação de futebol e os próprios torcedores. Revoltas no futebol do Egito estão entre as mais violentas da história.

Nos momentos finais de um jogo entre o FC Spartek e o HFC Haarlem, no Estádio Luzhniki, na Rússia, em 1982, os torcedores que estavam amontoados em uma seção do estádio com saída única devido a uma frequência menor do que a esperada, começaram a deixar o local com a vitória de 1 X 0 de seu time.

Quando a equipe do Spartek marcou o segundo gol, alguns torcedores tentaram voltar para o jogo, sem espaço para tanto. A emoção do gol, a estreiteza da saída e a falta de visibilidade da via do estádio para o exterior criaram uma situação de pânico em que até 340 pessoas teriam morrido (embora o número oficial de mortes permaneça em 60 e poucas), de acordo com o The Guardian.

Em 1985, no Estádio Heysel, na  Bélgica, o jogo final da Taça dos Campeões Europeus entre Juventus e Liverpool causou tantos danos que, na sequência, os clubes ingleses de futebol foram proibidos de competir na Europa continental por pelo menos cinco anos.

A tragédia começou quando fanáticos torcedores de futebol britânicos tentaram forçar seu caminho para a área do estádio onde se situava a torcida italiana, antes do apito inicial. Ambos os lados já haviam assediado um ao outro atirando projéteis no campo.

Quando os torcedores britânicos atacaram, os do Juventus foram encurralados contra um muro de concreto. Alguns tentaram escalar o muro para fugir, enquanto outros foram esmagados. O muro finalmente desmoronou sob a força dos torcedores.

No final, 39 pessoas morreram, além de ocorrerem cerca de 600 lesões corporais. As equipes ainda entraram em campo, apesar da tragédia, com o Juventus saindo à frente do Liverpool com um resultado de 1 X 0.

Também vale a pena lembrar de mortes trágicas ocorridas em campos de futebol, envolvendo jogadores e outras pessoas com algum relacionamento nos jogos.

As mortes de Marc Vivien Foe, Miklos Feher, Antônio Puerta, Serginho e Piermario Morosini provocaram discussões em torno do tema e trouxeram imagens terríveis para todos os torcedores.

Em 1985, o coração de Jock Stein, treinador irlandês, não aguentou a emoção da partida de sua seleção contra o País de Gales, na rodada final das Eliminatórias da Copa, e parou de bater ainda no estádio Ninian Park, em Cardiff.

A primeira morte que se tem notícia acontecida devido a acidentes no gramado foi a de William Cropper, em 1889. Ele, que atuava pelo Staveley e também jogava cricket, colidiu com o joelho de Dan Doyle, jogador do Grimsby Town. A colisão resultou em uma ruptura intestinal e o jogador morreu ainda nos vestiários, nos braços de um companheiro de equipe.

Ainda nos primórdios do futebol, alguns jogadores morreram de uma forma inusitada: contraindo tétano. Foi o caso de James “Daddy” Dunlop, que em 1892 pisou em um pedaço de vidro.

Outros jogadores lesionaram-se durante partidas e devido às lesões contraíram tétano que os vitimou. Foi o que aconteceu com Joe Powell (1896), James Collins (1900) e Tom Butler (1923).

Essa morte não foi durante a partida, mas foi no centro do gramado do Estádio Parque Central, em Montevidéu, local onde foi disputada uma das duas partidas inaugurais da Copa do Mundo de 1930, entre EUA e Bélgica.

Abdón Porte era um meio-campista talentoso, que venceu a Copa América de 1917, com o Uruguai. No ano seguinte, ele seria reserva do Nacional, clube em que jogava, mas não aceitou a notícia de forma feliz.

Após uma vitória sobre o Charley, em 4 de março de 1918, jogadores e dirigente se reuniram na sede do clube para comemorar a vitória. Porte foi até o Parque Central, chegou ao círculo central do gramado e atirou contra seu coração, tirando a própria vida.

Diversos atletas foram vitimados por raios durante partidas. O primeiro caso que se tem notícia foi o de Tony Allden, do Highgate United, durante um jogo das quartas de final da FA Cup de amadores, contra o Enfield Town.

Em 1984, Erik Jongbloed, filho de Jan Jongbloed, goleiro vice-campeão mundial em 1974 e 1978, teve o mesmo fim, assim como os colombianos Hernán Gaviria (que disputou a Copa de 1994) e Giovanni Córdoba, ambos do Deportivo Cali, em treinamento da equipe no ano de 2002.

Em 1998, uma curiosa notícia surgiu em um jornal da República do Congo, o L’Avenir, e repercutiu no mundo todo, inclusive em sites como a BBC e a CNN. Então, acredita-se que tenha realmente acontecido. Como havia uma guerra civil no leste do país, onde aconteceu a partida, não há confirmação oficial do fato.

Em uma partida entre as equipes do Bena Tshadi e Basanga, um raio teria matado todos os 11 jogadores do Tshadi. Porém, a nota original do jornal fala em “pelo menos 11 mortos, entre 20 e 35 anos, durante o jogo” e ainda que “os atletas do Basanga sobreviveram à catástrofe intactos”.

Portanto, diferente do que sempre foi publicado na mídia, pode sim ter havido mortos do Bena Tshadi, mas aparentemente nos 11 mortos havia também expectadores. Cerca de 30 outros expectadores foram atendidos também.

Sempre se diz que o pênalti é a pena máxima do futebol. No caso de um goleiro argentino, essa também foi sua pena fatal.

Em 24 de abril de 1992, Vicente Vásquez, goleiro do Chacarita Garuhapé, tinha contra ele um pênalti em uma liga local argentina. Vásquez acertou o canto e defendeu a penalidade, com a bola batendo em seu peito.

Porém, o arqueiro nunca conseguiu comemorar. Seu coração não deixou, e Vásquez faleceu em campo, vitimado por uma parada cardiorrespiratória.

Se já falamos em defesa de pênalti, temos que falar também da emoção do gol. Ao marcar contra o Mohun Bagan, o brasileiro Cristiano Júnior, do indiano Dempo Sports, levou uma forte pancada do goleiro adversário Subrata Paul.

Seu time venceu o jogo e conquistou a Copa da Federação de 2004 (2×0), mas Cristiano perdeu a vida ainda em campo. A autópsia apontou um ataque cardíaco. O goleiro adversário, responsável pelo choque, foi suspenso por apenas dois meses.

O croata Goran Tunjíc, do Mladost Buzin, sofreu um infarto e caiu morto no gramado na partida contra o Hrvatski Sokola, em 2010, em campeonato de quinto nível do futebol local.

Trata-se de mais um caso trágico, mas que não se destacaria das outras, não fosse por um pequeno detalhe: o árbitro da partida teria dado cartão amarelo ao jogador, quando este já estava praticamente morto, por simulação.

Essa é a história oficial. Alguns repórteres foram tentar confirmar a informação no clube alguns dias depois do ocorrido e os dirigentes informaram que o lance se deu longe do árbitro e que o cartão não teria sido mostrado. De qualquer forma, a história entra na lista das mais curiosas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Na tragédia do Egito, familiares buscavam notícias. (Foto: Revista "Veja")