Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 25 de março de 2018

Uma goleada para não ser esquecida

Imprensáveis 16 X 0 foi a goleada que o Internacional aplicou no Nacional, clube já extinto de Porto Alegrem, no distante dia 11 de agosto de 1912. O jogo foi válido pelo também já extinto Campeonato Municipal de Porto Alegre.

O Internacional buscava conquistar seu primeiro título de campeão da cidade, que não veio naquele ano, enquanto o Nacional ocupava a lanterna da competição, já tendo sofrido antes outros escores humilhantes: 6 X 0 do 7 de Setembro, 7 X 0 do próprio Internacional e 8 X 0 do Grêmio.

O Campeonato Municiopal de 1912 foi o primeiro a ter dois turnos. Esse jogo marcou a primeira rodada do returno. Como curiosidade, o Nacional havia sido fundado em 7 de agosto de 1909, sendo um dos fundadores da Liga de Foot-Ball Porto-Alegrense. 

As suas cores eram preto e branco e o escudo formado por uma chuteira tendo por cima uma bola e as iniciais SCN na extremidade. Seu campo ficava no arrabalde do Partenon, e por ser considerado muito distante, não era usado no campeonato. Por isso, seus jogos eram realizados na Baixada gremista.

No jogo dos 16 gols, o Internacional formou com Silla - Ávila e Scabillon. Flores - Kluwe e Pedro Chaves. Túlio - Galvão - Ribas - Lemos e Vares. O presidente do Internacional era Antenor Lemos.

O Nacional, apesar do nome, demonstrava em sua escalação forte influência alemã e italiana: Cabrera - Burgard e Frölich. Vieroski - Adolfo e Pedro. Dami - Vinhas - Júlio Grunewald - Alcides e Bagetta.

Claro que todo o mundo esperava uma vitória fácil do Internacional, que no primeiro turno já havia aplicado 7 X 0. Mas as expecctativas foram superadas em muito. O primeiro tempo terminou com o plcar em 7 X 0.

No segundo tempo foi bem pior. Mais nove gols, somando 16 X 0. Foi a primeira vez que o Internacional chegou a um placar de dois digitos. Lembro de outra vez, 14 X 0 no Ferro Carril, de Uruguaiana.

Os gols colorados foram marcados por Vares (4), Galvão (4), Pedro Chaves (3), Túlio (3), Kluwe e Scabillon. O Internacional estabelecia ali, em sua 23ª partida, um recorde que persiste até hoje.

Depois do jogo o Nacional entrou em uma crise sem volta. Duas semanas depois, levou 23 X 0 do Grêmio, também a maior goleada da história do rival. No final da temporada, o clube fechou suas portas para sempre.


O Sport Club Nacional foi fundado no dia 7 de agosto de 1909, no Bairro Partenon. O clube foi um dos fundadores da Liga Porto Alegrense de Foot-Ball (LPAF) em 1910, juntamente com 7 de Setembro, Grêmio, Internacional, Militar, Fussball e Frisch Auf.

Depois teve um outro Nacional, chamado de "Ferrinho", que não teve nada a ver com o time "saco de pancadaria". O Nacional foi fundado no dia 19 de setembro de 1937, como Departamento Desportivo da Viação Ferrea, por funcionários da Rede Ferroviária de Porto Alegre. Passou a se chamar Nacional Atlético Clube a partir de 1940.

Seu primeiro estádio foi o campo da Rua Arlindo. Com a má situação financeira do Fussball Club Porto Alegre, o Nacional adquiriu o Estádio da Chácara das Camélias por 178 mil cruzeiros, em 1942. O clube, que tinha as cores vermelha e preta, encerrou suas atividades em 1959, um ano após que outros clubes tradicionais da cidade, Renner e Força e Luz.

Uma curiosidade. Scabillon, que marcou um dos gols na goleada colorada de 16 X 0,  estreiou no Internacional nesse jogo. Atuou quatro vezes pelo Internacional. O zagueiro uruguaio no ano seguinte foi jogar em Bagé e acabou assassinado no dia 29 de outubro de 1913, naquela cidade, por Satyro Bittencourt, jogador do Guarany local. Sátiro jogou no Internacional em 1915. 

Outra curiosidade. Álvaro Ribas, ponteiro-esquerdo e um dos principais jogadores colorados foi esfaqueado pelo torcedor gremista, Manoel Costa, funcionário da Empresa Telefônica Rio-Grandense, durante a primeira briga que se tem conhecimento na história do clássico Gre-Nal. 

Foi no clássico de número 11, realizado no dia 4 de agosto de 1918, na Baixada. E Ribas, que levou uma facada de 15 centimetros no quadril direito, passou duas semanas hospitalizado e nunca mais conseguiu jogar.


O Grêmio vencia por 1 X 0, até os 43 minutos do primeiro tempo, quando estourou a primeira grande briga no clássico, após nove anos de sua primeira edição. 

Time do Internacional na goleada de 16 X 0, sobre o Nacional.

sexta-feira, 23 de março de 2018

O jogo que não existiu

Em 1973, o golpe militar que empossou a ditadura de Augusto Pinochet rompeu as relações entre o Chile e a União Soviética. O fato mudou os rumos da Copa de 1974 e transformou o Estádio Nacional de Santiago em um vergonhoso túmulo da história moderna.

Para entender como se chegou a esse estado de coisas é preciso percorrer os caminhos da história e voltar ao passado, até às décadas de 1960 até 1980, época em que os Estados Unidos incentivavam golpes civis-militares na América do Sul, impedindo com isso a escalada comunista.

Em 3 de março de 1964 aconteceu o golpe civil militar no Brasil. O mesmo veio a ocorrer no Chile, em 11 de setembro de 1973, com ascensão do general Pinochet ao poder. O “governo” incentivou o futebol, pois o povo assustado e inseguro, não conseguia viver sem pão e circo.

O problema é que o Chile não havia se classificado nas eliminatórias para a Copa de 1974. E nem a União Soviética (URSS). Foi ai que entrou em ação a FIFA, que resolveu fazer uma repescagem entre os dois países, para admitir um 16º participante na Copa, que até então contava com apenas 15 classificados. E marcou dois jogos, ida e volta.

Sem imaginar que ocorreriam mudanças tão drásticas no panorama político do país, a Federação Chilena de Futebol programou uma série de jogos preparatórios a caminho de Moscou e reservou as passagens aéreas dos jogadores para a noite de 11 de setembro.

Naquele mesmo dia, Salvador Allende morreu dentro do palácio presidencial, obrigando o Chile a largar a mão esquerda soviética e agarrar a mão direita norte-americana, tudo em um piscar de olhos.

Com Pinochet no poder, a URSS passou de principal aliada do Chile à pior inimigo. Pinochet não queria que o jogo se realizasse, mesmo que isso representasse ficar fora do Mundial.

Mas o general acabou convencido e autorizou a viagem, porque ir à Copa seria bom “para o esporte chileno” e, caso o time tivesse uma atuação digna, também seria bom “para a imagem internacional do novo governo e uma alegria para o povo”.

No dia 26 de setembro de 1973, 15 dias depois do golpe civil militar, o Chile conseguiu um empate de 0 X 0 no "Estádio Lenin", em Moscou, diante de 60 mil pessoas que compareceram para vaiar os “novos capitalistas” da América do Sul. Não existe nenhum registro audiovisual daquele jogo.  

Antes da partida, as coisas em Moscou não foram nada fáceis para os chilenos, na maioria esquerdistas. Mas os soviéticos não se importavam com isso. Para eles, a delegação se identificava com Pinochet, então deveria ser tratada de acordo.

Os chilenos passaram dias concentrados no Hotel Ucrânia, onde passaram por situações desagradáveis. A comida não era a que pediam; o ônibus nunca chegava na hora nem mesmo no dia em que foram reconhecer o campo.

Quando chegaram, o estádio já estava fechado. Os jogadores tiveram de pular o muro para treinar, disse o dirigente chileno Alfredo Asfura. Os atletas Alberto Quintano e Pedro Fornazzari viajaram via México, pois lá atuavam. Mas como chegaram três horas antes que o restante da delegação, foram obrigados a esperar sentados no chão do aeroporto, na sala da KGB.

O ponta-esquerda Leonardo Veliz relatou que em Moscou foi abordado na rua por um estudante chileno da "Universidade Lumumba", filho de um comunista. E disse a ele para esquecer de voltar ao Chile, porque o fato de ter morado na URSS seria um perigo para sua integridade. Veliz acha que salvou uma vida.

Os jogadores chilenos lembram que a atuação do juiz brasileiro Armando Marques foi importante, porque ele não se deixou influenciar pelo ambiente hostil ou pelas vaias.

O zagueiro Elias Figueroa, que na época jogava pelo Internacional, de Porto Alegre, declarou: “Como eu já falava um pouco de português, aproveitei para lhe dizer algumas coisas, criar clima favorável. E embora diga que não, eu sei que ele deixou passar várias faltas, como a que cometi no atacante Andreassian”.

Marques, já falecido, não gostava de relembrar a partida, garantindo que só fez seu trabalho. Hugo Gasc, único jornalista chileno que esteve em Moscou naquele dia, disse que o juiz foi decisivo, porque era um anticomunista raivoso. Marques detestava o regime comunista.

Descontente com os rumos fascistas direitistas da política chilena, fascismo, com cor esquerdista, que foi praticado também por Lenin na terra dos czares, a URSS comunicou oficialmente à FIFA que não iria jogar a segunda partida, marcada para 21 de novembro de 1973, no Estádio Nacional de Santiago. Dias após o primeiro jogo, a União Soviética rompeu relações diplomáticas com o Chile e a embaixada foi desconectada.

Os soviéticos sabiam que o Estádio Nacional, em Santiago, havia se transformado em um campo de concentração de trabalhos forçados ao estilo do regime nazista.

Alguns detentos daquele tempo até hoje lembram que durante a noite sempre morria alguém, fosse fuzilado pelos carabineiros de Pinochet, fosse por suicídio. Praticamente todos que para lá eram mandados acabavam também torturados.

Guitarristas supostamente tiveram seus dedos quebrados e foram forçados a tocar seus instrumentos. Os veículos do exército explodiam a música dos "Beatles" e dos "Rolling Stones" no volume máximo para abafar os gritos dos detidos.

Victor Jara, o cantor e ativista icônico foi preso, torturado e executado logo após o golpe. A morte de Pablo Neruda, embora causada por câncer e não pelo regime, tornou-se ainda mais traumática devido ao fato de que Pinochet se recusou a permitir um enterro público. O funeral foi um assunto silenciado, mas milhares de chilenos desafiaram as autoridades e encheram as ruas de luto.

Estima-se que mais de 40 mil pessoas passaram algum tempo no estádio; entre 11 de setembro e 7 de novembro, 12 mil pessoas foram internadas lá.

Assim sendo, as notícias do que acontecia no estádio correram rápido pelo mundo. Ao mesmo tempo em que surgiam as dúvidas sobre se o local da partida seria mesmo aquele, os militares confirmavam o evento, enquanto cuidavam do gramado melhor do que tratavam qualquer detento.

Francisco Fluxá, presidente da Federação Chilena de Futebol, ainda sem a confirmação da partida pela FIFA, sugeriu que o jogo fosse realizado em Viña del Mar. O tirano Pinochet não concordou. Seu plano era fingir estabilidade e normalidade, sobretudo na capital Santiago.

Aos poucos, o governo chileno esvaziou o estádio, transferindo os prisioneiros para outros lugares de reclusão, especialmente no campo inaugurado na abandonada “Salitrera Chacabuco”, a 100 km de Antofagasta.

Por fim, 48 horas antes do jogo, a arena do Estádio Nacional, onde o Brasil havia se consagrado bicampeão mundial em 1962, estava pronta para a maior farsa da história das Eliminatórias das Copas.

Embora a FIFA tenha no dia 17 de novembro informado oficialmente que a URSS não disputaria o jogo, este foi confirmado por determinação de Pinochet, que achava que a não realização geraria grande prejuízo para o seu prestigio.

Como o regime era ditatorial, a imprensa teve de ficar calada. E o povo na sua ignorância e mediocridade não ficou sabendo a verdade. Tudo parecia indicar que o jogo seria realizado e valeria a classificação para a Copa. Os jogadores chilenos até concentraram na véspera, 20 de novembro.

O que se viu foi um jogo fantasmagórico, uma peça de ficção. Um verdadeiro Teatro do Absurdo foi instalado. O povo, no entanto, acreditava no ditador. Pinochet, que insistia na palhaçada. No horário anunciado pelo regime militar, o Estádio Nacional foi aberto. O povo não foi em massa, apenas 15 mil ingressos vendidos. Até um árbitro foi escalado.

O show daquela jornada, batizado mais tarde pela imprensa chilena como “o gol mais triste do Chile”, começou com o som de bandas militares para entreter os pagantes.

E o que se viu a partir daí foi o mais indecoroso espetáculo do futebol. O árbitro apitou e a equipe chilena avançou contra o gol do “adversário fantasma”.

O juiz (chileno) Rafael Ormazábal apitou o início do jogo: Valdes saiu com Caszely, que tocou para Véliz, que passou para Páez. Este devolveu para Caszely e, conforme combinado no vestiário, o camisa 9 entregou a bola ao capitão Francisco “Chamaco” Valdes, que encarou o gol vazio e converteu.

Gol de Pinochet. Como não havia nenhum soviético em campo para reiniciar a partida, o árbitro decretou o fim do jogo, com vitória para o Chile por 1 X 0.

Para agradar ainda mais o povo presente, o Santos F.C., sem Pelé, foi contratado previamente, por uma cota de 30 mil dólares, entrou em campo e mandou 5 X 0 no time chileno totalmente despersonalizado e psicologicamente desmoronado.

Na Copa de 1974, o Chile não ganhou nenhum jogo: perdeu um e empatou dois. No 0 X 0 contra a Austrália, um grupo de chilenos invadiu o campo para protestar contra Pinochet.

Os protestos persistem até hoje em todos os dias 11 de setembro, quando o povo chileno se divide entre os que choram seus desaparecidos e os que ainda defendem a memória do velho ditador.

Essa encenação ridícula de 21 de novembro de 1973 entrou para a história como uma das noites mais tristes da história do futebol, onde o esporte serviu aos interesses partidários para silenciar a voz das vítimas.

Uma placa, para registrar o "Teatro do Absurdo" foi colocada no Estádio, depois da redemocratização do país. Ela diz: “O povo sem memória é um povo sem futuro”. (Pesquisa: Nilo Dias)



terça-feira, 13 de março de 2018

A morte de Bebeto de Freitas

Paulo Roberto de Freitas, mais conhecido como Bebeto de Freitas, morreu hoje, aos 68 anos de idade, depois de sofrer um infarto fulminante, durante a apresentação do time de futebol americano do Atlético Mineiro, onde trabalhava como diretor de Administração e Controle. O evento acontecia na "Cidadedo Galo", em Vespasiano (MG)u

Um helicóptero e duas ambulâncias foram acionadas pelo Atlético para fazer atendimento ao dirigente, mas não chegou a levá-lo para o hospital. Tratava-se de uma das figuras-chave na transformação e identidade tática e técnica que o voleibol brasileiro adquiriu a partir do início dos anos 80, quando passou a dirigir a seleção masculina.

Também foi jogador e treinador de voleibol e presidiu o Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro entre 2003 e 2008, além de ter sido diretor-executivo do Clube Atlético Mineiro.

Bebeto de Freitas era carioca, tendo nascido na cidade do Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1950. Era sobrinho do saudoso jornalista e treinador de futebol João Saldanha e primo por parte de mãe do jogador de futebol Heleno de Freitas.

Bebeto foi um importante jogador de vôlei do Botafogo, tendo sido campeão carioca por 11 vezes consecutivas, de 1965 até 1975. Vestiu a camisa da Seleção Brasileira durante os Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal.

Depois de sair das quadras como atleta, tornou-se um dos mais respeitados treinadores de voleibol do mundo. Começou a nova carreira dirigindo a equipe de voleibol da Escola Naval, no período de 1981 a 1984.

Ele foi o responsável pela formação e orientação da consagrada “Geração de Prata” do voleibol masculino brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles e também nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul.

De 1990 a 1995 teve uma passagem de enorme sucesso no voleibol italiano, dirigindo o time do “Maxicono Parma”, atual “Pallavolo Parma”, quando conquistou nada menos do que cinco títulos de Campeão Italiano, nas temporadas de 1991-1992 e 1992-1993, Copa Itália 1991-1992 e Copa CEV 1991-1992 e 1994-1995.

Em razão desse sucesso acabou como treinador da Seleção Italiana em 1997 e 1998, conquistando os títulos de campeão da “Liga Mundial de Voleibol”, de 1997, em Moscou e do “Mundial de Voleibol Masculino”, de 1998, enfrentando no jogo final a Iugoslávia, em Tóquio, com vitória de 3 sets a 0.

Ao deixar o voleibol, Bebeto de Freitas tornou-se manager do Clube Atlético Mineiro, entre 1999 e 2001, quando da gestão do então presidente Nélio Brant.  Durante estas duas passagens, o clube obteve resultados expressivos. Foi Campeão Mineiro e Vice-Campeão brasileiro em 1999 e chegou ao quarto lugar no Campeonato Brasileiro de 2001.

Em 2002 deixou o clube mineiro para trabalhar no Botafogo carioca, de quem era torcedor. Primeiro, como diretor. Em poucos meses pediu afastamento, pois na condição de funcionário não poderia se candidatar ao cargo de presidente. E ainda por discordar da gestão do então presidente Mauro Ney Palmeiro.

Ele foi eleito para um mandato não remunerado inicial de três anos, entre 2003 e 2005, ocasião em que começou um processo de reestruturação do clube. Sua direção teve como marco importante, a volta do time de futebol à primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Pelo Botafogo foi campeão da “Taça Guanabara”, do “Campeonato Carioca”, de 2006, e da “Taça Rio”, de 2007 e 2008. Além disso, venceu também títulos em diversas categorias amadoras, tais como polo aquático, basquetebol, voleibol e natação.

Bebeto teve participação decisiva na luta pela aprovação da “Timemania”, que se esperava poder solucionar parte das dívidas do clube. Foi em sua gestão que o alvinegro - a partir da empresa criada por ele, a Cia. Botafogo - conquistou a concessão do “Estádio Olímpico João Havelange”, em 2007.

Ao término da “Taça Guanabara”, de 2008, revoltado com a arbitragem, chegou a pedir licenciamento do cargo de presidente, dizendo que "não aguentava mais as coisas que aconteciam no futebol".

No entanto, como sua renúncia foi somente verbal, dias depois voltou atrás e permaneceu à frente do clube até dezembro daquele ano, quando seu mandato se encerrava, sem possibilidades de reeleição.

Em 2009, a convite de Alexandre Kalil, que desta vez fora eleito presidente do “Galo”, Bebeto de Freitas assumiu o cargo de diretor-executivo remunerado do clube.

Em 2016, Alexandre Kalil foi eleito prefeito de Belo Horizonte, e Bebeto convidado a ser o “Secretário Municipal de Esportes e Lazer”. No comando da pasta, criou o programa "A Savassi é da gente", com eventos que fechavam a Praça Diogo de Vasconcelos aos carros, e abria para atividades esportivas de lazer e convivência aos domingos.

Comandou a pasta de 1 de janeiro de 2017 a 6 de janeiro de 2018, quando voltou ao Atlético Mineiro, a convite do presidente Sérgio Sette Câmara, para assumir o recém criado cargo de Diretor de Administração e Controle.

Atual treinador da seleção masculina de voleibol, Renan Dal Zotto demonstrou toda a sua tristeza com o falecimento do amigo, com quem jogou, foi treinador e trabalhou lado a lado. Disse que é um momento bastante triste para todos nós do voleibol. 

Renan teve a oportunidade de jogar na década de 70 com ele, de ser treinado por ele na geração de prata e trabalharam juntos anos depois. "Bebeto teve uma história muito grande no esporte, foi um grande amigo. É uma notícia difícil de acreditar. Ele está dentro dos nossos corações", disse o técnico em entrevista ao programa “Seleção Sportv”.

Bernardinho, ex-técnico vitorioso da Seleção Brasileira disse que o voleibol é o que é hoje porque teve precursores como Bebeto. Lembrou que aos 15 anos de idade começou a conviver com ele. Na primeira seleção carioca que Bebeto dirigiu, Bernardinho era o capitão do time.

Já o ex-atleta Zé Roberto disse: “Vai ficar uma grande saudade, uma saudade de alguém que marcou a vida de vários jogadores, treinadores. O mundo inteiro vai sentir falta”.

Os jornais italianos repercutiram a morte de Bebeto: “O mundo do vôlei chora a morte de Bebeto”, destacou o “Corriere dello sport”.

Outros jogadores também lamentaram a morte de Bebeto nas redes sociais, como Giba e Nalbert. A Confederação Brasileira de Vôlei, em nota, lamentou a morte do desportista. O Comitê Olímpico do Brasil falou do profundo pesar pelo falecimento dele. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 12 de março de 2018

Evaristo, craque dentro e fora dos gramados

Eu era um menino, ainda lá em Dom Pedrito (RS), minha terra natal, quando o Flamengo, do Rio de Janeiro, tinha um grande time. Entre os titulares estava Evaristo de Macedo Filho, ou somente Evaristo, como era conhecido pelos torcedores. 

É carioca de nascimento, tendo vindo ao mundo no dia 22 de junho de 1933. Evaristo foi um dos jogadores mais talentosos do futebol brasileiro e mundial, na década de 1950 e começo dos anos 1960.

Começou a carreira no Madureira, time do subúrbio do Rio de Janeiro, onde jogou de 1950 a 1952. Depois foi jogar no Flamengo, onde foi convocado pelo técnico Newton Cardoso para os jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952.

Disputando uma vaga no ataque rubro-negro com Índio e Adãozinho, conquistou o primeiro título no Campeonato Carioca de 1953. O feito se repetiu, já como titular, nos dois anos seguintes.

Evaristo de Macedo fez muito sucesso naqueles tempos, formando uma inesquecível linha de ataque na Gávea com Joel, Rubens (Duca), Dida e Zagallo. Uma geração que marcou época. 

Permaneceu no Flamengo por cinco anos, sagrando-se tricampeão carioca nos anos de 1953, 1954 e 1955. Vestindo a camisa do Flamengo, foram 182 jogos (101 vitórias, 35 empates, 46 derrotas) e 102 gols marcados.

Ao deixar o rubro-negro em 1957 foi jogar na Espanha, onde conseguiu um feito quase impossível, defender as camisas dos grandes rivais Barcelona (1957 a 1962) e Real Madrid (1963 e 1964), coisa que poucos jogadores alcançaram.

Evaristo de Macedo também conseguiu feitos históricos com a camisa do FC Barcelona. Um deles foi o de ser o jogador que marcou o primeiro hat-trick (três gols na mesma partida) da história do “Camp Nou”. Ocorreu no dia 8 de março de 1958, em uma vitória do Barça por 7 X 1 sobre o Valladolid.

Também foi o jogador que marcou o primeiro hat-trick contra o Real Madrid no então novo estádio do Barça. O clube catalão goleou o eterno rival por 4 X 0 e Evaristo marcou três. Vale lembrar que o brasileiro fazia a sua estreia no clássico. Uma façanha que só seria repetida por ninguém menos que Romário e Leo Messi.

Evaristo também foi responsável pela primeira eliminação do Real Madrid na Copa da Europa - atual Liga dos Campeões -, em 1960, com um gol de ‘peixinho’ no “Camp Nou”, que entrou para a história.

Nos dois grandes do futebol espanhol, Evaristo conquistou vários títulos. É até hoje o maior artilheiro brasileiro da história do Barcelona, com 178 gols marcados em 226 jogos.

A última visita de Evaristo de Macedo ao FC Barcelona foi em 2015. Na época, o lendário atacante comprovou que o seu carisma segue intacto na Catalunha após mais de 50 anos da sua saída do clube. Fez fotos com torcedores, com os jogadores brasileiros que estavam na equipe, com Leo Messi e até com o presidente do clube, Josep Maria Bartomeu.

Evaristo também assistiu os duelos contra o Manchester City, na Liga dos Campeões e o clássico contra o Real Madrid, pela Liga Espanhola. O Barça venceu os dois jogos e finalizou a temporada 2014/15 com uma nova tríplice coroa do futebol europeu. Com a benção do Evaristo.

Já com a camisa “canarinho” da Seleção Brasileira, teve poucas oportunidades. Mesmo considerado um dos melhores atacantes de sua época, Evaristo não disputou o mundial de 1958. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) não apoiava a convocação de jogadores brasileiros que jogavam no exterior.

Na vaga de Evaristo foi convocado o jovem atacante Mazzola do Palmeiras, que depois da conquista de 1958 foi negociado com o futebol italiano.

Atuou em apenas 14 partidas pela Seleção e marcou oito gols, sendo cinco na vitória de 9 X 0 frente a Seleção da Colômbia. É até hoje o único jogador a conseguir a chamada “manita”, fazer cinco gols pela Seleção em um único jogo.

Uma curiosidade. Também pelo Flamengo Evaristo marcou cinco gols num só jogo. Foi contra o São Cristóvão, pelo Campeonato Carioca, em 27 de outubro de 1956, quando o Flamengo fez 12 X 2, a maior goleada da história do Maracanã até hoje.

Evaristo ficou marcado pela classe e elegância ao dominar a bola. Era um finalizador técnico, mas também objetivo. Tinha chutes fortes e certeiros, sem perder muitas oportunidades de gol.

Depois que deixou os gramados tornou-se treinador. Seu melhor momento na nova carreira foi no Bahia, onde conquistou vários certames estaduais e sagrou-se campeão brasileiro em 1988, dirigindo uma equipe que contava com Bobô e companhia.

Evaristo também chegou a dirigir a Seleção Brasileira de Futebol nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986, mas logo foi substituído por Telê Santana no cargo.

Times que dirigiu como técnico: América, do Rio de Janeiro (1967; Fluminense (1968); Bahia (1970 e 1971), Bangu, do Rio de Janeiro (1971); Santa Cruz, de Recife (1972); Bahia (1973); Santa Cruz, de Recife (1975); Santa Cruz, de Recife (1977 e 1980); América, do Rio de Janeiro (1985); Seleção Brasileira (1985); Seleção do Iraque (1986); Bahia (1988 e 1989); Fluminense, do Rio de Janeiro (1990); Grêmio, de Porto Alegre (1990); Cruzeiro, de Belo Horizonte (1991 e 1992); Seleção do Qatar (1992); Flamengo, do Rio de Janeiro (1993 e 1995); Bahia (1995); Atlético Paranaense (1996); Grêmio, de Porto Alegre (1997); Vitória, da Bahia (1997); Bahia (1998); Flamengo (1998); Corinthians (1999); Bahia (2000 e 2001); Vasco da Gama, do Rio de Janeiro (2002); Flamengo, do Rio de Janeiro (2002 e 2003); Bahia (2003); Vitória (2003 e 2004); Atlético Paranaense (2005 e 2006) e Santa Cruz, do Recife (2007).

Títulos conquistados. Pelo América carioca. Campeão do Torneio Internacional Negrão de Lima (1967); Pelo Bahia. Campeonato Baiano (1970, 1971, 1973, 1988, 1998, 2001); Campeão Brasileiro (1988); Copa do Nordeste (2001); Pelo Santa Cruz. Campeonato Pernambucano (1972 e 1978) e pelo Grêmio. Campeão Gaúcho (1990) e Campeão da Copa do Brasil (1997).

O time do Bahia, campeão brasileiro em 1988 tinha esta escalação básica: Ronaldo – Tarantini - João Marcelo - Claudir e Paulo Róbson. Paulo Rodrigues – Gil - Bobô e Zé Carlos. Charles e Marquinhos. (Pesquisa: Nilo Dias)



sexta-feira, 9 de março de 2018

Um gênio do futebol mundial (I)

Alfredo Di Stéfano Laulhé, ou simplesmente Di Stéfano foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Era argentino, de Buenos Aires, nascido em 4 de julho de 1926, no bairro portenho de Barracas, e falecido em Madrid, Espanha, em 7 de julho de 2014.

Cresceu jogando futebol com os meninos do bairro em terrenos baldios, a chamada "academia da rua", com bolas de borracha que custavam poucos centavos. Sua primeira equipe organizada se chamava “Unidos y Venceremos”.

Em 1940, sua família se mudou para Los Cardales. Seu pai era agricultor e trabalhava na zona rural. Alfredo deixou os estudos e começou a trabalhar para ajudar a economia familiar.

Aos domingos pela manhã jogava futebol com seu irmão Tulio, no “Club Unión Progresista”, o mais antigo de Los Cardales. E a tarde acompanhava seu pai nos jogos do River Plate, clube do qual era sócio desde os sete anos de idade.

O primeiro campeonato ganho pela “La "Saeta Rubia" foi defendendo o "CSD Unión Progresista", em meados de 1940.

Di Stéfano e José Manuel Moreno, estrela do River Plate, são considerados os maiores jogadores argentinos do século XX, ao lado de Diego Maradona.

Além de brilhante jogador foi também excelente técnico. Jogou por três seleções, da Argentina, Colômbia e Espanha. Recebeu da imprensa espanhola o apelido de “La Saeta Rubia” (A Flexa Loira”), devido a sua velocidade e a cor dos cabelos.

Além de extremamente veloz, combatia, desarmava, tinha grande inteligência para criar jogadas, habilidade para receber, tratar, conduzir, cabecear e passar a bola, além de precisão nos arremates.

Quando criança, não pensava em ser jogador de futebol. Sua vontade era seguir a carreira de aviador. Seu pai o incentivava a ser futebolista. Mas Di Stéfano só se decidiu pelos caminhos da bola, depois de marcar três gols quando, aos 17 anos, foi chamado às pressas para completar o time do bairro.

Aos 12 anos integrou os juvenis do Los Cardales, aos 15 transferiu-se para o River Plate e aos 16 estreou na equipe principal.

Seu pai havia sido jogador do River Plate, o que facilitou sua ida para o clube. Foi levado à equipe por um ex-jogador que, em visita casual a sua casa, ouviu da mãe de Di Stéfano que o garoto tinha talento.

Passou no teste e foi convidado pelo ex-jogador Carlos Peucelle a entrar na quarta categoria do clube, não demorando para subir até a terceira, depois de ter sido visto por outro antigo atleta do River, Renato Cesarini. Depois que o observou, indagou a Peucelle: "diga-me, é um center-forward"? No que foi respondido: "Não, senhor, não é. É um fenômeno".

De 2000 a 2014 foi o presidente honorário do Real Madrid, clube cuja história de sucesso confunde-se com a dele. Com Di Stéfano em campo o clube madrilheno tornou-se o maior vencedor da cidade de Madrid, da Espanha e da Europa. Também era presidente honorário da UEFA, desde 2008.

Suas grandes atuações serviram para a alimentar a rivalidade com o Barcelona, que na época não tinha a mesma expressão do adversário.

Muitos jogadores que foram seus adversários, como por exemplo,  Joaquín Peiró, que jogava pelo Atlético de Madrid, destacou Di Stéfano como o número 1, dizendo que “aqueles que o viram jogar, viram um grande craque. E aqueles que não o viram, perderam".

Já Helenio Herrera, técnico do Barcelona, disse que "se Pelé foi o violinista principal, Di Stéfano foi a orquestra inteira". Gianni Rivera e Bobby Charlton, que no início de suas carreiras enfrentaram (e perderam) por seus respectivos clubes (Milan e Manchester United) para “La Saeta Rubia” e o Real Madrid na "Taça dos Campeões Europeus", nos anos 1950, disseram que "ele os enlouquecia" e "foi o jogador mais inteligente que viram jogar, transpirando esforço e coragem. Foi um líder inspirador e um exemplo perfeito para os outros jogadores".

Os torcedores mais entusiasmados do Real Madrid diziam que Di Stéfano fez a Espanha torcer para o clube "merengue". E graças as suas exuberantes atuações o Real Madrid se tornou conhecido além das fronteiras espanholas, disse o presidente Ramón Calderón, que hoje dá nome ao estádio do clube.

Para Emilio Butragueño, ex-jogador e depois membro da diretoria, "a história do Real Madrid começou de fato a ser contada com a vinda de Di Stéfano". O jogador, contudo, não gostava de entrar em polêmica e apontava Adolfo Pedernera, astro do River Plate nos anos 1940, como o melhor jogador que conheceu.

Di Stéfano guardou uma grande mágoa, não ter jogado uma Copa do Mundo, embora tenha atuado por três países - chegou a ir para a de 1962 pela Espanha, mas uma lesão o impediu de atuar.

Como treinador, obteve mais sucesso no Valência e também possui uma marca histórica na função: foi o único a ser campeão argentino treinando os arquirrivais Boca Juniors e River Plate.

No começo de carreira, ainda no futebol argentino, Di Stéfano mostrava uma grande fome de gol. Portava-se dentro de campo como um verdadeiro centroavante. Entre fazer um gol ou dar um passe para outro companheiro, não vacilava, ele fazia o gol. E dizia que não se arrependia disso, acrescentado que  “o goleador tem mesmo que ser um tanto egoísta.”

O seu grande ídolo na infância foi o paraguaio Arsênio Érico, jogador que até hoje se mantém como o maior artilheiro da história do futebol argentino, que defendeu o Independiente nos anos 30 e 40.

O seu aperfeiçoamento como jogador, porém, não se deu na Argentina. Fora de seu país aprendeu também a voltar da área adversária para buscar o jogo, atuando como ponta-de-lança. Para poder fazer isso, era dotado de excepcional preparo físico, o que lhe dava condições de correr todo o campo durante uma partida inteira mesmo depois dos 30 anos.

Di Stéfano conseguiu jogar em alto nível até os 40 anos, decidindo por encerrar a carreira apenas para atender a um pedido do filho, quando soube por este que seria avô.

Chegou ao River Plate em 1945, quando o clube era chamado de “La Máquina”, um time que contava com Pedernera, Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Ángel Labruna e Félix Loustau, entre outros, que ganhou o campeonato argentino daquele.  

O craque jogou ainda com o goleiro Amadeo Carrizo, que estreou naquele ano de 1945. Na vitoriosa campanha, porém, ele participou de apenas uma partida, substituindo Muñoz.

Não era fácil ser titular naquele time, por isso acabou emprestado por um ano ao Huracán, curiosamente a mesma equipe contra a qual havia feito seu primeiro jogo. Ali, teve como treinador o ex-artilheiro Guillermo Stábile, que também era o técnico da Seleção Argentina.

Os primeiros dois gols que marcou na carreira, foram justamente no clássico frente o San Lorenzo, em uma vitória por 3 X 2, em pleno estádio do arquirrival, que se sagrou campeão argentino daquele ano de 1946.

Nem a sua ex-equipe, River Plate, escapu. Contra ela marcou o que é até hoje o gol mais rápido do futebol argentino, aos 11 segundos de jogo.

Mesmo com o Huracán terminando o campeonato em nono lugar, Di Stéfano fixou-se como centroavante e marcou 10 gols em 25 partidas, sendo um dos destaques do time e do campeonato. E foi no Huracán que ganhou o apelido de “Saeta” (flecha).

Para diferenciar de Llamil Simes, seu companheiro de equipe, que tinha o mesmo apelido, o de Di Stéfano recebeu o acréscimo “Rubia” (loira). O Huracán quis ficar com ele em definitivo, mas não teve condições de pagar os 80 mil pesos pedidos pelo River. Após um ano, voltou ao “Monumental de Núñez”, em 1947.

Dessa vez teve melhores condições de ser titular, pois Pedernera saíra para o Atlanta, Labruna estava com hepatite e Muñoz, lesionado. O jogo de sua reestreia foi apontado por ele mesmo como o melhor de sua carreira. A partir dai sempre carregava no bolso um pequeno distintivo gravado com a inscrição "River Plate-San Lorenzo de Almagro, 1947".

Em 1947 teve de prestar serviço militar, mas mesmo assim fez 27 gols pelo River, ajudando o clube a ganhar o campeonato argentino, o seu primeiro título como membro efetivo no grupo, e tendo terminado como artilheiro do certame.

A torcida reconheceu nele um novo ídolo, e o recepcionava em campo com gritos de “socorro, socorro, ahí viene la Saeta con su propulsión a chorro" ("Socorro, socorro, aí vem a Flecha com sua propulsão a jato").

Suas grandes atuações em 1947 o levaram a ser convocado para à Seleção Argentina. E o título de 1947 valeu ao River Plate um convite para disputar o Campeonato Sul-Americano de Campeões, torneio realizado em 1948 e reconhecido como o precursor da “Taça Libertadores da América”.

O River fez alguns jogos em São Paulo, em 1948, como preparativos para o torneio. O eterno rival Boca Juniors, mesmo não sendo participante da competição, foi também para São Paulo na mesma época.

Curiosamente foi marcado um jogo amistoso entre um combinado dos paulistas e outro dos rivais argentinos, que vestiram o uniforme do Palmeiras, visto que River e Boca não quiseram usar nenhum de seus uniformes. O torneio foi decidido entre River e Vasco da Gama, que, tendo a vantagem do empate, sagrou-se campeão ao segurar um 0 X 0.

Em 1949 os jogadores argentinos haviam realizado uma greve exigindo assistência médica para os familiares, um salário mínimo para a categoria e a extinção do passe, para serem livres para escolher onde gostariam de jogar.

Porém, não foram atendidos, o campeonato parou e muitos atletas foram jogar em outros países. Di Stéfano foi para o Millonários, da Colômbia  que lhe ofereceu proposta irrecusável. Deixou o River Plate com 49 gols em apenas 66 jogos.

Chegou ao clube de Bogotá em 1949. A liga colombiana havia se transformado em um verdadeiro Eldorado, tendo contratado além de Di Stéfano, outros craques sulamericanos, como os também argentinos Pedernera, e Nestor Rossi.

O dono do Millonarios, Alfredo Senior, havia resolvido lucrar com o esporte, aliciando os melhores atletas sul-americanos para jogar em sua equipe a fim de atrair grandes públicos, o que naturalmente repercutiu negativamente no exterior. Além disso, o clube era intimamente ligado ao poder local, sendo atraente para quem tivesse pretensões políticas.

Os outros clubes colombianos, para não ficarem por trás, tomaram medidas similares. Os jogadores peruanos, em geral, foram para as equipes de Cali e Medellín. Os paraguaios foram levados para Cúcuta, e alguns brasileiros como Heleno de Freitas e Tim, foram parar em Barranquilla.

Até mesmo jogadores britânicos, como Charlie Mitten, do Manchester United, que foi jogar no Independiente, de Santa Fé, foram atraídos para o mercado colombiano. O mesmo aconteceu com atletas iugoslavos, italianos e húngaros.

Os dirigentes locais queriam implantar o profissionalismo no futebol do país, enquanto a federação insistia com o amadorismo. Além disso, o futebol colombiano ainda vivia apenas de competições regionais. Muitos clubes se desfiliaram então de federação para organizar um campeonato nacional, que acabou banido pela FIFA.

Se isso foi ruim para um lado, foi bom para outro. Os clubes colombianos não precisaram mais pagar multas rescisórias às equipes estrangeiras onde buscavam jogadores, pois a liga pirata encontrava-se fora da jurisdição da FIFA. Bastava oferecer um salário melhor e uma passagem apenas de ida para a Colômbia. Isso irritou as outras federações sul-americanas.

Na liga pirata, Di Stéfano foi campeão em 1951 e 1953, integrando o chamado “Ballet Azul”. Na Colômbia, onde a liga vinha sendo um grande sucesso de público, ele aprimorava-se como jogador, passando também a defender e passar a bola com maestria.

Além de Pedernera e Rossi, Di Stéfano jogou ainda ao lado de Julio Cozzi, Antônio Báez, Reinaldo Mourín e Hugo Reyes, também argentinos expatriados, assim como o técnico Carlos Aldabe.

O time contava ainda com dois uruguaios de destaque: Schubert Gambetta, campeão da Copa do Mundo de 1950, e Héctor Scarone, também campeão mundial, mas da Copa de 1930, que foi outro treinador do elenco.

Aborrecidas com a contínua investida da liga colombiana sobre os jogadores do continente e sem nada receber pelas saídas deles, as federações vizinhas fizeram um acordo em 1951: permitiriam que tal situação perdurasse por mais dois anos, quando então os jogadores estrangeiros deveriam ser todos devolvidos a seus clubes de origem.

O Millonários decidiu aproveitar o tempo que tinha e lucrar o máximo com amistosos ao redor do mundo. Em um deles, em 1952, a equipe foi chamada para jogar uma partida contra o Real Madrid, que celebrava o aniversário de 50 anos deste clube.

Em pleno “Chamartín”, Di Stéfano marcou duas vezes na vitória por 4 X 2 dos sul-americanos. Foi imediatamente contratado pelo Barcelona, outra equipe espanhola.

O argentino deixou o Millonários como o maior artilheiro da história do time, totalizando 267 gols em 292 partidas. Além de títulos e artilharias na Colômbia, venceu com o clube também a “Pequena Taça do Mundo”, de 1953, chegando a marcar dois gols em um 5 X 1 sobre sua ex-equipe do River na competição.

Com Di Stéfano, o clube também abriu larga vantagem em títulos colombianos cujos efeitos ainda perduram, sendo a equipe mais vencedora do campeonato nacional mesmo não o conquistando desde 1988. Apenas em 2008 foi igualado pelo América de Cali.

O Barcelona negociou Di Stéfano com o clube que oficialmente detinha seu passe, o River Plate. O jogador já havia participado de três amistosos pelo Barcelona quando o Real Madrid entrou na disputa por ele. O clube da capital espanhola conversou diretamente com o Millonários e passou a considerar-se também dono da joia rara.

O ministro dos esportes, general Moscardo, apresentou uma solução: o argentino faria temporadas alternadas por cada equipe por quatro anos - começando pelo Real. O acordo foi rejeitado pelo Barcelona e Di Stéfano acabou ficando no Real.

A polêmica acirrou os ânimos entre os dois clubes, que até então não tinha tanta força. Outros ex-jogadores do clube, como Ricard Zamora e Josep Samitier, já haviam jogado sem maiores problemas na equipe madrilenha nos anos 1930.

Com o passar dos anos a rivalidade foi aumentando até tornar-se uma das principais do mundo, graças às conquistas em série que o Real conseguiu com Di Stéfano. Antes dele, o clube madrilhenho não era o maior vencedor do país, nem mesmo da cidade: tinha dois títulos no campeonato espanhol, conquistados a mais de 20 anos.

Com a chegada do argentino, o Real conquistou de cara seu terceiro título, muito por conta dos 29 gols que ele marcou e que lhe garantiram a artilharia do torneio. Um bicampeonato seguido veio na segunda temporada.

Em 1955, ele e o Real ganharam também a “Copa Latina”, o mais prestigiado torneio europeu de clubes na época, que reunia os campeões de Espanha, França, Itália e Portugal. Os espanhóis venceram os portugueses do Belenenses e, na final, os franceses do Stade de Reims. (Continua)