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segunda-feira, 2 de abril de 2018

A morte de “Xuxu”, torcedor símbolo colorado

José Antônio Silveira, conhecido por “Xuxu” e um dos torcedores símbolos do S.C. Internacional, de Porto Alegre, morreu no último dia 14 de março, em decorrência de um câncer.

Ele acompanhou o clube do seu coração em mais de 600 jogos dentro e fora do “Estádio Beira-Rio“, inclusive tendo ido ao Japão quando da conquista do Mundial de Clubes, o maior título da história colorada de mais de 100 anos. Em 2012 foi homenageado pelo Internacional, por esse fato.

O amor de “Xuxu” pelo Internacional começou ainda na infância. Ele contou que quando tinha apenas 6 anos de idade, ouviu um jogo pelo rádio, junto de sua babá e, desde então, nunca mais abandonou o time.

Ela ficou muito chateada porque o seu time tinha perdido o jogo. E “Xuxu” quis saber que time era esse e a sua resposta o tocou muito: “É o Clube do Povo do Rio Grande do Sul”. E “Xuxu” conta que foi nesse momento que se tornou colorado. A família, todos torcedores do Grêmio, tentaram muito que o menino trocasse de time. Mas falharam.

Ser torcedor do Internacional surpreendeu a família de gremistas. O pai levou um susto quando chegou em casa e encontrou “Xuxu” vestindo a camisa vermelha comprada pela babá. O avô se surpreendeu ainda mais quando o neto, com 12 anos, pediu de presente uma cadeira no estádio Beira-Rio. Estranhou, mas deu.

Com 13 anos pediu de presente uma viagem para o Rio de Janeiro para acompanhar o Internacional. Poderia ter escolhido uma viagem para a Disney, ou qualquer outro lugar. Mas ele queria ver o jogo do colorado. Já tinha 40 jogos fora.

Em um Gre-Nal, “Xuxu” foi levado para entrar em campo junto com os jogadores tricolores. Foi pior para os familiares. “Xuxu” dizia que aí mesmo é que sentiu o amor que tinha pelo Internacional. Entrou de mão dada com os jogadores gremistas, mas garantia que não estava feliz.

Ainda com 6 anos de idade, decidiu que iria assistir a um jogo entre Novo Hamburgo e Internacional. Pegou um ônibus sozinho e foi. A ida até que foi fácil, o problema foi a volta.

Ele estava chorando e morrendo de medo, quando torcedores colorados o encontraram. E como conheciam seu pai, telefonaram para que ele fosse busca-lo. Tomou uma cintada da sua mãe, mas garantia que tinha valido a pena porque o Inter ganhou de 1 X 0.

Em 2009, ele doou material histórico para a construção do museu do clube, entre outras histórias. Foram mais de 20 molduras de fotos, mantas, ingressos e capas de jornais dos torneios vencidos pelo Internacional nos últimos três anos.

Além das edições brasileiras, constam também banners de divulgação dos times que disputaram o Mundial (em japonês), jornais ingleses e espanhóis depois da consagração colorada, entre outros.

Dentre as molduras, estão materiais da “Taça Libertadores da América”, “Mundial Interclubes FIFA”, “Recopa Sul-Americana”, “Dubai Cup” e “Copa Sul-Americana”.

O torcedor colorado folclórico relatava ainda um momento perturbador em sua vida. Ele estava mal de saúde na virada do “Centenário” do clube. Achou que seria sua hora.

Ele já havia tido um pesadelo que, no tão especial dia 4 de abril, iria falecer. Como não aconteceu, decidiu doar as molduras enquanto ainda estava vivo.

“Xuxu” considerava o zagueiro Figueroa como seu maior ídolo da história do Clube e o jogo Internacional 3 X 2 Cruzeiro, em 1972, como a partida mais marcante. Era conhecido por todos dentro do clube, considerado um exemplo de paixão e amor pelo Internacional.

“Xuxu” sofria com a saúde desde cedo. Aos 14 anos sofreu o primeiro AVC e começou a ter problemas pessoais, mas isso não o impediu de seguir torcendo e viajando. O destino mais longe foi Japão, quando viu em 2006 o seu time ser Campeão do Mundo. Todos os anos, assim que saía a tabela dos campeonatos, ele comprava as passagens para todos os confrontos.

Ano passado confessou a amigos que a saúde estava complicada, mas que só iria embora para o outro lado, depois que o Internacional voltasse a Primeira Divisão.

O Internacional lembrou a morte do torcedor em seu site, com a divulgação de uma nota:

“A quarta-feira começou triste para a família colorada. Faleceu nesta manhã José Antônio Silveira, o “Xuxu”, colorado que seguiu o Inter por todas as plagas, sempre defendendo essa paixão que nos une. O clube lamenta profundamente a perda deste ilustre torcedor e deseja força a seus amigos e familiares".

O padre Ceron celebrou uma missa de encomendação do corpo na “Capela Nossa Senhora das Vitórias”, no complexo Beira-Rio. Em seguida, dando continuidade a um desejo de “Xuxu”, seu corpo foi velado no momento em que o Internacional estava em campo, contra o Cianorte, pela terceira fase da Copa do Brasil.

Enquanto o Internacional vencia o Cianorte e garantia classificação à quarta fase da Copa do Brasil, um telão instalado ao lado da capela transmitia a partida para um grupo de colorados que prestava homenagens ao famoso torcedor.

Dentro do local, o Padre Ceron realizou uma Missa para encomendação do corpo de “Xuxu” e deu início ao velório convidando todos a cantarem o hino colorado.

Antes do jogo, foi realizado um minuto de silêncio em homenagem ao célebre torcedor, que acompanhou o Inter por toda vida, onde quer que fosse.

Vale lembrar que “Xuxu” costumava contar, que quando o seu pai faleceu, antecipou o horário de sepultamento, para poder ir até o Beira-Rio assistir a um clássico Gre-Nal.

“Tem que ter muito orgulho de ser colorado, é um espírito de felicidade ser torcedor do Internacional. Na hora ruim e na hora boa sempre tem que estar do lado do clube. Nada de vaia, de forma alguma. Ir ao jogo é uma diversão, um passeio, não leva a nada brigar e discutir", dizia “Xuxu”.

Vale publicar aqui um bonito artigo de Dilto Crouzeiles Nunes, conselheiro do S.C. Internacional, publicado na coluna de Hiltor Mombach, no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, em 16 de março último:

XUXU, uma lenda!

O Sport Club Internacional durante sua existência teve vários colorados aficionados que dedicaram suas vidas ao Clube. E nestas últimas décadas não podemos deixar de destacar o posicionamento impar de XUXU.

De berço se tornou colorado e desde então dedicou-se a viver todos os dias, os feitos do Internacional. Era por demais notório o amor que ele tinha pelo Clube. Daria, com certeza, sua vida para defendê-lo.

Sempre pelo presente, junto aos dirigentes, aos atletas e aos torcedores, sua presença era constante e não havia um colorado que não o conhecesse. Ajudava voluntariamente em tudo que era preciso, mesmo sem ter cargos na Diretoria ou no Conselho.

Seu amor era o Inter. Por ele qualquer sacrifício seria superado. Viajava por todos os lugares onde a equipe se apresentasse.
Não havia distancias para ele e nem sofrimentos. Sua alegria maior era a aproximação, o convívio com seu Clube do coração. 

Seu fanatismo era tanto que até em jogos decisivos, no campo do adversário, festejando o feito, se vestia de Papai Noel para brindar a conquista e assim corria por todo o campo sob os aplausos dos torcedores.

Não acreditei quando num jogo decisivo ele me confidenciou que se o Inter ganhasse ele desfilaria desnudo pelo gramado. E minha surpresa não foi maior quando o vi atrás do gol se despir, enquanto todos festejavam, e sair pelado atravessando o campo. Foi notícia nacional. Assunto comentado por toda mídia.

Nada superava a felicidade dele ao ver seu time campeão. Era amigo dos atletas. Quando um era vendido e até ia jogar na Europa, ele viajava para lá a fim de dar sua força, assistindo seu primeiro treino no novo Clube.

Nos hotéis participava junto com a delegação e era bem quisto pelos hoteleiros. Se uma vida foi dedicada ao Inter, esquecendo-se de viver a sua vida, este era o XUXU. Ele teve sua existência interrompida por grave doença. Assim mesmo, doente, era visto nas dependências do clube torcendo.

Bem recebido por todas as torcidas, tinha livre transito por onde andava. Era realmente uma criatura de bem que só tinha um desejo na vida: ver a vitória do Inter.

Hoje, com certeza, ele faz parte de uma estrelinha no céu, brilhante, iluminada, com certeza fixando no firmamento a bandeira este Clube que adorou e dedicou sua vida.

Descanse em paz meu amigo XUXU. (Pesquisa: Nilo Dias)